Saturday, April 26, 2008

Quem são os responsáveis? - por José Nivaldo Cordeiro em 25 de abril de 2008 - www.midiasemmascara.org

Resumo: A propaganda mentirosa e a má intenção dos agentes políticos do PT são o pólo positivo; a alma desgraçada pelo descenso civilizacional é o pólo negativo.

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Voegelin, no livro HITLER E OS ALEMÃES, recém editado no Brasil pela éRealizações, foi enfático ao afirmar que o fenômeno político do nacional-socialismo derivou antes de tudo de uma pneumopatologia, uma doença do espírito que se abateu sobre a Alemanha daquela época, muito mais grave do que uma simples psicopatologia, uma doença da alma, como muitos quiseram fazer crer. O descenso civilizacional representado pelo nazismo tem que ser buscado nos indivíduos tomados como pessoas, com nome e endereço. Não há qualquer culpa coletiva, coletivos não podem ser escudos para retirar as responsabilidades individuais. E afirmou mais: “Não há nenhum direito de ser estúpido”, estupidez também não inocenta ninguém.

Lembro disso porque quero continuar o comentário que fiz no artigo anterior (A questão da representação no Brasil). A ascensão de Lula e do PT ao poder poderia ser debitada à engenharia de comunicação social mentirosa posta em marcha pelas forças petistas. Isso é certo, mas não explica o fato. Um homem dentro da sua razão não poderia acreditar nas estultices da propaganda política se não se acumpliciasse com os camaradas do partido. Veja você, meu caro leitor, que não estou aqui meramente cobrando a responsabilidade do povo miúdo, que teria até mesmo a desculpa da fome e do desamparo da pobreza para um voto “útil” no PT, embora mesmo essa gente não possa ser desculpada. Pobreza não é atestado de insuficiência moral e alguém pobre e pouco estudado continua a saber as noções elementares do “certo” e do “errado”, na vida pessoal assim como na vida política, de que participa pelo voto.

A propaganda mentirosa e a má intenção dos agentes políticos do PT são o pólo positivo; a alma desgraçada pelo descenso civilizacional é o pólo negativo. O discurso mentiroso e falsificado tinha ouvidos para ouvir. Havia no ar o pedido do “me engana que eu gosto”. Dessa maneira cumpre-se à risca o ditado de que cada povo tem o governo que merece. Uma ralé governante foi alçada ao poder pela ralé moral integrante de todas as classes sociais.

Quero me referir propriamente aos extratos superiores que constituem a parte mais relevante dessa ralé, para usar a dura e saborosa expressão de Voegelin. Banqueiros, industriais, toda a classe universitária, os controladores da mídia, parte do clero dito “progressista”, os poderosos e ricos em geral. Onde deveria residir o escol da sociedade, a dar exemplo às classes subalternas, vimos aninhados nesse meio enriquecido os aleijados de alma. O mote que utilizam é o cínico “igualitarismo”, que eles por condição sabem ser uma falsificação e uma impossibilidade prática. E todos os “direitos” arbitrários que foram inventados, desconectados do direito natural, cuja execução levou a uma exacerbação jamais vista na carga tributária, são exemplos dessa doença política.

A liberação dos costumes, a defesa dos criminosos e a inculpação das suas vítimas, a regulação da ação humana nos mínimos detalhes, tudo isso aboliu na prática grandes parcelas da liberdade. Então o reino petista é esse misto de terror fiscal e policial, de um lado, e o terror derivado do banditismo anárquico protegido pelas figuras eminentes do Estado, do outro lado. É a negação dos valores tradicionais.

O ponto é que não há inocentes nesse jogo e a comunalha só tomou o poder porque a doença do espírito se espalhou por igual por todo o corpo social. Se alguém quiser buscar os culpados da situação que foi criada basta procurar um espelho e nele mirar-se. A cura terá que ser individual, a começar pela catarse pessoal, cada um assumindo a parte que lhe cabe. Mesmo o pobre dos grotões, ao receber a bolsa-esmola, sabe que está se vendendo moralmente, pois sabe que nada é grátis. Os esquerdistas Zona Sul, esses é que não têm desculpas. Alguns quiseram fazer carreira com a carteirinha do partido. Outros usar de influência. Outros por vaidade, para se sentir parte do grupo. Outro por puro cinismo, para realizar negócios ou qualquer outra coisa inconfessa. Ninguém é inocente.

A pergunta que me faço é aquela que Karl Krauss se fez em 1933, a mesma de Ortega y Gasset e Raymond Aron: quando vai parar? Qual é a linha vermelha de onde não poderá haver retorno? Fiquei muito feliz com a fala do general Augusto Heleno, o comandante militar da Amazônia, no Clube Militar do Rio de Janeiro, ao criticar a demarcação caótica das terras indígenas. Deu-nos duas mensagens. A primeira é que as Forças Armadas não foram infiltradas pelo PT e elas, sozinhas, são um poder considerável, têm a força das Armas. Se a sociedade civil se mobilizar os Guardas da Pátria estão aí, em prontidão. A segunda mensagem é que com a soberania nacional os militares não vão flexibilizar. Em suma, ainda resta um pedaço de Brasil saudável e não imerso no sonho hipnótico do esquerdismo irresponsável e suicida, talvez o único freio para que o desfecho trágico ainda não tenha sido consumado.

José Nivaldo Cordeiro em 25/04/08 - http://www.midiasemmascara.org/

A QUESTÃO DA REPRESENTAÇÃO NO BRASIL - Publicado no site www.midiasemmascara.org.br em 24/04/08

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Visto de longe, pode-se dizer que Lula representa adequadamente a Nação brasileira, até porque os índices de popularidade e de aprovação que são produzidos pelos institutos de pesquisa dão conta de que o brasileiro médio – o homem-massa – enxerga-se no seu governante. Lula deteria o que Voegelin chamou de representação existencial. Assim, haveria total legitimidade das ações tomadas por ele no seu já longo governo.

Convém, todavia, rememorar alguns fatos e qualificar outros para bem compreender o que se passa. Lula e seu partido foram alçados ao poder depois de décadas de fraude ideológica e de produção de mentira pura e simples nos meios de comunicação de massa, na produção editorial enviesada de esquerdismo e na distorção do processo educativo, que tornou o professorado militante das idéias socialistas. Em suma, essa grande fraude moldou o eleitor médio à conformidade dos políticos que a esquerda apresentava e pela Fortuna (aqui no sentido da obra de Maquiavel) Lula mostrou-se o mais apto para assumir a Presidência da República. A sua eleição corou a revolução gramsciana que foi posta em marcha por décadas a fio. É um legítimo filho da mentira política.

Vendo esse viés de origem podemos dizer que a fraude não pode ser utilizada como instrumento de legitimação e o fato de ter sido utilizada é já razão para deslegitimar o governante. Sua capacidade de representar o povo tem vício de origem. É bem verdade que ele fez o que dele se esperava: deu aumento real de salário mínimo, criou as diversas bolsas que na prática são transferência direta de renda do Tesouro para a população mais pobre e fez leis do agrado das chamadas minorias, regulamentando tudo que pôde em prejuízo das empresas e dos cidadãos de maior renda. E ainda armou o maior cerco jurídico e sistêmico já posto em marcha pelo Fisco contra os cidadãos. É claro que todas essas ações negam o direito natural e, enquanto tal, não poderão se manter muito tempo. A elevação dos salários reais, por exemplo, está erodindo a capacidade de exportar da economia e elevando as importações, dessa forma destruindo o ponto basilar da saúde da economia brasileira.

Outro ponto que indica carência de representatividade é o fato de um espelho do homem-massa como é Lula não representar o escol da sociedade. É flagrante o seu despreparo como governante, inclusive e sobretudo na dimensão espiritual. Depois que assumiu o poder vimos parcelas importantes da elite brasileira aderir despudoradamente não apenas a seu governo, mas às teses duvidosas da plataforma política do PT. O igualitarismo de triste memória, o gaysismo, o feminismo, a relativização da propriedade privada... De repente, tudo que sempre de considerou mais sagrado foi invertido e as leis foram paulatinamente mudadas na direção da consagração dos vícios. A novidade é que a chamada sociedade civil, com a exceção notável da Igreja Católica em alguns temas, curvou-se às coisas novas sem qualquer resistência. Chega a ser pungente ver um homem como Olavo Setúbal defender a elevação de impostos enquanto instrumento para melhor distribuir a renda, ele que foi líder da Revolução de 1964 e lutou contra o comunismo.

Na política externa o drama não poderia ser mais agudo. O Brasil se alinhou com o que há de pior no cenário internacional: apoiou Chávez, Fidel Castro e seus apadrinhados na América Latina, praticamente tornou-se cúmplice das ações criminosas das FARC, dando-lhe cobertura política, apoio e mesmo asilo aos seus dirigentes. A imprensa deu conta de que dinheiro do tráfico teria financiado a campanha de Lula. Em paralelo, deixou que inexpressivos vizinhos atentassem contra os interesses nacionais, sendo o governo incapaz de tomar a defesa da nacionalidade. O caso da Bolívia ainda não se esgotou. Vemos agora as eleições paraguaias terem como tema principal quem será o campeão na luta contra os interesses brasileiros em Itaipu. Os vizinhos perderam o respeito porque nosso governo não se fez respeitar. Piormente, não conseguiu acordo com os EUA e ignorou a ALCA, algo incompatível com os interesses nacionais.

