Saturday, March 29, 2008

A anomalia colombiana - Eduardo Viola e Héctor Ricardo Reis, Correio Braziliense (16/03/08)

Do site e-agora.org.br

A maior dificuldade para entender o recente conflito reside no caráter anômalo da realidade colombiana. A Colômbia foi, durante a segunda metade do século 20, um país oligárquico, cujas elites pactuavam uma democracia de cavalheiros com baixa inclusão política e pobre Estado de Direito, o que promoveu a ascensão das Farc, de inspiração comunista guevarista, nas décadas de 1960 e 1970. Na década de 1980, as Farc começaram a degradar-se ao relacionar-se com o narcotráfico. Na de 1990, com o colapso do comunismo, a degradação se aprofundou, tornando-se mistura de organização insurrecional e criminosa com território próprio, sem equivalentes no Ocidente.

Como trágico complemento, as elites colombianas se acomodaram à presença das Farc: de um lado, fazendeiros e industriais organizavam uma força de proteção privada também imbricada com o narcotráfico — as Autodefesas Unidas da Colômbia ou Paramilitares — e, de outro, os políticos e burocratas negociavam lucros provenientes das drogas e territórios que ficavam sob controle das Farc. A sociedade colombiana atingiu o fundo do poço: economia, sociedade civil, partidos políticos, polícia e Judiciário eram sistematicamente colonizados pelo crime organizado.

Uma dimensão fundamental da anomalia colombiana consiste no surgimento, no inicio desta década, de um movimento político e social favorável a confrontar as Farc e os outros movimentos de narcoguerrilha (ELN e Paramilitares) combinado com uma firme vontade política de reconstruir a governabilidade e o Estado de Direito. Uribe se elegeu presidente em 2002 correndo por fora do sistema partidário oligárquico e se reelegeu em 2006, sendo que, atualmente, conta com maior apoio popular da América Latina.

Uribe está derrotando o ilícito e dando esperanças de Estado de Direito a uma população que estava exausta de viver sob a chantagem cotidiana dos criminosos, demonstrando capacidade para restaurar o monopólio da violência em mãos do Estado (Bogotá hoje é mais segura que o Rio de Janeiro). Mas nessa luta os governos dos países vizinhos o deixaram sozinho e somente recebeu o apoio dos EUA.

A normalidade de muitos países vizinhos reside, pelo contrário, no faz-de-conta, isto é, em evitar o combate frontal contra o crime organizado e o ilícito em geral, colocando ao Estado de Direito bem depois do populismo e de seu arsenal de retórica e assistencialismo. Para os governos de Chávez e Correa, a existência de santuários em seus territórios para albergar terroristas não é realmente um problema, mas o que é, sim, um problema gravíssimo é cruzar uma fronteira para castigar um grupo do alto comando da Farc.

A normalidade de muitos países sul-americanos, incluído o Brasil, está ancorada numa visão obsoleta de parte importante de suas elites políticas e culturais, com relação ao mundo em que vivemos, o qual lhes impede ver as Farc como ameaça à paz na região amazônica e ator importante do comércio internacional de drogas e armas. Inclusive para políticas estratégicas, como reduzir o desmatamento e cooperar na governança da mudança climática, dos recursos hídricos e da biodiversidade, os países amazônicos precisam impor o governo da lei sobre o ilícito.

Baseado numa ampla legitimidade democrática e contando com forças militares e policiais bem treinadas, o governo Uribe está impondo severas derrotas às Farc nas últimas semanas. Isso gera desespero em Chávez, que tem nas Farc um dos instrumentos de expansão da revolução bolivariana. Por isso, em Santo Domingo, diante das provas documentais em mãos do governo colombiano — referentes ao apoio dos governos da Venezuela e do Equador às Farc — Correa e Chávez decidiram retroceder.

Onde ficou a liderança do Brasil na América do Sul? A relação ambígua e promíscua do governo Lula e do PT com Chávez, Correa, Morales e as Farc impede o Brasil de exercer o papel de liderança regional que poderia ter pelo seu tamanho e modernidade econômica. Uma interpretação realista e democrática do interesse nacional brasileiro permitiria compreender que a derrota das Farc e de Chávez é tão boa para o Brasil quanto é boa para Colômbia e para os EUA.

Nos conflitos atuais na América do Sul, o aspecto interestatal é secundário. A dimensão fundamental das relações internacionais na América do Sul, hoje, passa pela oposição entre as forças da modernidade e da liberdade — encarnadas principalmente pelas democracias de mercado chilena, brasileira, uruguaia, colombiana e peruana — e as forças do atraso e do autoritarismo unificadas no projeto bolivariano de Chávez.

Eduardo Viola - Professor titular do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília
Héctor Ricardo Reis - Professor associado do Departamento de Sociologia e Ciência Política da Universidade Federal de Santa Catarina

Visões de Estado - Merval Pereira - O Globo de 29/02/08

Do site e-agora.org.br

O maior problema para um eventual acordo entre PT e PSDB está na maneira de encarar o papel do Estado no desenvolvimento brasileiro. A disputa pela CPI do Cartão Corporativo não é apenas mais um lance da luta pelo poder entre os dois grupos que lideram a política nacional nos últimos anos, mas a tentativa petista de blindar as investigações de uma das muitas facetas do "aparelhamento" do Estado feito pelo PT e seus aliados da base parlamentar. A contraposição à tese de que os "conservadores" abusaram da máquina pública nos últimos 500 anos, muito difundida entre os petistas, seria a de que, além de denunciar os abusos, esses pseudo "progressistas" punissem quem usou de maneira ilegal a máquina pública, e não repetissem as mesmas coisas, acobertados pela aparência de isenção. CPIs existem para investigar irregularidades, e há indícios de que muitas foram cometidas nessa questão dos cartões.

Esses gastos abusivos, esse desperdício de dinheiro público, é o complemento do "aparelhamento" da máquina do Estado. Se se somarem os empregos públicos, as nomeações políticas com os gastos corporativos, vai-se ver como o Estado está sendo usado por grupos políticos.

Existem, segundo informações do próprio Palácio do Planalto, nada menos que 11.510 cartões com diversas autoridades federais. A ocupação dos cargos públicos por petistas e aliados, por outro lado, é uma realidade política que está detalhada na pesquisa "Governo Lula, contornos sociais e políticos da elite no poder", realizada pelo Centro de Pesquisa e Documentação (Cpedoc) da Fundação Getulio Vargas e coordenada pela cientista política Maria Celina D´Araújo.

A pesquisa, que abrangeu só a administração pública direta, tem números claros: 20% dos cargos mais altos do governo são ocupados por petistas, e 45% dos indicados são ligados à vida sindical.

Desde os cargos de Direção e Assessoramento Superior (DAS) 5 e 6 até os de Natureza Especial (NES), são 1.269 posições com os maiores salários do governo federal, de um total de 19.797 cargos. Segundo os pesquisadores, a tendência é que, à medida que se desça na hierarquia governamental, aumente o número de petistas e sindicalizados.

A união entre petistas e tucanos seria natural se predominasse entre os dois grupos políticos uma visão de Estado semelhante, para evitar o fisiologismo de uma base partidária que, tanto nos governos tucanos quanto na era Lula, usa e abusa da repartição de cargos públicos para garantir seu apoio político.

A organização do Estado brasileiro, no entanto, é diametralmente oposta na visão dos dois partidos. E o PT tem na prática a mesma atitude diante da máquina pública que seus aliados, só que alega que a ocupação é feita por ideologia, e não por interesses secundários.

Acusado de defender um "Estado mínimo", que teria, na visão petista, desbaratado o Estado brasileiro, o PSDB na verdade quer é um Estado "regulador", que é diferente do Estado "interventor". Essa definição do governador de São Paulo, José Serra, significa que "abandonando formas excessivas de intervenção estatal na economia, defende, no entanto, que existem setores da economia e da sociedade que, se não forem regulados pelo Estado, não funcionarão em benefício da coletividade e do desenvolvimento".

A reforma do Estado, iniciada no governo Fernando Henrique Cardoso, com o enxugamento da máquina pública e a valorização das chamadas "carreiras de Estado", foi completamente alterada pela gestão Lula, com uma visão expansionista do funcionalismo público que criou quase 200 mil novos cargos.

Em 2002, no término do governo Fernando Henrique Cardoso, a administração federal dispunha de 810.000 trabalhadores. Desde que Lula tomou posse até o meio do ano passado foram contratados 190 mil servidores, e hoje já existe mais de 1 milhão de funcionários na folha de pagamento do governo.

A farsa

A afirmação da Ministra Chefe do Gabinete Civil, Dilma Rousseff, de que a tese de que a História só se repete como farsa seria de Engels, e não de Karl Marx, registrada ontem na coluna, provocou muita polêmica.

O sociólogo Sérgio Besserman, ex-presidente do IBGE e atual presidente do Instituto Pereira Passos, como antigo militante do Partidão, atualmente na extrema esquerda do PSDB, diz que a declaração confirma "o que sempre soubemos desse pessoal: a ministra Dilma certamente deve ter qualidades como gestora, mas essa turma do PT, e mais ainda do PDT, não leu ou mal leu e nunca estudou Marx".

Besserman envia a frase de Karl Marx, extraída de "O 18 Brumário de Luís Bonaparte": "Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa".

Já o ex-ministro Marcílio Marques Moreira explica que o primeiro capítulo do "18 Brumário", no qual está a frase, foi escrito por Marx em seções semanais entre 1º de janeiro e o mês de fevereiro de 1852, a pedido de seu amigo Joseph Weydemeyer, que planejava publicar uma revista semanal em Nova York.

O plano não tendo prosperado, Weydemeyer passou a publicar a revista mensal "Die Revolution", cujo primeiro número consistiu no texto que Marx lhe havia enviado sob o título "Der achtzehnte Brumaire des Louis Bonaparte".

Só algumas centenas de exemplares chegaram, segundo o próprio Marx, à Alemanha, o que o levou a publicar uma segunda edição em 1869, em Hamburgo, para a qual escreveu , já em Londres, um prefácio. A terceira edição preparada e prefaciada por Engels foi publicada, também em Hamburgo, em 1885.

Que falta faz um Voltaire - Reinaldo Azevedo - Revista Veja 02/04/08

"O socialismo acabou, sim. Então vamos lá: ‘Abaixo o socialismo!’.
Porque ele sobreviveu nas mentalidades e ainda oprime o cérebro
dos vivos com o peso de seus milhões de mortos. O século
passado viu nascer e morrer esse delírio totalitário"

Falei outro dia a estudantes da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Um deles, militante socialista, antiimperialista, favorável ao bem, ao justo e ao belo, um verdadeiro amigo do povo (por alguma razão, ele acha que eu não sou), tentou esfregar Rousseau (1712-1778) na minha cara como exemplo de filósofo preocupado com o bem-estar do homem. "Justo esse suíço que não cuidava nem dos próprios filhos, entregando-os todos a asilos de crianças?", pensei. O sujeito amava demais a humanidade para alimentar as suas crias. "O que será que alguns mestres andam dizendo nas escolas?" Já participei de outros eventos assim. A expressão do momento, nas universidades, é resistir à "colonização promovida pelo mercado". A maioria silenciosa não dá bola pra essa besteira. A minoria barulhenta vai à guerra. O conceito é curioso porque faz supor que possamos ser caudatários, então, de uma cultura autóctone, de um nativismo pré-mercado ou de um tempo edênico em que o mundo não havia sido ainda corrompido.

