Friday, December 26, 2014

As Leituras de 2014 - Blog do Rodrigo Constantino - Veja - 26/12/14

Tenho uma meta informal de ler ao menos 60 livros por ano, ou 5 por mês. Meta alcançada uma vez mais este ano. E foram boas leituras, em várias áreas diferentes. Abaixo, um pequeno resumo das que mais me marcaram:
Literatura
Kafka à beira-mar – Haruki Murakami
Após ler a trilogia “1Q84″, que gostei muito, resolvi ler outros livros do principal escritor japonês da atualidade. Esse é um dos mais oníricos, impactantes. A saga de um menino em busca de sentido, em meio a situações surrealistas. Para quem gosta do estilo de Murakami, uma boa pedida.
Então tá, Jeeves / Sem dramas, Jeeves – P.G. Wodehouse
O mestre do humor britânico! Não tinha lido nada de Wodehouse ainda, e me tornei fã. Que leitura deliciosa! Lamento profundamente não ter outros livros da série do mordomo Jeeves no Brasil, pois foram momentos de puro deleite. Imperdível.
Notes from Underground – Roger Scruton
Já era profundo admirador do filósofo Roger Scruton, mas não conhecia seu lado de escritor de literatura. Esse livro é muito bom, relata a história de um amor que nasce em plena época comunista no Leste Europeu, levando-nos aos dramas vividos por milhões de pessoas inocentes nesse triste período da história.
Diabo apaixonado – Jacques Cazotte
Um clássico que me inspirou a escrever esse texto sobre a paixão e seus riscos. 
Henrique V – Shakespeare
Shakespeare é sempre Shakespeare. Esse clássico estava ausente em minha lista, e é dos bons, ainda que não dos melhores (“Rei Lear” é meu preferido). Diálogos sempre atuais, o que comprova a genialidade do bardo, hábil em tratar de temas atemporais, da natureza humana.
O professor – Cristovão Tezza
Não tinha lido nenhum livro de Tezza ainda, e esse foi o primeiro. Pretendo compensar o tempo perdido. Gostei muito, e cheguei a escrever um pequeno texto com base na leitura.
Entre amigos – Amós Oz
Não tinha lido nada o mais famoso escritor israelense da atualidade, e comecei por seu pequeno relato autobiográfico dos tempos de kibbutz. A leitura rendeu um texto sobre a utopia dos românticos que ignoram a natureza humana.
Sangue nas veias – Tom Wolfe
Gosto de Tom Wolfe, o carrasco da elite hipócrita. Seu “Radical Chic” foi uma inspiração para o meu “Esquerda Caviar”. Nesse novo romance, Wolfe disseca os conflitos raciais e culturais de uma Miami miscigenada e cada vez mais latina. E brega, também. Escrevi um texto depois.
A primeira história do mundo – Alberto Mussa
Um romance ao mesmo tempo policial, histórico e intrigante. Foi o que Mussa conseguiu criar com base no relato do primeiro assassinato que se tem notícia no Rio de Janeiro. Comentei aqui sobre a prazerosa leitura.
Desonra – J.M. Coetzee
O escritor sul-africano já era meu conhecido, e esse livro superou as expectativas, sendo o melhor que já li dele. Preconceito, tragédia, família, velhice, morte, solidão, tudo presente em páginas que prendem o leitor à poltrona.
Rasselas, Prince of Abyssinia – Samuel Johnson
Eu adorei “Candido” quando li, anos atrás, e Voltaire foi um dos filósofos que mais estudei. Mas quão superior é Dr. Johnson ao tratar de tema parecido! Seu Rasselas tem mais tato, maturidade e delicadeza do que o irreverente Candido, com seu humor ácido contra o eterno otimista Pangloss. Tracei um paralelo entre ambos aqui.
Os piores dias de minha vida foram todos – Evandro Affonso Ferreira
Um livro que mexe com a gente. Tocante, e ao navegar por tantas desgraças, acaba por nos mostrar que a imaginação da literatura pode ser libertadora. Escrevi sobre isso aqui.
Oeste: a guerra do jogo do bicho – Alexandre Fraga
Uma grata surpresa! Um policial que se mostra um talentoso escritor de romances, sendo que essa ficção imita tanto a realidade que ambas se confundem. Fiz uma resenha aqui, e recomendo.
A ilha do dr. Moreau – H.G. Wells
Os clássicos não são clássicos à toa. Uma leitura espetacular, que gerou esse texto sobre as várias interpretações possíveis dessa distopia.