Por não representar a verdade política e a verdade espiritual (nega os valores judaico-cristãos na sua inteireza) Lula não tem portanto uma legítima representação existencial. Não passa de um enganador das multidões. Dito de outro modo, as bases reais do poder de Lula são frágeis porque depende da continuidade da mentira política para se manter no poder, bem como da compra de votos do povo miúdo mediante o instrumento das bolsas e da cooptação da elite por meio do terror fiscal e policial.

É preciso lembrar também da distorção eleitoral, pela qual os votos dos habitantes dos Estados mais populosos valem menos do que os votos dos habitantes dos estados menores ou menos densamente povoados. O Congresso Nacional assim constituído também tem um caráter ilegítimo intrínseco e talvez por isso tenha sido facilmente manobrado pelo Executivo. Virou um cartório a homologar as Medidas Provisórias promulgadas sem qualquer restrição por Lula. O Poder Legislativo tornou-se uma caricatura de si mesmo.

E também há que se sublinhar a inexistência de um segmento partidário

José Nivaldo Cordeiro é economista e mestre em Administração de Empresas na FGV-SP.

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Friday, April 25, 2008

Um artigo tenebroso - Blog do Reinaldo Azevedo - 25/04/08

Os auditores fiscais, como vocês sabem, estão em greve — parcial, é verdade, mas o suficiente para trazer enormes prejuízos ao Brasil e aos brasileiros. O pretexto é uma questão salarial. Mas será só isso? Um artigo publicado hoje por Vera Teresa Balieiro, em O Globo, parece indicar que não. Quem é a valente? É a presidente do Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Unafisco Sindical) do Rio de Janeiro.
Leiam o que ela escreve num texto intitulado “O governo aparelhado”. Volto em seguida:

A constipação da economia americana, se não foi capaz de arrastar a brasileira, trouxe-nos de volta, contudo, a ameaça de recrudescimento da famigerada política de juros altos e, com ela, a perplexidade da sociedade brasileira diante de algo aparentemente incompreensível - a blindagem desta e de outras políticas de governo, como a tributária e a regulamentação financeira, que perduram imutáveis, mesmo diante de um clamor nacional por mudanças.
Por mais bizarra que possa parecer, no entanto, essa situação revela talvez a maior de todas as conquistas recentes dos grupos econômicos que, historicamente, ditam as regras políticas em nosso país. O "aparelhamento" de setores estratégicos do governo, como o Banco Central e a Receita Federal, e a implantação de uma cultura gerencial privada nos órgãos públicos deram-lhes o poder de fato das engrenagens fundamentais da máquina governamental, independentemente até mesmo da vontade do encarregado de operá-la no momento.
Sejam quais forem os operadores de plantão, a máquina funcionará sempre na mesma cadência, garantindo resultados satisfatórios àqueles que controlam o mecanismo. Já não mais importa o matiz político de quem vier a comandar o país, desde que os setores estratégicos continuem controlados por esses grupos, cujos interesses ficam, assim, assegurados.
Sob o verniz de uma falsa modernidade, o sistema estabelecido até concede alguns espaços através de conselhos sociais e grupos de trabalho, sem quaisquer possibilidades decisórias, gerando apenas um "participacionismo" inócuo.
Um exemplo típico é o falso debate proposto pela administração para tentar legitimar, no âmbito da Receita Federal, o Programa Integral de Gestão de Pessoas, o chamado "Pró-Pessoas" - empulhação cujo principal objetivo é transferir as atribuições dos auditores fiscais para os gestores, em detrimento dos agentes públicos.
Tudo nesse programa denuncia o DNA do modelo de gestão do setor privado, só que dentro de um órgão público. O discurso oficial destaca pontos como "contribuir para a melhoria do ambiente de negócios do país" e "prover segurança, confiança e facilitação do comércio internacional", contribuindo "para sua fluidez".
É preocupante quando um órgão vital, como a Receita Federal, desvia o seu foco do interesse público, colocando-se a serviço de demandas particulares.


Comento
Vera quer inverter os fatos. O governo está aparelhado, sim, mas pelo sindicalismo. Segundo ela, não. O setor privado é que teria se apropriado do estado. Sua acusação é tão sensata quanto a bobagem de que a elevação da taxa de juros no Brasil tem alguma relação com a crise da economia americana, que ela chama de “constipação”. No sentido original e primeiro da palavra, “constipadas” são suas avaliações.

Como se vê, o que dona Vera não aceita é uma gestão da Receita — e, então, de qualquer órgão público — que tenha como critério a eficiência e a qualidade. Ela considera isso tudo papo furado, “verniz de uma falsa modernidade”. Acha que, assim, o capital privado estará sendo beneficiado, em detrimento do bem público. Parece que, para esta senhora, a competência é mesmo coisa da direita. Convenhamos: ela não deixa de ter razão.

Ao contestar o que considera mero “discurso oficial”, a líder sindical se trai e resolve se opor àqueles que seriam os seus princípios:
- “contribuir para a melhoria do ambiente de negócios do país";
- "prover segurança, confiança e facilitação do comércio internacional";
- contribuindo para "para a fluidez" desse comércio.

Mas esperem aí: não é isso mesmo o que todos queremos da Receita? Se melhora o ambiente dos negócios, se o comércio internacional se torna mais fácil e mais fluido, não são os brasileiros que ganham? Isso dona Vera não responde. Ela só põe na sua conta os que supostamente perdem: aqueles que ela chama de “agentes públicos”. Quer dizer que temos “agentes públicos” que perdem quando os brasileiros ganham? Então, não há como ignorar, eles são nossos inimigos.

Reparem que, subjacente ao texto desta senhora, há a idéia de que o Brasil deve proteger os interesses da corporação — em vez de a corporação trabalhar em benefício daqueles que lhe pagam o salário. É o fim da picada! Não fica difícil saber quem aparelha o quê.


Por Reinaldo Azevedo

Oi-Brasil Telecom: negócio fechado - Blog do Reinaldo Azevedo - 25/04/08

Acabam de ser assinados os papéis do acordo Oi/Brasil Telecom — ou BrOi, como preferem alguns. Não há mais nenhuma aresta, nada, tudo certinho. Agora, só falta o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mudar a lei para, vejam que coisa, “legalizar” a operação. E eu volto à minha velha questão: nas democracias do mundo inteiro, negócios são feitos de acordo com a lei. No Brasil, as leis são feitas de acordo com os negócios.


Por Reinaldo Azevedo

À moda italiana: depois de aparelhar o estado, petistas aparelham capital privado - Blog do Reinaldo Azevedo - 25/04/08

Tornei popular neste blog uma expressão lá do meu interior: “A cada enxadada, uma minhoca”. A gente a emprega em lugar do “é só procurar que acha”. Ainda que estejamos nos acostumando com essa gente — o que é péssimo —, não deixa de ser surpreendente. Não há negócio nestepaiz que se faça sem a interferência “deles”. Não aparelharam apenas o estado brasileiro. Num movimento inédito — ou nem tanto, se formos considerar certa tradição que vem da Itália —, ele aparelharam também os negócios privados.

A quem estou me referindo? É claro que é ao primeiro-compadre, Roberto Teixeira, e à denúncia de um juiz de que uma quadrilha atuou na VarigLog (ver posts às 14h43 e às 17h07 de ontem). Sua presença nas negociações para a venda da Varig à Gol, de todos conhecida, já era, para dizer pouco, incômoda. O compadre do presidente, aquele em cuja casa Lula morou “de graça”, o padrinho que levava o caçula aos estádios de futebol — enquanto o Apedeuta construía “o socialismo —, este senhor deveria ficar fora de negócios que envolvam empresas públicas ou áreas reguladas pelo estado, como é a aviação. Aliás, no setor, ele não é neófito. Teixeira é advogado da Transbrasil, empresa falida de Antônio Celso Cipriani, outro amigão de Lula, que deu um tombo na praça de R$ 1 bilhão (mais informações aqui).

Volto ao caso VarigLog. O primeiro-compadre, por senso de decoro, dada a intimidade com o supremo mandatário, já deveria dar uma de mulher de César. Mas os petistas não estão nem aí. Mudaram há muito tempo essa lógica. Muitos não fazem questão nenhuma de ser honestos, e nenhum deles se preocupa nem mesmo em parecer honesto.

Imaginem só: desrespeitando uma ordem judicial, o chinês Lap Chan, fugindo do Brasil, tentou surrupiar US$ 80 milhões de uma conta da VarigLog na Suíça. Escritório de onde partiu a ordem de transferência: o de Roberto Teixeira — que atuou junto à Anac para viabilizar a operação de venda empresa. O juiz José Paulo Camargo Magano não economiza: quer que a Polícia Federal e o Ministério Público investiguem a turma toda por “práticas de ilícitos civis e criminais, inclusive crime de quadrilha”. A ser assim, a Anac, órgão do estado brasileiro, acabou vítima — ou comparsa — de uma... “quadrilha”!!!

Acreditem: os petistas estão metidos em praticamente todos os grandes negócios privados que se fazem no país — às vezes, dividem-se em grupos, que disputam entre si a carniça, como as hienas, solidárias quando se trata de roubar a presa dos leões, mas implacáveis na disputa interna. Foi o que se viu na telefonia. Em última instância, postos os noves fora, o governo se dividiu, no caso do controle da Brasil Telecom, entre a turma favorável a Daniel Dantas e a turma contrária. Cada operação, em cada setor, tem de ser meticulosamente negociada, porque há sempre grupos criando dificuldades para vender, em seguida, facilidades. Este aparelhamento dos órgãos públicos e mesmo do setor privado funciona como um estado paralelo.