A pauta de contestação varia pouco. Que importa se Israel é a única democracia do Oriente Médio? A justiça, sem matizes, estará sempre com os palestinos. O terrorismo islâmico assombra o planeta e obriga os regimes democráticos a uma vigilância que testa, muitas vezes, seus próprios fundamentos? A culpa cabe ao "fundamentalismo cristão" de George W. Bush, com sua "guerra ao terror". As Farc seqüestram e matam? É preciso eliminar a influência que os EUA exercem na América do Sul. O crime assombra a vida cotidiana dos brasileiros? O país precisa é de menos cadeias e mais escolas, como se fossem categorias permutáveis. Existe remédio para a tal "injustiça social"? Claro! Responda-se com a estatização dos pobres. A Terra está derretendo? É preciso pôr fim ao neoliberalismo. Sem contar os malefícios da imprensa burguesa...

Agora sei. É tudo culpa de Rousseau e do seu Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens. Quem melhor comentou a obra, numa cartinha enviada ao próprio autor, foi Voltaire (1694-1778), pensador francês: "Quando se lê o seu trabalho, dá vontade de andar sobre quatro patas". Este sabia das coisas. Descobriu a "força da grana – e da liberdade – que ergue e destrói coisas belas". Está claro nos textos de Cartas Inglesas. E, à diferença do outro, não dava muita pelota pra esse papo de "igualdade".

Algumas normalistas de meias três-quartos do articulismo pátrio diriam que Voltaire era um malcriado. Onde já se viu tratar daquele jeito um senhor que só pensava no bem da humanidade? Afinal, o que ele queria? Ora, todos cedemos um pouquinho aos interesses coletivos e seremos felizes. Não sou Voltaire: minhas ambições e meu nariz são menos proeminentes, mas noto o convite permanente para que passemos a nos deslocar sobre quatro patas. Na prática, o iluminismo anglo-saxão venceu: a força da grana erigiu cidades, catedrais, civilizações e fez vacinas. O discurso da igualdade, quando aplicado, produziu uma impressionante montanha de mortos. Mas vejam que coisa: é Rousseau quem está em toda parte, reciclado pela bobajada do marxismo, que tentou lhe emprestar o peso de uma ciência social.

O que isso quer dizer na história das mentalidades? O socialismo perdeu o grande confronto da economia e desabou sobre a cabeça dos utopistas, mas as esquerdas têm vencido a guerra da propaganda cultural, impondo a sua agenda, aqui e em toda parte. Dominam o debate público e, pasmem!, foram adotadas pelo capital. Estão incrustadas, como se sabe, nas universidades e nos aparelhos do estado, mas também nas grandes empresas, que financiam institutos culturais e ONGs dedicados a preservar as árvores, as baleias, as tartarugas, a arte e, às vezes, até as criancinhas. De quebra, também nos convidam a ser tolerantes com o que nos mata.

São todos, de fato, "progressistas", filhos bastardos do suíço vagabundo. Eu, um "reacionário", um tanto voltairiano, embora católico, pergunto aos meus botões: um banco não é mais "humanista" quando oferece crédito e spread baratos do que quando se propõe a salvar o planeta? Na propaganda da TV, a mineradora parece extrair do fundo da terra mais sentenças morais do que ferro, mais poesia e idéias de "igualdade" – esta droga perigosa – do que minério. Escondam o lucro! Ele continua a ser um anátema, um pecado social e uma evidência de mau-caratismo. O lucro leva pau até em roteiro de Telecurso 2º Grau. Aposto que boa parte dos nossos universitários, a pretensa elite intelectual brasileira, acredita que as vacinas nascem do desejo de servir, não da pesquisa financiada pela salvadora cupidez da indústria farmacêutica.

O socialismo acabou, sim. Então vamos lá: "Abaixo o socialismo!". Porque ele sobreviveu nas mentalidades e ainda oprime o cérebro dos vivos com o peso de seus milhões de mortos. O século passado viu nascer e morrer esse delírio totalitário. Seu marco anterior importante é a Revolução Francesa, mas sua consolidação se deu com a Revolução Russa de 1917, que ousou manipular a história como ciência da iluminação. A liberdade encontrou a sua tradução nos campos de trabalhos forçados, com a população de prisioneiros controlada por uma caderneta ensebada que o ditador soviético Josef Stalin (1879-1953) levava no bolso. A igualdade mostrou-se na face cinzenta da casta dos privilegiados do regime. A fraternidade converteu os homens em funcionários do partido prontos a delatar os "inimigos do estado e do povo". A utopia humanista vivida como pesadelo impôs-se pelo horror econômico e acabou derrotada pelo inimigo contra o qual se organizou: o mercado. Mas, curiosamente, sobreviveu como um alucinógeno cultural.

De que "socialismo" falo aqui? É claro que o modelo que se apresentava como "a" alternativa não-capitalista de organização da sociedade desapareceu. E a China é a prova mais evidente de sua falência – do modelo original, o país conservou apenas a ditadura do partido único. O livro O Fim da História e o Último Homem, do historiador americano Francis Fukuyama, já se tornou um clássico do registro desse malogro. Demonstrou-se a falência teórica e prática de um juízo sobre a história: aquele segundo o qual o macaco moral que fomos nos tempos da coleta primitiva encontraria o estágio final de sua sina evolutiva no bom selvagem socialista, de espinha ereta, pensamentos elevados e apetites controlados pela ética coletiva.

De fato, os donos das minas de carvão (que seres desprezíveis!), os mercadores cúpidos, os colonizadores e até seus sicários, toda essa gente acabou, mesmo sem saber, civilizando o mundo. Felizmente, o homem não é bom. A sociedade, por meio dos valores, é que ajuda a controlar os seus maus bofes. Estamos falando de duas visões distintas de mundo. Uma supõe uma religião em que o deus único é o estado; o bem alcançado é diretamente proporcional à redução do arbítrio individual: menos alternativas, menos probabilidade de erro. E a outra acolhe a vontade do sujeito como motor da transformação do mundo, respeitadas algumas regras básicas de convivência. Atenção: a democracia moderna nasce dessa vertente, não da outra, semente dos dois grandes totalitarismos do século passado: fascismo e comunismo.

É o modelo de proteção às liberdades individuais, sem as quais inexistem liberdades públicas, que nos faculta o direito de criticar o nosso próprio modelo. Não obstante, as causas influentes, reparem, piscam um olho ora para utopias regressivas, ora para teorias que nos convidam a entender os facínoras segundo a particularíssima visão de mundo dos... facínoras! É a forma que tomou a militância de esquerda, que nos convida a resistir à "colonização promovida pelo mercado".

Tomem cuidado com os militantes da "igualdade" e da "justiça social". Toda crença tem um livro de referência. Esta também. Além de ter sido escrito com o sangue de muitos milhões, só se pode lê-lo adequadamente sobre quatro patas.

Friday, March 14, 2008

Uma coluna de Elio Gaspari - Blog do Reinaldo Azevedo - 09/03/08

Muitos internautas estão me cobrando que reproduza a coluna de hoje de Elio Gaspari. É justo. Explico por que não o tinha feito até agora. Como sabem, já divergi muitas vezes do que ele escreve. E expus as divergências. Esta é uma página pessoal e comporta os meus juízos: “Isto é bom; isto não é”. Ao leitor cabe avaliar o texto de referência e a minha própria crítica. Já recomendei antes textos de Gaspari. Não será esta a primeira vez.

Por que não o tinha feito até havia pouco? Porque as condições de salubridade e navegabilidade na Internet não andam lá essas coisas, não é? A bandidagem está solta, e é claro que sei que sou um dos alvos. Não me interessa o que Marcola pensa do Código Penal. Não queria que a reprodução do texto de um jornalista de quem divirjo com certa freqüência se confundisse com alguma forma de demarcação de terrenos, forçando uma afinidade que inexiste. Pareceu-me que eu poderia estar dando a entender uma aliança ou uma afinidade inexistentes como resposta aos cadáveres adiados do jornalismo.

Foi por isso, e só por isso, que não publiquei o artigo. Mas estou sendo cobrado pelos leitores. Ainda que eu divergisse de tudo o que Gaspari escreve, o que é falso, concordo integralmente com o que vai abaixo.

*
Em 2008 remunera-se o terrorista de 1968

D AQUI A OITO dias completam-se 40 anos de um episódio pouco lembrado e injustamente inconcluso. À primeira hora de 20 de março de 1968, o jovem Orlando Lovecchio Filho, de 22 anos, deixou seu carro numa garagem da avenida Paulista e tomou o caminho de casa. Uma explosão arrebentou-lhe a perna esquerda. Pegara a sobra de um atentado contra o consulado americano, praticado por terroristas da Vanguarda Popular Revolucionária. (Nem todos os militantes da VPR podem ser chamados de terroristas, mas quem punha bomba em lugar público, terrorista era.)
Lovecchio teve a perna amputada abaixo do joelho e a carreira de piloto comercial destruída. O atentado foi conduzido por Diógenes Carvalho Oliveira e pelos arquitetos Sérgio Ferro e Rodrigo Lefèvre, além de Dulce Maia e uma pessoa que não foi identificada.
A bomba do consulado americano explodiu oito dias antes do assassinato de Edson Luís de Lima Souto no restaurante do Calabouço, no Rio de Janeiro, e nove meses antes da imposição ao país do Ato Institucional nº 5. Essas referências cronológicas desamparam a teoria segundo a qual o AI-5 provocou o surgimento da esquerda armada. Até onde é possível fazer afirmações desse tipo, pode-se dizer que sem o AI-5 certamente continuaria a haver terrorismo e sem terrorismo certamente teria havido o AI-5.
O caso de Lovecchio tem outra dimensão. Passados 40 anos, ele recebe da Viúva uma pensão especial de R$ 571 mensais. Nada a ver com o Bolsa Ditadura. Para não estimular o gênero coitadinho, é bom registrar que ele reorganizou sua vida, caminha com uma prótese, é corretor e imóveis e mora em Santos com a mãe e um filho.
A vítima da bomba não teve direito ao Bolsa Ditadura, mas o bombista Diógenes teve. No dia 24 de janeiro passado, o governo concedeu-lhe uma aposentadoria de R$ 1.627 mensais, reconhecendo ainda uma dívida de R$ 400 mil de pagamentos atrasados.
Em 1968, com mestrado cubano em explosivos, Diógenes atacou dois quartéis, participou de quatro assaltos, três atentados a bomba e uma execução. Em menos de um ano, esteve na cena de três mortes, entre as quais a do capitão americano Charles Chandler, abatido quando saía de casa. Tudo isso antes do AI-5.
Diógenes foi preso em março de 1969 e um ano depois foi trocado pelo cônsul japonês, seqüestrado em São Paulo. Durante o tempo em que esteve preso, ele foi torturado pelos militares que comandavam a repressão política. Por isso foi uma vítima da ditadura, com direito a ser indenizado pelo que sofreu. Daí a atribuir suas malfeitorias a uma luta pela democracia iria enorme distância. O que ele queria era outra ditadura. Andou por Cuba, Chile, China e Coréia do Norte. Voltou ao Brasil com a anistia e tornou-se o "Diógenes do PT". Apanhado num contubérnio do grão-petismo gaúcho com o jogo do bicho, deixou o partido em 2002.
Lovecchio, que ficou sem a perna, recebe um terço do que é pago ao cidadão que organizou a explosão que o mutilou. (Um projeto que re- vê o valor de sua pensão, de iniciativa da ex-deputada petista Mariângela Duarte, está adormecido na Câmara.)
Em 1968, antes do AI-5, morreram sete pessoas pela mão do terrorismo de esquerda. Há algo de errado na aritmética das indenizações e na álgebra que faz de Diógenes uma vítima e de Lovecchio um estorvo. Afinal, os terroristas também sonham.


