Friday, November 22, 2013

Pandora - Coluna de Alexandre Schwartsman - Folha de São Paulo - 27/11/13

Pandora

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Quando os homens, criados por Prometeu, obtêm dele o fogo, põem em perigo o domínio dos deuses. Pandora, a mulher, é então criada e recebe, entre outros presentes, a famosa caixa (na verdade, uma ânfora) que não poderia ser aberta, mas que, obviamente, o foi, libertando todos os males que afligem a humanidade e a deixam à mercê dos deuses, permanecendo presa no fundo apenas a esperança.
Tentação, queda e outros arquétipos fazem dessa narrativa parte central da mitologia grega, ecoando, não por acaso, outras histórias de perdição.
E por que falo disso? Porque me parece claro que outra caixa de Pandora está para ser aberta, no caso com a renegociação das dívidas de Estados e municípios, cujas consequências -se não tão severas quanto a queda da humanidade do seu estado de graça- ainda são graves o suficiente para preocupar qualquer analista minimamente atento.
Na segunda metade dos anos 1990, como parte do esforço de estabilizar as finanças públicas, o governo federal reestruturou as dívidas de alguns Estados e municípios. Esses se tornaram devedores da União pagando taxas bastante inferiores às que tomariam recursos no mercado.
Em contrapartida, se viram obrigados a destinar parcela de suas receitas ao pagamento dessas dívidas, o que os acabou forçando a gerar superavits primários, colaborando para o esforço fiscal do setor público como um todo. (Se alguém notou o paralelo com a questão europeia, parabéns! É precisamente esse tipo de arranjo que se tem em mente quando se fala de federalização das dívidas nacionais em troca de uma centralização da política fiscal na zona do euro).
Isto dito, a camisa de força resultante da reestruturação das dívidas subnacionais sempre foi um fator de desconforto para governadores e prefeitos, que, praticamente em seguida à assinatura dos contratos, buscaram formas de rever os acordos para obter espaço adicional para novos gastos.
No entanto, sob pena de perderem as transferências federais, acabavam por se conformar, pelo menos por algum tempo.
Mais recentemente, porém, voltaram à carga, argumentando que a dívida seria "impagável", já que teria continuado a crescer mesmo depois de todos os pagamentos efetuados até agora.
Isso parece fazer sentido, pois a dívida de Estados e municípios com a União renegociada sob a lei 9496/97, que era R$ 154 bilhões no final de 2000, atingiu pouco mais de R$ 468 bilhões em agosto deste ano.
Apenas não se menciona que, no mesmo período, o PIB (Produto Interno Bruto) aumentou de R$ 1,236 trilhão para R$ 4,638 trilhões, ou seja, a dívida, que equivalia a pouco mais de 11% do PIB em 2000, agora corresponde a 8,6% do PIB.
No caso específico dos Estados, a dívida, correspondente a 15 meses de arrecadação em 2000, se reduziu para cerca de 10 meses em 2012. Por qualquer ângulo (correto) que se avalie o assunto, as dívidas são mais sustentáveis hoje do que eram no momento de sua reestruturação.
Apesar disso, o governo federal anunciou a intenção de rever os seus valores, aplicando retroativamente regras de correção mais favoráveis a Estados e municípios, o que deve implicar forte redução do endividamento desses à custa de perdas para a União.
À parte a injustiça de transferir recursos dos brasileiros que não moram nos Estados e municípios beneficiados pela reestruturação para aqueles que lá residem, a redução da dívida deve aliviar consideravelmente os respectivos Tesouros, permitindo aquilo que sempre almejaram, isto é, voltar aos bons tempos em que não havia limites à gastança.
O superavit primário de Estados e municípios, que já caiu de uma média próxima a 1% do PIB entre 2001 e 2008 para modestos 0,4% do PIB nos 12 meses até agosto deste ano, deve se reduzir ainda mais, acentuando o atual quadro de piora fiscal.
Saem da caixa Estados e municípios; fica presa a esperança de algum dia pormos em ordem as contas públicas.

Saturday, November 16, 2013

A Farra das demarcações - Antonio Alvarenga - O Globo de 16/11/13

A farra das demarcações

  • Vamos dar um basta às persistentes invasões de terras produtivas, promovidas por grupos indígenas estimulados por pessoas e ONGs que representam o atraso
Em 1988, antes de ser promulgada a atual Constituição, o Brasil possuía 58 territórios indígenas, com uma área total de 15,9 milhões de hectares. Hoje temos 55 territórios indígenas, totalizando uma área de 120,9 milhões de hectares. Ainda em 1988, possuíamos 248 Unidades de Conservação Ambiental. Hoje são 1.074, totalizando 119,5 milhões de hectares. As áreas indígenas e de conservação já somam 240,5 milhões de hectares, ou seja, aproximadamente 28,2% do território nacional.