Extinção – Thomas Bernhard
Meu amigo Bruno Garshagen recomendou essa leitura, e quando algumas pessoas dão recomendações, para mim é um imperativo categórico kantiano. Fui direto à livraria e comecei a leitura. Quis esganar o amigo no começo. O que eram aquelas repetições todas de adjetivos? Contei mais de 20 “sardônicos” numa só página. E a ausência de parágrafos? Uma incontinência verbal típica de um analisando no divã. Leitura densa, difícil, quase arrastada. Você fica exausto. Tive de intercalar com leituras mais leves, confesso. Mas compensou! Um livro do qual não dá para sair indiferente. O autor te arrasta para suas emoções carregadas, para sua visão elitista e sofisticada de mundo, mas repleta de traumas familiares. Uma das leituras mais marcantes de 2014, sem dúvida. Obrigado, Bruno! 
A balada de Adam Henry – Ian McEwan
Excelente o último livro do escritor britânico. Trata, como tem sido de praxe, do obscurantismo religioso, quando o fanatismo impede decisões mais racionais. Mas com tato e sensibilidade. Escrevi um texto com base na leitura.
Filosofia e Política
Litter: The Remains of our Culture – Theodore Dalrymple
2014 foi um ano em que mergulhei ainda mais nos pensamentos lúcidos do psiquiatra britânico Anthony Daniels, mais conhecido como Theodore Dalrymple. Como o leitor poderá constatar, foram vários livros do mesmo autor na lista. E todos altamente recomendados! Dalrymple é, sem dúvida, uma das minhas principais influências intelectuais na fase atual mais conservadora.
A política da prudência – Russell Kirk
Ainda na toada mais conservadora, esse clássico de Kirk é sensacional. Rendeu-me alguns textos, como esse resumo sobre os principais valores do conservadorismo, esse ataque aos libertários dogmáticos, e essa dura crítica aos neoconservadores.
The Rational Optimist – Matt Riddley
Um dos livros preferidos do meu amigo Leandro Narloch, e não é para menos. O autor escreve com leveza, mas profunda bagagem histórica e cultural, mostrando como as trocas foram fundamentais para a evolução cultural de nossa espécie. Escrevi alguns textos com base no livro, entre eles este aqui, sobre o ambientalismo.
A cabra vadia – Nelson Rodrigues
Essas coletâneas de textos das décadas de 1960 e 1970 de Nelson Rodrigues são imperdíveis. Faltava esse livro na lista. Que escritor! Que estilo! Que ironia! E que inteligência!
The Wilder Shores of Marx – Theodore Dalrymple
Não vou me alongar quando se trata de Dalrymple. Apenas reforçar o apelo: leiam seus livros! Esse é sobre sua experiência incrível em países sob o comunismo, que ele visitou para conhecer de perto aquilo que abominava teoricamente. 
The Intolerance of Tolerance – D.A. Carson
Uma das grandes leituras do ano. O politicamente correto está destruindo o mundo, e os “tolerantes” se revelam, na prática, os mais intolerantes de todos. O livro é um “must” para compreender melhor como o ódio às religiões se mascara hoje de “tolerância laica”. Escrevi umartigo para o GLOBO com base no ótimo livro.
What is Marriage? – Sherif Girgis, Ryan Anderson & Robert George
Um livro muito interessante, que defende o casamento tradicional sem apelar tanto para conceitos religiosos. Fiz uma resenha aqui.
Our Culture, What’s Left of It – Theodore Dalrymple
Preciso repetir? Mesmo? Leiam Dalrymple! Esse é um de seus melhores livros, uma coletânea de textos que mostra a decadência cultural do mundo moderno. Leitura fundamental para quem deseja preservar o que temos de bom, o estoque de cultura e conhecimento, o legado dos antepassados, o que chamamos de civilização.
Adam and Eve after the Pill – Mary Eberstadt
Uma leitura provocante, que mexe com certas “vacas sagradas” de hoje, e que me rendeu dois textos que julgo interessantes: um deles sobre o lado negro da revolução sexual, e o outro sobre um paralelo curioso entre comida e sexo.
Lee Kuan Yew: The Grand Master’s Insights – Graham Allison
Cingapura vive sob o regime de um “déspota esclarecido”? Como compreender o sucesso impressionante do ponto de vista econômico desse lugar fantástico na Ásia? O livro faz um resumo do pensamento político e ideológico do “pai fundador” de Cingapura, e recebeu uma resenha minha aqui.
História e Utopia – Cioran
Luiz Felipe Pondé adora, então tinha que ler alguma coisa de Cioran. Pessimismo quase niilista, algo que provoca sensações lúgubres no leitor. Mas necessário, talvez. Comentei aqui sobre esse Nietzsche da Romênia.
Beauty: A Very Short Introduction – Roger Scruton
Em um mundo não só repleto de coisas feias, mas que enaltece tanta feiúra, esse pequeno livro de Scruton é um bálsamo em nossas vidas. Acabei a leitura e fui direto para a ação, escrever umtexto em defesa da beleza.