Por Reinaldo Azevedo

Monday, March 10, 2008

A Força não disfarça 2 – A triste face no neopeleguismo - Blog do Reinaldo Azevedo - 10/03/08

Podemos nos restringir ao evento específico — o “Paulinho da Força” quer constranger a imprensa — ou tentar entender o que está em curso. VEJA, como sempre, fornece lentes que tornam tudo mais nítido. Na edição nº 2007 da revista, de 6 de maio do ano passado, Alexandre Oltramari foi ao ponto. Observem que a Força Sindical e a CUT dividiram o poder como dois senhores da guerra. Há dez anos, a ameaça do tal Paulinho aos jornais seria repelida pela central rival como coisa antidemocrática. Hoje, uma central pode falar perfeitamente pela outra e vice-versa. Dividem práticas, interesses, dinheiro, poder. Não estamos mais lidando com adversários, mas com aliados de classe. Uma classe específica: a burguesia do capital alheio. Leia aquela reportagem.

A triste face no neopeleguismo

Desde que começou a despontar como líder sindical no fim da década de 70, Luiz Inácio Lula da Silva só deixou de ir às festas do 1º de Maio em São Bernardo do Campo duas vezes. Na primeira, em 1980, estava amargando 31 dias de xilindró por comandar as greves de metalúrgicos que desafiaram o regime militar. Agora, na segunda ausência, ficou descansando no Palácio da Alvorada, onde aproveitou para jogar uma pelada com amigos. Oficialmente, Lula não compareceu a São Bernardo, berço do sindicalismo do PT, porque foi alertado de que se preparava ali um protesto contra o governo. De fato, houve um protesto, tímido e rápido, mas Lula poderia ter aparecido em qualquer outra das festas. Só em São Paulo, as duas principais centrais sindicais reuniram mais de 1,5 milhão de trabalhadores em festejos separados, durante os quais o governo foi tratado com uma docilidade ímpar – nada das críticas ou dos xingamentos contra o governo que historicamente marcam as comemorações do 1º de Maio. Portanto, a explicação mais lógica para a ausência de Lula talvez seja outra: é desnecessário lutar pelo apoio dos sindicalistas e das centrais sindicais. Eles já estão, quase todos, aninhados no bolso do governo.

Em seu primeiro mandato, Lula despachou 72 milhões de reais para as duas centrais sindicais mais importantes – a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Força Sindical, que, juntas, têm 38,5 milhões de filiados, equivalentes a 85% dos trabalhadores sindicalizados no país. Parece pouco dinheiro. No seu segundo mandato, o tucano Fernando Henrique Cardoso transferiu 289 milhões de reais para a CUT e a Força – ou quatro vezes mais. A diferença é que o presidente Lula, além do dinheiro e da sua natural proximidade com o meio sindical, no qual começou a construir sua vida pública, ofereceu aos membros da elite sindical o que eles nunca tiveram antes: cargos no governo. E dar cargos no governo é apenas uma outra forma de dar dinheiro – e poder. "O alinhamento com um governo é o passo mais seguro para matar a função crucial dos sindicatos, que é defender os interesses dos trabalhadores", diz o professor de sociologia do trabalho da Unicamp Ricardo Antunes, autor de nove livros sobre trabalho e sindicalismo. "Isso é o neopeleguismo do social-liberalismo. É um pouco mais sutil, mas é farinha do mesmo saco." Estima-se que a CUT, desde que Lula tomou posse, tenha preenchido cerca de 1 000 cargos de confiança no governo federal. Em julho de 2005, essa relação foi coroada com a entrega do Ministério do Trabalho ao então presidente da CUT, Luiz Marinho.

Agora, com a transferência de Marinho para o Ministério da Previdência, o governo consumou seu matrimônio de conveniência com a cooptação da Força Sindical. Primeiro, deu o cargo de ministro para Carlos Lupi, presidente do PDT, que começou sua carreira política como jornaleiro de Leonel Brizola. Sua adesão ao governo tem um significado duplo: Lupi representa o apoio do PDT e da Força Sindical, central dominada pelos pedetistas. Em seguida, o ministro Lupi encarregou-se de acomodar o ex-deputado Luiz Antonio de Medeiros como secretário de Relações do Trabalho. Medeiros, que já foi operário da construção civil e metalúrgico, é um dos fundadores da Força Sindical, que surgiu em oposição aberta à CUT. Sempre fez oposição aos petistas, tanto na vida política quanto no meio sindical, mas, como não conseguiu uma cadeira na Câmara dos Deputados na última eleição, rendeu-se penhoradamente à boquinha de um cargo público. Com isso, o governo, que já absorvera a CUT, engoliu também a Força Sindical. O atual presidente da entidade, o deputado Paulo Pereira da Silva, vive em Brasília com uma lista de indicações para cargos públicos embaixo do braço. Tem tido sucesso na sua missão.

Tendo oferecido às centrais sindicais menos dinheiro que o antecessor, Lula já está corrigindo a distorção. Até o fim do mês, planeja editar uma medida provisória legalizando as centrais sindicais e passar a dividir com elas o bolo do imposto sindical – excrescência criada em 1939, sob o governo de Getúlio Vargas, destinada a manietar os sindicatos ao estado. Com o desconto de um dia de trabalho por ano de todos os trabalhadores, sindicalizados ou não, o governo recolhe cerca de 1 bilhão de reais. Em torno de 200 milhões ficam nos cofres do governo – e metade disso será agora distribuída às centrais sindicais. A medida só não foi anunciada ainda porque uma central menor, a Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), não gostou do critério de distribuição segundo o qual os sindicatos indicariam as centrais para as quais querem que o dinheiro seja destinado. CUT e Força Sindical, como são grandes, acham o critério justo. E afirmam que, com isso, vão combater o sindicalismo pelego, que vive recebendo dinheiro sem ter representação real entre os trabalhadores. Com esse discurso, destinado a ludibriar a platéia, esquecem convenientemente que sindicalismo pelego é aquele que, representando muitos ou poucos trabalhadores, vive de dinheiro oficial.

A legalização e a distribuição de dinheiro às centrais contrariam frontalmente os termos da reforma sindical que o próprio governo mandou ao Congresso Nacional em 2005. Pela proposta de reforma, os sindicatos deixariam de ser financiados pelo governo e passariam a se sustentar com a contribuição voluntária de seus próprios filiados, como ocorre nas democracias mais modernas do mundo – e nesse formato, aí, sim, pode-se falar em combate ao sindicalismo pelego. Os sindicalistas, no entanto, não gostaram da idéia embutida na reforma sindical, que dorme até hoje em alguma gaveta no Congresso, e conseguiram agora arrancar uma medida no sentido inverso, aumentando o repasse de dinheiro público aos sindicatos. É uma inversão que tende a aprofundar um dos aspectos mais nefastos da antiquada estrutura sindical brasileira, que é sua dependência do estado.

Com seu alinhamento ideológico, associado ao convescote de dinheiro e cargos no governo, o movimento sindical brasileiro apenas acentua uma crise que começou há quase duas décadas. Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, o grosso do movimento sindical perdeu a bússola ideológica que orientava sua atuação. No Brasil, o golpe seria ainda mais forte com o advento da estabilidade econômica, conquistada a partir do Plano Real em 1994, que arrancaria das mãos dos líderes sindicais a bandeira do arrocho salarial produzido pela fogueira inflacionária. Desde então, os sindicatos não sabem exatamente que novo papel podem representar para os trabalhadores. Devem permanecer classistas, como na sua origem? Ou devem exercer um papel mais cidadão, como parece ser uma exigência das economias modernas e globalizadas? Ninguém encontrou uma saída consistente, mas uma coisa está clara: trabalhador nenhum vai se beneficiar de sindicatos aninhados no governo e mamando em impostos.


Por Reinaldo Azevedo

A Força não disfarça 1 – Ela integra a Central Única dos Trogloditas contra a liberdade de imprensa - Blog do Reinaldo Azevedo - 10/03/08

Na Folha Online. Volto depois:

A Força Sindical divulgou nota nesta segunda-feira na qual informa que o departamento jurídico da entidade fará uma "análise minuciosa" das reportagens publicadas em vários jornais sobre o repasse de verbas do Ministério do Trabalho para entidades ligadas à central. O objetivo é definir os "procedimentos judiciais" para preservar a instituição e seu presidente, o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT), o Paulinho da Força. Na semana passada, Paulinho disse que iria processar a Folha e "O Globo" em 20 Estados do país por causa da série de reportagens que os dois veículos publicaram sobre o repasse de verbas do Ministério do Trabalho para entidades ligadas à central.

Nas reportagens, há questionamentos sobre 12 convênios do ministério com entidades e pessoas ligadas ao PDT. A Folha divulgou que a pasta pretendia repassar R$ 7 milhões à CNTM (Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos), ligada à Força Sindical, para recolocar mão-de-obra em São Paulo. O valor seria 97% maior que o gasto pelo governo paulista, e comissões do Estado e da prefeitura votaram contra o convênio. A decisão final cabe ao Codefat (Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador). Ministério e entidades negam favorecimento.

Segundo a nota divulgada hoje, a Força Sindical encaminhou as reportagens para o advogado Luiz Flávio Borges D'Urso, presidente da seccional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo. Ele deverá preparar um parecer sobre o assunto. A decisão de examinar as reportagens que envolvem a Força Sindical e o Ministério do Trabalho foi tomada hoje pela manhã, durante reunião da direção nacional da central. Segundo a nota, "alguns veículos de comunicação" envolvem "injustamente" o nome da central e de Paulinho. Em carta enviada à Folha na última sexta-feira (7), Paulinho se diz vítima de uma "implacável perseguição política" e que não tem a quem recorrer, "senão à Justiça", para tentar reparar "os erros que a Folha autoritariamente se recusa a admitir".

"Todo mundo sabe o quanto é difícil, para uma personalidade pública, entrar com ações judiciais contra órgãos de imprensa. Ficam marcadas para o resto da vida. Apesar disso, estou, sim, buscando reparações judiciais para evitar o linchamento público de minha pessoa e da entidade que presido, assim como dos mais de mil sindicatos filiados", afirma na carta.

