Thursday, November 22, 2007

Os “soviéticos” da economia brasileira – Um documento asqueroso - Blog Reinaldo Azevedo - 22/11/07

Estou entre enojado e escandalizado. Os soviéticos estão chegando. Os soviéticos já chegaram. Recebi uma “moção” de apoio a Márcio Pochmann, o patrulheiro do Ipea (vocês se lembram), assinada pelo Conselho Regional de Economia do Estado do Rio de Janeiro (Co.R.Econ-RJ), pelo Sindicato dos Economistas do Estado do Rio de Janeiro (Sindecon-RJ) e pelo (Centro de Estudos para o Desenvolvimento). Acreditem: essas entidades
- hipotecam integral apoio a Pochmann;
- demonizam os economistas demitidos do Ipea (a culpa é das vítimas);
- deixam claro que os quatro economistas foram mesmo “punidos” por não rezarem segundo a cartilha do governo: trata-se de uma questão ideológica;
- dizem que ainda é pouco e que mais precisa ser feito.

O texto é tão asqueroso no seu oficialismo, tão estúpido nos conceitos que emite, tão energúmeno na sua gramática moral e da língua portuguesa, que cheguei a duvidar de que pudesse ser verdadeiro. Entrei na página do Corecon na Internet. Não encontrei a tal moção. Tinha um pequeno fiapo de esperança. Talvez fosse um desses falsos e-mails. “Ninguém seria tão canalha”, cheguei a pensar. “Não é possível que exista gente que se disponha a exibir o nariz marrom desse jeito”, duvidei, cheio de esperança. Fiquei com o pé atrás quando vi que os valentes chamam “site” de “sítio”. Sim, claro, a mesma coisa... Ocorre que, no Brasil, só opta por “sítio” quem é atacado pelo complexo vira-lata de Policarpo Quaresma.

Aí cumpri o meu dever. Liguei para o Corecon — Tel: (21) 2103-0178 ou pelo FAX: (21) 2103-0106 —: “Tenho aqui uma moção que estaria sendo enviada aos economistas...”. Em suma: era tudo verdade. Eles realmente haviam redigido o texto que segue em vermelho. Citei o sovietismo, não é? Acho que fui muito severo com os camaradas. Nem os comissariados profissionais do stalinismo seriam tão sabujos quanto o que vai abaixo. Faço ainda intervenções em azul:

MOÇÃO
Em reunião de 14 de novembro último o CORECON – RJ, o SINDECON e o CED, aprovaram e recomendaram a ampla divulgação da seguinte moção.A imprensa vem criticando duramente os recém-nomeados presidente e diretor do IPEA, Márcio Pochmann e João Sicsú, pelo fato de terem dispensado quatro pesquisadores da instituição. Tendo sido essa decisão supostamente devida ao fato de serem os mesmos contrários a política econômica do Governo.
Vou me abster de comentar os erros de língua portuguesa e as grosserias de estilo. Alguns dos meus amigos mais inteligentes são economistas — um já trabalhou para este governo; não digo o nome nem debaixo de chicote. Mas os que redigiram esta “moção” são analfabetos.

Com respeito à questão, o fato a ser inicialmente sublinhado é que a mudança no comando de instituição de pesquisa oficial (e não acadêmica) traduz o desejo do Poder Público de dar nova orientação aos trabalhos da entidade. No caso em análise, a mudança no comando do IPEA traduz a nova orientação (embora ainda tímida e incompleta) do Presidente Lula no sentido de melhorar os resultados obtidos pelo Brasil em termos de desenvolvimento.
Como se vê, há o endosso cego da política oficial e o que, para mim, corresponde a uma confissão: houve mesmo expurgo; houve mesmo punição ideológica. Observem que os bravos esperam ainda mudanças. Eles acham pouco.

O Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, a criação do Ministério Extraordinário de Ações Estratégicas, com a indicação de Mangabeira Unger para comandá-lo, a nomeação de Guido Mantega para o Ministério da Fazenda e de Luciano Coutinho para o BNDES, constituem importantes corolários dessa decisão de imprimir novos rumos à economia brasileira. É, portanto, perfeitamente natural e necessário que o IPEA, órgão oficial de apoio à definição de políticas econômicas, seja comandado por dirigentes afinados com a nova orientação desejada pelo Governo. E esses dirigentes, para levarem adiante sua tarefa, devem ajustar a equipe técnica do órgão às suas novas funções.
Você pode não ter entendido direito o que vai acima, dadas a pontuação porca, a sintaxe claudicante, a vírgula entre o sujeito e o predicado etc. Mas é só um elogio do oficialismo, explicitando que o afastamento dos quatro pesquisadores faz parte de uma estratégia.

Mais grave, porém, é a alegação de que a dispensa dos quatro pesquisadores, cuja capacidade profissional e contribuição científica não se discute, teria decorrido de serem eles contra a política econômica oficial.
Observem que “grave”, para os soviéticos, não é o afastamento dos economistas, mas a leitura que se faz dela. Querem regular a interpretação da notícia. Em tempo: eles reconhecem a “capacidade profissional e contribuição científica” dos afastados...

Ora, o fato incontestável com respeito a esta,”
Com respeito a esta”??? Cadê o meu pau-de-arara estilístico?

é que os economistas brasileiros se dividem hoje entre os que aceitam, ou rejeitam, a visão neoliberal do Banco Central que, presentemente, comanda os destinos econômicos do país. Visão que concede absoluta prioridade à manutenção dos equilíbrios fundamentais (cambial, fiscal e monetário) relativamente à necessidade de incremento acelerado do PIB brasileiro. Com a conseqüência de ter sido o crescimento da economia brasileira muito inferior ao de países em condições bem menos favoráveis que as nossas para o desenvolvimento econômico.
O que essa gramática símia acima está dizendo é que o reconhecido equilíbrio cambial, fiscal e monetário impede o Brasil de crescer mais. Logo, para os valentes do Corecon (esta sigla com nome de remédio anticaspa), para crescer mais, é preciso provocar um desequilíbrio dos fundamentos... Quem sabe uma gastança ainda maior, quem sabe uma inflação maior, quem sabe a centralização do câmbio... Olhem: também tenho críticas à política econômica. Já as fiz aqui. Mas o que vai acima é um desserviço prestado àqueles que possam ter reservas técnicas à política do Banco Central. Se eu fosse Henrique Meirelles, adoraria ter críticos energúmenos como estes. Ademais, quem nomeia o presidente do BC é Luiz Inácio Lula da Silva, não Fábio Giambiagi.

Com base nesse critério, o que se pode afirmar é não terem os quatro economistas desligados do IPEA jamais se colocado firmemente (o que possivelmente seria sua obrigação) contra o conservadorismo alienante do Banco Central traduzido, entre outros fatos, nos altíssimos juros, na sobrevalorização do real e na recusa em intervir na livre movimentação do capital estrangeiro especulativo.”
Obrigação” por quê? Quer dizer que eles são proibidos de estar lotados num órgão do estado e, eventualmente, concordar com a política monetária? O que vai acima é a admissão tácita de que o Ipea pretende ser uma frente avançada de combate à política do Banco Central.

Quanto à posição dos novos dirigentes do IPEA é suficiente referirmo-nos à dois livros recentes de autoria e co-autoria de João Sicsú. Neles vamos encontrar três críticas, baseadas em impecáveis argumentações científicas, quais sejam: a) ao uso, para manter a inflação sob controle, de altíssimos juros, que paralisam a economia, e são desnecessários por existirem instrumentos alternativos, igualmente eficazes; b) a sobrevalorização do real, que está conduzindo a economia brasileira a indesejável especialização em “commodities” agrícolas e industriais e c) a liberdade, e até encorajamento, concedidos ao capital especulativo estrangeiro, o que coloca o Brasil diante do risco permanente de crises cambiais. Com respeito à taxa de câmbio, Sicsú classifica como irresponsável a aceitação de qualquer relação real/dólar inferior a 2,8.
Como a gente vê, Sicsú, sozinho, descobriu o que é bom para o Brasil. Agora dividindo o comando do Ipea com Márcio Pochmann, impõe a linha justa. Seu livro não é mais uma das leituras possíveis da economia brasileira: é uma cartilha.

Ou seja, em termos de posição a favor ou contra a política econômica oficial, é a nova direção do IPEA, e não os quatro pesquisadores dispensados, que deve ser considerada contrária à política econômica oficial, comandada pelo Banco Central.
Então deveria ser demitida segundo os mesmos critérios que levam Pochmann a afastar os quatro economistas dos quais diverge. Eis a lógica dos “economistas” que pretendem substituir os “neoliberais”. Deus me livre! Tentariam nos convencer a tomar sorvete com a testa.

É, finalmente, necessário lembrar que Márcio Pochmann e João Sicsú são unanimemente apontados como desenvolvimentistas e, portanto, visceralmente contrários a uma política econômica que já levou o país à quase três décadas de semi-estagnação.
O problema dessa gente começa na estrutura binária: basta ver como gosta de pôr crase onde não precisa e de tirar de onde precisa. “Três décadas de semi-estagnação” por causa da política econômica, que eles chamam “neoliberal”??? Então vamos ver. Teria sido o “neoliberalismo” o responsável, entre outras coisas:- pela moratória da dívida externa, com Dílson Funaro (neoliberais, vocês sabem, gostam de calote...);- pelo congelamento de preços do Plano Cruzado (neoliberais, vocês, sabem, odeiam o mercado...);- pelo câmbio fixo do Plano Real (vocês sabem: neoliberais não acreditam em flutuações de mercado...).Trata-se de asneira ditada por um misto evidente de burrice com ideologia. Depois reclamam da minha má vontade com sindicalistas e afins, essa gente que se junta em associações profissionais para defender “usdireitcho da catchiguria”. Se for trabalhador pobre, vá lá... Mas por que alguém precisa de um sindicato de economistas? Economista que presta sabe se defender sozinho, não é mesmo?

O CORECON-RJ, o SINDECON e o CED desejam e esperam que o IPEA, sob nova direção, volte a desempenhar sua tarefa básica, por muito tempo esquecida, de comandar definição de estratégia capaz de recolocar o país na trilha do crescimento acelerado.
Assinaturas:
Conselho Regional de Economia do Estado do Rio de Janeiro – Co.R.Econ-RJ
Sindicato dos Economistas do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Estudos para o Desenvolvimento
É isso aí. Assinem essa impostura. Que o documento sirva como prova da indigência técnica e política dessa gente.Ah, sim: os valentes acima elegeram Márcio Pochmann o “economista do ano”.
Por Reinaldo Azevedo

Thursday, November 15, 2007

Comuno-fascistóides 1 – Presidente petista o Ipea promove expurgos - Blog do Reinaldo Azevedo - 15/11/07

Por Guilherme Barros, na Folha desta sexta. Volto depois:
Quatro pesquisadores independentes e considerados não alinhados ao atual pensamento econômico do governo foram afastados nesta semana do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), no Rio, pela nova direção do instituto, vinculado ao Núcleo de Assuntos Estratégicos, comandado por Roberto Mangabeira Unger. São eles: Fabio Giambiagi, Otávio Tourinho, Gervásio Rezende e Regis Bonelli. Os dois primeiros, que estavam cedidos pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), foram informados de que seus convênios não seriam renovados no vencimento, em dezembro. Já para os outros dois, que estão no Ipea há 40 anos e faziam trabalhos regulares para o instituto, a alegação foi a de que eles já estavam aposentados.
Procurados pela Folha, por meio de suas assessoria de imprensa, os economistas Marcio Pochmann, presidente do Ipea, e João Sicsú, diretor de Estudos Macroeconômicos do órgão, considerada a mais importante posição do instituto, e que fica instalada no Rio, não se pronunciaram. A assessoria da Ipea confirmou a saída dos quatro pesquisadores, mas deu motivos diferentes dos que foram apurados pela Folha. (...) O ex-deputado Delfim Netto, que comandou a economia no período de 1979 a 1985, durante o regime militar, chegando a ser chamado de superministro, lamentou e criticou a saída dos quatro pesquisados do Ipea. Delfim foi até chamado por Pochmann -e aceitou- para assumir o cargo de conselheiro do Ipea. "Tenho esses profissionais [os quatro pesquisadores afastados] em alta conta. São economistas dedicados à pesquisa, com boa formação acadêmica e trabalhos relevantes prestados à economia brasileira", afirmou o ex-deputado.Assinante lê mais aqui

Voltei
Pochmann foi secretário de Trabalho de Marta Suplicy. Na pasta, produzia mais pesquisas furadas do que Lula produz sandices. É um marqueteiro de mão cheia. Tanto que virou um dos principais fornecedores de estatísticas para Eremildo, o Idiota. E, assim, acabou ganhando a injustificada fama de economista sério.A sua obra mais notável até hoje foi uma pesquisa produzida em 2002 — ele na prefeitura petista, e o governo, é claro, era o de FHC — em que demonstrava, com base em vários dados (sim, sim, claro...) que o Brasil era o segundo país NO MUNDO em número absoluto de desempregados. Isto mesmo que vocês entenderam: o valente fez um ranking de desempregados que considerava OS NÚMEROS ABSOLUTOS NO PLANETA. Segundo Pochmann, Banânia só perdia para a Índia...Não! Ele não excluía de seu levantamento nem mesmo os 25% da humanidade da China. Pochmann foi o primeiro economista a obter dados confiáveis sobre emprego no gigante comunista. Conseguiu atravessar também o cipoal de castas, religiões e culturas na Índia para medir com precisão o que nem o governo daquele país se atreveria a dizer: quantos são os desempregados. Com um pouco mais de senso de oportunidade, teria provado que o Brasil é tão injusto, mas tão injusto, que tem mais milionários do que o milionário Principado de Mônaco...Deram-lhe trela. Ele virou notícia de jornal. Mais: a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a sempre petralha SBPC, achou seu estudo tão bacana, que o mantém em seu site (aqui). Esse cara é hoje o chefão do Ipea.