Cabe a especulação: imaginem se um compadre de FHC, com a intimidade que Teixeira tem com a primeira-família, aparecesse desempenhando o papel deste advogado. O mundo viria abaixo. Collor, que vimos anteontem numa solenidade oficial, deve ter pensado em algum momento do dia: “Meu Deus! Como fui amador! Gente profissional é esta aqui”. O que terão a dizer Denise Abreu, Milton Zuanazzi e coronel Jorge Luiz Brito Velozo, ex-diretores da Anac, sobre o período em que Roberto Teixeira andou rondando por lá?

Trata-se de um setor regulado da economia. As negociações só seguiram adiante porque contou com o aval de órgãos do estado. Além da eventual atuação do PF e do Ministério Público, o Senado tem de chamar toda essa gente para dar explicações. Um dia, quem sabe, Roberto Teixeira ainda há de pesar na política brasileira o quanto ele efetivamente vale.


Por Reinaldo Azevedo

A MENTIRA PROPAGADA POR UMA ONG - Blog do Reinaldo Azevedo - 24/04/08

É inacreditável!

O negócio é repetir uma mentira até que ela se torne verdade.

Já desmoralizei duas vezes, com números, não com opinião, uma certa ONG chamada Movimento Nossa São Paulo. É uma ocupação que distrai Oded Grajew, ex-empresário do setor de brinquedos, que depois brincou de assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que, hoje, brinca de grande pensador do urbanismo brasileiro. A tal ONG disfarça o seu petismo congênito com o apoio do um monte de entidades por aí. Como já escrevi aqui no dia 25 de janeiro, “a sua ONG reúne 400 (!!!) entidades: entre elas, estão a ‘burguesa’ Fiesp, a ‘cúpida’ Bovespa e a muito ‘social’ cooperativa de catadores de lixo sei lá de onde. Essas ilusões pluralistas sempre me deixam muito comovido. E só não paro de escrever para chorar porque decidi ter o coração mais duro do que o do faraó...”

Em janeiro, Grajew e sua ONG vieram com a BOBAGEM de que a Prefeitura de São Paulo investe mais nas áreas ricas da cidade do que nas pobres. Demonstrei aqui o engodo. Não é que eles estão de volta com a mesma cascata? E não é que ganharam espaço no noticiário do UOL e, talvez, estejam amanhã nos jornais?

O portal comprou inteiramente a versão dos valentes. Leiam:
“Uma pesquisa realizada pela ONG Movimento Nossa São Paulo e divulgada nesta quinta-feira (24) traduz em números a desigualdade econômica e social entre as diferentes regiões da capital paulista. O estudo, feito com dados oficiais, fornecidos pela Prefeitura de São Paulo, revela que enquanto bairros de classe média como os de Pinheiros e Jardins têm serviços de saúde, educação e cultura semelhantes aos de países desenvolvidos, bairros da periferia da capital apresentam total carência de serviços essenciais.
O estudo revela quanto a Prefeitura efetivamente investe em cada uma das 31 subprefeituras da cidade. Ao analisar o orçamento de cada subprefeitura em 2006 e dividi-lo pelo número de habitantes atendidos, a ONG conseguiu detectar que o volume de recursos que chega aos bairros ricos é em média 4 vezes maior que chega aos bairros pobres.”

Acontece que essa é uma conta de energúmenos ou de malandros. Vocês decidem. Sabem por quê? O orçamento das Subprefeituras CORRESPONDE A MENOS DE 4% DO ORÇAMENTO DA CIDADE. Pegar uma fatia ínfima do Orçamento e tratá-lo como se presentasse 100% é uma estupidez.

Repito aqui o que escrevi no dia 25 de janeiro:
“Sabem o que é impressionante? Grajew vendeu essa mesma tese às rádios há três meses. O dinheiro das subprefeituras é só para a manutenção de aparelhos públicos — não é investimento. Escrevi então: “Nas contas perturbadas (...), simplesmente não entram os investimentos das outras secretarias, prioritariamente voltados para as áreas pobres da cidade. O Hospital do M’Boi Mirim, por exemplo, entra na conta (...)? Não! As 60 AMAs (unidades de saúde) da periferia entram? Não! E os 24 novos CEUs? Também não. (..) É absolutamente razoável que se gaste mais em Pinheiros, nesse quesito, do que na Capela do Socorro. Porque Pinheiros não terá muito além dessa verba de manutenção, eis a verdade.”

É impressionante que esse tipo de coisa ainda prospere.



Por Reinaldo Azevedo

O verdadeiro oprimido - Blog do Reinaldo Azevedo - 24/04/08

Eu tenho uma saída para o chamado Terceiro Setor, que é como as ONGs gostam de ser chamadas. E, depois de um sério estudo, concluí que:
- as tartarugas estão fugindo das ONGs; já há gente demais para cuidar delas;
- o jacaré do peito amarelo já não suporta ser protegido por rapazes de barbicha e rabinho-de-cavalo e moças que curtem “cantoras intensas” da MPB;
- o índio está cansado de fumar aquele troço e bater o pé no chão só para os antropólogos do complexo PUCUSP curtirem um barato;
- estão faltando negros para tantas vagas no ProUni;

Em suma, É preciso que o tal Terceiro Setor descubra novos oprimidos. Eu tenho uma dica. Que tal proteger um pouco, para variar, o branco pobre, macho, adulto e heterossexual? Tadinhos. Ninguém liga pra eles. Não vêem a hora de ter uma ONG para cuidar dos seus interesses.

O branco pobre, macho, adulto e heterossexual é que é o verdadeiro negro do Brasil.
O branco pobre, macho, adulto e heterossexual é que é o verdadeiro índio do Brasil.
O branco pobre, macho, adulto e heterossexual é que é o verdadeiro micro-leão-da-cara-preta do Brasil.


Por Reinaldo Azevedo

Faltam índios para tantas ONGs - Blog do Reinaldo Azevedo - 24/04/08

No Brasil inteiro, há 750 mil índios. Só na Amazônia, confesso, não sei quantos são. Mas vamos fazer de conta que todos estão lá: 750 mil silvícolas para 100 mil ONGs resultam numa média de 7,5 índio por entidade. Digamos que metade delas se dedique, sei lá eu, a salvar o minhocuçu (tem isso por lá?), o mico-leão-da-cara-preta (idem), o papa-aranha, a papaconha preta e o miçoco... Aí teríamos 15 índios por ONG. Considerando que parte dos nossos bons selvagens de short Adidas, celular da Motorola e camionete Land Rover está fora da Amazônia, o número de índios por ONG volta a cair. Se cada uma pegasse a grana que recebe das mais diversas entidades para, de fato, cuidar da nossa brava gente, dava para botar todos os nativos na Sorbonne...


Por Reinaldo Azevedo

Roberto Teixeira, o primeiro-compadre: juiz manda PF investigar quadrilha da VarigLog - Blog do Reinaldo Azevedo - 24/04/08

Se o primeiro-compadre fosse uma mulher, ele seria Gilda! Nunca houve um primeiro-compadre como ele: Roberto Teixeira.

O amigão de Lula está em todas. Do que estou falando? Vamos lá. Reportagem de Mariana Barbosa, no Estadão de hoje, tem o seguinte título: “Juiz Manda PF investigar ‘quadrilha’ na VarigLog”. Leiam um trecho:

“O juiz José Paulo Camargo Magano, da 17ª Vara Federal de São Paulo, enviou ontem ofício à Superintendência da Polícia Federal e ao Ministério Público Federal para que investiguem os sócios da VarigLog pela "prática de ilícitos civis e criminais, inclusive crime de quadrilha". Cópias das dezenas de volumes que compõem o processo em curso na 17ª Vara devem chegar hoje à PF e ao MP.
No documento, o juiz Magano diz que encontrou, em meio ao processo de briga societária da VarigLog, provas que apontam para a prática de crimes civil e criminal. A briga societária envolve sócios brasileiros (Marco Antonio Audi, Luiz Eduardo Gallo e Marcos Haftel) e estrangeiros (fundo Matlin Patterson, representado por Lap Wai Chan).
Além dos sócios, a conclusão do despacho, anexada ontem ao processo e disponível no site do Tribunal de Justiça de São Paulo, indica que atos ilícitos também teriam sido cometidos pelo advogado Roberto Teixeira e pelo ex-administrador judicial José Carlos Rocha Lima.” Íntegra aqui para assinantes.

Pois bem, caro leitor.

- A confusão entre os sócios brasileiros e os estrangeiros teve início com a venda da Varig para a Gol, por US$ 270 milhões. Quem intermediou a operação? Sim, o primeiro-compadre.
- Quem atuou junto à Anac — Agência Nacional de Aviação Civil — para regularizar todas as operações envolvendo a Varig e a VarigLog? Ele mesmo, Roberto Teixeira.