Comento
Fiz aqui algumas anotações para escrever um texto sobre o zeitgeist, o espírito deste tempo, em que a imprensa é tratada por lideranças políticas e alguns soldados do regime como inimiga. Escreverei à noite. Será aquele artigo do alto, que abre as manhãs.

Sobre Paulo Pereira da Silva, o, por epíteto, “Paulinho da Força”, dizer o quê? Seu nome político já é sintoma de uma doença política grave, traduzida até na gramática. A locução adjetiva “da Força” indica que sua atuação como parlamentar, como “representante do povo”, está vinculada à sua condição de líder sindical. Já imaginaram o deputado, sei lá, “Toninho da Febraban”? Ou o “Maneco da Fiesp?”

“Ah, mas os representantes da burguesia disfarçam a sua origem”. É mesmo, é? Quer dizer, então, que "Paulinho da Força" é expressão do mundo “proletário”? Um momento que vou ali soltar uma gargalhada. Volto já.

Deixarei claro, logo mais, que há vários focos de “luta” (como eles dizem) contra a chamada “grande imprensa” — ainda se diz “imprensa burguesa” nos ambientes mais contaminados. Não se trata exatamente de um centro de conspiração contra a liberdade de informar, mas é evidente que os vários tentáculos obedecem a uma espécie de coordenação. Oficial, sim, senhores! Sabem por que “Paulinho da Força” ameaça a Folha e o Globo com uma tempestade de ações judiciais? Porque alguém pôs na moda e transformou numa pauta influente o ataque à imprensa. Quem será? Por que motivo?

Bons tempos aqueles em que CUT e Força Sindical disputavam o mercado das idéias e... dos sindicatos. Agora não. No dia 3 de abril de 2007, escrevi neste blog: “Mantenho minha pauta para os coleguinhas: a morte da Força Sindical. Na verdade, pode ser uma coisa mais saborosa. Houve uma daquelas incorporações bem típicas do capitalismo: a CUT comprou a concorrente, incorporou-a. E pagou a fatura com dinheiro público: distribuindo cargos oficiais aos capas-pretas.”

A central sindical do tal Paulinho é só mais um braço do oficialismo tentando constranger a imprensa. Há outros. Falarei deles naquele artigo da madrugada.


Por Reinaldo Azevedo

Abaixo “a mesma coisa”! - Blog do Reinaldo Azevedo - 10/03/08

Vocês sabem a minha irritação quando, dados distintos dilemas éticos, morais ou políticos, alguém afirma: “É tudo a mesma coisa”. A que me refiro em particular? Uma turma começou a comparar as Farc ao IRA, o Exército Republicano Irlandês, finalmente incorporado à vida institucional da Grã-Bretanha. Se um pôde se converter em força política, por que não o outro? Não! Nada é a mesma coisa. Nem gêmeos univitelinos são a mesma coisa — o ovo se divide, e eles já são duas ou mais coisas. Cada um de nós, ao longo do tempo, não é a mesma coisa. Se quisermos ser rigorosos, cada um nós não é a mesma coisa nem ao mesmo tempo — não se você, como eu, levar Freud a sério, para censura de meus amigos católicos. O “é a mesma coisa” corresponde ao exato momento em que se pára de pensar.

Até que o IRA não renunciasse às armas, qual foi a política inglesa? A do porrete. Repressão implacável e cadeia, apesar do apoio e do prestígio que a “resistência irlandesa” sempre teve mundo afora. Nem Bono Vox, com a sua incrível capacidade de colecionar causas e dólares (ou libras, ou euros, ou...), mudou isso. Na raiz da disputa, sempre houve uma questão de afirmação nacional, (des)regulada por uma divergência religiosa. Em regra ao menos, o IRA não estava ligado ao cartel das drogas nem tinha por horizonte estabelecer uma ditadura comunista. Seu movimento nunca foi um satélite ou do comunismo internacional ou de gorilas chicaneiros.

Nenhuma causa justifica o terror, a ação contra civis inocentes. E isso sempre valeu para o IRA. Mas não! Não estamos falando “da mesma coisa”. As Farc e seu ideário têm de ser eliminados, jamais assimilados pela vida institucional. A propósito: qual é a mesmo a reivindicação dos valentes?



Por Reinaldo Azevedo

Livros - Blog do Reinaldo Azevedo - 10/03/08

Leitores estão me pedindo que publique a lista de livros que sugeri aos estudantes da São Francisco, a Faculdade de Direito da USP. Não o fiz antes porque não queria dar a entender que estes são “os” livros para saber a verdade do mundo. Não! Trata-se de uma lista útil para aquele debate: “Cuba e o futuro da esquerda na América Latina”. Ao longo da conversa, acabei sugerindo que lessem outros tantos.

Lista entregue ao Centro Acadêmico:
- Para dados sociais sobre Cuba antes e depois da revolução:
La Lune et le Caudillo - Le Rêve des Intellectuels et le Régime Cubain, 1959-1971
, de Jeannine Verdès-Leroux - Editora Gallimard (disponível na Amazon).
(A Lua e O Caudilho – O Sonho dos Intelectuais e O Regime Cubano – 1959-1971)
Por que ler:
- Para saber que Cuba tinha, em 1952, o terceiro PIB per capita da América Latina. Trinta anos depois da revolução, tinha o 15º;
- Para saber que o índice de analfabetismo de Cuba, em 1958, era de 22% (metade do índice mundial, não de 50%, como afirmava Fidel).
- Para saber que a repressão comandada por Fulgêncio Batista, antes da vitória da revolução, matou 2 mil pessoas, não 20 mil, como afirmou Fidel.

- Para ler a declaração de Fidel sobre o desinteresse pelo poder, afirmando que voltaria a ser advogado depois de depor o regime:
The New York Times
– entrevista a Herbert Mattheus

- Para saber detalhes sobre a brutalidade de Che Guevara
Loués Soient Nos Seigneurs – Régis Debray – Edigora Gallimard
(Louvados Sejam Nossos Senhores) - Disponível na Amazon.

- Sobre primeiro campo de trabalhos forçados na América Latina, criado em Cuba, pela dupla Fidel-Che Guevara.
Loués Soient Nos Seigneurs – Régis Debray – Edigora Gallimard

- Os mortos de Cuba
Além de La Lune..., A América Latina e a Experiência Comunista – Pascal Fontaine, in O Livro Negro do Comunismo – Editora Bertrand Brasil

- A brutalidade do regime soviético e seus milhões de mortos:
Stálin - A Corte do Czar Vermelho
– de Simon Sebag Montefiori – Companhia das Letras

- A brutalidade do regime chinês e seus milhões de mortos:
Mao: A História Desconhecida
, de Jon Holliday e Jung Chang – Companhia das Letras

Outros livros comentados, fora da lista, sugeridos aos alunos no debate:
- O Contrato Social, de Rousseau
Cheguei ao autor porque um aluno falou de O Contrato Social como um texto em defesa da democracia. Será? A obra faz uma exposição aparentemente muito ponderada do triunfo do coletivo sobre o indivíduo. Aparentemente. Este escriba acredita que ali estão as sementes das flores do mal do totalitarismo.

- Emílio ou Da Educação, de Rousseau também. As mesmas tolices que Rousseau afirmava sobre a organização social orientam a sua concepção de educação — justo ele, que entregava os filhos ao orfanato à medida que iam nascendo. Voltaire — este, de fato, um gênio — o tinha por idiota e chegou a declarar que lê-lo despertava no ser humano a vontade de andar de quatro.

- O 18 Brumário, de Karl Marx
Citei como um exemplo do que considero um grande texto a serviço da ideologia. Ali estão resumidos, com brilho, alguns dos notáveis procedimentos usados pelos marxistas para distorcer a história, ignorando o fato em benefício da “militância”.

- Dos Filhos Deste Solo, de Nilmário Miranda e Carlos Tibúrcio. É um levantamento, o mais amplo possível, das pessoas mortas pelo regime militar no Brasil. Total: 424. E não “milhares”. Sob a guarda do estado, a morte de uma só pessoa já seria um excesso. A questão é saber por que as nossas esquerdas demonizam os generais do Brasil e endeusam Fidel Castro, que matou 17 mil pessoas, além das 78 mil que morreram tentando fugir da ilha. Quem não se importa com 95 mil cadáveres, por que se importaria com 424. Não é um campeonato macabro. Macabra é a moral dessa gente.

- Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda.
Só entrei no mérito do livro porque ele foi citado pelo deputado Ivan Valente. Então comentei com os alunos a estúpida distorção que acompanha esta obra, muito citada e quase nunca lida. A tal “cordialidade” do homem brasileiro está longe de ser uma constatação positiva.

- A vida de D. Pedro I, de Octávio Tarquínio de Souza – 3 vols. — esgotados, mas certamente encontráveis nas bibliotecas da USP.
Esta recomendação foi feita depois, a um grupo de 20 alunos, que me convidaram para um bate-papo depois do debate. Usei a obra como exemplo de uma história séria, não-marxista, quase sempre ignorada na universidade, nos cursinhos e nos livros didáticos, corroídos pela esquerdopatia. Os fundadores da pátria brasileira são tratados pelo marxismo vagabundo como delinqüentes.

- A Rebelião das Massas, de Ortega y Gasset – Também recomendado durante o bate-papo, depois do debate, como um ensaio grandioso sobre o fundo autoritário que o conceito de maioria pode comportar.


Por Reinaldo Azevedo

Aos estudantes da São Francisco, com açúcar, afeto e livros a mancheias- Blog do Reinaldo Azevedo - 09/03/08

Já publiquei já aqui um post sobre o debate de que participei, na sexta à noite, na Faculdade de Direito da USP (a São Francisco), a convite da diretoria do Centro Acadêmico XI de Agosto. Falamos sobre Cuba e as perspectivas da esquerda na América Latina. Meu oponente ali — como em quase tudo, suponho — era o ex-petista Ivan Valente (SP), hoje deputado federal pelo PSOL.

Impossível reproduzir aqui um debate de três horas, é claro. Mas, como vou dizer?, a coisa foi animada, hehe. Eu fico sempre muito espantado com a sem-cerimônia com que as esquerdas apóiam seus ditadores e assassinos. Não foi diferente com Valente. Afinal, defender Fidel Castro, demonstrei com números (que ele, engenheiro e matemático, não pôde contestar), corresponde a alinhar-se com alguém que consegue ser 3.108 vezes mais assassino do que os militares brasileiros. A conta é simples:
- somando-se os 17 mil mortos na ilha e os 78 mil que morreram tentando fugir, o regime de Fidel responde por 95 mil óbitos;
- dada uma população de 13 milhões, considerando-se os dois milhões de exilados, Fidel matou 730,77 pessoas por 100 mil habitantes (considerei a população atual de Cuba);
- os milicos brasileiros mataram 424 pessoas (muitas em combate, é bom que se diga) — ou 0,235 por cem mil (população atual do Brasil);
- divida 730,77 por 0,235; você tem a conta.
- Ah, sim: se Fidel tivesse matado um décimo do que matou, ele seria apenas 310 vezes mais assassino — se é que Ivan Valente me entende...