Tá com medinho, 13?
Curioso Pochmann não falar com a imprensa, justo ele, não é mesmo? Até chegar ao Ipea, ela era a sua principal parceira. Na hora em que tem de dar explicações, foge. A verdade é esta: começou a fase de caça às bruxas, o comuno-fascismo light à moda petista. Vejam o caso dos dois economistas que estavam no órgão há 40 anos. Resistiram à ditadura, à redemocratização, a Collor, a Itamar e a FHC. Mas sucumbiram diante da democracia popular petista.É uma vergonha, um escárnio. Tudo muito próprio de quem assumiu a direção do instituto defendendo o aumento de gastos públicos e a contratação de mais servidores — afinal, ele se quer um “desenvolvimentista”. Conheço economistas, alguns do PT. Não há um único, unzinho só que seja, que o leve a sério. Só jornalistas lhe deram bola. Mas, como se vê, ele não está lá para produzir estudos. Sua função é fazer a depuração ideológica. E, para realizar o serviço sujo, nada como um burocrata medíocre.
Por Reinaldo Azevedo

Monday, November 12, 2007

Do blog do Aguinaldo Silva de 10/11/07

Em 1978, quando a ditadura já seguia em velocidade de cruzeiro e muitos intelectuais de esquerda haviam dado um jeito de mamar de novo nas tetas do governo que supostamente ainda condenavam, eu ganhei o I Prêmio Abril de Jornalismo no gênero “melhor reportagem individual”, com uma matéria intitulada “Pobres Homens de Ouro”.Os Homens de Ouro, se vocês não sabem, era o ovo da serpente do qual nasceu o Esquadrão da Morte e seus afiliados da época, todos de sinistra memória. Então, aos olhos de todos, inclusive os meus, os mocinhos (ou seja, a polícia) eram os bandidos.
Esse foi um cacoete que adquirimos naqueles tempos difíceis, e do qual muitos não se livraram até hoje: para estes, a polícia não presta. E os bandidos, mesmo aquele psicopata sedento de sangue do ônibus 174, são apenas heróis românticos, justiceiros dispostos a expropriar o que lhes pertence e que nós, a chamada “elite”, lhes roubamos, porque temos o atrevimento de trabalhar e ganhar dinheiro.Naquela época, os Homens de Ouro, que eram sete e incluíam o famoso Mariel Mariscot, era o que havia de mais temível. Ao escrever sobre eles, e mostrar como eles progrediram na vida através do terror e da mão grande, eu fui premiado, mas causei preocupação aos amigos, que me perguntavam a toda hora: “você não tem medo?” Eu tinha. Então eu era – desculpem a falta de modéstia – uma das “estrelas” dos jornais alternativos Opinião e Movimento, para os quais fazia matérias semanaisMuitas vezes eu saía de madrugada de minha casa no então ameno bairro de Santa Teresa para entregar meus textos na redação dos jornais no Jardim Botânico. E enquanto atravessava a Rua das Laranjeiras, o Cosme Velho e o Túnel Rebouças no meu Fusca, tinha a nítida sensação de que estava sendo seguido. Em geral estava. Mas as ameaças nunca passavam disso.Então eu já tinha sido preso (fiquei 70 dias na Ilha das Flores, 45 dos quais incomunicável), e também fui processado três vezes, sempre por delitos de opinião, que permitiam ao então Ministro da Justiça, o dr. Armando “no coments” Falcão, me enquadrar na Lei de Imprensa.Podia, por causa da prisão e dos processos, ter pedido indenização ao governo atual, como fizeram muitos. Mas não acho que o povo tenha que pagar pelos agravos que sofri em virtude de minhas convicções políticas. Por isso prefiro viver às minhas próprias custas. E se tem alguma coisa da qual vou me orgulhar na hora da morte é de sempre ter vivido do meu trabalho e jamais ter mamado nas tetas de nenhum governo.Sim, na época eu tinha medo. Mas por mais sangrenta que fosse a ditadura, as aflições que então sofríamos por causa disso não tinham tanto peso quanto têm as aflições de hoje, quando somos supostamente livres. É que na época os militares até podiam impor arbitrariamente sua vontade. Mas pelo menos não eram fundamentalistas, não achavam que tinham a missão divina de reorganizar e assim salvar o mundo. E agora...Agora os que não concordam com o que está aí também sentem medo. E são seguidos na calada da noite. E são ameaçados. E têm suas contas bancárias secretamente devassadas. E recebem telefonemas sinistros disparados de celulares com IDs privados. E morrem sim, porque alguns, como aquele prefeito lá de Santo André, são mortos nunca se sabe porquê nem como.Digo a vocês sem maiores rodeios. Neste momento eu sinto medo, e tenho sérias razões pra isso. A julgar pelo que dizem os telefonemas disparados dos tais celulares com IDs privados, por motivos alheios à minha vontade posso até nem terminar a novela DUAS CARAS, que tanta discussão está gerando.Mas fica o aviso: se eu parar não será por minha própria vontade. E embora, no final de contas, o que eu faço seja “apenas Chinatown”, ou seja, uma novela, se eu não puder terminá-la porque amanheci, como dizem os tais telefonemas: “com a boca cheia de formigas”, espero que um dia Mamãe História se pronuncie e alguém venha a ser responsabilizado por isso.Mas não se preocupem. Isso ainda não é uma despedida. Até o próximo texto!

Friday, November 09, 2007

Atentai, jornalistas, para Mexilhão! - Blog do Reinaldo Azevedo - 09/11/07

Vocês querem ver como são as coisas?

Em setembro de 2003, a Petrobras anunciou a descoberta de um campo gigantesco de gás em Santos: Mexilhão. Era a nossa redenção. Estamos no fim de 2007. Até agora, não se tirou de Mexilhão gás para produzir um pum. Querem um bom divertimento? Façam uma pesquisa na Internet sobre o palavrório a respeito. Se gogó movesse turbina, o Brasil seria mesmo uma potência mundial.

No dia 13 de junho de 2005, informava o jornal Valor Econômico:

“Na reunião com a Fiesp, Dilma [Rousseff] também informou que a Petrobras deverá focar seu objetivo na antecipação de 2009 para 2007 da produção de gás do campo de Mexilhão, na Bacia de Santos, disponibilizando 12 milhões de metros cúbicos diários do insumo; e de outros 10 milhões de metros cúbicos por dia da Bacia do Espírito Santo também em 2007, segundo informação do presidente da Associação Brasileira da Infra-estrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy, que participou da reunião.”

Viram só? Aconteceu? Não! Os investidores reclamavam e continuam reclamando da falta de clareza dos marcos regulatórios.

Uma fonte da empresa, na mesma reportagem, era menos otimista do que a ministra: "'A previsão para Mexilhão entrar em operação é junho de 2008 e esse será o projeto mais rápido a entrar em operação na história da Petrobras. Não é possível antecipar Mexilhão para 2007, porque vamos precisar de uma unidade de processamento de gás natural com capacidade para processar 12 a 15 milhões de metros cúbicos por dia, da plataforma e precisamos fazer os contratos. Tudo isso toma tempo', explicou a fonte da estatal.

"Entendo...

Em 26 de julho de 2006, 13 meses depois da fala da Dilma, noticiava a Folha On Line: “O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli de Azevedo, anunciou a aprovação do estudo de viabilidade técnico-econômica do pólo de gás de Mexilhão, um dos cinco complexos de produção a serem implantados na Bacia de Santos”. Epa! A reserva foi descoberta em 2003; em 2005, a ministra anunciou gás para 2007, mas o estudo sobre a viabilidade só ficou pronto em junho de 2006? Ah, claro, no mesmo texto, informava o presidente da Petrobras: “O projeto do pólo de Mexilhão, orçado em US$ 2 bilhões (R$ 4,3 bilhões), prevê a produção diária de 8 a 9 milhões de metros cúbicos de gás no primeiro semestre de 2009. Já sua capacidade máxima deve ser atingida em 2011, quando serão produzidos até 15 milhões de metros cúbicos de gás”

Vocês leram direito. Um campo descoberto em 2003, anunciado também com aquela paixão inaugural do lulismo, só vai produzir plenamente, se produzir, oito anos depois — em 2011. Um especialista da área me conta que Mexilhão está atrasado.
Se é assim com um campo de gás, imaginem como será com o petróleo, dadas as dificuldades lembradas pela própria Petrobras e a necessidade de criação de uma tecnologia específica. O caso de Mexilhão é exemplar. Tudo tivesse se dado conforme o anúncio oficial, o país não estaria hoje rezando para não faltar chuva — já que a crise do gás é, de fato, uma crise do setor elétrico.

Como diria Mão Santa, “atentai, jornalistas, para Mexilhão”.

Os pauteiros podem fingir que nada disso existe, claro. Podem fingir que o que os seus próprios veículos escreveram jamais foi escrito.

Por Reinaldo Azevedo

Como requentar uma notícia velha, influenciar pessoas e até fazer fortunas - Blog Reinaldo Azevedo 09/11/07

É evidente que o governo deu um jeito ontem de trazer o futuro a valor presente, anunciando até mesmo o ingresso futuro do país no grupo dos exportadores de petróleo. Reitero: tomara que se encontre mesmo todo o petróleo e todo gás que se anunciam e que eles sejam queimados aqui, pelo crescimento da economia brasileira. Exportar petróleo, por si mesmo, não é grande vantagem. Os EUA, por exemplo, são importadores. Tudo confirmado, a notícia é boa?

O mais fantástico do que se viu ontem — uma operação gigantesca de publicidade, que agitou o mercado financeiro — é que a notícia é, pasmem! VELHA. O que não quer dizer que não seja boa. Leiam reportagem de Sabrina Lorenzi na Gazeta Mercantil de 6/09/2005 — há mais de dois anos. Volto em seguida:
*
O grande desafio da Petrobras agora é extrair o óleo a 6.000 metros de profundidade. A ousadia de ir mais fundo rendeu à Petrobras o que deverá se tornar a mais valiosa reserva de petróleo e gás já encontrada. A estatal encontrou óleo leve — de excelente qualidade — a 6.000 metros de profundidade, na Bacia de Santos, numa prévia da jazida gigante que avista.

O gerente- executivo de exploração e produção da estatal, Francisco Nepomucemo, revela a expectativa que a companhia vive após a descoberta. "É uma nova província petrolífera no Brasil. Não está concluído o poço; vamos perfurar mais para fazer o teste de produtividade (volume) do óleo e confirmar a existência de um reservatório", comemora com cautela. Ele prefere não falar em quantidade antes dos testes de confirmação, mas admite que pode ser volume suficiente para revolucionar os planos da estatal.

"Só digo que, confirmando a descoberta e a produtividade dessa área, aumenta muito o potencial petrolífero da Bacia de Santos. É o grande potencial do Brasil hoje", disse. Há uma semana, a Petrobras comunicou ao mercado a descoberta de indícios de hidrocarbonetos no seu poço mais profundo, no bloco BM-S-10 a 6,4 mil metros de profundidade, na Bacia de Santos. O poço RJ-S-61 fica na frente de Paraty, no Rio, divisa com São Paulo. A Petrobras é a principal detentora do bloco (65%), junto com a Partex (10%) e BG (25%).