Agora atenção, leitor amigo:

Os sócios brasileiros e estrangeiros começaram a brigar. Informa a reportagem:
“O processo de dissolução de sociedade foi movido no final do ano passado pelos sócios brasileiros contra o sócio estrangeiro, mas quem acabou sendo afastado foram os brasileiros - sob acusação de gestão temerária, desvio de recursos da companhia. No mesmo despacho em que afastou os brasileiros, em 1º de abril, o juiz Magano deu poderes à Volo LLC (controlada pelos sócios estrangeiros), mas estabeleceu como condição que a mesma não remetesse para si o saldo de mais de US$ 80 milhões de uma conta da VarigLog na Suíça. Entretanto, dois dias após receber a gestão da companhia, Lap Chan tentou sacar o dinheiro. A transferência para uma conta da Volo em Nova York só não aconteceu porque o juiz descobriu e determinou o bloqueio.”

Sabem do escritório de quem partiu a ordem para transferir ILEGALMENTE os recursos? Muito bem, leitor esperto! Dele mesmo. O fax traz o nome “Teixeira & Martins Advogados”. O juiz descobriu a falcatrua, bloqueou o dinheiro e determinou que Lap Chan fosse impedido de deixar o país. Mas ele já havia se “pirulitado” do país.

A reportagem informa que José Carlos da Rocha Lima, ex-administrador da VarigLog, também deve ser investigado, acusado pelo juiz "do mais completo desmando na condução da gestão e da administração judicial". No dia em que foi destituído do posto, ele assinou uma procuração, PARA O ESCRITÓRIO DE TEIXEIRA, em que a VarigLog ABRIA MÃO DE TODAS AS DEMANDAS JUDICIAIS MOVIDAS PELOS SÓCIOS BRASILEIROS CONTRA O SÓCIO ESTRANGEIRO.

Eis aí. Nunca houve um primeiro-compadre como ele.


Por Reinaldo Azevedo

As ONGs, a Amazônia e o general Augusto Heleno - Blog do Reinaldo Azevedo - 24/10/08

Segundo manchete de hoje do Estadâo (aqui, link aberto), “o Planalto vai fechar o cerco às organizações não-governamentais (ONGs), na tentativa de coibir a biopirataria, a influência internacional sobre os índios e a venda de terras na floresta amazônica”. O texto informa: “A primeira ação de controle consta do projeto da nova Lei do Estrangeiro, que está na Casa Civil e será enviado ao Congresso até junho. Se a proposta for aprovada, estrangeiros, ONGs e instituições similares internacionais, mesmo com vínculos religiosos, precisarão de autorização expressa do Ministério da Defesa, além da licença do Ministério da Justiça, para atuar na Amazônia Legal. Sem esse procedimento, o 'visitante' do exterior terá seu visto ou residência cancelados e será retirado do País.”

Podem esperar que vem gritaria por aí. HÁ NADA MENOS DE CEM MIL ONGs atuando na Amazônia, e o projeto do governo indica que ninguém sabe quem é e o que quer essa gente. Cem mil? Quer dizer que, se cada organização tiver um único indivíduo, já serão cem mil pessoas só para cuidar da região? As outras contas, vocês fazem sozinhos, né? Como se vê, não existe área mais bem cuidada no Brasil...

Aí vem o ministro da Justiça, Tarso Genro, e manda ver: “Grande parte dessas ONGs não está a serviço de suas finalidades estatutárias. Muitas delas escondem interesses relacionados à biopirataria e à tentativa de influência na cultura indígena, para apropriação velada de determinadas regiões, que podem ameaçar, sim, a soberania nacional."

Ah, é? Então o general Augusto Heleno, comandante geral da Amazônia, estava certo? Mas não foi este mesmo Genro quem disse que o STF, ao sustar a operação da Polícia Federal na reserva Raposa Serra do Sol, estava agindo em função do clamor criado pela “mídia”? Espero que o tribunal, ao julgar o caso, leve, então, em consideração as palavras do próprio ministro da Justiça.

Cem mil ONgs na Amazônia? Queremos saber quais são, quantas pessoas as integram, do que vivem e qual é o seu objeto. O governo estava prestes a expulsar brasileiros de terras brasileiras sem nem mesmo saber quantos são e o que fazem os estrangeiros que estão lá.

O lobby dessas organizações já começa a pressionar, acusando um viés “militarista” no debate. O onguismo, com raras exceções, é um meio de vida. Hoje, já deve “empregar” milhões de pessoas. Parte considerável recebe dinheiro de fora; outro tanto mama nas tetas oficiais; outro pedaço ainda é só pretexto para abater pagamento de Imposto de Renda — já que o onguismo ligado a grandes grupos empresariais também prospera.

Estranho que o país não seja ainda um paraíso, com tanta gente para nos ensinar a ser verdadeiros patriotas. O Brasil é a velhinha cega do planeta. Todo mundo quer ajudá-lo a atravessar a rua.



Por Reinaldo Azevedo

Tuesday, April 15, 2008

Lula, o pelego? - Francisco C. Weffort, O Globo (15/04/08) - Extraído do site www.e-agora.org.br

Que coisas tão graves em seus gastos na Presidência estará Lula procurando esconder da opinião pública?

Que coisas tão graves em seus gastos na Presidência estará Lula procurando esconder da opinião pública? Que de tão grave têm as despesas dos palácios do Planalto, da Alvorada e da Granja do Torto que possam explicar a cortina de fumaça que o governo criou para impedir o controle dos cartões corporativos de Lula, Marisa, Lulinha, Lurian etc.? A estas alturas, só o governo pode responder a tais perguntas. E como o governo não responde, a opinião pública, sem os esclarecimentos devidos, torna-se presa de dúvidas sobre tudo e todos.

É conhecida a ojeriza de Lula a qualquer controle sobre gastos. Evidentemente os dele, da companheirada do PT, dos sindicatos e do MST, sem esquecer um sem-número de ONGs sobre as quais pesam suspeitas clamorosas. Ainda recentemente, ele vetou dispositivo de lei que exigia dos sindicatos prestação de contas ao TCU dos recursos derivados do imposto sindical (agora “contribuição”). Há mais tempo, Lula era contra o imposto em nome da autonomia sindical.

Agora que está no governo, deixou ficar o imposto e derrubou o controle do TCU. Tudo como dantes no quartel de Abrantes. O que o Lula e os pelegos querem é o que já existia na “república populista”, dinheiro dos trabalhadores sem qualquer controle. Lula, a chamada “metamorfose ambulante”, não se tornou ele próprio um pelego? Assim como defendeu a gastança dos sindicatos em nome da autonomia sindical, agora defende sua própria gastança na Presidência em nome da segurança nacional. Isso me lembra uma historinha de 1980, bem no início do PT, quando João Figueiredo estava no governo e Lula estava para ser julgado na Lei de Segurança Nacional. Junto com alguns outros, eu o acompanhei numa viagem à Europa e aos Estados Unidos em busca de apoio.

Como outros na comitiva, eu acreditava piamente que tudo era em prol da liberdade sindical e da democracia, e as coisas caminharam bem, colhemos muita simpatia e apoio nos ambientes democráticos e socialistas que visitamos. Mas, chegando à Alemanha, fomos surpreendidos pela recepção agressiva do secretário-geral do sindicato alemão dos metalúrgicos. Claro, ele também era a favor da democracia e estava disposto a defender os sindicalistas.

Sua agressividade tinha outra origem: o sindicato alemão que representava havia enviado algum dinheiro a São Bernardo e cobrava do Lula a prestação de contas! A conversa, forte do lado alemão, foi num jantar, e não permitia muitos detalhes, mas era disso que se tratava: alguém em São Bernardo falhou na prestação de contas e o alemão estava furioso. Lula se defendeu como pôde, mas, no essencial, dizia que não era com ele, que não sabia de nada. A viagem era longa. Antes da Alemanha, havíamos passado pela Suécia, e fomos depois a França, Espanha, Itália e Estados Unidos. Em Washington, tivemos um encontro com representantes da AFL-CIO, e ali repetiu-se o mesmo constrangimento. Embora não tão agressivos quanto o alemão, os americanos queriam prestação de contas sobre dinheiro enviado a São Bernardo.

Mas Lula, de novo, não sabia responder à indagação referente às contas. Ou não queria responder. Não era com ele.

Nunca dei muita importância a esses fatos. A atmosfera do país nos primeiros anos do PT era outra. Ninguém na oposição estava antenado para assuntos desse tipo. O tema dominante era a retomada da democracia. A corrupção, se havia, estaria do lado da ditadura.

Saí da direção do PT em 1989 e me desfiliei em 1995. Até então era difícil imaginar que um partido tão afinado com o discurso da moral e da ética pudesse aninhar o ovo da serpente. Minha dúvida atual é a seguinte: será que a leniência do governo Lula em face da corrupção não tem raízes anteriores ao próprio governo? A propensão a tais práticas não teria origem mais antiga, no meio sindical onde nasceu o PT e a atual “república sindicalista”? Talvez essa pergunta só encontre resposta cabal no futuro. Mas, enquanto a resposta não vem, algumas observações são possíveis. Parece-me evidente que no momento atual alguns auxiliares da Presidência - a começar pelos ministros Dilma Rousseff, Jorge Hage e general Jorge Felix - foram transformados em escudos de proteção de possíveis irregularidades de Lula e seus familiares.