Não obstante, Fidel tem a irrestrita admiração das nossas esquerdas — claro, claro, ele cometeu alguns “exageros”, mas os nossos militares são considerados uns gorilas. Novos esquerdistas ganharam pensões e indenizações porque “perseguidos” pela ditadura. Alguns são ainda fãs de Cuba! O Brasil costuma ser um abismo da lógica. Em tempo: mandei às favas e ao fogo do inferno, ali na faculdade e como sempre, todos os ditadores de direita: Pinochet, os nossos, os argentinos... Valente abriu seu peito ao Coma Andante. Numa antevisão fantasmagórica, disse que os estudantes ainda andariam por aí com uma camiseta estampando o rosto de Fidel. Riram dele a valer.

Levar tais números a um debate provoca um certo choque. Ainda há alguns gatos pingados que são radicais de esquerda, mesmo na São Francisco — minoria, mas são. Entreguei ao Centro Acadêmico uma lista de livros que poderia ajudar a entender alguns dos temas que discutíamos ali. Durante as minhas intervenções, citei outros tantos. Então Ivan, muito valente, tirou da algibeira uma acusação interessante: “Acho que o Reinaldo quer ser intelectual; eu sou um militante”. Para ele, os livros que eu citava — e convidei os alunos a consultá-los — eram só uma forma de tentar enganar os estudantes, de lhes diminuir o entusiasmo militante e a luta por um mundo melhor. Disse isso com a energia característica... Uns 10 ou 12 que estavam ali como claque aplaudiram-no com entusiasmo. Uma lourinha o fez com tal energia, que, quero crer, se eu jogasse uns livros à sua frente, ela os incendiaria: um verdadeiro auto de fé “em nome do povo”.

Aí Valente disse que direita boa já não há mais, não. E que intelectuais mesmo eram Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre, Antonio Candido... Falei para ele escolher um desses, ou todos, para debater. Pedi que resumisse ali a tese central de Raízes do Brasil — e o dispensei da tarefa em seguida, porque a minha crueldade tem limites. E ele aproveitou, então, é claro, para atacar a VEJA, a imprensa burguesa, que só pensa nos ricos e é financiada pelo capital privado por meio de anúncios. Para o Valente, imprensa independente deve ser aquela financiada com dinheiro público e das estatais... Dizer a respeito o quê? No desespero, sacou o Jorgibúxi. “A VEJA defende o Jorgíbúxi”. E eu: “É mentira. A maioria das reportagens de VEJA traz críticas a Bush”. Mas eu estava disposto a lhe manter o furor militante: “Não, deputado, eu (ênfase no “eu”) defendo Bush; a VEJA, não. Eu defendo a guerra do Iraque. A VEJA não é de direita, mas eu sou”.

Valente pareceu experimentar a epifania: “Vocês estão vendo? Ele é de direita! Ele é Jorge Bush!”. Esperava que a platéia urrasse em delírio. Mas nada... E a loirinha, aquela, repetia: “De direita! Jorge Bush!”, como na igreja da bispa. E falava ali o procurador da hora do regime soviético e seus 35 milhões de mortos; do regime chinês e seus 70 milhões de mortos; do regime cambojano e seus três milhões de mortos; do regime cubano e seus 95 mil mortos. Falava o representante do partido que tem entre seus quadros, sei lá se filiado ou não, o italiano Achille Lollo, um terrorista italiano que, em 1973, despejou gasolina sob a porta de um apartamento, na Itália, onde estavam um gari, sua mulher e seis filhos. Ateou fogo. Morreram uma criança de 8 anos e seu irmão mais velho, de 22. O gari era de um partido neofascista. Como Lollo não gostava do fascismo, então ele resolveu incendiar crianças. Um verdadeiro humanista!!!

É claro que tive de refrescar a memória do deputado. Também levei aos estudantes fotos daquele gigante moral e de uma de suas vítimas. Será que fui indelicado?

O deputado acabou se envolvendo num bate-boca com um aluno de mestrado, passível, entendo, de desdobramentos jurídicos. No auge da confusão (Tio Rei, nessa hora, autografava um Contra O Consenso), um garoto magrinho, nervosíssimo, tentava “evacuar o recinto”, tangendo, com os braços, seus colegas, que insistiram em ficar na sala, sim. Uma parte para ver o qüiproquó. E outra porque queria falar comigo. O debate terminou às 22h30; mas saí de lá depois da meia-noite, num papo com rapazes e moças do balacobaco. Sabem das coisas.

Falei da meia-dúzia de gatos pingados radicais? Sim. Num auditório lotado, não eram mais do que 10 ou 12. A maioria esmagadora dos estudantes da São Francisco quer é democracia; quer é estado de direito; quer é liberdade de expressão; quer é imprensa livre. Não! Eles não concordam com tudo o que diz o Reinaldão; com tudo o que sai publicado na tal “imprensa burguesa”, mas estão certos de que a democracia é o único regime que pode conciliar liberdade com justiça. Nem as serpentes que tentam encantar jovens também ali fizeram com que aquela faculdade, que está inscrita na história do Brasil, renunciasse à sua traetória de luta em favor do estado democrático e de direito.

E fiz um convite aos presentes, que, estou certo, será seguido: “Não invadam a reitoria. Invadam a biblioteca”. Acho que eles farão isso. Uns dois ou três talvez continuem a queimar livros, ainda que metaforicamente. Mas o fato é que eles perderam.

PS: Eu lhes juro: quando fui militante de esquerda, entre 1975 e 1982, só eram respeitadas as pessoas que liam muito. Era uma exigência para a militância estudantil. Havia até a caricatura do famoso “livro embaixo do braço”. O Apedeuta acabou com isso. Os livros passaram a ser hostilizados. O que importa é ter titica na cabeça e um microfone na mão. E, claro, falar em nome da “justiça social”.

"Ó justiça social! Quantos crimes se cometem em teu nome!", se me permitem parafrasear uma mocinha que perdeu a cabeça para os jacobinos.


Por Reinaldo Azevedo

Sob o signo de Saturno - Blog do Reinaldo Azevedo - 07/03/08



Vocês todos já sabem a esta altura, não? Iván Ríos, um dos sete do secretariado da Farc, foi morto, sim. Mas não pelas forças colombianas. Foi assassinado pelo chefe de sua segurança pessoal, um tal “Rojas”, famoso por seu gosto pela violência. O assassino do “companheiro” disse que eliminou o chefe porque se encontrava sob forte pressão. Acuados pelas forças colombianas, o grupo queria se entregar, mas Ríos determinou que continuassem a resistir, proibindo que falassem ou acendessem fogueira no esconderijo para não atrair a atenção de seus perseguidores. O grupo que fazia a segurança de Ríos, liderado por Rojas chamou então o chefinho para uma conversa atrás na moita. E... O que vai agora é o relato que está no jornal colombiano El Tiempo:

Às 18h de quinta-feira, por meio de um telefone celular, Rojas se comunicou com o posto da polícia de Aguardas e pediu um contato com o comandante das operações militares. Um novo telefonema, minutos depois, determinou a rendição de três guerrilheiros a um grupo militar que já os tinha cercado. Rojas chegou com seu uniforme ensopado e visivelmente fatigado. Tinha uma pistola e um fuzil. Seus dois companheiros traziam os AK-47 e munição, que entregaram aos militares.

Não comemos desde segunda-feira”, foi a primeira coisa que disseram. O guerrilheiro pediu para falar com o oficial a cargo da unidade e contou uma história provocou calafrios nos militares. “Eu sou o chefe da segurança de Iván Ríos. Nós o matamos e trago aqui as provas”. Para assombro da tropa, Rojas entregou um laptop, a cédula de identidade e o passaporte do membro do secretariado. Trazia além disso um pacote macabro: uma mão direita que, assegurou, era de seu chefe

E agora? Chávez vai fazer um minuto de silêncio? Rojas também estaria interessado numa recompensa de US$ 5 milhões oferecida pelos Estados Unidos para quem fornecesse informações de Rios. E agora? Chávez fará um minuto de silêncio? Eis aí. Estamos diante da escancarada evidência de que a política empreendida pelo presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, está correta. O socorro que os bufões Hugo Chávez e Rafael Correa prestam aos narcoterroristas é mais um sintoma do isolamento do grupo, que tende a se desestruturar.

Escrevi certa feita, no site Primeira Leitura — mas não consigo mais achar (preciso recuperar aquilo tudo), um texto em que comparava as esquerdas a Saturno, que engolia os próprios filhos, como no quadro de Goya, que vocês vêem cima. Mesmo quando a luta “pelo novo homem” seduzia os intelectuais de renome — e ainda se distinguia um tanto do crime organizado —, a esquerda sempre banhou seus próprios aliados em sangue, depois, é óbvio, de eliminar os adversários. A matriz — a política — do marxismo é a Revolução Francesa, notória por devorar os seus. Stálin transformou isso numa indústria (i)moral, com os Processos de Moscou. E assim tem sido.

O mal essencial, evidentemente, está na recusa em reconhecer que ainda não se inventou nada melhor para equacionar as divergências em sociedade do que a democracia, o regime de liberdades. Antes, as esquerdas tinham o que parecia ser um projeto totalizante para a civilização. Naufragaram. Onde a estupidez persiste e, eventualmente, dá as cartas, ou elas se dedicam à empulhação de modelo chavista ou se esforçam, a exemplo do lulo-petismo, para submeter as instituições a uma espécie de gerência, buscando substituir as instituições do Estado democraticamente pactuado pelas necessidades do partido.


Por Reinaldo Azevedo

Uribe para Correa: “Não use comigo o cinismo que têm os nostálgicos do comunismo” - Blog do Reinaldo Azevedo 07/03/08



Álvaro Uribe não se deixa intimidar e chama as coisas pelo nome. Vejam no vídeo acima (ou aqui) a elegância de Rafael Correa ou do orelhudo Daniel Ortega, em trajes de boteco. Correa tenta ser engraçado e adverte o presidente da República Dominicana, dizendo que, se Uribe cismar que há terroristas em Santo Domingo, ele vai lá e bombardeia. De imediato, o presidente da Colômbia responde: “Tentaremos capturá-los com a coordenação do governo dominicano e da sua polícia”. Mais uma vez, deixa claro por que não avisou Rafael Correa: seria o mesmo que revelar o plano aos terroristas. Correa ainda tenta uma nova ironia e toma uma no meio da testa:

“Não use comigo o cinismo que têm os nostálgicos do comunismo; não use comigo o cinismo com que enganam seus povos”.

Grande Uribe!
Vídeo visto, até agora, por 208 pessoas.


Por Reinaldo Azevedo

Uribe e a violação da soberania do povo colombiano - Blog do Reinaldo Azevedo - 07/03/08

No vídeo acima (ou aqui), o momento em que Álvaro Uribe diz que ataques terroristas planejados em outro país também violam a soberania da vítima dos ataques (ver um dos posts abaixo). O vídeo foi visto, até agora, por 288 pessoas.
Por Reinaldo Azevedo

Uribe exibe provas de vínculo de Corrêa com as Farc, e o grandalhão corre pra fazer xixi - Blog do Reinaldo Azevedo - 07/03/08



O vídeo acima (ou aqui), da 20ª Cúpula do Rio, mostra o momento em que Álvaro Uribe exibe as cartas encontradas no computador de Raúl Reyes em que ficam claras as negociações do presidente do Equador, Rafael Correa, com os terroristas. Correa, o covardão que gosta de roncar papo para a mídia internacional, fez o quê? Levantou-se e saiu. Onde tinha ido? Fazer xixi. O grandalhão com voz infantil estava com incontinência urinária. O vídeo foi visto até agora por 214 pessoas apenas.