Descoberta província de petróleo
Santos deverá se transformar na principal opção ao esgotamento da Bacia de Campos. As companhias notificaram a descoberta no dia 21 de agosto à Agência Nacional do Petróleo (ANP). "Se a gente descobre gás e óleo leve nesse horizonte, toda a área em volta fica com esse potencial", acrescenta Nepomuceno.

Confirmadas as expectativas de reservas gigantes de petróleo leve em águas ultraprofundas, Santos passa a ser a principal opção da estatal ao esgotamento dos atuais campos da Bacia de Campos. Mais perto do mercado consumidor, com óleo de excelente qualidade e gás, a região possui, até então, reservas da ordem de 2,5 bilhões de barris (com o gás do campo de Mexilhão (BS-400) e o óleo leve do BS-500).

Nova fronteira
Analistas especulavam, até então, a existência de uma bacia petrolífera debaixo da Bacia de Campos. Para Nepomucemo, é mais provável que em Santos - e não em Campos - exista uma nova fronteira com tamanho potencial. Na Bacia de Santos, uma camada de sal com metros e metros de espessura separa os reservatórios de petróleo e gás das rochas e do material orgânico que geram os hidrocarbonetos. A crosta de sal, situada a cerca de seis mil metros, "prendeu" o óleo e o impediu de subir, ao contrário do que aconteceu na área da Bacia de Campos.

Na Bacia de Campos, essa crosta de sal se rompeu durante a formação de montanhas como a Serra do Mar. A abertura da camada de sal em buracos chamados de janelas permitiu a constituição de importantes campos de petróleo como Marlim, Roncador, Marlim Sul, Albacora, localizados a dois mil metros de profundidade. Na Bacia de Santos, o petróleo e o gás ficaram presos a seis mil metros, suscetíveis a elevada temperatura e pressão.
A íntegra da reportagem está publicada, diga-se, no site do Ministério do Planejamento (clique aqui).

Voltei
Pode-se argumentar que a novidade de ontem, então, foi o dimensionamento da reserva, já que se sabia da existência do petróleo leve abaixo da tal camada de sal? Mais ou menos, não é? O que a Petrobras forneceu nesta quinta foi uma estimativa. Observem que se passaram mais de dois anos entre uma notícia e outra, e não se tem uma informação essencialmente diferente. De lá para cá, foram se fazendo testes. Isso dá uma idéia do tempo de maturação do projeto. É emblemático que o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, estivesse ontem ao lado da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Movia o tempo todo a cabeça, um tanto frenético para seu estilo mais comedido. A operação estava sendo muito bem-sucedida. Era orgulho.

Para se ter uma idéia: estima-se que a operação comercial do primeiro campo na região só comece em 2011 — e, ainda assim, para testar a sua viabilidade. Tudo dando certo, a exploração pra valer só ali por 2013, 2014. Daí que Lula vá se encontrar hoje com Evo Moraes para saber como pode investir mais na Bolívia. A Petrobras explora petróleo a, no máximo, 2.700 metros. O óleo que foi encontrado está numa profundidade entre 4.500 e 7.000 metros. A própria empresa informa que o desenvolvimento de um campo, mesmo em profundidades menores, que produz 150 mil/barris dia custa US$ 1,2 bilhão. Para extrair esse óleo mais profundo, gasta-se muito mais. Quanto? Ninguém sabe. No mínimo, o triplo, dizem alguns especialistas. Vai ser preciso ir atrás de muito investimento e de tecnologia.

É claro que há, por enquanto, incertezas demais para um mercado tão animado. A CVM deveria, quando menos, avaliar se estamos diante de um caso de euforia típica. Quem conhece a área afirma que não havia a menor razão para o estardalhaço de ontem. Não porque inexista o petróleo. Mas não se sabe agora muito mais do que se sabia em 2005. Há quem fale até em 20 bilhões de barris caso se expanda a área. Acontece que o governo jogou para sair do escanteio em que estava com a chamada crise do gás — que, notem bem, está no lugar onde estava. A Petrobras também buscou limpar a sua barra, um tanto tisnada pela questão.

É claro que eu quero que tenha muito petróleo lá, à diferença do que a petralhada anda dizendo por aqui. O que não aprovo, já disse, é a empulhação, a marquetagem. De resto, não estou tirando mérito nenhum do PT — a menos que o partido tenha comprado a Petrobras. Que eu saiba, ele só aparelha a empresa. Ademais, se o petróleo “tupi” começar a jorrar timidamente só em 2011 e, para valer, só a partir de 2013, a hipótese feliz é a de que Lula já esteja bem longe do Planalto.

Por Reinaldo Azevedo

Thursday, November 01, 2007

Caco Barcelos e os cacos do humanismo. Ou: "Ele quer presunto de primeira" - Blog do Reinaldo Azevedo - 01/11/07

Se um dia um esquerdista fosse desidratado, liofilizado, para, eventualmente, só ganhar corpo na hora do consumo, como essas sopas que se vendem em supermercado, ele ficaria com a cara e o jeito de Caco Barcelos, o repórter da TV Globo, também um tanto metido a orientador dos moços, com seus “jovens repórteres”. Ele concede uma entrevista à revista VIP que tem momentos verdadeiramente asquerosos. O bom-mocismo de Barcelos é só um biombo onde se esconde a mistificação — e, às vezes, a mentira descarada.

Mas ele não está sozinho. A entrevista, conduzida por Claúdia de Castro, está mais para uma ação entre amigos. Não importa o que o entrevistado diga, ela concede e, às vezes, reforça. No bate-papo entre ambos, as contradições são sempre alheias. Sim, é a fala de quem fez carreira demonizando a polícia. Noto ainda que Barcelos é convocado a falar num movimento bem maior: os “descolados”, sempre atentos ao que o “povo” deseja, decidiram, desta vez, que ele está errado. O vulgo acerta quando elege Lula, mas erra quando aprova Tropa de Elite. Vocês sabem: desde Stálin, o povo precisa é de um guia genial que lhe diga o que fazer. Seguem trechos da entrevista em vermelho, com intervenções minhas em azul.

VOCÊ ASSISTIU A TROPA DE ELITE?
Ainda não consegui ver inteiro. Mas vi uns pedaços e estou acompanhando a repercussão.E ESTÁ ACHANDO O QUÊ?
Acho interessante que as pessoas estejam falando sobre isso. Houve um tempo em que o país não discutia mais sobre segurança pública. Acho interessante que todo mundo tenha uma opinião a respeito disso. Mas a minha preocupação é no sentido de estarem enxergando o personagem central (Capitão Nascimento, interpretado por Wagner Moura) como um herói. E também me preocupo com o fato de ninguém ter discutido ainda as mortes provocadas pelo Bope (Batalhão de Operações da Polícia Especial do Rio de Janeiro). Muito está se falando sobre os métodos de atuação da polícia, sobre as torturas, o que é gravíssimo. Mas ninguém fala o essencial, que é a matança provocada pela polícia nessa área pobre da cidade. Como é o Bope quando atua no Leblon, em Ipanema? Usam aquele saco plástico na cabeça de alguém? Você conhece algum rico que foi morto pelo Bope?NÃO, NUNCA OUVI FALAR.
Pois é. Em 30 anos de jornalismo, eu também nunca ouvi uma história assim. Nunca ouvi uma história sobre algum rico criminoso que tivesse sido morto por essa unidade especial da polícia. Se omitirmos esse dado, a discussão não é honesta. Veja que Tropa de Elite é um filme de ficção, o diretor tem toda a liberdade para tratar do que quiser na obra dele. Não quero que pareça que estou fazendo uma crítica ao filme. Mas é triste saber que a sociedade está escolhendo um matador para herói.
Trata-se de um juízo delinqüente, compartilhado docemente pelos dois jornalistas. Se o Bope também matasse ricos, supõe-se que a sua atuação estaria, então, marcada por certo equilíbrio, por certo senso de justiça. Observem que o norte moral, então, não está em matar ou não matar, mas na conta bancária do morto. É uma avaliação nojenta. Mais: a ação do Bope é especialmente voltada para o crime que se incrustou nas favelas. Na formulação de Barcelos e de sua entrevistadora, não existe diferença entre “pobre” e “traficante”.

E O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM ESSA SOCIEDADE?
Isso é muito antigo. A verdade é que as autoridades nunca utilizaram no Brasil o que há de mais inteligente e democrático na política de segurança pública. Muito se criticam os direitos humanos, as ONGs, mas nunca nenhuma das idéias, das propostas das pessoas que querem que as pessoas sejam respeitadas independentemente de sua condição econômica foram aplicadas. Desde o Brasil colônia, a polícia está aí para defender os interesses dos mais endinheirados. Desde sempre a sociedade legitimou ações brutais contra aqueles desprovidos de poder, seja econômico, seja político, aqueles desprovidos de cidadania. Se a brutalidade fosse interessante, a Rota já teria transformado São Paulo em um paraíso.
Eis aí. É a tese de que a polícia só está a serviço do arranca-rabo de classes. Sempre que ela atua, é contra os pobres. São Paulo não é um paraíso, mas se mata no estado quase um terço do que se mata no resto do país, um quarto do que se mata no Rio, um quinto do que mata em Pernambuco. Os esquerdistas não vão reconhecer isso jamais, não é? Ah, sim: não “está a acontecer” nada de errado com esta sociedade, moça. Ela apenas se cansou da conivência entre o pensamento politicamente correto e os bandidos.

O QUE MUDOU ENTRE ROTA 66 E TROPA DE ELITE?
Muita coisa. A Rota fez escola, o Bope. Mas tem anos que a polícia de São Paulo mata muito menos. Eram 1 500 pessoas em 1992, quando lancei o livro. Esse número baixou para 300. Mas a criminalidade de São Paulo não se alterou. Na verdade, a única coisa que mudou foi a redução no número de homicídios. É óbvio que, quando a polícia mata menos, a sociedade fica menos violenta. Em São Paulo, mais de 10% dos crimes de homicídio são praticados pela polícia. No Rio, esse número é mais alto, mais de 20%. Bastaria uma ação pública eficaz para que houvesse a redução do crime mais grave, que é o crime de morte.
Trata-se de uma mentira deslavada. O número de homicídios em São Paulo caiu quase 70% em oito anos. E não porque a policia mate menos, mas porque há mais homicidas na cadeia. Por que Barcelos não reconhece? Lanço duas hipóteses que se combinam: a) porque não vai reconhecer méritos nos que considera seus inimigos: os policiais; b) porque precisa manter o mercado mental da violência para poder vender os seus produtos ideológicos.

EXISTE DIFERENÇA ENTRE AS POLÍCIAS MILITARES DE SÃO PAULO E DO RIO?Nenhuma. Por que, por exemplo, a Polícia Federal, que é bem treinada, bem remunerada e trabalha com inteligência, não precisa provocar sequer um arranhão em uma pessoa? Elas têm seus direitos respeitados. É o mesmo país, a mesma realidade e essa polícia é eficaz. A brutalidade é incoerente. Mas investigação dá trabalho...
Mistificação! Fraude intelectual! A Polícia Federal não sobe morro, não vai à periferia, onde se acoita o criminoso que atira, a esmo, para matar. Para que a comparação de Barcelos, aceita bovinamente pela interlocutora, fizesse algum sentido, seria preciso que ela passasse a atuar nas mesmas praças onde atuam as PMs e a polícias civis do Rio ou de São Paulo, por exemplo. Tenho uma outra questão para Barcelos e sua entrevistadora: das pessoas presas pela PF, quantas estão em cana? Ao afirmar que “investigar dá trabalho”, ele faz tábula rasa das polícias boa e má. A propósito: impedir a entrada de armas no país é tarefa da PF. E ela não cumpre. Bem como reprimir a entrada de drogas, já que o Brasil não produz cocaína. Como a PF, de que Barcelos tanto gosta, trabalha mal, sobra serviço para as outras polícias, que ele tanto detesta. Desafio-o a provar que estou errado.(...)