O outro escudo de proteção é Tarso Genro, que usa uma ginástica retórica para, primeiro, garantir, como Dilma, que o dossiê não existia, só um banco de dados. Depois passou a admitir que existia o dossiê, mas que isso todo mundo faz. Mais ou menos como no episódio do mensalão, lembram-se? Naquele momento, o então ministro Thomas Bastos, acompanhado por Delubio Soares, disse que mensalão não existia, que eram contas não regularizadas, sobras de campanha etc. E lula afirmou de público que isso todos os políticos faziam. O que não impediu que o procurador-geral da República visse no mensalão a prática delituosa de uma quadrilha criminosa.

Adotada a teoria do dossiê - aquele que não existia e que passou a existir - criou-se uma pequena usina de rumores, primeiro contra Fernando Henrique Cardoso e Dona Ruth, depois contra ministros do governo anterior. Minha pergunta é a seguinte: quando virão os dossiês contra Lula e Dona Marisa Letícia? Não é este o futuro que deveríamos almejar.

Mas no que vai do andar da carruagem dirigida por um Lula cada vez mais ególatra e irresponsável é para lá que vamos, inelutavelmente. Quem viver verá.

FRANCISCO C. WEFFORT é sociólogo.

Friday, April 11, 2008

ESCÂNDALO: TARSO DEFENDE DOSSIÊS. QUE O CONGRESSO E A JUSTIÇA REAJAM.OU FECHEM AS PORTAS - Blog do Reinaldo Azevedo - 11/04/08

A matéria do dia, sem dúvida, está no Correio Braziliense. Entrei na página eletrônica do jornal e bati o olho na manchete: “MINISTRO DA JUSTIÇA DEFENDE DOSSIÊ”. Vocês sabem: eu sou como a Dama de Vermelho, Dilma Rousseff: desconfio da imprensa. Sempre tão exagerada, não é? “Pô, vai ver estão esquentando a matéria", pensei. “Esquentar”, leitor, é exagerar um tanto o que diz um entrevistado ou uma fonte para a coisa parecer mais interessante e/ou grave do que é. Tarso Genro concedeu uma entrevista a Gustavo Krieger. É aquele ministro, vocês sabem, que produz versos a mancheias. “Ah, não! Quero as aspas”, desafiei. E então fui ler a conversa do ministro com o repórter. Acompanhem trechos (em azul):

O senhor tem insistido em que fazer um dossiê não é crime. Mas é correto usar informações que estão dentro do governo e dar a elas uma destinação política?
Não só é correto, como é necessário. É feito por todos os administradores responsáveis. Quando um administrador é atacado a respeito da realização de determinadas despesas e esse administrador quer mostrar que essas despesas que realizou são despesas ordinárias, comuns, feitas por todos os governos e aprovadas pelo Tribunal de Contas (da União), ele tem de fazer anotações para deixar à disposição, por exemplo, de uma CPI, de um inquérito do Ministério Público ou do TCU. Isso não é ilegal nem estranho. O problema é que, neste caso da Casa Civil, o que se começou noticiando foi o seguinte: Casa Civil vazou dossiê para prejudicar Fernando Henrique. Aí sim se criminalizou, nesse caso concreto, a palavra dossiê. Repito: dossiê não é um tipo penal.

A idéia de mostrar que outros governos faziam o mesmo tipo de despesa, como o caso dos cartões corporativos, lhe parece correta como estratégia de defesa do político acusado?
Evidente. Se o administrador está fazendo uma análise dos seus gastos e quer mostrar que há um histórico desses gastos, aprovados pelo Tribunal de Contas, isso é uma atitude necessária e séria do administrador. O que não é correto, não é ético, é usar essas informações, seja por parte da oposição seja por parte do governo, para imputar a outrem um delito que ele não cometeu. Isso é ilegal, porque é uma denunciação caluniosa. É antiético e nenhum administrador deve fazê-lo. E se fizer, deve ser punido.

O senhor diz que a Casa Civil não fez “anotações à margem”. Mas selecionar num universo de dados determinados tipos de gastos e fazer cruzamentos que apontam, por exemplo, os gastos com viagens da primeira-dama Ruth Cardoso, não é um direcionamento?
Depende de para que é usada essa anotação. Se ela é usada para um fim ilegal, o que é ilegal é o fim e não o ato de fazer esta anotação. Este ato é um direito que todo administrador tem. No caso da Casa Civil, não tenho nenhuma indicação que ela tenha feito qualquer anotação para usar contra qualquer pessoa. Por isso, não há um tipo penal a ser investigado. O tipo penal, inclusive no dossiê, não é o dossiê propriamente dito e sim o motivo para o qual esse dossiê será utilizado.

Voltei
Pois é, meus caros. A integra da entrevista está aqui. Na madrugada deste sábado, faz três semanas que VEJA chegou às bancas noticiando a existência de um dossiê para intimidar as oposições. Vocês lembram, então, qual foi a reação: negação peremptória. Daquele dia a esta data, já se arrumaram ao menos cinco versões para tentar explicar o ocorrido, todas elas furadas, desmentidas pela realidade. Na entrevista coletiva, Dilma chegou a levantar a hipótese ridícula de que documentos da Casa Civil revelados pela Folha tivessem sido fraudados.

Tarso agora não deixa dúvida. Ele não vê mal nenhum em fazer dossiês. Mais do que isso: ele os considera necessários e instrumentos regulares para fazer política. Ruim mesmo, diz ele, é vazar essas coisas — e, claro, com isso pretende manter a pantomima de arrastar para a lama algum político da oposição.

Convocação
De imediato, Tarso tem de ser convidado a se explicar na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Saibam todos os políticos brasileiros — e não só os de oposição: este é um governo que acha legítimo e “necessário” fazer dossiês. Se isso vale para FHC, sua mulher e alguns de seuis ministros, vale para qualquer deputado ou senador do Congresso Nacional. Tarso está tentando naturalizar a guerra suja. Está dizendo que é legítimo que funcionários do estado sejam mobilizados para produzir “documentos” contra políticos e administradores da oposição — e, não se enganem, se preciso, da situação também. Isso é estado policial.

Ninguém mais está seguro.

Esquerdopatia
Um trecho de sua fala encantadora chama especialmente a minha atenção. O repórter quer saber se a seleção direcionada de informações, como se fez, não é condenável. E o ministro da Justiça — notem bem: DA JUSTIÇA — responde: “Depende de para que é usada essa anotação. Se ela é usada para um fim ilegal, o que é ilegal é o fim e não o ato de fazer esta anotação.”

Vamos generalizar o princípio “tarsiano”? Nenhum ato é, em si mesmo, condenável. Depende a sua finalidade. Vamos ao ponto extremo? Matar, por exemplo. Depende o fim. Sejamos menos drásticos: e roubar? Depende o fim. Os fins, como se vê, justificam os meios. É o triunfo do relativismo moral.

Tarso, diga-se, já foi trotskista. Deve saber de cor e salteado o texto A Nossa Moral e A Deles, de Trotsky, em que o autor explica que, segundo o ponto de vista revolucionário, certas ações consideradas criminosas pela ótica burguesa são perfeitamente aceitáveis na perspectiva revolucionaria. Assim é: o que seria crime aos olhos dos demais partidos, para o petismo, é só uma forma legítima de luta política.

Num país normal, este senhor estaria no olho da rua nesta sexta mesmo. Seria demitido por telefone. No Brasil, vai continuar com o seu lero-lero autoritário. E é bom advertir: a partir de agora, deputado, senador, juiz ou cidadão comum, saibam todos, ninguém está com sua vida ao abrigo de um governo que defende o direito de fazer dossiês.

Arremato afirmando, por mera dedução, que este que veio à luz é apenas o dossiê que se conhece. Por que não haveria outros nos porões da Casa Civil? Aliás, noticia o Estadão (ver abaixo), a Casa Civil vive em clima é de guerra civil.

É o fundo poço. Que o Congresso e a Justiça reajam. Ou fechem as portas.


Por Reinaldo Azevedo

Raposa/Serra do Sol - Aos ministros do Supremo - Blog do Reinaldo Azevedo - 11/04/08

Atenção para estes números.

A reserva de Raposa/Serra do Sol tem, aproximadamente, 90 mil km². É quase do tamanho de Santa Catarina, com 95.346,181 km², ou de um país como Portugal, com 92.391 km². Pois bem: no estado do Sul do Brasil, há perto de 6 milhões de habitantes. Na Terrinha, os irmãos somam 11 milhões. Na Raposa/Serra do Sol, os companheiros índios são, no máximo, 15 mil. Serão os maiores proprietários do planeta.

“Oh, lá vai Reinaldo misturando tudo... E desde quando se comparam índios com uma população não-índia, que tem outra cultura, outros hábitos, sei lá o quê?...” Aqueles índios que lá estão já não vivem isolados há muito tempo. Ao contrário: dependem das ações do estado brasileiro para sobreviver. Dependem também da atividade econômica que instalada ali. Se ela for eliminada, jamais recuperarão os hábitos originais, que só existem na cabeça de alguns antropólogos da Funai.

Um pedaço do território brasileiro estará sendo entregue à selvageria, sim — mas não aos bons selvagens idealizados pelo onguismo do miolo mole ou falsificados pelo onguismo picareta, a serviço sabe-se lá de quem. A economia paralela vai-se instalar na região, já que o estado brasileiro não dispõe de recursos e de homens para garantir que, afinal, aquilo tudo será preservado como um verdadeiro paraíso indígena.