Por Reinaldo Azevedo

Uribe lembra o óbvio na Cúpula do Rio: ataque terrorista vindo de outro país é violação de soberania - Blog do Reinaldo Azevedo - 07/03/08

O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, deu um verdadeiro show de sensatez política na 20ª Cúpula do Rio, que acontece em Santo Domingo.Não! Ele não negou que tenha violado a soberania territorial equatoriana, não. Mas fez, sim, a ponderação a mais correta, a mais justa, a mais sensata. Afirmou que o conceito tem de ser visto na sua totalidade:- existe a soberania territorial;- existe a soberania do povo.O presidente colombiano destacou que existe violação da soberania quando um grupo terrorista se abriga num país para atacar o outro de forma sistemática, reiterada. De 2004 a esta data, houve nada menos de 40 ataques à Colômbia vindos do... Equador! É ou não violação de soberania?Uribe foi mais longe e acusou Rafael Correa de ter recebido recursos das Farc para a sua campanha eleitoral. Aliás, leitor, essa história de as Farc mandarem dinheiro para a campanha de partidos de esquerda é bem conhecida, não é mesmo? E emendou o presidente colombiano: “Não nos imiscuímos em campanhas de outros países com recursos, dádivas ou outros instrumentos de intervenção. Pedimos que não intervenham em nosso país”. Uribe mostrou-se disposto a falar tudo: admitiu, sim, que não avisou previamente o presidente Rafael Correa: se o fizesse, ironizou, a operação teria fracassado. E teria mesmo.Para saber mais sobre a atuação de Uribe na 20ª Cúpula do Rio, clique aqui
Por Reinaldo Azevedo

Nelson Ascher 1 – Os efeitos da máquina de propaganda - Blog do Reinaldo Azevedo - 07/03/08

Nelson Ascher, que vocês sabem muito bem quem é, mandou-me um comentário. O texto, de fato, é um artigo, e eu decidi publicá-lo aqui. Abaixo, segue a primeira parte. Continua nos posts seguintes. Concordamos em praticamente tudo o que diz respeito à questão israelo-palestina. Boa parte dos leitores, sei disto, também concorda. E as divergências, desde que respeitosas e que não façam a apologia do terrorismo, serão publicadas.
*
Caro Reinaldo,

Algumas reações a seus posts sobre o atentado a judeus civis inocentes em Jerusalém (e imagino quantas piores você teve de apagar) fazem-me pensar que, quando o tema é a querela Judaico-Árabe (e não só Israelense-Palestina), ainda há muito pouca gente disposta a questionar as mentiras e calúnias anti-semitas e anti-sionistas (o anti-sionismo é o anti-semitismo hipócrita ou, na melhor das hipóteses, inconsciente, pelo menos entre os idiotas) promovidas pela imensa máquina de propaganda árabe-palestina-muçulmana (com seus petrodólares) e repetida por toda a esquerdalha do planeta, seja na imprensa, seja nas universidades etc.

Nunca um, e um só, dos quase 200 países do mundo foi tão vilificado a toda hora quanto Israel, e o único paralelo que existe é a antiqüíssima e ininterrupta até agora vilificação dos próprios judeus. É desalentador ver que, até certa medida, isso vale mesmo para uma parte de seu público, um público diferenciado, que vem aprendendo a pôr em dúvida as certezas propagadas pela esquerda e impostas pela correção política. Preocupa-me, sim, que essa pouca disposição a começar a examinar os demais aspectos do problema se deva sobretudo ao fato de que isso implicaria ver Israel e, em especial, os judeus sob uma luz mais favorável, talvez até positiva.

Nelson Ascher 2 – “Quem roubou o quê de quem?”

Veja só. O atrito entre a Colômbia, o Equador e a Venezuela não levou ninguém a se meter a historiador ou especialista e começar a discorrer sobre 100 ou mais anos de disputas fronteiriças, sobre padrões de colonização, sobre o fato de que todas as minúcias históricas dos três países envolvidos teriam de ser discutidas antes que pudéssemos julgar quem é culpado, quem é inocente. Não é o que ocorre com Israel. Oito civis são barbaramente executados a sangue-frio em Jerusalém, que é uma cidade que (embora isso pouco importe) nunca deixou de ter uma população judaica, majoritária, aliás, desde pelo menos meados do século 19, e lá vem gente falar de “ocupação”, “terra roubada” (quem roubou o quê de quem? Que tal essa gente se unir aos fascistas que acham que muçulmanos não têm o direito de viver na Europa ou que os milhões de imigrantes mexicanos devem ser imediatamente expulsos dos EUA – mas tratar a história do conflito em poucas linhas, como eles, cheios de certeza, fazem é desonesto, e eu não vou fazê-lo aqui), “ciclo de violência” como se os terroristas e assassinos palestinos fossem forçados pela história (são autômatos, certo?) a assassinarem civis desarmados a queima-roupa. Aí se fala também que Israel mata civis (e isso com muito mais alarde, sem nenhum “mas, contudo, todavia ou porém”, sem qualquer adversativa), e ninguém senta para fazer as contas, para comparar ou buscar fontes fidedignas.

Durante a Segunda Intifada morreram mais palestinos do que judeus. Ocorre que os palestinos mortos eram quase exclusivamente homens em idade militar (que seus conterrâneos, segundo a conveniência, glorificavam às vezes como combatentes martirizados e, às vezes, choravam, diante das câmeras internacionais, como vítimas civis). Entre os israelenses mortos, a distribuição em termos de sexo e idade era a mesma da população geral. Ou seja, Israel ia atrás de terroristas e, de vez em quando, acertava inocentes envolvidos no que os outros palestinos haviam transformado num campo de batalha. Se houvesse crime aqui (mas, de acordo com os tratados internacionais, não há), poderíamos falar, no máximo, em homicídio culposo. Já os palestinos matavam indiscriminadamente, de preferência os alvos mais fáceis, crianças, velhos, mulheres, gente desarmada, passageiros de ônibus, clientes de shopping center e restaurantes. Sua estratégia sempre foi a de perpetrar homicídios dolosos no atacado.

Nelson Ascher 3 – “Ainda que a causa fosse justa, ela daria carta branca para matar?”

Um leitor chamado Kenji está entre os que melhor representam os vilificadores de Israel e, por tabela, dos judeus. Há, aliás, um André Kenji que diz coisas semelhantes em outros blogs e no “Hora do Povo”, o jornal de um partido que eu pus para correr do Centro Acadêmico da [faculdade] Getúlio Vargas, o MR-8. Talvez sejam a mesma pessoa, não sei. Mas ele, por exemplo, argumenta que os palestinos não aceitaram a partilha da Palestina porque ela não refletia as realidades demográficas. Besteira!

Israel ficou com todo o deserto do Neguév quase inabitável e deveria, ademais, receber, como recebeu, centenas de milhares de refugiados imediatamente. Ele diz que teria partido para a guerra, como os palestinos. Eles, de fato, partiram para a guerra e perderam. Isso tem um preço, não? Ele também diz que os principais responsáveis pela crise dos refugiados (dos árabes, porque dos refugiados judeus, sejam os que deixaram suas terras legalmente compradas na Palestina, sejam os 800 mil expulsos dos países árabes, onde haviam vivido sob “apartheid” etno-religioso desde as invasões árabes-muçulmanas do Oriente Médio, Mesopotâmia e África do Norte, ele não fala: esses são apenas judeus, ora bolas) foram os exércitos dos países árabes vizinhos. É verdade: quem criou o problema que o resolva.

Mas fiquemos por aqui. A notícia é simples: oito estudantes foram assassinados a sangue frio, em sua cidade, em sua escola, por fanáticos anti-semitas em nada diferentes dos nazistas. Em vez de repudiar isso claramente e de se concentrar nessa barbárie clara e transparente, já estamos tendo de discutir o que aconteceu há 60, 100, 1.500 anos. Esse é o estratagema árabe-palestino, não muito diferente do esquerdista: trata-se de turvar as águas, remeter a causas remotas e não-verificáveis, desconversar crimes reais com questões bizantinas e sem pertinência alguma para o caso, tudo exceto atribuir responsabilidade pessoal aos criminosos. A morte intencional de civis é assassinato, é covardia e, mesmo que a tal da pseudocausa palestina fosse justa e pura como a neve recém-caída (mas não é, longe disso), ainda assim ela não daria a seus sequazes carta branca para perpetrar massacres, comemorá-los e pregar o genocídio.
Abs
Nelson Ascher


Por Reinaldo Azevedo

A reação dos humanistas palestinos ao atentado em Jerusalém - Blog do Reinaldo Azevedo 06/03/08

Foram oito os mortos num seminário rabínico em Jerusalém, e não sete, como se informou inicialmente e publiquei abaixo. As pobres vítimas de Gaza, aqueles humanistas esmagados pela brutalidade insraelense, fizeram o quê? Ora, o que fazem os humilhados quando têm um singular senso de superioridade moral: saíram às ruas para comemorar, entendem?

O humanismo dessa gente não conhece limites.

Mas não foi só o “povo”, incitado pelo Hamas, que comemorou. O próprio grupo — que o Brasil também não reconhece como terrorista — saudou o evento e prometeu que vêm por aí novas ações humanitárias.

O que disse o Hamas? “NÓS ABENÇOAMOS A AÇÃO”.

E sabem como o Hamas é chamado por boa parte da nossa imprensa? “Grupo militante”. Isso: grupo militante que mata civis que estão estudando.

Já imaginaram a população de Israel saindo às ruas para comemorar vítimas palestinas? Mas o que acontece no país é o contrário: quando há manifestações públicas, elas são contra a guerra.



Por Reinaldo Azevedo

O abismo moral a que nos levou o terrorismo - Blog do Reinaldo Azevedo - 06/03/08

Dois iluministas das utopias redentoras do extremismo islâmico, pensando apenas no bem da humanidade e movidos pelo sacrossanto (ops!) direito de reagir ao expansionismo sionista — vocês sabem, né?, a velha conspiração judaica revelada pelos Protocolos — invadiram uma escola judaica de Jerusalém e resolvem fazer justiça, matando ao menos sete pessoas e ferindo, estima-se, outras 40. Ouvirei Marco Aurélio Garcia a respeito. Seria a ação um ato terrorista? Seria a ação um ato beligerante? Seria a ação apenas uma forma um tanto enfática de construir a paz? Ah, sim: o Brasil não reconhece o Hamas, o Hizbollah e outras ONGs humanitárias da mesma espécie como terroristas.

Como os israelenses são péssimos em propaganda, os corpos não serão exibidos como troféus pelas ruas de Jerusalém. A tendência é que façam cerimônias fúnebres discretas. Mas vocês sabem: Israel tende a reagir, o que é uma coisa muito feia. Eu agora mudei: também virei esquerdista, anti-sionista, palestinista, “saidista”, o diabo que nos carregue: acho que os judeus deveriam apenas ficar imprecando no Muro das Lamentações, enquanto os democratas iluministas do Islã os vão empurrando em direção ao mar.