As ideias conservadoras – João Pereira Coutinho
Sou fã do “portuga”, não perco uma de suas colunas na Folha, e já tinha lido sua coletânea de artigos antes. Claro que não perderia por nada seu livro resumindo as ideias conservadoras. E é mesmo excelente. Resenhei para o GLOBO o livro, e o recomendo muito.
Planeta Azul em Algemas Verdes – Václav Klaus
Em época de histeria com o aquecimento global e embusteiros como Al Gore tratados como santos abnegados, essa é uma leitura fundamental. Fiz uma resenha para o GLOBO também.
The War on Men – Suzanne Venker
O feminismo perdeu completamente a linha, e hoje virou uma caricatura do que foi no passado. Uma guerra contra os homens, basicamente. Esse pequeno livro mostra justamente isso, e fiz uma resenha aqui.
O jeitinho brasileiro – Lívia Barbosa
Ainda não tinha lido o clássico de nossa sociologia da malandragem, e é um bom livro. Talvez seja complacente demais com o jeitinho, ao enxergar um lado positivo que desconfio ser exagerado. Mas é importante para conhecer melhor nossa característica mais marcante como povo, e responsável por esse atraso todo.
A era do ressentimento – Luiz Felipe Pondé
Sou fã de Pondé, não perco uma de suas colunas na Folha, e leio todos os seus livros. Esse pequeno livro é mais um soco no estômago dos “inteligentinhos”. Coloquei algumas passagensaqui.
A técnica e o riso – Roberto Campos
“Lanterna na Popa” é um dos melhores livros que já li, e a inteligência de Roberto Campos é admirável. Mas ainda não tinha lido essa pequena coletânea de textos. Recomendo, como recomendo tudo de Campos.
Nunca antes na diplomacia… – Paulo Roberto de Almeida
O Itamaraty sob o lulopetismo virou uma piada de mau gosto, com forte viés ideológico. O diplomata Paulo Roberto de Almeida toca na ferida, fala com conhecimento de causa sobre essa mudança lamentável em nossa política externa. O livro rendeu vários textos ao blog, como esseaqui.
Não é a mamãe – Guilherme Fiuza
Adoro a ironia de Fiuza, e já tinha lido todos os textos do livro. Ainda assim, a leitura deles todos em sequência é impressionante, pois faz um relato do apagão intelectual do Brasil moderno. Fiz uma resenha para o GLOBO.
Not with a bang but a whimper – Theodore Dalrymple
Lá vou eu novamente: leiam Dalrymple! Seus livros sempre me inspiram a escrever vários textos. Esse rendeu, por exemplo, um ataque à falsa compaixão de certas pessoas.
Contra a perfeição – Michael Sandel
Gosto de ler livros de autores inteligentes de quem discordo. Acontece isso com os livros de Sandel, professor de filosofia em Harvard. Os três que li produziram ótimas reflexões, mesmo que não necessariamente concordando com suas conclusões. Esse último fala sobre esse impulso prometeico que é carregado de perigos, e que comentei aqui.
O nobre deputado – Márlon Reis
Quer ter uma boa ideia da podridão dos bastidores de nossa política? Então esse livrinho é uma boa pedida. Fiz um resumo aqui.
A busca pela imortalidade – John Gray
A obsessão da busca pela imortalidade acompanha dos homens há muito tempo, pois suportar a finitude da vida não é para todos. O filósofo John Gray trata do assunto nesse novo livro, que comentei aqui.
Biografia e História
Do que eu falo quando eu falo de corrida – Haruki Murakami
Esse livro destoa dos demais do escritor japonês, pois é uma espécie de autobiografia que mistura sua obsessão pela corrida com seu estilo de escrever. Detesto auto-ajuda, e não é disso que se trata. Mas digo que voltei a correr com mais regularidade após a leitura, que comentei aqui.
O Marxismo e a questão racial – Carlos Moore
O cubano negro e de esquerda é um incômodo para nossa esquerda, pois mostra como o regime cubano é racista na prática. Escrevi sobre isso no GLOBO.
Simón Bolívar – Karl Marx
A biografia que Marx escreveu sobre Bolívar deixa claro uma coisa: é possível ser marxista, e é possível ser bolivariano; mas é impossível ser ambos! Escrevi um texto para o GLOBO com base no livro.
A palavra pintada – Tom Wolfe
A história da arte contemporânea é também a história da destruição da arte. O crítico Tom Wolfe detona as tendências modernas nesse pequeno livro, que comentei aqui.
1789: A história de Tiradentes – Pedro Doria
Tiradentes é uma figura controversa, e biografias sobre ele sempre podem acrescentar algo novo. Pedro Doria fez um bom trabalho, e comentei aqui seu livro.
Darwin: Retrato de um Gênio – Paul Johnson
Paul Johnson está se especializando em pequena biografias que condensam o mais relevante dessas importantes figuras históricas. Foi o que fez nesse livro sobre Darwin, comentado por mimaqui.