 Para se ter uma ideia da dimensão das terras indígenas e de conservação, toda nossa agricultura abrange pouco mais de 39% do território nacional. Sim, essa é a área ocupada pelo setor que está exportando 100 bilhões de dólares por ano, que alimenta 200 milhões de brasileiros e responde por cerca de 25% do PIB e 30% dos empregos.

Insatisfeitos com o tamanho de seu latifúndio, os indígenas reivindicam mais 184 novos territórios, que estão em fase de análise na Funai. Há também uma demanda de 292 milhões de hectares em estudo como áreas prioritárias para conservação de biodiversidade. Esses dados são incontestáveis. Foram levantados a partir de informações oficiais da Funai, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e do Ministério do Meio Ambiente, pelo pesquisador Evaristo Miranda, da Embrapa. São números que falam por si.

O que pretendem e até onde querem chegar os que defendem a continuidade dessa verdadeira farra de demarcação de terras indígenas e Unidades de Conservação? O mundo tem fome e o Brasil possui terras, clima, água e tecnologia apropriada para atender à crescente demanda mundial por alimentos. O país está destinado a desempenhar um importante papel na segurança alimentar do planeta, ameaçada pelo persistente crescimento populacional e a urbanização das nações em desenvolvimento. Por outro lado, o Brasil precisa de crescimento econômico para proporcionar educação, saúde e melhor qualidade de vida para seu povo.

Não podemos permitir o estrangulamento de um setor que sempre foi a nossa galinha de ovos de ouro, e que vem garantindo divisas e o equilíbrio de nossa frágil economia.

Vamos dar um basta às persistentes invasões de terras produtivas, promovidas por grupos indígenas estimulados por pessoas e ONGs que representam o atraso e causam sérios problemas de instabilidade jurídica e social no campo.

Há muita demagogia e, em alguns casos, má-fé no trato das questões indígenas e ambientais no Brasil. São temas que sensibilizam uma significativa parcela da população urbana desinformada ou ingênua, que anda desencantada com as mazelas políticas e econômicas do país. Nesse contexto, estimulados por uma guerrilha de informações distorcidas, com forte viés ideológico, os índios e o meio ambiente são utilizados como instrumentos de protesto.

Temos 500 mil indígenas que dispõem de 14,2% do território nacional. Ao mesmo tempo, vemos milhares de brasileiros sem teto, vivendo em condições de extrema pobreza nas periferias das grandes cidades. Isso é justo?

Os 200 milhões de cidadãos brasileiros necessitam de uma nação em desenvolvimento acelerado, que lhes proporcione melhores perspectivas de vida. Queremos ser um país ocupado por territórios improdutivos de índios e áreas de conservação? Ou pretendemos ser uma nação desenvolvida, que proporciona aos seus milhões de cidadãos um futuro promissor e qualidade de vida compatível com os países mais desenvolvidos do planeta?

Monday, November 04, 2013

Eu Acuso - Coluna de Luiz Felipe Pondé na Folha de São Paulo de 04/11/13

Eu Acuso - Coluna de Luiz Felipe Pondé na Folha de São Paulo de 04/11/13

Muitos alunos de universidade e ensino médio estão sendo acuados em sala de aula por recusarem a pregação marxista. São reprovados em trabalhos ou taxados de egoístas e insensíveis. No Enem, questões ideológicas obrigam esses jovens a "fingirem" que são marxistas para não terem resultados ruins.

Estamos entrando numa época de trevas no país. O bullying ideológico com os mais jovens é apenas o efeito, a causa é maior. Vejamos.

No cenário geral, desde a maldita ditadura, colou no país a imagem de que a esquerda é amante da liberdade. Mentira. Só analfabeto em história pensa isso. Também colou a imagem de que ela foi vítima da ditadura. Claro, muitas pessoas o foram, sofreram terríveis torturas e isso deve ser apurado. Mas, refiro-me ao projeto político da esquerda. Este se saiu muito bem porque conseguiu vender a imagem de que a esquerda é amante da liberdade, quando na realidade é extremamente autoritária.