Cadê os índios? Cadê aquela gente? O que eles querem? Quais são os seus anseios? Os que vão expulsar os “não-índios” de lá pretendem viver de quê?

Estabelecer a área contínua para a reserva Raposa/Serra do Sol corresponde, na prática, a abrir mão da soberania sobre um pedaço do território brasileiro. Os rizicultores serão expulsos de lá. E as ONGs? Também vão? Deixarão de usar o então ex-território brasileiro, entregue às ditas “nações indígenas”, para produzir a sua droga ideológica?

Espero que os ministros do Supremo não se deixem patrulhar por essa gente sem rosto, cujos caciques estão muito longe do Brasil. Não estou exercitando nenhuma teoria conspiratória. Alguém realmente acredita que os minérios enterrados na Raposa/Serra do Sol lá permanecerão para sempre, intocados? Só se o Brasil, assombrando a lógica, afrontar os últimos, sei lá, seis mil anos de história da civilização.

Senhores ministros do STF, aquela região do Brasil, reitero, precisa de mais OG — Organização Governamental — e de menos ONGs. Se o governo prevarica, que a Justiça do estado brasileiro faça, enfim, Justiça.

Fazendo conta
Atenção, senhores ministros, a questão não resiste a uma regra de três. Estima-se que, em 1500, houvesse, no Brasil, 6 milhões de índios. Vamos supor que se espalhassem de maneira uniforme por todo o território brasileiro — o que não é verdade, mas vá lá. Se 15 mil índios merecem 90 mil km², que área teria sido necessária para abrigar os seis milhões? Respondo: 36 milhões de km². Que pena! O Brasil conta com apenas 8,5 milhões de km². Ou se quiserem: há, hoje, no país, 410 mil índios. No padrão da reserva Raposa/Serra do Sol, deveriam ter sob seu domínio 2.460.000 km² — ou pouco menos de um terço do Brasil.

“Ah, mais um absurdo! O Reinaldo despreza as características de cada tribo”. É mesmo? Os índios de Raposa/Serra do Sol são nômades? Cada indivíduo circula solitário como o leopardo na savana, precisando de uma vasta extensão de terra onde possa exercitar a sua solidão, ao abrigo de outros de sua espécie, só aceitando o gregarismo na hora de reproduzir a espécie? Mentira! Mistificação! Papo furado!

Já está claro. Não são nômades e querem vacina, antena parabólica, trabalho e trator. E têm o direito de sonhar com isso.

Façam as contas, senhores ministros. Ou contestem as contas. E tenham a coragem de resistir a uma empulhação dos caciques sem rosto.


Por Reinaldo Azevedo

Presidente da Vale rasga o verbo. E diz a verdade - Blog do Reinaldo Azevedo - 10/04/08

“Estão batendo na porta errada. Eles deviam bater na porta da Caixa Econômica Federal, ou eles deveriam bater na porta do governo estadual ou federal, e não na porta da Vale. A Vale não tem nada com isso. Nós temos alguma coisa a ver com reforma agrária? Não. Um ato totalmente criminoso feito por bandidos, que não respeitam a lei e não respeitam a democracia. Fazem um discurso dizendo que querem a democracia, mas não a respeitam”.

A fala acima é de Roger Agnelli, presidente da Vale do Rio Doce, em entrevista ao Jornal Nacional. É um disparate! Sim, ele está certíssimo. Imaginem só: o presidente de uma das maiores empresas do mundo é obrigado a vir a público para lembrar que as leis devem ser seguidas e que a Vale está sendo perseguida de forma reiterada por um grupo de criminosos — que é o que são. Agnelli está de parabéns por esta ação em particular. É raro que, no Brasil, as coisas sejam chamadas pelo nome que realmente têm.

Não obstante, digam-me: por que o MST deixaria de agir como age? Tem motivos para isso? Não. Seus líderes promovem verdadeiras ações terroristas e permanecem impunes. Mais do que isso: ocupam posições de estado. Todos sabem que o movimento é quem tem, de fato, o comando do Incra. E a reforma agrária, como sabem, é tarefa do Incra, não da Vale.


Por Reinaldo Azevedo

Wednesday, April 09, 2008

Entre duas guerras, por Paulo Brossard - Publicado no Jornal Zero Hora de 10/03/2008

A semana finda começou com ruidosa ameaça de guerra na América do Sul, que, felizmente, não explodiu, antes implodiu, não passando de bravatas e dentes rilhados. Contudo, o perigo não passou e basta um doido para fazer uma asneira. De mais a mais, há um fato notório, de suma gravidade, a azedar o ambiente. A existência das Farc em território colombiano é inegável e insuportável. Queiramos ou não, elas existem e imperam em área própria, que, se já foi maior, não deixa de existir e na qual exercem poderes paraestatais. A despeito de sua anomalia, há quem lhes faça o preconício. A indústria do seqüestro de pessoas é um de seus instrumentos de ação; o outro diz respeito à indústria de droga. Não sei como essa atividade se processa, mas que ela existe é fato de notoriedade mundial. O seqüestro de pessoas é outro dado de igual notoriedade. E as pessoas apreendidas ou preadas como animais são mantidas em condições subumanas. A libertação de algumas, ultimamente ocorrida, por munificência dos seqüestradores, confirma a selvageria sistematizada. Sabe-se que o número de pessoas aprisionadas é grande, mas não se sabe sua real dimensão. De qualquer sorte, o fato é certo e incompatível com um mínimo de humanidade. É o caso da senadora Íngrid Betancourt, presa faz seis anos, que vai morrendo lentamente. Muita coisa se pode recuperar, mas o tempo não se recupera. O mínimo que se pode dizer é que isso chega ao nível da selvageria. E há quem veja benemerências nesse quadro teratológico. De modo que a guerra anunciada e trombeteada foi contida, mas ninguém pode dizer que esteja afastada. E isto é um perigo para todos, os vizinhos inclusive, ou principalmente.

Entre nós, vêm acontecendo coisas surpreendentes, mas conduzidas com perícia impecável. A meu juízo, e não é de hoje, existe um plano superiormente concebido e cientificamente executado capaz de paralisar o Estado, mais do que o governo. Faz alguns anos que vai se processando e progredindo. Tudo começou pela mudança do dicionário.

Sob a vaga alegação de grilagem, valha o neologismo, imóveis rurais passaram a ser invadidos, mantidas as vítimas em cárcere privado e submetidas a humilhações pesadas. As invasões se davam geralmente à noite, de surpresa; era grande o número de invasores; só que a invasão trocou de nome, passou a chamar-se "ocupação pacífica". Os invasores não eram invasores nem esbulhadores, mas "posseiros", só que posseiros sem posse. Geralmente pessoas de outros lugares, em organização paramilitar. Passaram a ser anunciadas com precisão e realizadas com exatidão, nos locais marcados, nos dias e horas divulgados até pela imprensa. Quando o lesado recorria à Justiça e obtinha a reintegração na posse de que tinha sido esbulhado, os invasores apelavam para a concessão de prazo para a desocupação. A invasão podia ser feita de repente, a saída, não; demandava tempo. Entre os invasores, era imprescindível a presença de mulheres e crianças. Et pour cause. Expandiu-se. Decreta-se, por exemplo, o "abril vermelho" e o "abril vermelho" é executado com pompa e circunstância.

Num certo momento, uma entidade nova, feminina e com crianças, entrou a praticar atos de violência. Foi na calada da noite que os trabalhos que se vinham processando no Horto Florestal Barba Negra, na Barra do Ribeiro, foram destruídos. Agora, no Rosário, se repete a ocorrência. E, quando a Brigada é movimentada, arma-se a resistência. As invasoras não aceitam desocupar o imóvel, que elas condenaram por sua própria autoridade. Dizendo-se maltratadas, acusam a Brigada de violenta, e recebem a solidariedade do seu co-irmão, o MST, que bloqueia oito rodovias gaúchas.

Engane-se quem quiser. É assim que começa a calculada destruição institucional. Que começa? Começou faz muito, e continua pontualmente.

Aqui no Rio Grande há um imóvel que foi invadido oito vezes e até a autoridade judiciária é afrontada ostensivamente. Tiro o chapéu para a execução do plano, cientificamente concebido e tecnicamente executado. As Farc estão aí, dando exemplo. Estarei exagerando?

*Jurista, ministro aposentado do STF

Sunday, April 06, 2008

Oportunidade perdida - Fernando Henrique Cardoso, O Estado de S. Paulo (06/04/08) - Extraído do site www.e-agora.org

http://www.estado.com.br/editorias/2008/04/06/opi-1.93.29.20080406.1.1.xml

Preparei este artigo antes de viajar para os Estados Unidos, onde participo, hoje, de uma série de discussões na Universidade de Brown, em comemoração dos 40 anos da primeira edição do livro que fiz com Enzo Faletto sobre Dependência e Desenvolvimento na América Latina. É a minha despedida de Brown, depois de haver sido professor at large (título que requereu curta permanência docente anual) durante cinco anos.