A vida secreta de Fidel – Juan Reinaldo Sánchez
Como tem gente que ainda consegue admirar esse psicopata chamado Fidel Castro? Um espanto. Essa biografia escrita por ninguém menos que seu ex-segurança particular derruba mais um mito do líder cubano: sua suposta simplicidade. O homem vive como um nababo. O nababo do Caribe, como chamei em resenha para o GLOBO.
É isto um homem? – Primo Levi
Um relato comovente dos dias de campo de concentração, que nos remete ao absurdo de que os homens são capazes. Acabei visitando o Museu do Holocausto agora em dezembro, e o livro não saía de minha cabeça. Imperdível.
Sob pressão – Marcio Maranhão
A autobiografia de um médico jovem trabalhando na loucura do SUS é um importante relato da decadência de nossa saúde pública. Merece ser lido por todos os brasileiros. Escrevi uma resenhaaqui.
Um país chamado Favela – Renato Meirelles & Celso Athayde
Não preciso destacar apenas as melhores leituras. Aquelas que geraram discordância também são importantes, em nome do debate civilizado em prol de um país melhor. Foi o caso com esse livro, que rebati aqui.
Caráter e Liderança – Luiz Felipe D’Ávila
Já tinha lido “Os Virtuosos”, e gostado muito. Mas D’Ávila se superou nesse livro, com ótimas biografias de noves estadistas brasileiros. Uma leitura que tenta manter nossa esperança viva. Comentei aqui sobre ele.
Tudo ou nada – Malu Gaspar
A biografia de Eike Batista escrita por Malu Gaspar está excelente, e parece o roteiro pronto para um excelente filme, nos moldes de “O lobo de Wall Street”. Fiz uma resenha para o GLOBO.
Educação
Maquiavel pedagogo – Pascal Bernardin
Uma leitura fundamental para quem acha que é papo de paranoico falar em doutrinação ideológica no sistema educacional em nível mundial. A pedagogia virou um instrumento poderoso de disseminação do esquerdismo. Resenhei o livro aqui.
Education in a Free Society – Liberty Fund
Uma ótima coletânea de textos de autores conservadores e liberais sobre o que é uma educação livre e como a intervenção estatal costuma prejuficá-la.
The Voice of Liberal Learning – Michael Oakeshott
O livro nos leva pela tese do autor conservador de que civilização é uma grande “conversação” entre diferentes povos e culturas. Escrevi sobre isso aqui.
Repensar a educação – Inger Enkvist
O livro procura resgatar os conceitos tradicionais de uma boa educação, perdidos na atualidade. Escrevi uma resenha aqui.
É isso, caros leitores. Foram bons livros, agregando sempre mais conhecimento, despertando reflexões, estimulando a sensibilidade e a imaginação. Que em 2015 venham outros livros excelentes para enriquecer nossas vidas!
Rodrigo Constantino

Monday, October 27, 2014

Um Domingo Para Sempre - Gustavo H. B. Franco - O Estado de S. Paulo - 26/10/2014

Um domingo para sempre

Gustavo H. B. Franco, O Estado de S. Paulo, 26/10/14
Há tempos não temos um dia tão importante como hoje, domingo de eleição, 26 de outubro, dia de São Evaristo, um dos primeiros papas, o quarto sucessor de Pedro. Ontem, todavia, pasmem, foi dia de São Crispim, padroeiro dos sapateiros, e sobretudo das batalhas heroicas e vitórias impossíveis contra forças numericamente superiores. Que extraordinária coincidência, ou presságio!
Hoje vai ser daqueles dias cujos pequenos detalhes vão fervilhar na sua memória pelo resto dos tempos. Terá a névoa dos dias históricos desde o seu amanhecer, e assim permanecerá por muitos anos a fio. Mas você lembrará das minúcias de seu café da manhã, dos sonhos confusos de ontem, noite mal dormida como costuma ocorrer com a véspera de grandes eventos. Ou não, pois, na vida real, geralmente não há sinais exteriores, coros e orquestras a lhe alertar sobre a presença dos deuses da História. A memória se encarrega dos agouros ex post facto.
Daqui para o final da vida, espero lembrar com serena alegria deste dia de São Evaristo, quando cumprimos com heroísmo uma importante obrigação com o bem-estar de nossos filhos e netos. A cada ano, nesta data, eles vão lhe perguntar sobre seus atos de bravura diante de patrulhas mal-humoradas e irascíveis e você responderá que, sim, eles pareciam em maior número, mais aguerridas e profissionais, e mais bem treinadas em táticas de guerra psicológica, confrontos de rua e nas redes sociais. Que falavam muito, quase sempre insistentes, a um passo da insolência, arrogantemente embrulhados numa falsa superioridade moral autoconferida. Que não ouviam suas palavras, que eram amiúde violentos e mal-educados e que contavam com as poderosas estruturas da máquina governamental, longamente azeitadas para este encontro naquele domingo.
