Sunday, January 25, 2009

AS ORELHAS DO COELHO. OU: É FEIO CITAR O QUE NÃO LEU - Blog do Reinaldo Azevedo - 25/01/2009

Marcelo Coelho revela, em posts que ninguém lê, a sua real natureza. Seu blog se arrasta na indigência, e a meia-dúzia de comentários que há lá decorrem de eu lhe ter dado visibilidade aqui. Coelho é um dinossauro que tem o mau hábito de citar livros que não leu, expediente comum numa imprensa crescentemente ignorante. Bastou que eu debochasse um pouquinho dele — e debocho porque ele não tem um pensamento a se levar a sério —, e o fofucho felpudo se torna bastante sanguinolento. Bingo! Como queríamos demonstrar. E pode descambar também para a vigarice.

Acusa-me de extremista de direita, de tucano (as duas coisas ao mesmo tempo???) e de violento. Suave é ele, que admitiu ter escrito um texto que pede o banimento de pessoas de quem discorda. Dois dos articulistas que ele ataca estupidamente, sem dizer por quê (queria agredir as pessoas, não suas idéias), são seus colegas de jornal. ELE ESTÁ NUMA GUERRA INTERNA. O Ligatchov quer expulsar da Folha o que restou do pensamento que ele considera reacionário. Pior: ele quer se livrar do que chama “pessimismo sombrio”.

Sua crítica — que, reitero, não tem um alvo — é tanto mais especiosa porque ele é membro do Conselho Editorial do jornal. Estaria (na verdade, está) eticamente obrigado, já que decidiu escrever a respeito, a dizer quais são as opiniões de João Pereira Coutinho e de Luiz Felipe Pondé que o incomodam. Mas ele não diz. Flagrado e exposto por mim, finge que a guerra é comigo. Mas não é.

Em sua glossolalia destrambelhada, escreve a meu respeito: “Quando um articulista sustenta que, diante do Hamas, não há saída a não ser bombas sobre criancinhas, e quando afirma que, diante do terrorismo, podem ser ingênuos os que criticam a tortura, suas opiniões me parecem supérfluas, porque qualquer comunicado militar é capaz de dizer o mesmo; e, se não disser, pouco importa, porque presos continuarão a ser torturados e criancinhas continuarão a ser vítimas de mísseis.”

DEIXE DE SER LIGEIRO E VIGARISTA, RAPAZ! Aponte em que texto sustento que, “diante do Hamas, não há saída a não ser bombas sobre criancinhas” ou que “podem ser ingênuos os que criticam a tortura”. Como eu não escrevi isso e como não penso isso, ISSO É COISA DE MENTIROSO! Se eu usasse o seu mesmo método de argumentação, poderia inferir que, no trecho acima, Coelho sente falta de maior efetividade dos foguetes do Hamas em Israel: matassem eles também as criancinhas judias, e o senso de proporcionalidade de Coelho estaria apaziguado.

Agora entendo por que ele escreveu um artigo na Folha pedindo a cabeça dos adversários e nem mesmo se dignou a dizer quais são as suas discordâncias. Pra quê? O representante do Comando de Caça aos Direitistas combate as idéias que ele atribui a seus desafetos.

Se o primeiro texto buscava cassar seus “inimigos” na Folha, o último tem o objetivo de defender o PT. E, claro, nada melhor do que me acusar, então, de tucano. Vamos ao que ele escreve:

Mas talvez eu esteja errado. Reinaldo Azevedo não é supérfluo. Aliás, do seu ponto de vista, sua cruzada é insubstituível, uma vez que a realidade e o poder estão nas mãos de "petralhas".
São os "petralhas" os donos do poder, são eles que atravancam o progresso, são eles que promovem a ignorância.
Simplesmente não acredito nisso. Acho, como Raymundo Faoro, que os "donos do poder" têm origens mais antigas, e que o PT, inicialmente organizado como uma força capaz de contestá-los, aliou-se a eles. É uma visão de esquerda do processo político brasileiro.
Será que é mais razoável a visão de direita? A de achar que o petismo estragou um programa que andava de modo excelente nas mãos de Fernando Henrique? Demonizar o PT e, pior que isso, santificar o PSDB, parece ser o propósito essencial de Reinaldo Azevedo.