Confesso que não gosto de escrever com tanta antecipação. A natural falta de interesse do leitor de jornal por notícias e mesmo por análises não atualizadas requer temas momentâneos. Temas que, ultimamente, têm sido francamente desanimadores para quem acredita que a política não se limita a uma luta mesquinha pela conquista e preservação do poder. Causa-me repulsa a falta de compromisso com a verdade dos fatos, a desonestidade intelectual e, principalmente, o tratamento cínico dispensado a indícios graves de improbidade na administração pública e a benevolência com que são tratados infratores amigos ou aliados. Como ainda agora no episódio dos cartões corporativos. A insensibilidade do presidente e de seu governo é tanta que pouco se lhes dá a opinião pública. Com a popularidade inflada pelos bons ventos da economia, joga-se irresponsavelmente com a idéia de que a preocupação com a moralidade pública e o respeito à lei é coisa de elite branca que tem tempo para ler jornal.

Quanta diferença com o que se vê hoje nos Estados Unidos. Quem não leu deve ler a íntegra do discurso de Barak Obama A more perfect Union. Nele Obama reconecta a luta política aos melhores valores de uma República que foi fundada com bases em ideais, entre eles o da igualdade. Um ideal sempre imperfeitamente realizado, mas que constitui até hoje o móvel das melhores e mais nobres lutas políticas do povo americano. Obama não se apropria do ideal para utilizá-lo como arma eleitoral e dividir o país. Mostra, assim, a grandeza de sua liderança.

Reproduzo um trecho representativo do sentido de seu discurso. Nele reconhece e critica a agressividade do pastor Jeremiah Wright nos sermões sobre raça proferidos na Igreja da Trindade. Repudia, por outro lado, a crítica que apenas sataniza o pastor e explica: “O erro profundo dos sermões do reverendo Wright não é que ele tenha falado sobre raça em nossa sociedade. É que falou como se nossa sociedade fosse estática, como se nenhum progresso houvesse existido, como se ela ainda estivesse ligada irreversivelmente a um passado trágico. Isso numa nação que tornou possível para um dos membros da congregação disputar o cargo mais elevado de sua terra e de construir uma coalizão entre brancos e negros, latinos e asiáticos, ricos e pobres, jovens e velhos. Mas o que nós sabemos, o que nós vimos, é que a América pode mudar. Este é o verdadeiro espírito desta nação. O que nós já conseguimos nos dá esperança - a audácia da esperança - para fazer o que nós precisamos e devemos fazer amanhã.”

Que diferença! Seria demais esperar que Lula, que também é símbolo de uma sociedade dinâmica em que as forças da mobilidade social contam mais do que a origem, percebesse que o País, para avançar, precisa realizar o muito imperfeitamente realizado ideal da igualdade perante a lei e que a moralidade pública é condição da igualdade republicana, e não preocupação de privilegiados? Não é isso que se deveria esperar do chefe da Nação? O que se vê, porém, é um presidente que não hesita em reviver a velha cantilena dos “dois Brasis”, da elite branca e dos oprimidos, dos maus e dos bons, e não raro justificar as práticas políticas mais atrasadas. Isso num país que o colocou no topo da vida pública e que se caracteriza por ter uma elite composta pelos “brancos da terra”, tisnados com orgulho pelos mais variados sangues, do indígena ao europeu, do negro ao asiático.

Exagero da minha parte? Ou a cantilena dos “dois Brasis” não foi o mote do discurso que Lula fez recentemente em Pernambuco? Para afagar Severino Cavalcanti, chamou-o de vítima do preconceito das elites de São Paulo e do Paraná, que teriam urdido uma trama para seu afastamento da vida pública. Teoria conspiratória risível, se dita por uma pessoa comum. Inaceitável, porém, vindo do presidente da República. Será a prévia do que virá pela frente na campanha eleitoral de 2010?

Que perda de oportunidade histórica! Por que não pensar em Mandela, que saiu de 28 anos de cadeia e falou da necessidade de reconciliação entre negros e brancos na terra do apartheid? Sem negar e repudiar, é claro, a injustiça do racismo. E não se diga que os antecedentes de grandeza só vêm do exterior. Basta lembrar de José Bonifácio, que desde o início do século 19 mostrava que o Brasil, como nação, teria de fundamentar-se na diversidade das raças e no reconhecimento de que os valores da democracia e do Iluminismo não se poderiam circunscrever, como pensava Jefferson, a uma elite restrita, formada por brancos e ricos. Ao contrário, afirmava o Patriarca, se déssemos educação aos negros e aos indígenas, portadores de Razão como todo ser humano, eles se tornariam cidadãos.

Por que, ao invés de passar a mão na cabeça de quanto aloprado exista ao seu lado, de ver amigos em quem se deixa corromper e inimigos em quem honestamente dele diverge, nosso presidente, com todas as credenciais que tem de homem que nasceu no meio do povo mais pobre e venceu, não une os brasileiros em torno do ideal fundador de toda grande República?

Por que, ao invés de congregar e definir valores comuns, se perde em picuinhas e se entusiasma tanto em inaugurar pedras fundamentais de obras que não se constroem? Raramente o País teve conjuntura econômica e mesmo social tão favorável para dar um salto grandioso na construção de uma Nação decente. Não obstante, a oportunidade se está perdendo pela falta de visão de quem lidera.

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, foi presidente da República

Friday, April 04, 2008

O REGIME DOS ALCAGÜETES - Blog do Reinaldo Azevedo - 03/04/08

Roberto Romano, professor de ética do Departamento de Filosofia da Unicamp, precioso colaborador da extinta revista Primeira Leitura, tem algo em comum com Dilma Rousseff: também ele passou pela “cadeira do dragão”. Também ele foi torturado. Antes, como agora, Romano queria, vejam só, essa tal “democracia” — e aí os dois se distinguem, antes como agora. Reproduzo um artigo que está no blog do professor. É isto: certo “jornalismo”, não só o governo, precisa tomar algumas aulas de ética.

O PODER SICOFANTA
Por Roberto Romano

A vida dos outros (2006), filme sem sucesso no Brasil, ajuda o exame do escândalo causado pela Casa Civil, novamente a dois passos do Sr. Da Silva. A película narra o caso de um diretor teatral, contrário ao regime apodrecido e violento do Partido Comunista, na Alemanha “democrática”. O regime emprega policiais que espiam com meios ignóbeis. No apartamento de certo amigo do diretor espionado são instaladas escutas, sem o seu conhecimento. As conversas do círculo teatral passam aos ouvidos dos camaradas. Começam as metamorfoses na vida das pessoas. A primeira ocorre com o policial encarregado de bisbilhotar o teatrólogo. Ele percebe o horror do regime e de sua posição nele. Com gestos tímidos, o espião resgata sua humanidade, arruina o plano de corroer a vida íntima e pública do teatrólogo. No fim, o policial surge como cidadão comum, merecedor de respeito. Por enfrentar a máquina repressiva, o sicofanta vira gente. A segunda mudança ocorre na mulher do teatrólogo. Artista presa aos aplausos, ao ser pega por ajudar nas denúncias sobre os abusos do poder, delata o marido para continuar no palco. Valores éticos, artísticos, políticos são por ela abandonados em proveito da carreira. Mas ela morre na sarjeta, vitimada por uma correria, numa batida policial efetiva no apartamento do marido.

Existem filmes que enfocam as aporias de indivíduos e os dramas coletivos. Mefisto é um deles. Em A vida dos outros temos a mentira do regime, o qual funciona com dedo-durismo e espionagem. A cultura totalitária reúne os dois elementos. Os camaradas ou companheiros estalinistas e nazistas (e os congêneres liderados por Franco, Salazar, Mussolini, Vargas, Peron, ditadores militares da América do Sul e da Grécia no século 20) respiram com a vida dos outros. Para subir no partido e no Estado (os dois são o mesmo sob o tacão totalitário) o indivíduo sem escrúpulos (nas Escolas do Partido, nos movimentos da juventude, ele aprendeu que escrúpulos são preconceitos burgueses) espia adversários reais ou supostos do poder, camaradas e concorrentes, famílias alheias e a própria, disposto a prestar serviços “gloriosos” aos dirigentes, com o dedo apontado em riste. Para montar fichas alheias é preciso espionar com método.

Os processos de Moscou e a covardia de quem não resistiu ao nazi-fascismo, resultam da educação militante, cujo preceito é aniquilar valores “ultrapassados”, como o respeito pela vida alheia. O militante totalitário sabe que os outros não têm direito à vida própria, pois todas as vidas pertencem ao Partido, condutor da massa rumo ao Futuro, quando a comunidade será comandada por uma só idéia e vontade, impostas pelos dirigentes infalíveis. Na pedagogia totalitária, não basta moldar almas e mentes dos militantes segundo o modelo do Partido. O alvo é impor à sociedade inteira, se possível ao mundo, a forma e o conteúdo das doutrinas salvadoras. Pessoas devem ser tidas como páginas em branco, onde são aplicadas as imagens dos líderes. Ou então, devem ser vistas como página borrada de erros, a ser embranquecida pela tortura, exílio, perseguição, calúnia, injúria. Os informados sobre a Alemanha nazista e congêneres; a URSS e satélites; os partidos comunistas vários (leia-se o libelo Camaradas, de William Waack, nunca desmentido, que relata as vilanias internas do PC) sabem que “militante”, na maioria dos casos, é sinônimo de espião, policial, juiz, carrasco a serviço do Estado em potência (Partido), ou em ato.