Mal de nossa era
Então não é assim que a esquerda deveria dar a notícia acima? Ora, vejam que maravilha: os culpados pela existência de vítimas do terror, agora, são as vítimas do terror!!! As Farc seqüestram pessoas? Cumpre a Álvaro Uribe, presidente da Colômbia, ceder às exigências dos seqüestradores — mais as da Venezuela, Brasil, França e idiotas menos cotados. Os terroristas islâmicos matam estudantes? Cumpre a Israel não reagir e proteger os palestinos.

Cabe a Israel, inclusive, vejam que fantástico, pensar na população civil de Gaza, onde o terror usa crianças e mulheres como escudo.

Então fica combinado assim: os terroristas de Gaza ou mesmo da Cisjordância dedicam o seu tempo a fazer vítimas civis em Israel — e notem que toda a política de segurança do país busca distinguir civis de militares. Mas não basta ao país proteger apenas os seus civis. Tem de proteger também os civis de quem o ataca, de sorte que a segurança do povo palestino também é uma obrigação israelense.

Se prestarmos atenção ao detalhe do que diz essa gente, chega-se facilmente ao Holocausto. E o corolário é este: um povo que passou por isso não tem o direito de matar ninguém nem sob o pretexto de se defender.

É verdade, gente! O único direito do povo judeu é continuar a morrer.



Por Reinaldo Azevedo

Saturday, March 01, 2008

Os embriões, os cientistas de verdade e os charlatões ideológicos - Blog do Reinaldo Azevedo - 01/03/2008

Na quarta-feira, o STF começará a julgar uma ação direta de inconstitucionalidade contra o artigo da Lei de Biossegurança que autorizou a realização de pesquisas com células-tronco de embriões. Vocês querem uma opinião inteligente, fundamentada — não coisa de chicaneiro que não perde uma chance de atacar a Igreja Católica? Leiam a entrevista que a bióloga Mayana Zatz concede às Páginas Amarelas da VEJA que está chegando aos leitores (aqui para assinantes). Com 300 trabalhos científicos publicados na área, é uma das maiores especialistas em células-tronco do país e favorável à liberação de pesquisas com embriões. Sim, na coluna à esquerda deste blog, há um link para a sua página da VEJA.com. Ela é minha colega na versão on line da revista.

Mas vocês querem uma opinião que só serve ao confronto estéril e à desinformação? Vejam o que disse ontem o ministro da Saúde, José Gomes Temporão. Segundo o homem, que não pode ver o equívoco passar com seus vistosos arreios, que ele logo cavalga, “podemos entrar em uma época de obscurantismo e atraso ou seguir o caminho da ciência e nos capacitar a enfrentar doenças". Sempre que um amante da humanidade fala, eu me protejo de sua fúria. Eu tenho especial aversão aos amantes da humanidade.

Lembro outra vez as observações de Edmund Wilson sobre a freqüência com que Karl Marx, o capetão, gostava de falar que trabalhava para o bem do homem... Deu no que deu. Qual é o problema dos “defensores do çerumano”? Ele estão convictos de que aqueles que se opõem a seu ponto de vista são... inimigos da humanidade. Não é fantástico? Se você escreve que os debates sobre o aquecimento global têm um tanto de histeria, então é porque você quer transformar o planeta numa frigideira — eles não; ah, eles querem nos salvar. Se você opõe a questão ética, pertinente, sim, à manipulação de embriões, então é porque você é favorável, sei lá eu, à esclerose múltipla.

Temporão é contra o obscurantismo? Temporão é um iluminista? Quando o vir, devo pensar em Voltaire? Em John Locke talvez? É aquele ministro que queria o plebiscito sobre o aborto e cujo ministério libera pílulas do dia seguinte, sem que os pais saibam, a crianças de 11 anos? É aquele que não consegue vencer um mosquito vagabundo, embora queira arrostar com as fronteiras do desconhecido? Temporão segue célere em seu alazão de bobagens. (leia abaixo notícia sobre manipulação do número de mortos da dengue).

Ponderada, Mayana não faz esse jogo estúpido, pueril, coisa de militantes imbecis contra a Igreja Católica (e qualquer forma de religião), entre iluministas e obscurantistas. Ao contrário até: ela se ocupa de estabelecer matizes. Sua argumentação de que o uso do embrião nada tem a ver com o aborto é sólida. Ainda não estou com ela; ainda sou contrário a esse tipo de pesquisa — “se eu fosse outro, fazia-lhes a todos a vontade; assim como sou, tenham paciência” —, mas gosto de aprender com quem pensa de modo diferente.

Leiam o que ela diz: “(...) é preciso que se entenda a diferença entre aborto e pesquisa com células-tronco embrionárias. No aborto, há uma vida dentro do útero de uma mulher. Se não houver intervenção humana, essa vida continuará. Já na reprodução assistida, é exatamente o contrário: não houve fertilização natural. Quem procura as clínicas de fertilização são os casais que não conseguem procriar pelo método convencional. Só há junção do espermatozóide com o óvulo por intervenção humana. E, novamente, não haverá vida se não houver uma intervenção humana para colocar o embrião no útero.” O trecho que assinalei em vermelho, queira Mayana ou não, é um argumento absolutamente consistente contra o aborto. E a honestidade intelectual me obriga a considerar que ela demonstra, sim, que se trata de coisas diferentes.

Portanto, nada de pôr a bióloga no mesmo saco de gatos pardos do anticristianismo — ou, mais especificamente, anticatolicismo — militante, que quer meter goela abaixo da sociedade um pacote, de que a liberação do aborto e a pesquisa com células embrionárias seriam pautas gêmeas. Mayana demonstra que não são. Ela fala como um cientista, interessada nos relevos da diferença, não como um ideólogo, geralmente ocupado em descaracterizar as particularidades para nos impor uma pauta que é política.

Mayana me ajuda a pensar, como no exemplo acima, contra a minha própria convicção, mas também me ajuda a pensar a favor. Afirma ela na entrevista: “Acho um absurdo manipular um embrião para que a criança nasça com olhos azuis, por exemplo. Sou totalmente contra. (...) As células-tronco servem para curar e salvar, não para fazer experiências exóticas.” A questão, então, é saber quais são os limites, quem se encarrega de vigiar a sua aplicação e como é que se evitam as transgressões “exóticas”.

Qual é o código ou o conhecimento que protege no princípio, não apenas na circunstância, a dignidade humana? As noções sobre ciência e o que é ou não aceitável, segundo códigos de ética que se vão criando, são variáveis no tempo. Para certos comportamentos anti-sociais, por exemplo, já se recomendaram choque elétrico e lobotomia. Modelos totalitários, notadamente o nazismo, ambicionaram ter seu lado científico.

Afirmar que a Igreja Católica exerce um papel obscurantista nesse debate é fazer proselitismo ideológico vagabundo, negando, inclusive, a história. Ao contrário: ela tem contribuído para disciplinar a, vá lá, sanha investigativa dos cientistas. Ademais, pergunto: deve-se pôr uma mordaça nos católicos? Estabelecer, como querem alguns, terrenos distintos e inconciliáveis entre a ciência e a fé faz supor, o que é falso, que todo cientista é, quando menos, agnóstico. Então não os há também contrários à pesquisa com embriões? Há, sim. Aos montes. Mas reitero: Mayana está longe de simplificações estúpidas.

Dou graças a Deus pela existência de uma Igreja que fala em nome de um princípio e que, ao fazê-lo, estabelece um debate na sociedade e contribui para disciplinar os cientistas, forçando-os a explicitar seus critérios e a ser rigorosa no aprimoramento de um código de ética. Se a opinião da Igreja não servisse para mais nada, essa já seria uma grande contribuição.

Se eu votasse num colegiado que definisse essa questão em escala mundial, mesmo diante de exposições sólidas e ponderadas como as de Mayana, diria “não”. Tenho a impressão de que, no que concerne ao respeito à inviolabilidade da vida e à dignidade do homem, uma espera de alguns anos, apostando-se no avanço das pesquisas com células-tronco adultas, poderia nos ser, como espécie, mais benéfica. A manipulação de embriões, estou certo, traz um risco maior do que o perigo de não manipulá-los.

Mas é preciso olhar o que acontece à volta. O mundo já se dedica a essa pesquisa, e o Brasil não será uma ilha protegida de suas conquistas e de seus eventuais desatinos. Creio mesmo que a decisão do STF será pela liberação. E, dadas as circunstâncias, talvez seja mesmo o melhor. Mas que se noite: ganhou-se muito nessa trajetória; o debate ético impôs restrições importantes. E, à diferença do que disse dom Dimas Lara Barbosa, secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), não creio que a decisão possa ser um ensaio para o aborto. Bem pensado, pode é ser o contrário. E Mayana nos fornece um argumento e tanto.

PS: Alguns ateus militantes dão como certo que o mundo sem religião nos levaria a uma espécie de nirvana da razão. O mundo conheceu, ou conhece, sociedades em que as religiões foram oficialmente banidas. A China de Mao é um bom exemplo: 70 milhões de mortos. A URSS de Stálin é outro: 30 milhões. “Ah, não foi o ateísmo que matou, mas a ditadura”. E fato. Mas, por alguma razão, aqueles “iluministas” decidiram que, para fazer a sua obra, era preciso antes decretar a extinção de Deus.

Pergunto: foi bom?



Por Reinaldo Azevedo

Ele provoca em mim os instintos mais primitivos... - Blog do Reinaldo Azevedo - 01/03/2008

Esse tal deputado dirceuzista Luiz Sérgio (PT-RJ) mexe com os meus piores instintos. O PT rompeu com qualquer senso de decoro da representação e da independência do Congresso. Quem se lembra ainda da CPI do PC, no governo Collor, sabe: a presidência coube a Benito Gama, então do PFL da Bahia, partido aliado do presidente. Comportou-se com impecável correção. Jamais se levantou a suspeita de que pudesse estar lá para não investigar. A simples hipótese, na imprensa, seria tratada como outro escândalo.

Hoje em dia, é diferente. Este tristíssimo Luiz Sérgio, um pândego, um bobo da corte petista, não tem vergonha, pejo, constrangimento de dizer que acredita que uma CPI deve começar ignorando o fato que a gerou para, vejam só, chamar um ministro do governo FHC... Será que ele quer mesmo apurar, como Benito Gama queria? Mais: ele propõe transformar a CPI na Escolinha do Professor Raimundo para o Uso de Cartões. Será que ele quer mesmo investigar, como queriam os membros da CPI do PC?

Quando Collor caiu, lembro-me de ter escrito um texto afirmando o óbvio: as instituições se fortaleciam — a começar do Congresso e de sua comissão de inquérito. O petismo rebaixou isso também. A própria escolha de Luiz Sérgio já foi uma provocação e um sinal: “Aqui não se investiga nada; aqui se faz é chicana partidária”.