Nas universidades, tomaram as ciências humanas, principalmente as sociais, a ponto de fazerem da universidade púlpito de pregação. No ensino médio, assumem que a única coisa que os alunos devem conhecer como "estudo do meio" é a realidade do MST, como se o mundo fosse feito apenas por seus parceiros políticos. Demonizam a atividade empresarial como se esta fosse feita por criminosos usurários. Se pudessem, sacrificariam um Shylock por dia.

Estamos entrando num período de trevas. Nos partidos políticos, a seita tomou o espectro ideológico na sua quase totalidade. Só há partidos de esquerda, centro-esquerda, esquerda corrupta (o que é normalíssimo) e do "pântano". Não há outra opção.

A camada média dos agentes da mídia também é bastante tomada por crentes. A própria magistratura não escapa da influência do credo em questão. Artistas brincam de amantes dos "black blocs" e se esquecem que tudo que têm vem do mercado de bens culturais. Mas o fato é que brincar de simpatizante de mascarado vende disco.

Em vez do debate de ideias, passam à violência difamatória, intimidação e recusam o jogo democrático em nome de uma suposta santidade política e moral que a história do século 20 na sua totalidade desmente. Usam táticas do fascismo mais antigo: eliminar o descrente antes de tudo pela redução dele ao silêncio, apostando no medo.

Mesmos os institutos culturais financiados por bancos despejam rios de dinheiro na formação de jovens intelectuais contra a sociedade de mercado, contra a liberdade de expressão e a favor do flerte com a violência "revolucionária".

Além da opção dos bancos por investirem em intelectuais da seita marxista (e suas similares), como a maioria esmagadora dos departamentos de ciências humanas estão fechados aos não crentes, dezenas de jovens não crentes na seita marxista soçobram no vazio profissional.

Logo quase não haverá resistência ao ataque à democracia entre nós. A ameaça da ditadura volta, não carregada por um golpe, mas erguida por um lento processo de aniquilamento de qualquer pensamento possível contra a seita.

E aí voltamos aos alunos. Além de sofrerem nas mãos de professores (claro que não se trata da totalidade da categoria) que acuam os não crentes, acusando-os de antiéticos porque não comungam com a crença "cubana", muitos desses jovens veem seu dia a dia confiscado pelo autoritarismo de colegas que se arvoram em representantes dos alunos ou das instituições de ensino, criando impasses cotidianos como invasão de reitorias e greves votadas por uma minoria que sequestra a liberdade da maioria de viver sua vida em paz.

Muitos desses movimentos são autoritários, inclusive porque trabalham também com a intimidação e difamação dos colegas não crentes. Pura truculência ideológica.

Como estes não crentes não formam um grupo, não são articulados nem têm tempo para sê-lo, a truculência dos autoritários faz um estrago diante da inexistência de uma resistência organizada.

Recebo muitos e-mails desses jovens. Um deles, especificamente, já desistiu de dois cursos de humanas por não aceitar a pregação. Uma vergonha para nós.

Monday, July 22, 2013

Rodrigo Constantino: Primavera Árabe: A ilusão democrática

Rodrigo Constantino: Primavera Árabe: A ilusão democrática:   Rodrigo Constantino A “Primavera Árabe” encantou muita gente no Ocidente. Vários celebraram o “despertar” do povo para a democrac...

Saturday, July 06, 2013

O gigante fala dormindo - Ricardo Fiuza - publicado em 06/07/13 em O GLOBO

O gigante fala dormindo

O Brasil deu para dizer a si mesmo que mudou. Que nada mais será como antes das manifestações de rua, que agora vai. Que se os governantes e os políticos em geral não entenderem o recado das ruas, estão fritos. É um fanfarrão, esse Brasil.

Qual é mesmo o recado das ruas? Vamos falar a verdade: ninguém sabe. Nem as ruas sabem. Ou melhor: não há recado. O gigante continua adormecido em berço esplêndido — o que se ouviu foi um ronco barulhento, misturado com palavras desconexas. Esse gigante fala dormindo.
Há alguns anos, a imprensa vem contando aos gritos o que está acontecendo com o gigante, sem que ele mova um músculo. E o que está acontecendo é devastadoramente simples: em uma década, o ciclo virtuoso do país foi jogado fora pela indústria do populismo. A crise das tarifas de ônibus (estopim dos revoltosos) é só uma unha do monstro: o descontrole inflacionário causado pelo derrame de dinheiro público. País rico é país com 40 ministérios.