VOCÊ FREQÜENTOU DURANTE MUITO TEMPO AS FAVELAS DO RIO PARA ESCREVER ABUSADO. COMO A COMUNIDADE VÊ A POLÍCIA MILITAR?
De forma geral, a Polícia Militar do Rio de Janeiro representa o autoritarismo sem autoridade. As pessoas não têm seus direitos mínimos respeitados nas ações dos policiais nos morros. A violência está dos dois lados na favela, claro: na polícia e no tráfico. Essa história é uma loucura. Um tiro de fuzil é capaz de atravessar sete barracos de alvenaria. E atrás de traficante pode ter uma criança de 5 anos, uma senhora de 80. Mas para as autoridades quem mora no morro é bandido. E é evidente que não é assim, a maioria é formada por trabalhadores. E são todos bem informados. A sociedade não é partida como se diz. É partida só para os bacanas.
COMO ASSIM?
Quem é pobre e mora no morro tem duas vias. Ele desce para trabalhar. A gente que não sobe lá nunca para ver o que acontece, como deveríamos fazer. Conversei muito com os traficantes: quase todos têm a mãe empregada doméstica, o pai porteiro. Eles conhecem bem a vida na zona sul. No trabalho deles, dentro da casa dos bacanas, eles nunca viram a polícia agir da mesma forma. Um médico quando não emite nota fiscal numa consulta está roubando não só de uma pessoa, está roubando de todo mundo. É um crime gravíssimo. Por que o Bope não invade o consultório para ouvir uma confissão do médico que está sonegando? Fica esta pergunta: “Por que é legítimo agir com brutalidade em uma parteda cidade, não por coincidência onde estão os mais pobres, e não agir da mesma forma onde estão os ricos”?
Demagogia barata. Quem deve autuar o médico e atuar, então, para mandá-lo para a cadeia é a Receita Federal. Na formulação de Barcelos, jamais a Polícia subiria o morro enquanto houvesse um sonegador no asfalto. Por mais que pareça simpático comparar um sonegador a um traficante, são crimes que se combatem de forma diferente. Aqui, na Suécia ou em Cuba — quer dizer, em Cuba, não, porque, lá, o sonegador, o traficante e a polícia são todos uma homem só...(...)

A COMUNIDADE TEME MAIS A POLÍCIA DO QUE OS TRAFICANTES?
O que eles se queixam muito é da morte de inocentes, da criança de 9 anos, do jovem, gente potencialmente não envolvida com o tráfico. Digo potencialmente porque as ações não são feitas com pesquisa. É aleatório. “Eu acho que é aquele ali.” Agora, acreditar que uma criança de 5 anos está envolvida com isso? Eu prefiro não. Prefiro acreditar que as pessoassão inocentes até que se prove o contrário.
“Comunidade” é o escambau!!! Comunidade é linguagem de traficante adotada por jornalistas. Existem indivíduos nas favelas. A maioria formada de trabalhadores. Uma minoria, de traficantes. A pergunta também é truque. A essa altura da conversa, a resposta era óbvia. E quem é que defende que crianças de 5 anos sejam atingidas pela polícia? Barcelos é o Robert Fisk (pesquisar) dos pobres. De tanto “cobrir” o conflito, apaixonou-se pelos criminosos. Procure um miserável texto de Fisk em que os israelenses sejam vítimas. Nunca! Vítimas são apenas os terroristas palestinos, que lhe fornecem a versão dos fatos. Assim como Barcelos trabalha com a versão do tráfico. O Hamas e o Hazbollah usam crianças como escudo. Os traficantes brasileiros também.


QUAL SUA POSIÇÃO NA QUESTÃO DA LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS?
Não tenho opinião. Eu sou a favor de que as pessoas discutam isso. O quadro como está é muito ruim, e não discutir o problema é defendê-lo, é desejar a permanência dessa situação. Isso tem de ser discutido sem hipocrisia. Pessoas de todas as camadas sociais são usuárias de drogas, as ilegais e as legais. Há drogas legais que causam mais danos que as ilegais. É uma mudança complexa, que envolve questões bilaterais. Nossa discussão tinha de começar pela cachaça. É uma droga legal. E mata.
É a falácia de sempre. É claro que ele não quer criminalizar a cachaça, mas descriminar a droga.

UMA DAS CENAS DE TROPA DE ELITE MOSTRA O CAPITÃO NASCIMENTO ESFREGANDO O ROSTO DE UM RAPAZ NO CADÁVER QUE ELES HAVIAM ACABADO DE MATAR. E DIZENDO QUE O CULPADO POR AQUILO ERA O RAPAZ, O MACONHEIRO.?
O culpado pela morte é quem mata. Parece soldado americano falando no Iraque: “Te mato porque quero seu petróleo, você é culpado por sua morte”.
Em primeiro lugar, o culpado é o maconheiro. Já o juízo de Barcelos sobre a guerra do Iraque é só ignorância misturada com ideologia. Comecemos pelo fato óbvio de que a maioria dos iraquianos mortos é obra de... iraquianos, não de americanos. Mas aqui o homem é pego no pulo. Ele foi feito refém dos sandinistas na revolução da Nicarágua. Como foi posto pra suar pelos comunas, reparem na sua resposta quando trata do assunto.
(...)

VOCÊ JÁ FOI REFÉM DE SANDINISTAS, FOI DADO COMO DESAPARECIDO EM UMA SELVA BOLIVIANA, FOI AMEAÇADO DEPOIS DE ESCREVER LIVROS. EM ALGUMA SITUAÇÃO VOCÊ PENSOU REALMENTE: “AGORA DANOU-SE”?
Teve uma situação na Nicarágua, durante a guerra (Caco cobriu a vitória dos sandinistas em 1979). Eu estava sozinho, perto de franco-atiradores. Para eles, o alvo era qualquer um. O cara me localizou da torre de uma igreja. Foi um horror aquilo ali, eu me arrastando pelo chão, fugindo das balas. Não sabia nem de onde vinham os tiros. Era curioso. Eles atiram sem nenhum motivo, nem tinham idéia de quem eu era, se eu era um guerrilheiro, podia ser também um franco-atirador sandinista. Foi muito estúpido. Mas guerra é assim.
Viram só? Os americanos são dolosos. Já os sandinistas apenas se vergaram à lógica da guerra. Ele prefere não criticar.
(...)
AGORA VOCÊ TRABALHA COM UMA TURMA NOVA NO JORNALISMO. COMO É ESSA EXPERIÊNCIA?
É um pessoal que, embora em começo de carreira, está revelando uma paixão muito grande pela reportagem. Eu sempre achei que as histórias ficam muito mais atraentes quando seguem o caminho da reportagem. É legal oferecer para o telespectador as ações comoprovas de que as coisas que estamos falando são verdadeiras. A reportagem oferece a possibilidade de acompanhar as histórias, ouvir todos os lados.
Considero esse papo um pouco enjoado. Olhem aqui: fiz reportagens algumas raríssimas vezes. Não chega a ser assim tão difícil. Opinar é bem mais complicado — embora, claro, pese sobre quem vive disso a acusação de que não tira o traseiro da cadeira. Que eu saiba, nao se pensa com os pés ou com o traseiro. Há muita mistificação sobre a reportagem — obviamente essencial no jornalismo. A maior delas é a de que tem um compromisso essencial com a neutralidade, com a imparcialidade. Besteira! Expressa uma opinião, um ponto de vista, como qualquer outro texto. A rigor, pode ser até mais manipuladora. Afinal, de uma opinião, as pessoas se defendem com mais facilidade. E, claro, também pode ser exemplarmente honesta. Então Barcelos não venha com essa conversinha de “o” repórter que conta apenas aquilo que vê.

A sua entrevista evidencia que ele tem um jeito muito particular de ver o mundo, o que, é claro, vai parar no seu trabalho. Vocês não precisam acreditar em mim. Leiam a íntegra da entrevista aqui se quiserem. Observem que entrevistado e entrevistadora, em nenhum momento, voltam o dedo acusador para os bandidos e o narcotráfico. Estão unidos no combate a um inimigo: a polícia — e, secundariamente, é indisfarçável, o filme Tropa de Elite.

A entrevista é parte da ação encetada pelos reacionários. O morro mental no Brasil estava ocupado pelos traficantes de “direitos humanos”, ainda que isso significasse manter a população refém dos bandidos, pobres “vítimas” das perversidades do capital. Quem sabe a polícia leia Caco Barcelos e passe a dar uns pitocos em alguns ricaços... Aí se fará, então, justiça de classe ao menos, certo? O corolário de sua entrevista, não adianta negar, é óbvio: com alguns ricos mortos pela Polícia, haverá um pouco mais de justiça.

PS: A VIP publicava ensaios de algumas gostosas, não? Publica ainda? Faz muito tempo que não leio. Bem, sempre será melhor uma mulher pelada do que Caco Barcelos a nu.
Por Reinaldo Azevedo

A crise do gás, a estabilidade triste e a falta de imaginação - Blog do Reinaldo Azevedo - 01/11/07

“O Brasil enfrentará nos próximos anos, segundo o economista José Roberto Mendonça de Barros, um sério problema de energia. ‘Hoje, 100% dos analistas privados vêem novo problema de energia já em 2009.’ Segundo ele, há quatro anos não é iniciada no País nenhuma hidrelétrica de porte. A restrição de energia no horizonte leva os empresários a ter dúvidas na hora de investir. ‘Um apagão ou um forte aumento da energia é a mesma coisa. Eu não tenho dúvida de que o preço vai subir.’ Mendonça de Barros chama a atenção também para os crescentes investimentos de brasileiros no exterior, que, na sua avaliação, estão sendo estimulados pela sobrevalorização do real e por condições microeconômicas desfavoráveis no Brasil."

Acima, vai um post do dia 5 de novembro de 2006, que faz referência ao que falara ao Estadão o economista José Roberto Mendonça de Barros. E, daquele dia a esta data, já faz um ano, os especialistas são unânimes em afirmar, nada mudou. Vejam aí: o ritmo um pouco mais acelerado do crescimento econômico — e estamos falando de modestos 5% (modestos na comparação com os pares emergentes), não de 8% ou 9% — acenou com um risco, ainda que não iminente, de desabastecimento. A Petrobras foi obrigada a fazer uma escolha: cortou o gás dos consumidores para poder abastecer as termelétricas. Como sempre acontece nesse caso, a Justiça foi acionada, a empresa vai recorrer... Observem: a coisa já deixou o território da economia.

Acho que isso seria menos grave se tivéssemos um governo menos falastrão — e, sei, os petralhas virão em coro: “E o apagão de 2001?”. Sim, houve o apagão de 2001, e o governo FHC pagou por ele nas urnas, não é? O fato é que Lula tem uma conjuntura externa formidável, maioria folgada no Congresso, popularidade alta e uma estabilidade meio marreta, mas tem. O que impede o governo de fazer deslanchar os investimentos no setor de energia? A competência. Escrevi: “Seria menos grave se o governo fosse menos falastrão”. Por quê? Porque seria menos autoconfiante e ouviria um pouco mais.

Se vocês se lembram, o eixo do PAC — refiro-me aquele grandão, o PACão, pai, dos “paquitos” — era justamente o investimento em energia. Daquela data até agora, perguntem quantos passos foram dados: nenhum! Entre os especialistas, é consenso: no ritmo em que cresce a oferta de energia, o país estará proibido de continuar a crescer 5% — o que não dizer de um crescimento maior?... A Petrobras pode dar o nome que quiser ao que fez, e será sempre um apelido: está racionando gás, sim. E raciona porque as termelétricas vão socorrer as hidrelétricas em razão da pouca água nos reservatórios.

Estamos, de novo, como os macaquinhos imprudentes. A diferença é que eles torciam para não chover, já que não haviam feito suas casas. E nós vamos ter de torcer para chover. Numa reportagem na Folha de hoje, lê-se: “Problemas na Argentina, na Bolívia e um redimensionamento da capacidade de geração de energia em térmicas de gás natural no Brasil fizeram com que a oferta de energia firme -ou seja, com a qual se pode contar- prevista para 2008 fosse reduzida de 57 mil MW médios para 50,9 mil MW médios. ‘Devido a problemas no gás natural, num intervalo de dois anos [2005 a 2007] a oferta firme de geração do Brasil foi reduzida em 12%. Poucos países resistiriam a isso’”. A observação é de Cláudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil, que representa investidores privados em energia.

A auto-suficiência prepotente do governo não é auto-suficência energética, não é? No dia 3 de dezembro do ano passado, informava uma reportagem de Renée Pereira, no Estadão:

Os planos do presidente Lula de elevar o crescimento do País para níveis superiores a 5% ao ano a partir de 2007 podem ir por água abaixo se ele não conseguir deslanchar os investimentos na área de energia. Coincidentemente, a iminência de uma nova crise elétrica ocorre no segundo mandato de Lula, a exemplo do que ocorreu em 2001, na administração de Fernando Henrique Cardoso.
Até agora, segundo especialistas, o que tem jogado a favor da oferta de energia no País é o tímido avanço da economia, abaixo de 3% ao ano. Se o País começar a crescer acima de 5% ao ano, o setor elétrico não deve suportar muito tempo. De acordo com dados da Gásenergy, os riscos de déficit estarão acima dos 5% tolerados a partir do ano que vem, em algumas regiões do País.
“Como consumidor, estou preocupado com a situação. Se crescermos 4% ou 5%, o apagão chega mais perto”, enfatiza Mario Cilento, presidente da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia (Abrace), cujas associados representam 25% do PIB brasileiro.
Na avaliação de Gorete Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), além da falta de gás para abastecer as térmicas, há outras questões que aumentam o risco de déficit do País. Um deles é exatamente o argumento do governo de que as distribuidoras estão 100% contratadas até 2010.