Muitos petistas hoje no poder foram educados naquela escola. Quando na oposição, espionavam (com apoio logístico de sindicalistas) os adversários e associados a “jornalistas” em redações estratégicas, forçavam escândalos, caluniavam e injuriavam, mas vestiam a máscara da ética. Nos palácios usam a mesma espionagem, os mesmos jornalistas amigos, idênticas maneiras de atacar a vida alheia, para disfarçar o seu controle social e político. A consciência que montou o dossiê contra Serra, recebeu afagos do presidente, que a batizou de “aloprada”, opera no escândalo atual. Mentiras distraem a opinião pública. Assim, a tese do Planalto é que existe dossiê, mas que ele não seria usado contra opositores. A lógica é desobedecida, na pseudologia palaciana.

Um regime policial está sendo gerado no país. A sua mão-de-obra foi bem treinada, e seu número é imenso, pois emprega os cérebros lavados nas máquinas totalitárias e os oportunistas, cuja espinha se curva diante das ditaduras tendo em vista sua carreira pessoal ou interesses de grupo. Os sinais do Estado sicofanta são evidentes, só não os enxergam os cegos de alma e os cúmplices dos espiões militantes. Estamos no alvorecer do Estado sicofanta, a República dos alcagüetes


Por Reinaldo Azevedo

Esses caras são bandidos? - Augusto de Franco, Folha de S. Paulo (04/04/08)

Há ou não há um padrão? E que padrão é esse senão o do bando que não respeita limites quando estão em jogo seus interesses?

A TRAMA se desenrola no meio político, dominado por uma turma da pesada, cujo chefe mafioso é muito bem-visto pela população em virtude de suas obras de caridade. Mas eis que um investigador de polícia descobre evidências de um crime cometido pelos poderosos. No início, ninguém acredita. Ele é até punido pelo chefe. Mas insiste em puxar o fio. A história vai parar nas mãos de um jornalista corajoso que publica a matéria. Então a coisa toda desmorona. E a população, afinal, enxerga a verdade: os caras eram bandidos.

Há dezenas de filmes assim, exatamente com o mesmo argumento. São quase um lugar-comum em Hollywood. Mas não estamos assistindo a um desses batidos filmes policiais americanos. Estamos no Brasil de 2008, em plena "Era Lula", em que de nada adianta a publicação -nem de uma, nem de cem evidências- de crimes cometidos pelo governo.

Todavia, aqui seria possível concluir que os caras são bandidos?

No nosso mundo real, a turma da pesada é do PT. Mas, curiosamente, o PT tem menos bandidos -no sentido criminal do termo- do que a maioria dos outros partidos brasileiros.

Entretanto, no sentido social da palavra -aquele sentido a que se referia Eric Hobsbawm no interessante ensaio que publicou no final dos anos 70 sobre os "Rebeldes Primitivos"-, não há como fazer nenhuma comparação: o PT é um partido de bandidos.

Calma lá, litigantes de má-fé! Com isso não quero dizer que a maioria, uma parte ou todos os filiados e militantes do PT são bandidos (no sentido criminal do termo). Quero dizer que o PT é presidido por uma lógica ou uma racionalidade própria dos bandos. E que não é à toa que tenha se formado a partir do movimento sindical.

Sim, o sindicalismo, sobretudo se partidarizado, é uma forma branda de banditismo: subordina o sentido público ao interesse particular de uma corporação e não mede conseqüências para prover a satisfação de um grupo privado em detrimento do bem-estar geral. É exatamente o que o PT, como bando, faz: privatiza partidariamente a esfera pública.

Na nossa política, claro, há de tudo, inclusive bandidos comuns (embora sejam minoria), bandos locais ou regionais (ou "caciquias", às vezes coronelistas, montadas em torno de pessoas e famílias) e bandos políticos (formados com base em uma causa).

Os dois primeiros tipos são endêmicos na velha política brasileira. O terceiro só emergiu, em toda sua plenitude, com a vitória eleitoral de Lula.

A democracia convive com todas essas formas de banditismo, da criminal à social, ora fazendo valer a lei, ora gerando consensos sobre o que é ou não é socialmente aceitável.

O problema existe quando as coisas se misturam e um bando social, chegando ao poder, se alia a bandidos comuns (no sentido criminal) e às "caciquias" tradicionais clientelistas, instaurando outro tipo de banditismo: o de Estado, que tanto pode cometer crimes no varejo (sob o perigosíssimo manto da impunidade) quanto perverter a política e degenerar as instituições no atacado. É a via Putin. Contra essa eventualidade, porém, a democracia não tem proteção eficaz.

Não se retira o direito do PT de constituir-se como um bando social a partir de uma causa, mesmo que essa causa seja -na verdade- apenas ficar no poder o maior tempo possível.

O problema é que, ao montar aparatos ilegais de poder na própria Presidência da República, esse pessoal "atravessou o corguinho" (como se diz lá no interior de Minas).

Para ficar só nos megaescândalos, o caso Waldomiro-Dirceu foi a primeira evidência. O mensalão, a segunda. A quebra do sigilo do caseiro Francenildo, a terceira. A produção do falso dossiê contra Serra, urdida por homens da cozinha do presidente, a quarta. E agora veio a quinta: a investigação, sem nenhuma denúncia ou fato determinado, dos gastos oficiais com Ruth e Fernando Henrique Cardoso para produzir um novo dossiê com o qual o governo pretendia chantagear a oposição ou impedir que ela requeresse legalmente a investigação das -aqui, sim, fartas- evidências de uso criminoso dos cartões corporativos da Presidência por familiares ou auxiliares diretos de Lula.

Há ou não há um padrão? E que padrão pode ser esse senão o do bando que não respeita limites quando estão em jogo seus interesses?

As oposições permitiram que chegássemos a esse ponto e que se instalasse o banditismo de Estado no Brasil. Foram deixando a coisa avançar, imaginando que os caras eram "players" normais do jogo político. Como se vê, não são.

AUGUSTO DE FRANCO, 57, analista político, é autor, entre outras obras, de "Alfabetização Democrática". Foi conselheiro e membro do Comitê Executivo da Comunidade Solidária durante o governo FHC (1995-2002).

Wednesday, April 02, 2008

Festim diabólico - Blog do Reinaldo Azevedo - 02/04/08

Há dias, perguntei aqui: a dengue é municipal, estadual ou federal? Todos sabemos que, na cidade do Rio, falharam as três esferas de governo, e o resultado é o que se vê. Cá estamos. Este é o país “da saúde quase perfeita”, como já disse Lula uma vez. Este é o país onde se fez uma “revolução” no setor, como disse ontem o ministro José Gomes Temporão. Olhem aqui, meus caros, anotem isto: se a tragédia não torna os homens públicos um pouquinho mais pudorosos, então é sinal de que as coisas vão se repetir, e se repetir, e se repetir, tecendo a teia da incompetência crônica, que, com o tempo, vai virando um traço de caráter. E todos dirão, e todos diremos: “Somos assim mesmo. Não adianta”. Falei em pudor?

Confesso-me ainda chocado com o espetáculo protagonizado por Lula, Sérgio Cabral e Dilma Rousseff anteontem, na Baixada Fluminense: não eram três personagens da vida pública brasileira, mas três caricaturas. Seu palanque era uma urna funerária onde jaziam 67 cadáveres. As vítimas não morreram de dengue, não. Morreram de irresponsabilidade. Não foram picados pelo mosquito. Foram atropelados pela crônica incompetência. Não foram colhidos por desidratação ou hemorragia. Foram arrancados da vida pela impudicícia dos falastrões.

Por que tanto riso naquele palco macabro? Que acontecimento se celebrava ali? Era a festança do PAC. Regozijavam-se todos pelo país do futuro, esta construção mental que, na pena de Stefan Zweig, tinha um caráter promissor, otimista. Judeu austríaco fugido do nazismo — acabou escolhendo o Brasil como destino. E aqui se matou. O que pode assumir um triste simbolismo. O “país do futuro” tornou-se conversa mole da faroleiros, quase sempre uma desculpa para justificar os descalabros do presente.

Na festa do PAC, numa cidade praticamente vizinha à mortalha de infantes em que se transformou o Rio, Lula vociferou contra as oposições; Sérgio Cabral fez gracejos com a “presidente Dilma”; a ministra voltou a escandir sílabas, com suas tônicas supertônicas. Num dado momento, sua imagem foi exibida no telão: estava ali a nossa Grande Mãe.

Os petralhas que tentam infestar o blog, com aquela linguagem de que vocês viram pequena amostra, não se contêm e, como dizem, esfregam a popularidade de Lula na minha cara, como se ela fosse a resposta para todos os males e o redutor único da política. Não a eles, que não merecem resposta, mas aos milhares de freqüentadores desta página que se espantam com os números, observo: não é a primeira vez que um governo que fabrica desastres tem altos índices de aprovação. Esse par nem sempre é harmônico — ou o populismo não seria um fenômeno político que ainda desafia especialistas. Há uma mudança em curso na economia do mundo que, até agora, tem sido favorável ao país. De Lula, ela demandou a competência de não se meter na política econômica. O caso do Rio é outro. Política pública de saúde é uma área onde o governo pode e deve se meter. Antes que a tanto seja obrigado pelos mosquitos. Volto ao festim diabólico.

Só se celebrou aquele encontro porque, reitero, os representantes da Dona Zelite política presentes não se sentiam responsáveis ou mesmo constrangidos pela epidemia e pelas mortes. Ou teriam tido mais compostura e respeito. O respeito que nos merece um único morto — o que dizer de 67 deles?


Por Reinaldo Azevedo |