Muitos de nós ficam intimidados pela selvageria dos combates, pois assim é a guerra, nunca foi diferente, não vamos idealizar. Mas é preciso lembrar que nessa guerra as maiorias silenciosas sempre vencem, e por isso mesmo saia de casa pensando que somos poucos (e ingênuos) apenas na aparência. São muitos como você, que não gostam de bravatas e imposições, que votam de forma discreta e independente. Sobretudo, e mais importante que tudo, lembre-se que somos maioria.
No futuro, você lembrará com satisfação que neste domingo, como em todos os outros em que há futebol, o jogo foi ganho dentro das quatro linhas. E que a partida só começou mesmo quando o escurinho da cabine lhe proporcionou a necessária proteção contra o festival de apoquentações e mentiras desabando sobre todos nós como flechas em quantidade para criar uma nuvem a encobrir a luz do sol.
Mas o dia de São Evaristo ainda está no presente, e será celebrado por muitos anos, com alívio ou com pesar, a depender do resultado da batalha. No futuro, quando o Brasil estiver entre os países desenvolvidos, será com orgulho que você exibirá as cicatrizes e mágoas desses últimos dias, perdoadas no momento em que você apertar a tecla verde, mas jamais esquecidas.
Alternativamente, se o Brasil estiver mais parecido com a Argentina e a Venezuela, como de fato se passou entre 2009 e 2014, seus amigos vão querer saber onde você estava nesse dia de São Evaristo.
A depender do desfecho desse domingo do tamanho de uma década, talvez se estabeleça uma Comissão da Verdade Fiscal, com o intuito de desbaratar a confusão contábil e administrativa com o dinheiro público feita nos últimos anos, uma barafunda sem tamanho da qual vimos muito pouco. É lamentável que esses assuntos definidos como “técnicos” ou “propositivos” tenham sido ardilosamente evitados quando, por obra deles, a batalha foi deslocada para o terreno baixo das acusações pessoais.
Por isso queria usar esta última oportunidade para lhe soprar, sobre a economia, nada mais que uma ideia e um número, coisa rápida.
A ideia: o desrespeito ao dinheiro público não é keynesianismo nem estruturalismo, mas improbidade, simples assim, e representa a forma mais direta de corromper a moeda. O descaso com as contas públicas é a mãe de todas as corrupções, e um péssimo exemplo para as condutas de todos à volta das autoridades econômicas, como estamos efetivamente assistindo.
Guarde apenas um número para pensar a caminho da urna: a dívida pública interna chegou a incríveis R$ 3 trilhões. Acostume-se com o trilhão! E pior: cerca de um terço dessa dívida “encalhou”, ou seja, não consegue ser rolada pelo Tesouro.
A Grécia quebrou por dificuldades de rolagem de dívida proporcionalmente menores, e por que não tinha um banco central como o nosso que pode absorver R$ 1 trilhão em dívida sem comprador (via operações compromissadas) tornando letra morta o Artigo 164 da Constituição que proíbe o Banco Central de financiar o Tesouro. Devíamos ter discutido isso durante a campanha, não é mesmo?
O desastre com as contas públicas trouxe de volta a inflação, lamento informar, mas que esperar quando os amigos da inflação estão no poder?
Lembre-se que nunca se encontra um defensor da poluição, mas sempre muitos críticos às estratégias mais substantivas de combate às emissões de carbono. Da mesmíssima forma, é rara, entre os economistas heterodoxos, a defesa aberta da inflação, embora seja muitíssimo frequente a crítica à estabilização “ortodoxa” ou à “austeridade”. Como a “estabilização heterodoxa” se parece com um unicórnio, não é tão difícil encontrar os ideólogos da inflação entre os críticos, por exemplo, do Plano Real. Quem são eles?
Sobre o real, o ministro Mantega disse que “essa estratégia neoliberal de controle da inflação, além de ser burra e ineficiente, é socialmente perversa”. Segundo Mercadante, “o PT não aderiu ao plano por profundas discordâncias com a concepção neoliberal que o inspira”. Para Conceição Tavares, “o Plano Real foi feito para os que têm a riqueza do País, especialmente o sistema financeiro”. Para o “diplomata” Marco Aurélio Garcia, o Plano Real era como um “relógio Rolex desses que se compra no Paraguai e têm corda para um dia só”.
São esses os personagens que tocam a economia. Eles nunca entenderão a relação entre moeda e cidadania, e que a moeda é como a bandeira e o hino, uma parte da nossa identidade.