Maiores esclarecimentos, com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), braço operativo do governo, especialista na área, ex-ministra do setor. Até agora, de suas ações, não saiu um miserável quilowatt a mais de energia. Mas ela já é considerada peça central da sucessão em 2010 em razão de suas virtudes visionárias.

Ah, sim: ainda bem que o governo Lula, embora se descuide do setor energético, toca todo o resto com competência e presteza: reforma tributária, reforma trabalhista, reforma do Judiciário... Observem: fora do equilíbrio macroeconômico, um conservadorismo meio tristinho, não há nada. Assim, não chega a ser surpreendente que o país apareça em 72º lugar num ranking de competitividade elaborado pelo Fórum Econômico Mundial que inclui 131 países. Caiu seis posições. Os motivos? Burocracia, ineficiência dos gastos públicos, carga tributária excessiva e juros elevados.

Há dados muito interessantes. Quando os 11 mil executivos que votaram foram convidados a avaliar a sofisticação empresarial, o Brasil ficou em 39º lugar. Nada formidável, mas no primeiro terço do grupo. Já quando opinaram sobre a eficiência dos gastos públicos, ficamos a quatro posições do último lugar: no 127º. E tem mais: conforme se lê na Folha de hoje, “a qualidade da educação primária está em 120º — há somente 11 países mais deficientes nesse quesito —, e o sistema legal complexo e ineficiente garantiu o 105º posto neste indicador.”

É isso aí. É preciso muito mais do que a “estabilidade” que aí está. Ela já chegou a significar alguma “ousadia” do PT. Hoje, é pura falta de imaginação. Entenda-se por “imaginação” não a feitiçaria econômica, mas o procura de caminhos políticos para fazer as reformas. Não! Elas não serão feitas. Porque, para fazê-las, é preciso, sim, ter um projeto.
Por Reinaldo Azevedo

Sunday, October 28, 2007

Privataria! - Carlos Alberto Sardemberg - OESP 15/10/07

Quer dizer que o governo Lula entrega o patrimônio nacional para empresas estrangeiras e não cobra nem um centavo por isso? De graça, as companhias espanholas vão ficar 25 anos cobrando pedágio e ganhando dinheiro com estradas construídas com imposto pago pelo contribuinte brasileiro!Quer dizer que o governo Lula monta um modelo de privatização que favorece o capital estrangeiro? Só multinacionais, que trazem capital de fora, mais barato, conseguem assumir pedágios tão baixos. Mais ainda: o dólar tão barato, outra proeza de Lula, favorece os estrangeiros, pois a tarifa em dólar fica maior e as companhias gastarão menos reais para enviar seus polpudos lucros aos acionistas lá fora.Nunca na história deste país um governo foi tão servil às empreiteiras multinacionais. Uma privataria!Essa turma que pede a reestatização da Vale, por ter sido vendida a “preço de banana”, não vai pedir uma “CPI da doação das estradas”? Aliás, deveria ser uma CPI ampliada, pois a Vale, entregue por FHC, acaba de ganhar de Lula um trecho enorme da Ferrovia Norte-Sul.Isso aí, pessoal. Quem quiser pode usar os motes acima, sem pagar direitos autorais. Tão de graça quanto as rodovias.Agora, está mesmo muito engraçado observar Lula, seus ministros e os formadores da opinião de esquerda defenderem seu modelo de privatização de rodovias.Muitos começam por apresentar a ressalva: não é privatização, é concessão. Tudo bem: concessão de uma via pública, construída pelo Estado, para uma empresa privada explorá-la por 25 anos, conforme regras, mas sempre sob a “ótica do lucro”.Depois, segue o argumento, ao contrário da privatização tucana, com seus pedágios caros e “elitistas”, a privatização, perdão, a concessão petista é popular-democrática, pois cobra pedágios bem baratinhos.Assim é, temos agora uma privatização tucana e outra petista. E - quer saber? - ficou melhor para o País. Resta uma discussão de método, os dois lados concordando que a empresa privada, nacional ou estrangeira, é mais competente para operar e oferecer ao usuário uma estrada de qualidade e eficiente para negócios e turismo.Isso posto, eis algumas observações razoáveis sobre o tema:Modelo de concessão - o governo, poder concedente, “dono” da estrada, pode ou não cobrar pela outorga da concessão. No primeiro caso, seria como cobrar um aluguel. As duas modalidades têm justificativas. Quando cobra, o governo faz caixa para, por exemplo, investir em estradas menos rentáveis (modelo adotado em São Paulo). Quando há cobrança, ganha o leilão a empresa que oferecer o pagamento mais alto, dentro de um padrão para os pedágios. Obviamente, o custo da operação é maior, de onde sai um pedágio mais caro. Já no caso dos últimos leilões federais, o governo Lula decidiu não cobrar a outorga. Ganhou a empresa que ofereceu pedágio mais barato. É um critério mais simples, melhor para o usuário, pior para o governo. De todo modo, o governo Lula pode se dar ao luxo de perder essa receita, pois está arrecadando como nunca na história deste país.Exigências impostas à concessionária - mais ou menos investimentos no início do contrato, maior ou menor qualidade do piso, quando se inicia a cobrança do pedágio. No caso do último leilão das sete rodovias federais, técnicos dizem que há exigências menores para o piso, por exemplo. A cobrança do pedágio é imediata, enquanto no caso das privatizações feitas em São Paulo (no governo Mário Covas), essa cobrança se fazia depois de feita parte das obras. Com isso o fluxo de caixa é menor, o custo da operação é maior.O ambiente macroeconômico - em momento de instabilidade, inflação e desarranjo das contas públicas, as empresas privadas só fazem negócio com o governo se tiverem garantias de que a rentabilidade não será reduzida. Preços começam mais elevados para prevenir choques futuros, como inflação ou desvalorização da moeda local. Por exemplo: a empresa estrangeira topa um pedágio de R$ 1,80, o equivalente a US$ 1. De repente, o real se desvaloriza e a cotação vai a R$ 3,60, fazendo com que a tarifa caia a US$ 0,5. E é evidente que o ambiente macroeconômico hoje é muito superior ao do momento em que foram feitas as concessões mais antigas. Há razoável convicção de que não haverá inflação, que os juros vão cair e que o dólar não vai disparar.Capacidade das empresas privadas - concessão de rodovias (e outros serviços) é um negócio relativamente novo. Só agora existem muitas companhias internacionais, entre as quais as espanholas, que desenvolveram enorme capacidade no setor. O Aeroporto de Heathrow, em Londres, é de propriedade de uma empreiteira espanhola. Por isso, no último leilão brasileiro, apareceram tantas empresas competindo. Isso é outro fator que derruba os preços.E mais: pedágio barato não é garantia de sucesso da operação. Em alguns países, como no México, o fracasso de concessões de rodovias teve como causa justamente o preço baixo do pedágio e os prazos menores de concessão (abaixo dos 20 anos). Com isso, as concessionárias, a um determinado momento, perceberam que não obteriam o retorno do capital e pararam de investir. O barato saiu caro.Por isso cuidado com as comparações entre os preços da última licitação e os das anteriores.O que sabemos é que as atuais estradas privatizadas vão muito bem, obrigado. São as melhores do País, têm o menor número de acidentes. O modelo funcionou.O novo modelo, dos pedágios baratos, ainda não foi testado - e só vai ser testado mesmo sabem quando? No próximo governo, no mesmo período, 2010/2011, em que se saberá se o novo modelo lulista deu conta do fornecimento de energia.É preciso admitir: na política e na mídia, o cara é craque. *Carlos Alberto Sardenberg é jornalista.

Tuesday, October 16, 2007

Uma breve história política da dengue. Ou: quero Cruvinel e Franklin matando mosquito - Blog Reinaldo Azevedo - 16/10/07

Leram esta matéria sobre a dengue no Estadao On line? Vejam. Volto em seguida. Por Eduardo Kattah:O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, reconheceu que o Brasil passa por uma epidemia de dengue e classificou como “injustificável” e “inadmissível” o número de 121 mortes em decorrência da doença no Brasil este ano. Temporão participou do lançamento da campanha nacional de mobilização contra a doença, em Belo Horizonte. Ele afirmou que o índice de óbitos significa deficiência no atendimento da dengue hemorrágica. Conforme dados do Ministério da Saúde, nos nove primeiros meses deste ano, o País registrou 480 mil casos da doença, o que representa um aumento de cerca de 50% em relação ao ano passado.O tema da campanha deste ano é “Combater a dengue é um dever meu, seu e de todos. A dengue pode matar”. A campanha será veiculada de forma regionalizada. Na capital mineira, o ministro informou também que está sendo finalizado o projeto de lei que proíbe a venda de bebidas alcoólicas nas rodovias federais.Temporão defendeu que, nas discussões sobre novos marcos regulatórios para as concessões de TVs, as emissoras sejam obrigadas a “abrir espaço” em horário nobre para a divulgação de informações que o governo “considere relevantes do ponto de vista da saúde pública” e de outras áreas. “E acabar com essa história de que na verdade eles estão fazendo um favor ao governo. É uma obrigação”, disse. Na capital mineira, ele também se reuniu com o governador Aécio Neves (PSDB), no Palácio das Mangabeiras. Temporão fez uma veemente defesa da prorrogação da CPMF, engrossando a ofensiva do Planalto.VolteiHaverá o dia em que os brasileiros ligarão o homem à obra? Não sei.No dia 25 de fevereiro de 2002, Bernardo Kucinski, um petista que fez parte da equipe de comunicação do primeiro governo Lula, escreveu no site Observatório da Imprensa (por que não?) uma nota chamada “O fantasma da dengue persegue Serra”. Eis o texto: “No Rio, ninguém pode ser convencido de que Serra foi um bom ministro da saúde. As mortes e a dimensão da epidemia falam mais forte. O Globo de domingo tem um caderno especial sobre a dengue, mostrando como a epidemia penetrou em todos os espaços do cotidiano carioca. As manchetes de ontem e de hoje são sobre o perigo de os planos de saúde subirem seus preços por causa da dengue. Um em cada dez cariocas está faltando ao trabalho por causa da dengue. Todos se sentem ameaçados e entidades da sociedade civil começam a agir frente à inépcia das autoridades. Deputados do Rio, informa o JB de hoje, vão pedir uma CPI da dengue.”Reportagem da Folha em 20/09/2002: “O candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), criticou duramente a administração de José serra no Ministério da Saúde durante discurso na quadra da escola de samba Mangueira, no Rio de Janeiro. Sem citar Serra nominalmente, Lula atacou a política de combate à dengue adotada pelo governo federal nos últimos anos e disse que o uso de medicamentos genéricos no país ainda é muito pequeno. Lula fez as declarações ao lançar seu programa de governo para a área da Saúde. "Sabem por que estamos lançando esse programa aqui no Rio? Aqui foi o exemplo do desleixo maior do governo federal no combate à dengue", disse o candidato”.No debate na TV Record, LuLa não teve dúvida: fez uma pergunta sobre a dengue a Anthony Garotinho, que aproveitou para bater no tucano, numa ação coordenada entre ambos.Muito bem. Acima, listei três casos. Se vocês forem ao Google, encontrarão outras centenas. Os casos de dengue não haviam chegado nem perto das ocorrências de hoje. Mais: saibam que 50% dos casos estão no Mato Grosso do Sul. E o feito se deu durante a gestão de Zeca do PT — cuja competência já vai no sobrenome. Seu governo foi um verdadeiro criadouro de mosquito. Sob o olhar cúmplice do Ministério da Saúde. Na gestão Serra, a acusação de que a doença havia fugido do controle era só uma farsa política. Agora é fato.Eis aí. E agora? Lula é o culpado pela dengue? Ora, claro que não! E Temporão ou o ex-ministro Humberto Costa? Seriam eles? É evidente que não. Responsáveis são sempre os outros. A julgar pelas palavras de Temporão, a mídia é um deles. Leiam lá suas palavras. Sabe-se lá por quê, o homem está bravo. Quer uma lei. O Jornal Nacional fez uma série de reportagens a respeito.Mas, se o problema é esse, o ministro da Saúde pode ficar tranqüilo. Em breve, teremos a Lula News. Espero que Franklin Martins e Tereza Cruvinel sejam úteis na tarefa de matar mosquito.
Por Reinaldo Azevedo