A economia estabilizada nos anos 90, e a posterior enxurrada de capital para os países emergentes, deram ao Brasil sua grande chance. E ela foi queimada por um governo que investiu tudo numa máquina eleitoral sem precedentes. Planejamento zero. Investimento quase zero. Infraestrutura abandonada em terra, mar e ar, com trem-bala, Belo Monte e outras assombrações bilionárias encobrindo a realidade: o PAC entregue à pirataria da Delta e quadrilheiros associados. A CPI do Cachoeira chegou a levantar esse véu, mas o gigante não acordou e a CPI foi assassinada (pelo PT e seus sócios).

Os governos Dilma e Lula bateram todos os recordes de arrecadação, com impostos escorchantes (entre os maiores do mundo) que empobrecem os brasileiros e enriquecem o império do oprimido. Nem um gemido das ruas sobre isso. Dilma anuncia um “pacto” sem nada dentro, e ainda diz que para bancar o recheio do pastel de vento terá que aumentar impostos. É o escárnio. E não aparece nenhum Robespierre da Candelária para mandar a presidente engolir o seu deboche.

Enquanto isso, a maquiagem das contas públicas vai bem, obrigado — com mais um truque contábil no incesto entre o BNDES e o Tesouro, para forjar superávit e legalizar a gastança. É pedra na vidraça do contribuinte, que nada ouve e nada vê. Deve estar na passeata, exigindo cidadania.

Pensando bem, foi o governo popular quem melhor entendeu o recado das ruas: os cães ladram e a caravana passa. Ou talvez: os revoltados passam e a quadrilha ladra.

Para checar se o gigante estava dormindo mesmo, o estado-maior petista chamou um dos seus para ir até o ouvido dele e chamá-lo de otário, bem alto. Assim foi feito. Como primeira reação oficial às passeatas, Dilma escalou Aloizio Mercadante para dizer ao povo que ele ia ganhar um plebiscito. E que com esse plebiscito, ele, o povo, ia fazer a “reforma política” (o Santo Graal dos demagogos). Claro que o governo sabia que isso era uma troça, uma piada estilo “Porta dos fundos”. Tanto que caprichou nos ingredientes.

Para começar, a escolha criteriosa do porta-voz. No governo da “presidenta”, cercada de ministras mulheres por todos os lados, a aparição do ministro da Educação — cuja pasta não tinha nada a ver com nada (nem reforma política, nem plebiscito, nem transportes, nem orçamento, nada) — já seria impactante. E não era qualquer ministro. Era o famoso Mercadante, figura tostada em casos como o dossiê dos aloprados e a “renúncia irrevogável” da liderança do PT no Senado, quando o partido decidiu acobertar o tráfico de influência de Sarney (Mercadante revogou sua própria renúncia em menos de 24 horas).

E o porta-voz foi logo anunciando um “plebiscito popular”, só faltando dizer que era uma decisão de “governo governamental”. Enfim, um quadro de “Zorra total”.

Com toda essa trágica palhaçada gritada em seu ouvido, o gigante permaneceu estático. Sono profundo. Nem um “basta”, nem um “#vem pra rua”, nem um “que m... é essa”. Depois daquele incrível ensaio de Primavera Árabe (ou seria Inverno Tropical?), com milhões nas ruas em todo o território nacional, o Brasil revolucionário mordeu a isca como um peixinho de aquário. E está até agora discutindo, compenetradamente, o plebiscito popular e irrevogável do Mercadante. Contando, ninguém acredita.

O país se zangou, foi para as ruas, tuitou, gritou, quebrou e voltou para casa sem nem arranhar quem lhe faz mal. O projeto de privatização política do Estado, que corrói a sociedade e seu poder de compra, está incólume. A prova disso? A popularidade de Dilma caiu, mas quem surgiu nas pesquisas para 2014 vencendo a eleição no primeiro turno, e escolhido “o mais preparado para cuidar da economia nacional”? Ele mesmo: Luiz Inácio, a nova esperança brasileira.

Ora, senhor gigante: durma bem! Mas, por favor, ronque baixo. E pare de bloquear as ruas com seus espasmos inconscientes.

Guilherme Fiúza é escritor

Thursday, May 09, 2013

Mato Grosso do Sul pede socorro...