É a visão do petismo a meu respeito. Que Marcelo Coelho a repita, parece-me ok. Mas vamos ao que interessa. Ele não leu Os Donos do Poder. Se o tivesse feito, não citaria o livro nesse contexto. Pode ter folheado. Pode até ter em casa os dois volumes. Pode ter lido outros que leram. Mas ele não leu. "Donos do poder", no Brasil, virou uma expressão-clichê. O estudo de Raymundo Faoro volta às origens Ibéricas da formação do patrimonialismo brasileiro — inclusive à formação do próprio estado português — e busca a herança cultural, moral e jurídica daquela história na nossa conformação.

Supor que os “donos do poder” de que fala Faoro possam ser permutáveis com os poderosos petistas é manifestação da mais espetacular ignorância sobre o livro que ele cita e, vejam só, até mesmo sobre o PT. Mais: um submarxista como Coelho citando Faoro é de fazer trincar as catedrais. Quando existia pensamento esquerdista organizado no país (não essas coelhices...), o livro era detestado justamente porque não autorizava o tipo de gesta que ele tentava levar adiante, liderada mais tarde pelo petismo. É MENTIRA, É IGNORÂNCIA ROMBUDA, afirmar que o PT tentou se organizar contra os “donos do poder” de que fala Faoro. A perspectiva petista era a da luta de classes — que passa a léguas do estudo do jurista e sociólogo. Submeto o que escrevo aqui a qualquer especialista na área. Vamos ver quem tem razão. Mentira e ligeireza.

Vocação
Marcelo Coelho deveria parar de tratar de assuntos sobre os quais não entende nada. A sua vocação está revelada neste post, que me foi enviado por um leitor. Vejam como ele consegue ser profundo, mimoso e terrivelmente subversivo:

“Tudo bem que programas de televisão ensinem as crianças a escovar os dentes, a respeitar os sinais de trânsito e a confiar em médicos e bombeiros. Mas fiquei assistindo com meu filho ao programa do Barney, no canal Discovery Kids, e acho que ali o impulso didático passa um bocado das medidas.
Quando meu filho era menor, ele adorava o Barney, imagino que justamente pelo fato que agora motiva minhas críticas: não há ficção naquele programa, só músicas e ensinamentos. Não se apela à imaginação ou a essa outra coisa bastante diferente da imaginação, que é a capacidade de representar ficcionalmente um ensinamento qualquer.
No programa de Barney, tudo é abertamente pedagógico e edificante. Não me oponho a isso, sabendo a que faixa etária a coisa se dirige. Mas quando Barney resolve dizer, a sua crédula platéia de crianças recrutadas nos mais variados estratos étnicos que compõem a população britânica, que devemos confiar em policiais, que os policiais estão aí para nos servir e para levar crianças perdidas ao colo de suas mães, tudo fica um pouco suspeito aos meus olhos.
Pior que isso. O simpático dinossauro roxo de espuma de borracha exclama, a um dado momento: “Policiais são maravilhosos!” Penso no sutil e nada ideológico espírito crítico do Manda-Chuva, às voltas com o Guarda Belo, nos desenhos animados dos anos 60, e concluo que o ambiente ficou terrivelmente sufocante hoje em dia. Há correção política no elenco multiétnico de Barney; mas o medo dos produtores diante de qualquer ironia, de qualquer espírito crítico, de qualquer leveza que os livre do intuito edificante, é ao mesmo tempo contrapeso e reiteração desse programa benfazejo.”

Leram? Se fizesse programa infantil, Coelho talvez optasse por algo na linha “Como Educar o Pequeno Petralha”. Na sua sede de subversão, ensinaria às criancinhas que devemos desconfiar dos policiais — vale dizer, das instituições. Imaginem, então, quando ele começasse a falar sobre Hamas e Israel... Coelho defende o método de educação empregado nos campos de reeducação do MST. Ou talvez se sentisse bem assistindo àqueles programas que a TV do Hamas leva ao ar em Gaza...

Agora chega, né, Coelhinho? Já tentou faturar demais às custas do meu blog. Coragem, rapaz! Corra em busca dos seus leitores.