Na Alemanha de 1923, a inflação foi o veneno que terminou com a democracia, o berçário do fascismo. Aqui o impacto foi diferente, mais sutil: a inflação proporcionou enorme impulso à cultura da malandragem, dos canais privilegiados, da seletividade, do clientelismo e da corrupção. A leniência com a inflação transmite esses “valores” de forma muito ampla para a sociedade, e assim a corrupção se torna uma consequência natural da inflação, sua irmã mais recolhida e circunspecta, mas muito ativa.
Vista as cores da bandeira e tome o caminho da urna pensando em seu livre-arbítrio, e sobre o modo como você vai comemorar São Evaristo e São Crispim no restante de seus dias. Bons votos!

Monday, July 14, 2014

A Máscara do Gigante - Jornal El Pais - Mario Vargas Llosa - 12/07/2014


A máscara do gigante

O mito da seleção Canarinho nos fazia sonhar formosos sonhos. Mas no futebol, assim como na política, é mau viver sonhando e sempre preferível se ater à verdade, por mais dolorosa que seja

Fiquei muito envergonhado com a cataclísmica derrota do Brasil frente à Alemanha na semifinal da Copa do Mundo, mas confesso que não me surpreendeu tanto. De um tempo para cá, a famosa seleção Canarinho se parecia cada vez menos com o que havia sido a mítica esquadra brasileira que deslumbrou a minha juventude, e essa impressão se confirmou para mim em suas primeiras apresentações neste campeonato mundial, onde a equipe brasileira ofereceu uma pobre figura, com esforços desesperados para não ser o que foi no passado, mas para jogar um futebol de fria eficiência, à maneira europeia.
Nada funcionava bem; havia algo forçado, artificial e antinatural nesse esforço, que se traduzia em um rendimento sem graça de toda a equipe, incluído o de sua estrela máxima, Neymar. Todos os jogadores pareciam sob rédeas. O velho estilo – o de um Pelé, Sócrates, Garrincha, Tostão, Zico – seduzia porque estimulava o brilho e a criatividade de cada um, e disso resultava que a equipe brasileira, além de fazer gols, brindava um espetáculo soberbo, no qual o futebol transcendia a si mesmo e se transformava em arte: coreografia, dança, circo, balé.
Os críticos esportivos despejaram impropérios contra Luiz Felipe Scolari, o treinador brasileiro, a quem responsabilizaram pela humilhante derrota, por ter imposto à seleção brasileira uma metodologia de jogo de conjunto que traía sua rica tradição e a privava do brilhantismo e iniciativa que antes eram inseparáveis de sua eficácia, transformando seus jogadores em meras peças de uma estratégia, quase em autômatos.
Não houve nenhum milagre nos anos de Lula, e sim uma miragem que agora começa a se dissipar
Contudo, eu acredito que a culpa de Scolari não é somente sua, mas, talvez, uma manifestação no âmbito esportivo de um fenômeno que, já há algum tempo, representa todo o Brasil: viver uma ficção que é brutalmente desmentida por uma realidade profunda.
Tudo nasce com o governo de Luis Inácio 'Lula' da Silva (2003-2010), que, segundo o mito universalmente aceito, deu o impulso decisivo para o desenvolvimento econômico do Brasil, despertando assim esse gigante adormecido e posicionando-o na direção das grandes potências. As formidáveis estatísticas que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística difundia eram aceitas por toda a parte: de 49 milhões os pobres passaram a ser somente 16 milhões nesse período, e a classe média aumentou de 66 para 113 milhões. Não é de se estranhar que, com essas credenciais, Dilma Rousseff, companheira e discípula de Lula, ganhasse as eleições com tanta facilidade. Agora que quer se reeleger e a verdade sobre a condição da economia brasileira parece assumir o lugar do mito, muitos a responsabilizam pelo declínio veloz e pedem uma volta ao lulismo, o governo que semeou, com suas políticas mercantilistas e corruptas, as sementes da catástrofe.
A verdade é que não houve nenhum milagre naqueles anos, e sim uma miragem que só agora começa a se esvair, como ocorreu com o futebol brasileiro. Uma política populista como a que Lula praticou durante seus governos pôde produzir a ilusão de um progresso social e econômico que nada mais era do que um fugaz fogo de artifício. O endividamento que financiava os custosos programas sociais era, com frequência, uma cortina de fumaça para tráficos delituosos que levaram muitos ministros e altos funcionários daqueles anos (e dos atuais) à prisão e ao banco dos réus.
As alianças mercantilistas entre Governo e empresas privadas enriqueceram um bom número de funcionários públicos e empresários, mas criaram um sistema tão endiabradamente burocrático que incentivava a corrupção e foi desestimulando o investimento. Por outro lado, o Estado embarcou muitas vezes em operações faraônicas e irresponsáveis, das quais os gastos empreendidos tendo como propósito a Copa do Mundo de futebol são um formidável exemplo.