Saturday, October 13, 2007

O poder das (des)interpretações estatísticas

Ana Lobato, do site www.e-agora.org.br de 17/07/07

A construção, administração e disseminação de estatísticas constitui uma questão central no gerenciamento das sociedades modernas, no planejamento de seu futuro e mesmo na dimensão democrática de um país. A necessidade de instituições independentes do poder político de turno nas tarefas vinculadas à construção das bases de dados parece ser a alternativa mais adequada para reduzir as tentativas quase naturais de todo governo de manipular a construção das bases de dados para se perpetuar e ampliar o poder. No Brasil está, nesse aspecto, no meio caminho entre um Estado totalitário (no qual as estatísticas são assumidas como uma das múltiplas ferramentas de controle social) e um país com maior densidade democrática (no qual a produção de estatísticas é gerada por intuições públicas independentes). Enquanto o IBGE goza de alguma independência e constrói séries com credibilidade a maioria das grandes bases de dados (em geral, registros administrativos) estão administrados por esferas do Governo Federal totalmente vinculadas às instâncias políticas. Em geral, os argumentos que sintetizamos no parágrafo anterior são consensuais. Contudo, um fenômeno de maior sutileza vem se manifestando nos últimos meses e consiste na interpretação das estatísticas. Este tipo de leitura manipulada atingiu tal grau de sofisticação que mesmo nossos quadros técnicos mais qualificados da oposição aderem a este tipo de leitura, tornando menos nítidos os campos nos quais alternativas políticas podem ser desenvolvidas e, involuntariamente, ajudando ao Governo nos seus objetivos de publicidade. Um exemplo dessa leitura está dado pela Nota de Conjuntura que a Assessoria em Finanças Públicas do PSDB/ITV N 062/2007 (do 16/07 a 20/07) e sua análise dos dados do CAGED (emprego formal). A nota afirma que o saldo do emprego no primeiro semestre foi 18,6% superior ao obtido em igual período do ano anterior. Ou seja, comparam-se saldos absolutos e identifica-se uma elevação pouco usual, mesmo em uma conjuntura extremamente dinâmica. Faltou muito pouco para, por meio dessa nota, aderirmos explicitamente ao jargão presidencial: “nunca antes na história deste país” foi gerado tanto emprego com carteira. Este tipo de “análise” é comum nos comunicados com nítido viés demagógico distribuídos para a imprensa pelo Ministério do Trabalho e que mesmo jornais independentes e sérios assumem sem nenhum espírito crítico. A Folha, em recente manchete (21/06/2007) sustentou: ”o emprego formal cresce 19%”. Percentuais de variação de 19% só são críveis em contextos de catástrofe natural, guerra, etc. Nenhum milagre (nem miragem) é capaz de provocar aumentos no emprego de 19%. Qual é a manipulação na interpretação das estatísticas? É simples e mesmo primitiva. Imaginemos que uma economia esteja em um equilíbrio de longo prazo, com crescimento no nível de emprego de 10% por período. Neste caso, partindo de uma base 100, no final do primeiro período terá um emprego de 110, no final do segundo período de 121, no final do terceiro período de 133, etc. Essa hipotética economia está em um equilíbrio de crescimento de 10%. Qual a outra interpretação? Simples, comparar os dados absolutos. O governo vai divulgar que, no primeiro mês foram gerados 10 novos empregos e no segundo mês 11. Ou seja, a economia “estaria” melhor no segundo período uma vez que foram gerados mais empregos. No terceiro período foram gerados 12 novos empregos (133-121) e o desempenho do mercado de trabalho ainda melhorou (“bateu um novo recorde”). Logicamente, as assessorias de comunicação dos Ministérios vão divulgar que “nunca antes neste país” foram gerados tantos empregos. Se a economia continua em um “steady state” de crescimento de 10%, no quarto período o estoque de assalariados será de 146 e a geração de empregos de 13 e, miragem, “nunca antes neste país” foram gerados tantos empregos. Ou seja, no quarto período seriam gerados 30% mais empregos que no primeiro. A economia estaria em uma dinâmica de crescimento rumo ao infinito, o céu é o limite (talvez nem isso). Toda a questão está em que o crescimento das magnitudes econômicas é exponencial e esse fato invalida a comparação de saldos absolutos. Ninguém compara o desempenho do PIB em termos do aumento absoluto senão do relativo e o mesmo teria que ser feito no caso do mercado de trabalho. Que o governo manipule a interpretação das estatísticas dessa forma seria uma coisa esperada. Fato, aliás, vale relembrar, que tem sido feito desde o seu primeiro momento, com as comparações de séries do CAGED que têm metodologias diferentes e que muito combatemos. Que a imprensa e nossos quadros qualificados acompanhem o poder político nessa empreitada explicita de forma inequívoca a densidade do debate no Brasil de hoje. Eles pautam o debate, não questionamentos, apenas repetimos.

No rumo certo - O Estado de São Paulo - 11/10/07

Foi um sucesso o leilão de 2.600 quilômetros de rodovias federais para administração pelo setor privado. Todos os trechos foram arrematados e, além disso, as empresas vencedoras ofereceram pedágios bem abaixo do teto fixado pelo governo. O deságio variou de 39,35% a 65,43%. Trinta consórcios participaram, comprovando a disposição do setor privado de investir na infra-estrutura, se as condições de contrato forem razoáveis e houver o mínimo indispensável de segurança.

Como era previsível, o evento forneceu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva mais uma oportunidade para o auto-elogio e para a comparação triunfal com seu antecessor. Foi, segundo ele, um resultado “espetacular”. O Brasil, disse ele, “deixou de ser um país de faz-de-conta”, agora “com direção” e com “um projeto”. Os fatos, como sempre, não são exatamente aqueles descritos no palavrório presidencial. Se alguma direção e algum projeto estão dando certo, são aqueles definidos pelo governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Quem fez campanha eleitoral falando contra a privatização foi o líder petista, não o seu antecessor.

A grande reorientação da estratégia governamental ocorreu nos anos 90. A desestatização foi motivada por duas considerações. Em primeiro lugar, o poder público já não tinha condições de investir em áreas essenciais. O capital privado podia cuidar dessa tarefa. Em segundo lugar, a privatização permitiria ao governo concentrar-se em funções típicas de Estado. Era oportuno, também por isso, desestatizar várias atividades administradas na maior parte do mundo capitalista pelo setor privado.

O êxito dessa iniciativa é indiscutível para qualquer cidadão informado e de boa-fé. A maior parte das empresas privatizadas cresceu, modernizou-se, conquistou espaços no mercado internacional e passou a pagar enorme volume de impostos. As siderúrgicas, a Vale do Rio Doce e a Embraer são exemplos inegáveis de sucesso.

A novidade importante do leilão de rodovias é a mudança de critérios. As concessões foram negociadas não pelo maior preço, mas pela menor tarifa. Essa é uma evolução positiva, mas a idéia já estava em discussão antes de começar o governo petista. O critério das primeiras privatizações não era o ideal, mas há explicação para isso.

A desestatização coincidiu, na fase inicial, com o primeiro esforço de recuperação das finanças públicas, arrasadas por uma longa fase de baderna fiscal, de má administração de estatais e de irresponsabilidade monetária. Parte considerável da esquerda brasileira, incluídas correntes importantes do Partido dos Trabalhadores, freqüentemente se mostra saudosas desses tempos. Não se contentam com as possibilidades ainda existentes de empreguismo, de aparelhamento e de uso político das empresas e autarquias do Estado.

A mudança de critério, embora positiva, poderá criar problemas. Os novos pedágios serão bem mais baixos que aqueles cobrados nas rodovias já privatizadas. Essa diferença poderá servir de pretexto para protestos, pressões políticas e ações judiciais para equalização de tarifas.

Os novos contratos são muito diferentes dos velhos, porque os últimos leilões não envolveram pagamento pelas concessões. Os cálculos de amortização de investimentos e de rentabilidade são, portanto, muito diversos, mas nem todos estarão dispostos a levar em conta esse dado - e nem todos estarão preparados para entender a distinção.

As circunstâncias diferem também quanto a outro aspecto muito importante. Os anos 90 foram a fase inicial de reconstrução da economia brasileira. Os analistas podiam reconhecer o acerto das novas políticas, mas o setor público brasileiro tinha uma longa história de irresponsabilidade e de instabilidade. Foram necessários muitos anos para o Brasil conquistar o status de país confiável.

Essa conquista só foi possível graças ao esforço de ajuste das finanças públicas dos primeiros anos do real. Além disso, as condições dos mercados globais eram muito menos favoráveis. O governo petista nada teria feito sem essa herança bendita. E fez menos do que poderia ter feito, se não tivesse desperdiçado - com o atraso das licitações, por exemplo - boa parte das oportunidades oferecidas por um ambiente global extraordinariamente propício.

Monday, September 24, 2007

Por que um certo Mano Brown é superior a Cristo - Blog Reinaldo Azevedo - 24/09/07

No dia 9 de fevereiro, antes ainda de Mano Brown atrasar 90 minutos o início de seu “show” na virada cultural e, assim, colaborar para o confronto entre os seus crentes e a polícia — que certo jornalismo vendeu, claro, como exagero das “forças de repressão” —, publiquei o post que segue abaixo. Republico para que vocês, caso vejam o Roda Viva de hoje, tenham mais elementos:
*
Falemos um pouco sobre a glorificação da violência e da chamada cultura da periferia. É claro que eu nunca ouvi um troço chamado Racionais MCs. Nem vou ouvir. Ah, pai autoritário que sou, também não permitiria que minhas filhas ouvissem em casa. Podem ouvir fora? Não tenho como controlar. Com o meu assentimento, não. Já me basta o que volta e meia sai na mídia sobre esses pensadores. A Ilustrada, da Folha, traz hoje uma reportagem sobre o lançamento de um DVD do grupo. Um deles, o rapper Ice Blue, afirma: “A gente se vê como um movimento de guerrilha, e é isso o que queremos preservar". O Manual da Folha, às vezes, informa mais do que a reportagem. Está lá: o cara tem 36 anos. Eis uma coisa que eu nunca tinha imaginado: um rapper coroa. A última vez que fiquei com um pouco de vergonha vendo o que os outros fazem foi um flash de Mick Jagger rebolando no Rio. Parecia uma “cobra mar matada”, como se dizia no sítio de Dois Córregos em que passei parte da infância, onde lia Robinson Crusoé, como naquele poema de Drummond. Um lance de pura sorte.
Bão, bão... Há uma crítica sobre o DVD intitulada “Cenas indicam a força de Mano Brown”. Deve ser o líder do grupo. Lê-se o que vai em vermelho. Comento em azul.

Se não fizerem mais nada de novo nos próximos anos, os Racionais já terão entrado para a história por dar uma voz e um rosto à periferia. Graças a eles, jovens de todas as "quebradas" do país têm orgulho de dizer de onde vêm e de mostrar sua moda, gíria e jeito de falar -até na TV Globo.
Vejam que os rapazes nem mesmo entraram para a história da música. É a história mesmo. Como Júlio César ou Churchill.

O registro desse fenômeno é o maior mérito do DVD, que dá uma idéia de quem são os Racionais e de seu poder de mobilização. Isso fica claro quando uma multidão de meninos e meninas acompanha Mano Brown, recitando o poema que abre a música "Vida Loka [Parte 1]".
Eu não sabia o que era isso e fui procurar na Internet. Achei. É uma letra imensa. Lê-se lá:
"- e ai brown é os espião irmão!
- to com os mao ai, eu vo, to indo ali na zona leste ai, tipo umas 11 horas eu já to voltando já moro?
- ta firmao ai brown ai mano eu vo disliga, mais tu manda um salve pros mano da quebrada ai moro? o giu moro mano? o batatao moro? pro pacheco, pro porquinho pro xande pro dé moro meu? ai no dia do jogo os mano
do exauta samba vao vim manda um salve pro binha la moro? fica com Deus Irmão. Falou"
É o mesmo “salve” do PCC ou é outro? Poema? Como o de Drummond?

Assistir a Brown em ação é uma experiência que todos deveriam ter.
Obrigado, moça! Vejam só: jamais sairia num jornal de grande circulação algo como: “Crer no poder redentor do sangue de Cristo é uma experiência que todos deveriam ter”. Cheiraria a coisa carola, cafona, a imposição religiosa. Logo, você conclui que Mano Brown, na escala dos ungidos ou dos profetas, é superior a Cristo.

No palco, ele assume personagens. É o poeta que chora, o ladrão que tenta mudar de vida, o "cachorro" com várias meninas.
Gostei do “ladrão que tenta mudar de vida”. Não conheço a letra. Mas aposto Nederland (“países baixos”, em neerlandês) que o coitadinho tentou mudar de vida, mas a sociedade não deixou. A sociedade é má.

