Thursday, October 23, 2008

Um comentário de Roberto Freire e uma resposta - Blog do Reinaldo Azevedo - 20/10/08

Recebi um comentário assinado por “Roberto Freire”, que, acredito, seja mesmo o presidente nacional do PPS, um partido valente, que, apesar de pequeno, tem a coragem e a decência de fazer oposição a Lula. Não, fazer oposição a Lula não torna ninguém, por si, decente. Mas é sinal de que a legenda não conta com prebendas oficiais para crescer. Acho isso positivo.

Tenho respeito por Freire. E muitas divergências também. Notem que escrevi um “e”, não um “mas”. Respeito e divergência não precisam ser coisas antitéticas. Podem ser coordenadas por um conectivo, como o “e”. Seguem o seu comentário e a minha resposta. Não sendo o Freire político, que sei leitor deste blog, a resposta continua válida.

Prezado Reinaldo,
O seu radical antiesquerdismo o leva a cometer graves erros históricos. A esquerda já chegou ao poder centenas ou milhares de vezes pelo mundo afora, e, se você tiver o cuidado de observar, não houve, na grande maioria dos casos, qualquer limitação à imprensa e às liberdades.
Um único exemplo pode lhe trazer a realidade: veja o mapa político da Europa Ocidental em qualquer momento da história desde quando, a partir do século XVIII, se inventou o referencial “esquerda x direita” para designar os movimentos e partidos políticos. Lá se verão governos de esquerda convivendo com a plena liberdade. abraços
Roberto Freire
Publicar Recusar (Anônimo) 14:58


Caro Roberto Freire,
Começo apontando o acerto do início da sua abordagem. Como efeito, meu “antiesquerdismo” é radical, porquanto vá mesmo à raiz da questão, que — e o senhor o aponta também com propriedade — remete ao século 18, ao período, sabemos todos, da Revolução Francesa. O que restou, daquele tempo, como patrimônio incorporado às conquistas democráticas pertence à pauta da então “direita" da Assembléia. Aquela esquerda nos deu as práticas que resultaram no Terror e na guilhotina tomada como o último argumento do vencedor. De fato, as origens já diziam bem o que viria depois. Não por acaso, Karl Marx tinha grande apreço pelos jacobinos. Afinal, ele também entendia que não se podia construir o “homem novo” sem alguns assassinatos, não é?

Há uma certa confusão, é provável, entre as “esquerdas” de que estamos falando. Entendo que o senhor esteja se referindo aos muitos partidos social-democratas que acabaram se dizendo “socialistas” — aqueles ligados à Segunda Internacional, que jamais buscaram, de modo radical, a ruptura com o capitalismo. Não que o ideário desses partidos me agrade. Mais: os que tentaram ir mais longe na execução do programa partidário, como o primeiro governo Mitterrand, tiveram de recuar, a exemplo do segundo governo Mitterrand. Ademais, é preciso deixar claro que os ditos partidos “socialistas” (na verdade, social-democratas) fizeram governos plenamente identificados com a economia de mercado — e um caso óbvio é o Partido Socialista Operário Espanhol. Convenha, Freire: nem socialista nem operário.

Minha crítica, assim, tem como alvo o socialismo que mais própria e indignamente merece esse título e seus sucedâneos contemporâneos, especialmente na América Latina, onde acabaram se juntando com correntes do nacionalismo mais primitivo e bocó. Temos exemplos flagrantes hoje na América Latina: Venezuela, Equador, Bolívia e, sim, por incrível que pareça, também o Brasil. Por aqui, o PT vai até onde a institucionalidade agüenta, mas é fato que o partido sempre tenta forçar os limites. E, sim, esse partido convive mal com a liberdade de imprensa.

Deixo meu abraço a Roberto Freire, sendo ou não esse que me escreve o presidente do PPS.


Por Reinaldo Azevedo

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