Leia o que esta na Folha de hoje. Por Andreza Matais e Maria Clara Cabral:
Adversários ferrenhos, PSDB e PT dividirão o comando da CPI dos Cartões. A convivência promete ser polêmica. A presidente da CPI, senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), e o relator, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), divergem sobre como devem ser as investigações -desde o foco até como deve ser o início dos trabalhos. A seguir, trechos das entrevistas feitas separadamente.
FOLHA - Por onde as investigações devem começar?
LUIZ SÉRGIO - Acho que o primeiro a ser convidado deve ser o Jorge Hage [ministro da Controladoria Geral da União] porque foi ele quem criou o site da transparência [onde são divulgadas as informações sobre os gastos com os cartões]. Dentro desse contexto, inclusive, acho que o ex-ministro [do Planejamento no governo FHC, hoje no Banco Mundial] Paulo Paiva, que assinou o ato que cria os cartões, pode dar uma enorme contribuição. Quais problemas ele detectou na época?
MARISA SERRANO - O começo de uma CPI tem que ser a partir dos fatos conhecidos, que são de domínio público. Se você tem uma investigação, você tem os fatos, é o natural começar por eles.

FOLHA - Qual o foco a CPI deve ter?
LUIZ SÉRGIO - Devemos primeiro fazer um debate na CPI se o cartão é bom ou não, se as contas "tipo B" são boas ou não. Eu acho que os cartões são melhores. Acho que a CPI precisará debater isso.
MARISA SERRANO - O foco tem que ser se houve corrupção ou não e, principalmente, que tipo de medidas podemos sugerir ao Congresso para que esses fatos não se repitam.
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Por Reinaldo Azevedo

Nem vem que não tem: Lula e Marco Aurélio não são equivalentes - Blog do Reinaldo Azevedo - 29/02/2008

Começou a turma do nem-nem. Previ para amanhã o que vai abaixo. Mas já começou hoje. Leiam. Volto depois:

Por Gabriela Guerreiro, na Folha Online:
O presidente da Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil), Walter Nunes, criticou nesta sexta-feira a virtual crise entre os Poderes Judiciário e Executivo provocada pelo embate entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Marco Aurélio Mello, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Nunes disse à Folha Online que Lula agiu de forma inadequada ao afirmar que o Judiciário não deve "meter o nariz" no Executivo, enquanto Mello não deveria se manifestar sobre assuntos que tramitam na Justiça."Eu achei as palavras do presidente Lula muito ácidas e inadequadas, especialmente porque ele se reportou ao Judiciário. Nas democracias modernas, o Judiciário é o órgão de controle dos atos de todos, inclusive do Legislativo e Executivo", afirmou.
Segundo Nunes, o presidente deveria usar sua "sensibilidade" ao direcionar críticas a dirigentes de outros Poderes. "Ainda que critique, ele tem que saber que os Poderes constitucionais merecem respeito."
O embate entre Lula e Mello teve início depois que o presidente do TSE criticou a criação do programa Territórios da Cidadania, lançado pelo governo federal nesta semana, em ano de eleições municipais. O programa vai destinar R$ 11,3 bilhões para 958 municípios do país.
Em discurso nesta quinta-feira, Lula afirmou que "seria tão bom se o Judiciário metesse o nariz apenas nas coisas dele". "Iríamos criar a harmonia que está prevista na Constituição para que democracia seja garantida. [...] O governo não se mete no Legislativo e não se mete no Judiciário. Se cada um ficar no seu galho, o Brasil tem chance de ir em frente", afirmou.

Crítica
Na opinião de Nunes, o presidente do TSE também deveria ter evitado criticar o programa federal porque o lançamento do Territórios da Cidadania foi questionado na Justiça por partidos de oposição. "Que cabe ao Judiciário examinar isso, cabe. Mas nenhum juiz deve antecipar em pronunciamentos o seu pensamento. Ele não pode dizer o que acha de um programa que está judicializado", afirmou.
Em resposta às declarações de Lula, Mello disse à Folha Online que estranhou a "acidez" das colocações do presidente. "Eu relevo porque o presidente estava num ambiente político. Mas eu, Marco Aurélio Mello, como ministro, não atuo em ambiente político", afirmou ao descartar qualquer pretensão de disputar cargos eleitorais nos próximos anos.
"Da minha parte, não almejo nenhum cargo político, como penso que ele também não almeja cadeira no Judiciário. O presidente não precisa se preocupar", ironizou.

Voltei
O sr. Walter Nunes está errado. Erradíssimo. Lembram-se? Falei da Sociologia dos Motoristas de Táxi: “Nestepaiz, todo mundo está errado, não tem jeito”. Quando o ministro Marco Aurélio tratou do caso, não havia causa judicial nenhuma. E não há nada, rigorosamente, no terreno constitucional ou ético, que o impeça de falar. O PSDB e o PFL recorreram à Justiça depois.

Estamos no maldito hábito “nem-nem” que toma conta do país: nem Lula estaria certo nem Marco Aurélio. Ou, vá lá, ambos estariam errados. Uma ova! Uma pinóia! Uma coisa, ademais, é um ministro — antes de qualquer causa judicial — opinar sobre uma medida específica do governo; outra, diferente, é um presidente da República referir-se a todo um Poder nos termos em que fez.

A resposta de Marco Aurélio foi boa, inteligente, como de hábito. Mesmo quando discordo dele, já disse, acho que jamais desdoura o Poder Judiciário. Muito ao contrário. Notem, ademais, a noção que Lula tem de harmonia entre os Poderes: cada um cuida do seu feudo. É tolice. Até porque os três Poderes estão subordinados ao império da lei — pelo qual é o Judiciário que responde.

Por Reinaldo Azevedo

Se o país estivesse crescendo 13%, Lula baixava o AI-5 - Blog do Reinaldo Azevedo - 29/02/2008

Vejam vocês.

A economia brasileira cresce 5% ao ano, e Lula chuta o traseiro do Judiciário e do Legislativo com aquela sua sem-cerimônia de sempre, como se estivesse numa mesa de boteco, numa rodada de truco, com o cotovelo apoiado no balcão, friccionando, volta e meia, a Nederland, um palito preso entre os dentes, cuspindo, de vez em quando, à distância, dando uma pinguinha pro santo.

Essa vulgaridade toda dá nojo. Recende ao mundo-cão da democracia. Isso nada tem a ver com a cultura operária, não, senhores! É depredação da institucionalidade. Só isso.

Imaginem se o país crescesse a taxas de 11% a 13% ao ano, como aconteceu durante a ditadura militar... O que ele não faria? Já teria proposto, quem sabe?, o paredão democrático. Ou um novo AI-5.

Amanhã, aguardem para ver, aparecerão os tocadores de tuba para garantir que isso não tem a menor importância; que há gente querendo magnificar o problema; que, se Lula é assim, as oposições, o Congresso e o Judiciário não são muito melhores. Como se o chefe do estado e do governo não ocupasse uma posição ímpar nisso tudo.

Lula não reconhece o valor da democracia, não. Embora ela lhe tenha franqueado o poder, ele, com efeito, a detesta. Revelou isso há dois dias, não foi? “Se eu pudesse, resolveria tudo por decreto”. Vai na frase uma confissão: “Eu, Apedeutakoba, acho que decreto é que resolve”. A exemplo dos decretos-lei da ditadura.

O sujeito entrou na política na vigência da ditadura. Seu sonho, como se vê, não era acabar com ela, mas substituí-la. Ainda não pode. Na sua fantasia, um dia chega lá.

Por Reinaldo Azevedo

Lula não sabe o que é democracia. E não saberá nunca - Blog do Reinaldo Azevedo - 29/02/2008

Naquele videozinho que há aí na coluna à esquerda do blog, afirmo que Lula não é Hugo Chávez, não é de fato. Mas não porque não queira, e sim porque não pode. A tentação é grande. Leia o que vai abaixo, por Leonencio Nossa, de O Estado de S.Paulo. Volto depois:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avaliou nesta sexta-feira, 29, que não há uma crise entre Executivo e Judiciário. Reafirmou, porém, as críticas feitas na noite de quinta a declarações do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) . Sem a irritação e emoção do comício em Aracaju, Lula manteve as palavras duras: "É importante ter claro que no Brasil, quando se trata de palpite e opinião, as pessoas precisam concordar que outras podem dar palpite e opinião diferente das delas".

No comício de quinta a noite, Lula reagiu a uma declaração do ministro Marco Aurélio que questionou os programas sociais do governo definindo-os como eleitoreiros.

"Primeiro: eu não citei o nome do ministro; segundo: eu disse que se a lógica prevalecer, o governo federal não poderá fazer parcerias com municípios e Estados em ano de eleição, e que, num mandato de quatro anos, vai governar dois anos", afirmou em entrevista. E continuou: "É impossível governar o Brasil de forma diferenciada, fazendo justiça, se não envolver pacto federativo com Estados e municípios. São os municípios que estão na ponta".O presidente frisou que o cartão do Bolsa-Família, programa visado pela oposição, não é entregue pelo presidente da República, mas pelos prefeitos de todos os partidos políticos. "Eu não sei de uma única pessoa por nome que recebe o Bolsa-Família", disse.

Lula também comentou as reações de parlamentares às suas declarações: "O Congresso tem direito de não gostar, mas eu não falei do Congresso. Falei de partidos". Ressaltou ainda que o PSDB e DEM estão questionando os programas sociais do governo por ser este um ano eleitoral.

Para ele, a troca de farpas entre os poderes da República não representa uma crise: "Não tem, não existe crise de poderes neste País. Até porque cada poder tem autonomia suficiente. E aprendemos que a estabilidade da democracia está no fato de respeitar a autonomia de cada um."

E completou: "da mesma forma que como ser humano e brasileiro as pessoas dão palpite sobre as coisas, o presidente da república pode dar palpite e julgar o palpite dos outros. Afinal de contas, estamos num debate político. "Quanto alguém dá uma opinião, pode ouvir uma opinião discordante".

Comento
Trata-se de delinqüência política, pura e simplesmente. Nas democracias, líderes usam a sua popularidade para encaminhar reformas que melhorem a vida da população. O Apedeuta usa a sua como instrumento de chantagem. Dêem uma olhada nas críticas feitas ao Congresso e ao Judiciário e depois pense: o que aconteceria com Bush se fizesse o mesmo nos EUA? O que aconteceria com Sarkozy se a tanto se atrevesse na França?

Mas aqui pode. Porque aqui, aos poucos, tudo vai podendo. Pior: ao tratar do assunto, os auxiliares de Lula, em vez de jogarem água na fervura, como seria o normal, põem ainda mais lenha na fogueira, como fez ninguém menos do que o ministro da Justiça, Tarso Genro. Comportam-se como completos irresponsáveis.

Lula não entendeu ainda a democracia. Não vai entender nunca. Não está aparelhado para isso. Ele entende é a linguagem de chefe de sindicato — que não se distingue, às vezes, do comportamento de chefe de máfia. Para maiores esclarecimentos, assistam ao filme Sindicato de Ladrões, do grande Elia Kazan. Por ali,o chefão bate na mesa, e a malta obedece sem dar um pio. Se necessário, saem às ruas de porrete na mão.

Volto a este tema daqui a pouco.

Por Reinaldo Azevedo