Os crimes continuados da Funai contra os agricultores brasileiros, contra a economia, contra o bom senso e contra...os índios! Ou: A incrível história de uma comunidade de 4000 pessoas destruída pelo governo petista.
do Blog do Reinaldo Azevedo, dia 09/05/2013 as 07:15 h

Uma região do Mato Grosso do Sul está em pé de guerra. Recentemente, a presidente Dilma foi lá deitar falação e recebeu uma sonora vaia dos produtores rurais. Propriedades centenárias — isto é, que são tocadas já pela terceira geração de agricultores — podem se transformar, por vontade olímpica da Funai, este antro notável de incompetentes e mistificadores, em reservas indígenas. Os valentes ainda não estão contentes com o desastre produzido em Raposa Serra do Sol, em Roraima. Conforme todos os prognósticos das pessoas razoáveis (o arquivo deste blog está à disposição), a expulsão dos arrozeiros da região produziria um desastre econômico e social. E produziu. Sem emprego, os índios estão deixando a reserva para morar em favelas e lixões de Boa Vista ou à beira de rodovias. Muitas índias viraram prostitutas.
A Funai decidiu demarcar nada menos de 40 áreas no Mato Grosso do Sul. Se a coisa for levada adiante, agricultores de mais de 20 municípios terão de deixar suas terras. Algumas cidades podem ser reduzidas a menos da metade, como Coronel Sapucaia, que perderia 52% de sua área. Vejam esta reportagem de Valteno de Oliveira, no Jornal da Noite, na Band, comandado por Boris Casoy. Volto em seguida.



Voltei
Eis aí. Pode-se repetir, em escala agora ampliada, a tragédia de Raposa Serra do Sol. A economia de 20 municípios será severamente agredida, e milhares de famílias ficarão desamparadas. E os índios? Terão como tocar as propriedades e manter as plantações de soja, por exemplo? Vejam ali. A Funai não consegue dar conta de um trator.
Nesta quarta, a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, falou à Comissão de Agricultura da Câmara. Afirmou que o governo pretende, finalmente!, mobilizar outras áreas do estado para cuidar do assunto, não só a Funai. Já não era sem tempo. Informa a Folha na edição de hoje: “A ideia é que sejam consultados órgãos como os ministérios da Agricultura (e a Embrapa, órgão vinculado), Cidades e Desenvolvimento Agrário. ‘Delegamos única e exclusivamente à Funai a responsabilidade por estudos e demarcação de terras. Nem sempre estabelecemos procedimentos claros e objetivos’”, afirmou Gleisi.
Nem sempre? Eu diria que quase nunca. A Funai tem uma ideia estupidamente atrasada de preservação. Como afirmou um dos líderes indígenas que teve de abandonar Raposa Serra do Sol, a fundação gosta de ver índio “de bunda de fora”. E os próprios índios, evidentemente, se tiverem condições, querem outra coisa.
13% do território brasileiro
O Brasil tem hoje nada menos de 13% do seu território destinados a reservas indígenas. No mais das vezes, o que se produz por lá são pobreza, miséria e ignorância. As comunidades que conseguem escapar desse destino se organizam sem dar bola para a Funai. E isso pode ser feito de maneira virtuosa ou viciosa, como se constatará mais adiante. Vejam como é distribuído o território brasileiro. Volto depois.