Nos bastidores, no entanto, cercado pelos filhos, rindo com os amigos ou falando sobre diferenças sociais, cai a imagem de durão e entra o pensador. Um dos maiores que temos no mundo musical.
Pensador? Como Platão, Schopenhauer, Kierkegaard, Kant? Ah, não. É “pensador do/no mundo musical”. Então tá. Mais um pouco de Vida Loka, a crítica da razão pura:
e ai bandi do mal como que é meu parceiro?
- como que é brown firmão truta?
- firmeza total mano... e a quebrada ali?
- ta a pampa, aí fiquei sabendo do seu pai irmão, lamentável, um sentimento mesmo irmão!
- vai vendo brother, meu pai morreu e num deixaram eu ir nem no interro do meu coroa não irmão
- isso é loco, vc tava aonde na hora?
- tava batendo uma bola meu, fiquei mo na neurose irmão.
- ai vieram ti avisar?
- é vieram me avisar, mais ta firmao brother, eu to firmão, logo mais to ai na quebrada com vcs ai
- é quente, na rua tbm num ta facil nao moro truta? ums juntado inimigo, outros juntando dinheiro, sempre tem um pra testa sua fé mais cta ligado sempre tem ums corre pra nois faze, ai mano liga, liga nois ai qual quer coisa lado a lado nois até o fim moro mano?
-to ligado!
Por Reinaldo Azevedo 14:09

Tuesday, September 18, 2007

Nossas crianças estão entregues à sanha esquerdopata - Blog Reinaldo Azevedo 18/09/07

Artigo do jornalista Ali Kamel, no Globo de hoje, está gerando o merecido barulho. Leia-o quem ainda não leu. Voltarei ao tema nos posts seguintes:
O que ensinam às nossas crianças
Não vou importunar o leitor com teorias sobre Gramsci, hegemonia, nada disso. Ao fim da leitura, tenho certeza de que todos vão entender o que se está fazendo com as nossas crianças e com que objetivo. O psicanalista Francisco Daudt me fez chegar às mãos o livro didático "Nova História Crítica, 8ª série" distribuído gratuitamente pelo MEC a 750 mil alunos da rede pública. O que ele leu ali é de dar medo. Apenas uma tentativa de fazer nossas crianças acreditarem que o capitalismo é mau e que a solução de todos os problemas é o socialismo, que só fracassou até aqui por culpa de burocratas autoritários. Impossível contar tudo o que há no livro. Por isso, cito apenas alguns trechos.


Sobre o que é hoje o capitalismo: "Terras, minas e empresas são propriedade privada. As decisões econômicas são tomadas pela burguesia, que busca o lucro pessoal. Para ampliar as vendas no mercado consumidor, há um esforço em fazer produtos modernos. Grandes diferenças sociais: a burguesia recebe muito mais do que o proletariado. O capitalismo funciona tanto com liberdades como em regimes autoritários.

"Sobre o ideal marxista: "Terras, minas e empresas pertencem à coletividade. As decisões econômicas são tomadas democraticamente pelo povo trabalhador, visando o (sic) bem-estar social. Os produtores são os próprios consumidores, por isso tudo é feito com honestidade para agradar à (sic) toda a população. Não há mais ricos, e as diferenças sociais são pequenas. Amplas liberdades democráticas para os trabalhadores." Sobre Mao Tse-tung: "Foi um grande estadista e comandante militar. Escreveu livros sobre política, filosofia e economia. Praticou esportes até a velhice. Amou inúmeras mulheres e por elas foi correspondido. Para muitos chineses, Mao é ainda um grande herói. Mas para os chineses anticomunistas, não passou de um ditador.

"Sobre a Revolução Cultural Chinesa: "Foi uma experiência socialista muito original. As novas propostas eram discutidas animadamente. Grandes cartazes murais, os dazibaos, abriam espaço para o povo manifestar seus pensamentos e suas críticas. Velhos administradores foram substituídos por rapazes cheios de idéias novas. Em todos os cantos, se falava da luta contra os quatro velhos: velhos hábitos, velhas culturas, velhas idéias, velhos costumes. (...) No início, o presidente Mao Tse-tung foi o grande incentivador da mobilização da juventude a favor da Revolução Cultural. (...) Milhões de jovens formavam a Guarda Vermelha, militantes totalmente dedicados à luta pelas mudanças. (...) Seus militantes invadiam fábricas, prefeituras e sedes do PC para prender dirigentes "politicamente esclerosados". (...) A Guarda Vermelha obrigou os burocratas a desfilar pelas ruas das cidades com cartazes pregados nas costas com dizeres do tipo: "Fui um burocrata mais preocupado com o meu cargo do que com o bem-estar do povo." As pessoas riam, jogavam objetos e até cuspiam. A Revolução Cultural entusiasmava e assustava ao mesmo tempo.

"Sobre a Revolução Cubana e o paredão: "A reforma agrária, o confisco dos bens de empresas norte-americanas e o fuzilamento de torturadores do exército de Fulgêncio Batista tiveram inegável apoio popular." Sobre as primeiras medidas de Fidel: "O governo decretou que os aluguéis deveriam ser reduzidos em 50%, os livros escolares e os remédios, em 25%." Essas medidas eram justificadas assim: "Ninguém possui o direito de enriquecer com as necessidades vitais do povo de ter moradia, educação e saúde."

Sobre o futuro de Cuba, após as dificuldades enfrentadas, segundo o livro, pela oposição implacável dos EUA e o fim da ajuda da URSS: "Uma parte significativa da população cubana guarda a esperança de que se Fidel Castro sair do governo e o país voltar a ser capitalista, haverá muitos investimentos dos EUA. (...) Mas existe (sic) também as possibilidades de Cuba voltar a ter favelas e crianças abandonadas, como no tempo de Fulgêncio Batista. Quem pode saber?"

Sobre os motivos da derrocada da URSS: "É claro que a população soviética não estava passando fome. O desenvolvimento econômico e a boa distribuição de renda garantiam o lar e o jantar para cada cidadão. Não existia inflação nem desemprego. Todo ensino era gratuito e muitos filhos de operários e camponeses conseguiam cursar as melhores faculdades. (...) Medicina gratuita, aluguel que custava o preço de três maços de cigarro, grandes cidades sem crianças abandonadas nem favelas... Para nós, do Terceiro Mundo, quase um sonho não é verdade? Acontecia que o povo da segunda potência mundial não queria só melhores bens de consumo. Principalmente a intelligentsia (os profissionais com curso superior) tinham (sic) inveja da classe média dos países desenvolvidos (...) Queriam ter dois ou três carros importados na garagem de um casarão, freqüentar bons restaurantes, comprar aparelhagens eletrônicas sofisticadas, roupas de marcas famosas, jóias. (...) Karl Marx não pensava que o socialismo pudesse se desenvolver num único país, menos ainda numa nação atrasada e pobre como a Rússia tzarista. (...) Fica então uma velha pergunta: e se a revolução tivesse estourado num país desenvolvido como os EUA e a Alemanha? Teria fracassado também?"

Esses são apenas alguns poucos exemplos. Há muito mais. De que forma nossas crianças poderão saber que Mao foi um assassino frio de multidões? Que a Revolução Cultural foi uma das maiores insanidades que o mundo presenciou, levando à morte de milhões? Que Cuba é responsável pelos seus fracassos e que o paredão levou à morte, em julgamentos sumários, não torturadores, mas milhares de oponentes do novo regime? E que a URSS não desabou por sentimentos de inveja, mas porque o socialismo real, uma ditadura que esmaga o indivíduo, provou-se não um sonho, mas apenas um pesadelo?

Nossas crianças estão sendo enganadas, a cabeça delas vem sendo trabalhada, e o efeito disso será sentido em poucos anos. É isso o que deseja o MEC? Se não for, algo precisa ser feito, pelo ministério, pelo congresso, por alguém.
Por Reinaldo Azevedo 17:56

Monday, September 17, 2007

Vale do Rio Doce: a verdade é a kriptonita do PT - Blog Reinaldo Azevedo 17/09/07

Tire cópia.
Guarde na carteira.
Use como uma arma da inteligência contra a empulhação.

Estou me referindo ao artigo que Eduardo Graeff escreve hoje na Folha (“Lula e seus militantes amestrados”) sobre essa conversa mole da privatização da Vale do Rio Doce (íntegra no post abaixo). Sempre que um petista, com a fala perturbada e o olhar esgazeado pela ideologia bananeira, babar números inconseqüentes, vocês devem fulminá-lo com a verdade. A verdade é a kriptonita do petista.

A gestão da Vale foi, felizmente, privatizada, sim. E, por conta disso:

1 – Em seis anos, ela recebeu US$ 44,6 bilhões em investimentos: nos 54 anos de estatismo, foram US$ 24 bilhões;

2 – Em 1997, inteiramente estatal, empregava 11 mil pessoas; hoje, 56 mil;

3 – Como estatal, produzia 35 milhões de toneladas de ferro; hoje, são 300 milhões;

4 – Em 1997, exportou US$ 3 bilhões; em 2006, US$ 10 bilhões (mais de um quarto do saldo positivo da balança comercial);

5 – Se a empresa realmente vale hoje US$ 50 bilhões, TRATA-SE DA VALE INTEIRA; em 1997, venderam-se se por US$ 3 bilhões APENAS 42% das ações ordinárias;

6 – Quem continua a ser o verdadeiro “dono” da Vale? O fundo de pensão do Banco do Brasil e o BNDES: eles detêm dois terços do capital da empresa;

7- O outro terço se distribui entre Bradesco, a japonesa Mitsui e mais de 500 mil brasileiros que aplicaram parte do FGTS em ações da companhia.

Isso que vai acima é a verdade. Não a cascata que está sendo contada nas igrejas por padres que entendem de economia o que tendem dos Evangelhos: NADA!!! Eis a verdade, não o que os bispos brasileiros permitem que se fale nos púlpitos. Se quer entrar nesse mérito mundano, que nada tem a ver com Deus, dom Odilo Scherer deveria levar a boa-nova a seus fiéis, em vez conspurcar o altar com a urna da mistificação.

A mentira é coisa do demônio, bispo!

A verdade sobre a Vale também é a verdade sobre as outras empresas privatizadas, especialmente no setor de telefonia. Ou daquela que é hoje um caso de sucesso global: a Embraer, que foi da falência certa a um caso formidável de sucesso.

Vocês conhecem a capacidade da esquerda de contar mentiras. Mais do que isso: ela acha que a mentira é moral se for para garantir o que entende ser o bem da humanidade. Ela não tem qualquer receio de fraudar, de trapacear, de enganar se for para ver triunfar a sua verdade particular. Também é capaz de matar. Em proporções industriais. Não! Em proporções que faria Homero corar.

Lembram-se do post sobre a entrevista de Marxilena Oiapoque à revista argentina Debate? Ela admite que o PT meteu a mão na sujeira, mas diz que seu maior patrimônio é a “ética na política”. E isso significa que ela não distingue a fronteira entre a verdade e a mentira.