O governo brasileiro disse que não havia dinheiro público nos 13 bilhões que investiria na Copa do Mundo. Era mentira. O BNDES (Banco Brasileiro de Desenvolvimento Econômico e Social) financiou quase todas as empresas que receberam os contratos para obras de infraestrutura e, todas elas, subsidiavam o Partido dos Trabalhadores, atualmente no poder. (Calcula-se que para cada dólar doado tenham obtido entre 15 e 30 em contratos).
As obras da Copa foram um caso flagrante de delírio e irresponsabilidade
As obras em si constituíam um caso flagrante de delírio messiânico e fantástica irresponsabilidade. Dos 12 estádios preparados, só oito seriam necessários, segundo alertou a própria FIFA, e o planejamento foi tão tosco que a metade das reformas da infraestrutura urbana e de transportes teve de ser cancelada ou só será concluída depois do campeonato. Não é de se estranhar que o protesto popular diante de semelhante esbanjamento, motivado por razões publicitárias e eleitoreiras, levasse milhares e milhares de brasileiros às ruas e mexesse com todo o Brasil.
As cifras que os órgãos internacionais, como o Banco Mundial, dão na atualidade sobre o futuro imediato do país são bastante alarmantes. Para este ano, calcula-se que a economia crescerá apenas 1,5%, uma queda de meio ponto em relação aos dois últimos anos, nos quais somente roçou os 2%. As perspectivas de investimento privado são muito escassas, pela desconfiança que surgiu ante o que se acreditava ser um modelo original e resultou ser nada mais do que uma perigosa aliança de populismo com mercantilismo, e pela teia burocrática e intervencionista que asfixia a atividade empresarial e propaga as práticas mafiosas.
Apesar de um horizonte tão preocupante, o Estado continua crescendo de maneira imoderada – já gasta 40% do produto bruto – e multiplica os impostos ao mesmo tempo que as “correções” do mercado, o que fez com que se espalhasse a insegurança entre empresários e investidores. Apesar disso, segundo as pesquisas, Dilma Rousseff ganhará as próximas eleições de outubro, e continuará governando inspirada nas realizações e logros de Lula.
Se assim é, não só o povo brasileiro estará lavrando a própria ruína, e mais cedo do que tarde descobrirá que o mito sobre o qual está fundado o modelo brasileiro é uma ficção tão pouco séria como a da equipe de futebol que a Alemanha aniquilou. E descobrirá também que é muito mais difícil reconstruir um país do que destruí-lo. E que, em todos esses anos, primeiro com Lula e depois com Dilma, viveu uma mentira que seus filhos e seus netos irão pagar, quando tiverem de começar a reedificar a partir das raízes uma sociedade que aquelas políticas afundaram ainda mais no subdesenvolvimento. É verdade que o Brasil tinha sido um gigante que começava a despertar nos anos em que governou Fernando Henrique Cardoso, que pôs suas finanças em ordem, deu firmeza à sua moeda e estabeleceu as bases de uma verdadeira democracia e uma genuína economia de mercado. Mas seus sucessores, em lugar de perseverar e aprofundar aquelas reformas, as foram desnaturalizando e fazendo o país retornar às velhas práticas daninhas.
Não só os brasileiros foram vítimas da miragem fabricada por Lula da Silva, também o restante dos latino-americanos. Por que a política externa do Brasil em todos esses anos tem sido de cumplicidade e apoio descarado à política venezuelana do comandante Chávez e de Nicolás Maduro, e de uma vergonhosa “neutralidade” perante Cuba, negando toda forma de apoio nos organismos internacionais aos corajosos dissidentes que em ambos os países lutam por recuperar a democracia e a liberdade. Ao mesmo tempo, os governos populistas de Evo Morales na Bolívia, do comandante Ortega na Nicarágua e de Correa no Equador – as mais imperfeitas formas de governos representativos em toda a América Latina – tiveram no Brasil seu mais ativo protetor.
Por isso, quanto mais cedo cair a máscara desse suposto gigante no qual Lula transformou o Brasil, melhor para os brasileiros. O mito da seleção Canarinho nos fazia sonhar belos sonhos. Mas no futebol, como na política, é ruim viver sonhando, e sempre é preferível – embora seja doloroso – ater-se à verdade.

Tuesday, June 03, 2014

O governo acabou - Marco Antonio Villa - Jornal O Globo de 03/06/2014



O governo Dilma definha a olhos vistos. Caminha para um fim melancólico. Os agentes econômicos têm plena consciência de que não podem esperar nada de novo. Cada declaração do ministro da Fazenda é recebida com desdém. As previsões são desmentidas semanas depois. Os planos não passam de ideias ao vento. O governo caiu no descrédito. Os ministérios estão paralisados. O que se mantém é a rotina administrativa. O governo se arrasta como um jogador de futebol, em fim de carreira, aos 40 minutos do segundo tempo, em uma tarde ensolarada.