Voltei
Vocês entenderam direito. A agropecuária ocupa, no Brasil, 329.941.393 de hectares; desse total, 98.479.628 são áreas de preservação dentro das propriedades. Logo, os proprietários rurais brasileiros preservam 29,84% das terras que constam, oficialmente, como destinadas à sua atividade. Como o Brasil tem 851 milhões de hectares, isso significa que agricultura e pecuária ocupam apenas 27,2% do território brasileiro (231.431.765 milhões de hectares). Estudos mais recentes falam em 27,7%.
Fizeram as contas? Em pouco mais do dobro do que se reserva aos índios, os produtores brasileiros conseguiram desenvolver uma das agropecuárias mais avançadas do mundo — único setor da economia que impede o país de ir para o buraco. Não obstante, é o que mais apanha: da imprensa, das ONGs, dos ecologistas, do MST, de qualquer politicamente correto em busca de uma causa ou de um nativo para chamar de seu.
Uma cidade destruída
No Mato Grosso, um distrito de São Félix do Araguaia, onde viviam 4 mil pessoas, foi literalmente destruído. Coisa assim é rara no mundo em qualquer tempo, acreditem. Talvez haja precedente na antiga União Soviética, quando Stálin decidiu despovoar a Chechênia. Vejam mais uma reportagem de Valteno de Oliveira. Retomo depois.
Retomo
É estupefaciente! O poder público chega arregaçando tudo, derrubando o que encontra pela frente e não aponta uma solução para pessoas que trabalham, que produzem, que não querem viver de esmola. “Ah, mas a Funai, ao menos, cuida bem dos índios, não é, Reinaldo? Essa antropologia do miolo mole, depois de destruir a economia dos municípios e de gerar pobreza e miséria para os não índios, ao menos cuida direitinho daqueles a quem supostamente protege, não é isso?” Vejam a resposta.
Eis mais um resultado espetacular do trabalho da Funai, em parceria, claro!, com o Ministério da Justiça, do garboso José Eduardo Cardozo, uma rima sem solução. Sem qualquer controle, aldeias se transformam em abrigo de imigrantes ilegais e valhacouto de traficantes. As mães indígenas já se preocupam com suas crianças. Mal sabem que, em Brasília, o governo federal financia um seminário para liberar “todas as drogas”. Reparem ali o atendimento médico dispensado aos índios.
De posse das terras, com a chancela da Funai, há comunidades indígenas que decidem arrendar as terras. Pois é… Fico aqui me lembrando do ministro Ayres Britto a fazer poesia sobre o aspecto telúrico das comunidades indígenas. Que nada! Muitos deles se tornam verdadeiros rentistas — quando não se apresentam como verdadeiros sequestradores do patrimônio alheio. Vejam isto.
Índios não podem prosperar?
Será que os índios não podem prosperar? Ah, podem, sim! Livres da canga da Funai e sem praticar ilegalidades, é claro que eles têm como ir adiante, desde que fujam do destino que lhes quer impor a antropologia do miolo mole: bunda de fora, doença, fome e mosquito. Vejam mais esta ótima reportagem de Valteno.
É evidente que isso não pode continuar. A decisão estupidamente equivocada do Supremo sobre Raposa Serra do Sol teve ao menos um aspecto positivo: o tribunal estabeleceu 19 condicionantes que devem valer para as demarcações: uma delas prevê justamente que áreas já demarcadas não podem ser expandidas, como vem fazendo a Funai. Do nada, de repente, afirma-se que a reserva “x” tem de ser 2x — e se vai derrubando tudo o que há pelo caminho. Estabeleceu o Supremo que, nesse caso, se o governo quer ampliar a área, que proceda segundo as regras da desapropriação, indenizando os que terão tungada a sua propriedade.
Ocorre que foram interpostos embargos de declaração à decisão. O relator era Ayres Britto, e a questão está agora com o seu substituto, que ainda não foi nomeado. Enquanto isso, o país fica à mercê dos celerados da Funai.
Dilma sabia o que estava fazendo quando nomeou Marta Maria Azevedo para presidir o órgão? Deveria ter lido o currículo, que se espalha nas redes sociais. Reproduzo trecho:
“Desde a juventude interessou-se pelas questões indígenas e decidiu trabalhar com Antropologia em meados da década de 1970. “Minha primeira experiência em campo foi em 1978 junto aos Guarani Kaiowá. Trabalhei com educação escolar indígena, justamente porque era isso que as comunidades estavam demandando. Precisei aprender um pouco da língua guarani e fui estagiar em um projeto no Paraguai, onde conheci vários antropólogos que já estavam trabalhando há alguns anos com esses povos”, conta Marta sobre a experiência na Terra Indígena Takuapiry (MS).
Em 1980 integrava o grupo de Educação Indígena da Comissão Pró-Índio de São Paulo (CPI-SP) e atuava como colaboradora do Programa Povos Indígenas no Brasil do Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI). Também foi colaboradora do ISA, do Núcleo de História Indígena e do Indigenismo da Universidade de São Paulo – onde ajudou a fundar o Grupo Mari de Educação Indígena – e do Conselho Indigenista Missionário, no início da década de 1990.”
Encerrando
Não duvido que esta senhora saiba tudo de índio. A questão é o que ela sabe do Brasil não índio, com o qual tem de conviver. Aliás, eis um erro brutal: o chefe da Funai tem, claro!, de entender da questão indígena, mas como membro do Estado brasileiro, que tem de conciliar a questão com outras necessidades. Marta é uma militante de uma causa particularista. Vejam lá… Sua especialidade são os guaranis caiouás, justamente aqueles que supostamente seriam beneficiados com as desapropriações no Mato Grosso do Sul.
Não dá mais! O governo federal e a Funai não podem sair por aí destruindo cidades, destruindo a economia de estados e municípios, destruindo a vida de milhares de não índios — e de índios também. Dilma tem de dar a quem já é proprietário a… Bolsa Propriedade!!!
Texto publicado originalmente às 6h03
Por Reinaldo Azevedo