Não permita que a baba hidrófoba se espalhe por aí. Contra ela, use apenas a verdade.
Por Reinaldo Azevedo 15:10

Lula e seus militantes amestrados - Eduardo Graeff, Folha de S. Paulo (17/09/07)

O PLEBISCITO sobre a privatização da Companhia Vale do Rio Doce não foi para valer, Lula esclareceu na coletiva de rádio dias depois de o PT anunciar sua adesão à iniciativa do MST e outros. A rigor, o "não tenho nada com isso" dele também não é para valer.
Às vésperas do plebiscito, enquanto o presidente da República negava que a reestatização da Vale estivesse ou pudesse vir a estar na agenda de seu governo, militantes de camiseta vermelha recolhiam assinaturas para o plebiscito comodamente instalados na portaria do Ministério do Planejamento ao som do hino da Internacional Comunista. O que vale mais: a palavra do presidente ou as centenas de milhões de reais com que ele irriga o MST, a CUT, a UNE etc.?
Uma coisa pela outra, eu diria. Falsa como uma nota de três reais é a razão formal que ele alegou para se dissociar da onda reestatizante: houve um "ato jurídico" que o governo deve respeitar. Se tivesse sombra de dúvida que o ato foi fraudulento, como gritam os "excluídos" chapa-branca, teria por obrigação mandar apurar e desfazer o malfeito. Não fará nada, como não fez até hoje, porque não quer assustar o mercado nem ter que passar um atestado de idoneidade ao processo de privatização. Bom mesmo é deixar suspeitas no ar e faturar eleitoralmente, como fez com o boato de privatização do Banco do Brasil em 2006.
Melhor ainda juntar o proveito político do reflexo condicionado antiprivatização com o proveito econômico da Vale privatizada. Recorde de investimento: US$ 44,6 bilhões nos últimos seis anos contra US$ 24 bilhões nos 54 anos anteriores. Recorde de produção: 300 milhões de toneladas de minério neste ano contra média anual de 35 milhões da Vale estatal. Recorde de emprego: 56 mil empregos diretos hoje contra 11 mil há dez anos. Recorde de exportações: quase US$ 10 bilhões em 2006 contra US$ 3 bilhões em 1997, garantindo mais de um quarto do saldo da balança comercial "deste país".
A Vale não é exceção. Da Embraer à telefonia, passando pela siderurgia e petroquímica, o desempenho de quase todas as empresas privatizadas é uma história de sucesso em benefício de seus compradores e empregados e do país.A isso o estatista contrapõe números que são, eles sim, fraude grosseira: a comparação dos US$ 3 bilhões pelos quais a União vendeu 42% de suas ações ordinárias da Vale em 1997 com os US$ 50 bilhões que a Vale inteira valeria hoje, depois de toda a expansão possibilitada pela privatização.
E quem foram os beneficiários desse "ato de lesa-pátria"? A quem pertence a Vale privatizada? Aos funcionários e aposentados do Banco do Brasil, principalmente, por intermédio de seu fundo de pensão. Com o BNDES, eles detêm dois terços do capital da Vale. O restante se distribui entre o Bradesco, a "trading" japonesa Mitsui e mais de 500 mil brasileiros que aplicaram parte do FGTS em ações da companhia. O padrão de gestão da Vale é privado. A propriedade, como se vê, nem tanto. Depois de privatizada, a empresa recolheu aos cofres da União, em impostos e dividendos, algumas vezes mais do que fez ao longo de toda a sua existência como estatal.
Os obreiros do plebiscito e até, forçando a barra, os padres que ecoam essa gritaria inconseqüente dentro das igrejas podem pretextar ignorância. Lula e os dirigentes do PT, não. Esses usam deliberadamente o fantasma da privatização como uma distração para a sua militância -um osso de mentira que se dá a um cachorrinho para ele não roer a mobília.
Um placebo ideológico aqui, uma verbinha acolá, empregos a rodo, barriga cheia, lá vai a militância petista fazer seu número. Pula! Late! E Lula pisca o olho para as visitas: "É brincadeira, gente! Senta que o Lulu é manso".Os empresários sorriem de volta, fingem que acreditam, mas pensam dez vezes antes de botar a mão no bolso. Para eles, pior do que a encenação dos militantes é a falta de vontade e/ ou capacidade do governo de estabelecer regras claras e um ambiente político confiável para os investimentos privados em infra-estrutura.
A conta das ambigüidades virá aí por 2010, prevêem os especialistas, quando o fantasma do racionamento de energia elétrica deve voltar a rondar, dessa vez não por falta de chuva, mas de investimento. Ou quem sabe em 2011. Já pensaram na ironia? Um novo governo às voltas com o apagão, a militância petista a todo vapor de volta à oposição e Lula na Guarapiranga, pescando suas tilápias...
EDUARDO GRAEFF, 57, é cientista político. Foi secretário-geral da Presidência da República no governo FHC

A nova classe social no poder: agora em números - Blog Reinaldo Azevedo 17/09/07

Por Fernando Barros de Mello, na Folha desta segunda. Volto em seguida:

Os cargos de confiança mais altos no governo de Luiz Inácio Lula da Silva são ocupados por sindicalizados e filiados ao PT, de acordo com dados da pesquisa "Governo Lula: contornos sociais e políticos da elite do poder", coordenada por Maria Celina D'Araújo, do CPDOC (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil) da FGV. "Você tem ainda uma superposição: parte dos petistas é também sindicalizada. É uma malha associativa muito forte", diz a pesquisadora. A amostra da pesquisa levou em conta os cargos DAS 5, DAS 6 (Direção e Assessoramento Superior) e NE (Natureza Especial), que são os mais altos no serviço público. "A população brasileira tem em torno de 14% de sindicalizados. Na nossa amostra, a gente tem 45%. É muito diferente da realidade brasileira", diz. "Nós pegamos os níveis 5 e 6, que são cargos de direção. Acho que, se olhar mais para baixo, a tendência é até ter mais militantes e sindicalizados. A nossa amostra é uma elite que requer especialização técnica", complementa.


Segundo a pesquisa, cerca de 25% tinham filiação partidária: 19,90% eram filiados ao PT, e 5%, a outros partidos. O estudo mostra que a maior parte dos filiados vem do serviço público estadual e municipal. Informações do próprio PT dão conta de que, ao todo, são 5.000 filiados que ocupam cargos comissionados no governo Lula."Os filiados são, em sua maior parte, "outsiders" da esfera pública", diz o texto da pesquisa, segundo o qual os indicadores de "associativismo" também impressionam. "Um total de 46% declaram ter pertencido a algum movimento social, 31,8% declaram ter pertencido a conselhos gestores e 23,8%, a experiência de gestão local. Apenas 5% pertenceram a associação patronais." Outro ponto que chamou a atenção foi o fato de a área econômica ter o maior número de servidores com experiência anterior (27%). Na área da saúde, o número fica em 14,55%, na social, em 19,12%, e na de educação, em 13,93%. "O que a gente observa é que a área econômica é a mais profissionalizada".

Voltei
Eis aí. Vocês sabem que chamo a nova classe social que chegou ao poder com Lula de “burguesia do capital alheio”. A reportagem publicada na Folha não poderia ser mais eloqüente. Este é o poder real do petismo. E notem que se está falando de cargos comissionados, os de confiança. Aposto que, nos escalões inferiores, à medida que se rebaixam as exigências técnica para o exercício da função, os sindicalizados estão em ainda maior número. A base material do novo poder no Brasil é a Central Única dos Trabalhadores, de onde saiu boa parte dos quadros que estão no comando. Por meio da central, o partido controla também os fundos de pensão e as estatais.

Lembram-se da entrevista de Expedito Velloso, aquele que era diretor do Banco do Brasil e que integrou o grupo dos aloprados impunes do dossiê? Qual é a sua origem? CUT. É o caso ainda de Osvaldo Bargas, Jorge Lorenzetti e Ricardo Berzoini, presidente do PT — todos eles diretamente ligados à tramóia. Se o partido perder a eleição em 2010, os titulares dos cargos de confiança serão substituídos. Mas isso não quer dizer grande coisa. A infiltração sindical-petista nos quadros do estado se dá nos Três Poderes e no Ministério Público. Chama a atenção, ainda, o maior número de “companheiros” em áreas como saúde e educação — não por acaso, as que têm desempenho mais sofrível, a despeito da propaganda oficial. A economia, vê-se, está mais protegida da sanha.

A pesquisa expõe a real natureza do governo Lula. Imaginem o comando da Saúde com apenas 14,55% das pessoas com a chamada “experiência anterior” na área. Estão lá, então, por quê? Por, literalmente, “companheirismo”. E a gente ainda estranha que não se consiga fazer o remédio chegar aos indiozinhos. A constatação de fundo e que interessa é esta: o estado está sendo ocupado pelo sindicalismo petista. O esforço, já escrevi aqui, é para tornar a alternância de poder no país uma coisa irrelevante. Ainda que um outro partido possa vir a ser eleito, o PT não pretende abrir mão do domínio da máquina do estado.
Por Reinaldo Azevedo 06:01

Pesquisa 1 – O governo corrupto do Bolsa Família roubou até a estabilidade - Blog Reinaldo Azevedo - 16/09/07

Leiam trechos do texto de Carlos Marchi que está no Estadão deste domingo. Volto depois:O governo Lula fez três coisas boas - o programa Bolsa-Família, a estabilidade econômica e a ajuda aos pobres; e três coisas ruins - a corrupção, o apagão aéreo e a pouca atenção à saúde. Esta é a percepção do eleitorado brasileiro, colhida pela pesquisa Estado/Ipsos. O Bolsa-Família foi apontado por 43% dos eleitores; a estabilidade econômica foi citada por 20% e a ajuda aos pobres foi mencionada por 10%. Só 8% dos eleitores responderam que a maior obra do governo Lula é 'nada'. Na outra ponta, o eleitorado brasileiro aponta como as piores coisas do governo Lula a corrupção, citada por 23%, o apagão aéreo, mencionado por 11%, e a pouca atenção à saúde, lembrada por 10%.
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Para 67% dos brasileiros, o atual presidente é o maior responsável [pela estabilidade]; o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, cujo governo implantou o Plano Real e sustentou os primeiros oito anos estáveis, foi mencionado como responsável pela estabilidade por apenas 7%. (...)
O atual presidente deu mais apoio aos pobres para 80% dos brasileiros; o antecessor ganhou o aval de apenas 9%. Para 73%, Lula favoreceu um melhor poder de compra do brasileiro; só para 16% Fernando Henrique foi melhor nesse quesito. Lula reduziu mais o custo da cesta básica para 73%; o ex-presidente, só para 15%. Lula controlou melhor a inflação para 66%; Fernando Henrique, só para 19%.
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Os mais pobres dizem com mais ênfase que Lula deu apoio aos despossuídos. Na faixa que junta os analfabetos e os que têm até a 4ª série do ensino fundamental, 82% acham que Lula foi melhor que Fernando Henrique na ajuda aos pobres. Entre os que têm curso superior o número não é muito diferente - 79% acham que, no tópico, Lula foi melhor. Os eleitores que têm curso superior atribuíram a estabilidade mais a Lula (55%) do que a Fernando Henrique (15%).(...)
Para os brasileiros, o melhor ministro do governo Lula não é um político, não é do PT nem do PMDB - é o ministro da Cultura, Gilberto Gil, um filiado do PV, que nem da base aliada é. Ele foi citado por 4% dos brasileiros e ficou à frente dos petistas Tarso Genro, das Relações Institucionais, e Guido Mantega, da Fazenda, ambos com 3%.

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Quanta coisa sai dessa pesquisa, não?

A primeira importante: o governo FHC foi um desastre em comunicação, tanto quanto o petismo é um sucesso. Constantemente vemos petistas metidos em assalto aos cofres públicos, mas o maior roubo que praticaram foi este: a estabilidade econômica. Quem pôs fim ao ciclo histórico da inflação brasileira foi o governo FHC. Poderia ser chocante o fato de também os universitários, camada supostamente mais bem-informada, atribuírem ao petista o que não lhe pertence. Mas não choca, não. O petismo mais radical, mais ideológico, está justamente entre os que têm formação superior. De resto, tal condição precisa ser pensada em suas novas características: o Brasil passa por uma fase de “supletivização” do ensino de terceiro grau. Nunca a ignorância foi tão diplomada.

A segunda questão importante guarda relação com um texto que escrevi ontem, comentando os números do IBGE. O Bolsa Família continuará a assombrar o Brasil por muito tempo. E o mais dramático é que não se forma massa crítica para combater essa barbaridade nem nos setores que estariam especialmente aptos a fazê-lo: a imprensa, por exemplo. Continuaremos amarrados por muito tempo a este programa que torna operativa a pobreza brasileira. A pesquisa Ipsos/Estadão evidencia o óbvio: no Nordeste, Lula é mais popular do que no Sul e no Sudeste.

A terceira questão importante tem a ver com o óbvio: a corrupção se transformou numa das marcas do partido que tem como lema, diz Marxilena Oiapoque, a “ética na política”. A avaliação positiva que se faz do governo Lula, no entanto, indica que esse quesito pesa menos na balança do que a tal inflexão social. Numa esfera puramente moral, temos um “rouba, mas faz caridade”. Governos ladrões ou provocam a repulsa popular ou vão deixando o próprio povo mais sem-vergonha.

A quarta questão importante, acreditem, tem como símbolo Gilberto Gil. Ele é considerado o melhor ministro do governo Lula — e isso prova que inexiste um governo; só existe Lula. O cantor aparece pouco na mídia. Sua atuação é discretíssima. Se consegue, ainda assim, ser o mais lembrado, isso dá conta do que acontece com os demais. O PT é uma máquina gigantesca, infiltrada em todas as esferas do estado e da sociedade — conta até com as práticas clandestinas típicas do velho comunismo (ver posts abaixo) —, mas, eleitoralmente, é extremamente dependente de seu líder carismático: Lula. À sua sombra, até agora, nada cresceu a ponto de vir a ser uma alternativa. E isso tem reflexos eleitorais, conforme se vê abaixo.
Por Reinaldo Azevedo 06:52