Apesar do fracasso — e as pífias taxas de crescimento do PIB estão aí para que não haja nenhum desmentido —, Dilma é candidata à reeleição. São aquelas coisas que só acontecem no Brasil. Em qualquer lugar do mundo, após uma pálida gestão, o presidente abdicaria de concorrer. Não aqui. E, principalmente, tendo no governo a máquina petista que, hoje, só sobrevive como parasita do Estado.
A permanência no poder é a essência do projeto petista. Todo o resto é absolutamente secundário. O partido necessita da estrutura estatal para financeiramente se manter e o mesmo se aplica às suas lideranças — além dos milhares de assessores.
É nesta conjuntura que o partido tenta a todo custo manter o mesmo bloco que elegeu Dilma em 2010. E tem fracassado. Muitos dos companheiros de viagem já sentiram que os ventos estão soprando em sentido contrário. Estão procurando a oposição para manter o naco de poder que tiveram nos últimos 12 anos. O desafio para a oposição é como aproveitar esta divisão sem reproduzir a mesma forma de aliança que sempre condenou.
Como o cenário político foi ficando desfavorável à permanência do petismo, era mais que esperada a constante presença de Lula como elemento motivador e agregador para as alianças. Sabe, como criador, que o fracasso eleitoral da criatura será também o seu. Mas o sentimento popular de enfado, de cansaço, também o atingiu. O encanto está sendo quebrado, tanto no Brasil como no exterior. Hoje suas viagens internacionais não têm mais o apelo do período presidencial. Viaja como lobista utilizando descaradamente a estrutura governamental e intermediando negócios nebulosos à custa do Erário.
Se na campanha de 2010 era um presidente que pretendia eleger o sucessor, quatro anos depois a sua participação soa estranha, postiça. A tentativa de transferência do carisma fracassou. Isto explica por que Lula tem de trabalhar ativamente na campanha. Dilma deve ficar em um plano secundário quando o processo eleitoral efetivamente começar. Ela não tem o que apresentar. O figurino de faxineira, combatente da corrupção, foi esquecido. Na história da República, não houve um quadriênio com tantas acusações de “malfeitos” e desvios bilionários, como o dela. O figurino de gerentona foi abandonado com a sucessão de “pibinhos”. O que restou? Nada.
Lula está como gosta. É o centro das atenções. Acredita que pode novamente encarnar o personagem de Dom Sebastião. Em um país com uma pobre cultura democrática, não deve ser desprezada a sua participação nas eleições.
A paralisia política tem reflexos diretos na gestão governamental. As principais obras públicas estão atrasadas. Boa parte delas, além do atraso, teve majorados seus custos. Em três anos e meio, Dilma não conseguiu entregar nenhuma obra importante de infraestrutura. Isto em um país com os conhecidos problemas nesta área e que trazem sérios prejuízos à economia. Mas quando a ideologia se sobrepõe aos interesses nacionais não causa estranheza o investimento de US$ 1 bilhão na modernização e ampliação do porto de Mariel. Ou seja, a ironia da história é que a maior ação administrativa do governo Dilma não foi no Brasil, mas em Cuba.
Os investimentos de longo prazo foram caindo, os gastos para o desenvolvimento de educação, ciência e tecnologia são inferiores às necessidades de um país com as nossas carências. Não há uma área no governo que tenha cumprido suas metas, se destacado pela eficiência e que o ministro — alguém lembra o nome de ao menos cinco deles? — tenha se transformado em referência, positiva, claro, pois negativa não faltam candidatos.
O irresponsável namoro com o populismo econômico levou ao abandono das contas públicas, das metas de inflação e ao desequilíbrio das tarifas públicas. Basta ver o rombo produzido no setor elétrico. A ação governamental ficou pautada exclusivamente pela manutenção do PT no poder. As intervenções estatais impuseram uma lógica voluntarista e um estatismo fora de época. Basta citar as fabulosas injeções de capital — via Tesouro — para o BNDES e os generosos empréstimos (alguns, quase doações) ao grande capital. E a dívida pública, que está próxima dos R$ 2,5 trilhões?
No campo externo as opções escolhidas pelo governo foram as piores possíveis. Mais uma vez foi a ideologia que deu o tom. Basta citar um exemplo: a opção preferencial pelo Mercosul. Enquanto isso, o eixo dinâmico da economia mundial está se transferindo para a região Ásia-Pacífico.
Ainda não sabemos plenamente o significado para o país desta gestão. Mas quando comparamos os nossos índices de crescimento do PIB com os dos países emergentes ou nossos vizinhos da América Latina, o resultado é assustador. É possível estimar que no quadriênio Dilma a média sequer chegue a 2%. A média dos emergentes é de 5,2%, e da América Latina, de 3,2%. E o governo Dilma ainda tem mais sete meses pela frente. Meses de paralisia econômica. Haja agonia.
Marco Antonio Villa é historiador