Mas cuidado com a tartaruga.
Por Reinaldo Azevedo

Tuesday, January 20, 2009

O QUE VOCÊ NÃO LERÁ NA IMPRENSA HUMANISTA OCIDENTAL - Blog do Reinaldo Azevedo - 20/01/2009

Não será notícia nos jornais ocidentais. Procurei no sites noticiosos, e nada! Afinal, como sabemos, as “agências”, em matéria de Oriente Médio, só acreditam nas fontes do Hamas. Mas está lá, noticiado pelo Jerusalem Post. Tão logo Israel começou a deixar a Faixa de Gaza, os heróis dos Hamas cercaram seus adversários do Fatah — ou o que restou deles — seqüestraram-nos e os transferiram para escolas e hospitais, transformados em centros de interrogatório e tortura. Acusação: eles teriam atuado como espiões de Israel.

Uma fonte do Fatah em Ramallah, na Cisjordânia, afirmou que cerca de 100 de seus militantes foram mortos ou feridos pelo Hamas. Um representante da corrente em Gaza disse que pelos menos 80 de seus companheiros foram punidos com tiro nas pernas ou fratura nas mãos. “O que está acontecendo em Gaza é um novo massacre, protagonizado pelo Hamas contra o Fatah. Onde estavam esses covardes quando as forças israelenses estavam aqui?”

Segundo os militantes do Fatah, muitos de seus homens estão sendo capturados enquanto prestam assistência à população que enterra os mortos da guerra. Outros levam tiros nas pernas apenas por sorrir em público, o que é interpretado como satisfação pela ação israelense em Gaza. Em suma, o Hamas se impõe aos próprios palestinos por meio da tortura, da bala nas pernas, da fratura de membros e, claro, da morte. E não se vai ouvir um pio a respeito.

Parece que, na antiga ordem mundial, da qual muitos falam com saudade, quando “eles” lá se torturam entre eles, isso não tinha grande importância — desde que, do lado de cá, pudéssemos fazer vigorosos discursos de paz.

“Bem, Reinaldo, melhor do que intervenção e guerra, né? Talvez eles produzam menos cadáveres entre si, numa coisa, assim, bem lá deles”. É, talvez... Mas não me venham, então, falar em nome de alguma superioridade humanista.

Quanto ao Hamas, ademais, cumpre lembrar. Eles matam com gosto e requintes de crueldade o seu próprio povo, é verdade. Mas eles querem mesmo é acabar com Israel. Se não acabam porque não podem, não quer dizer que não queiram e não se mobilizem pra isso.

Ficarei aqui aguardando os protestos das entidades de defesa dos direitos humanos e dos representantes da ONU em Gaza contra o massacre de palestinos do Fatah promovido pelos palestinos do Hamas. Creio que não virão. A razão é simples: a ONU, em Gaza, é parceira dos terroristas. O dia hoje é particularmente interessante para dar essa notícia. Há quem queira que o terrorismo só existe porque falta diálogo.

A realidade mostrará que não. Até lá, muita lágrima e muita babaquice vão rolar debaixo da ponte das fantasias.
Por Reinaldo Azevedo

Friday, January 16, 2009

O REFÚGIO DO TERROR: UM EDITORIAL DO ESTADÃO QUE HONRA A IMPRENSA BRASILEIRA - Blog do Reinaldo Azevedo - 16/01/2009

Geralmente, o texto que abre as manhãs neste blog é da lavra deste escrevinhador. Mas hoje vou fazer uma pequena mudança. Critiquei duramente um artigo publicado no Estadão no domingo. Um professor fazia uma resenha que piscava um olho — e o outro também — para o terrorismo. Pois bem. O editorial do Estadão de hoje — que comenta a absurda decisão de Tarso Genro, concedendo refúgio político a um terrorista condenado à prisão perpétua na Itália — é VERDADEIRAMENTE MAIÚSCULO. Vou tirar uma cópia e deixá-lo sempre à mão, para que eu mesmo não me esqueça jamais de quais são os compromissos de um democrata. O jornal está de parabéns pela clareza e pela lucidez. Vocês hão de reconhecer muitos dos argumentos que vão abaixo porque eu mesmo já os esgrimi aqui. Nem cópia nem coincidência: trata-se apenas de bom senso. O bom senso que costuma regular os estados democráticos e de direito. Parabéns, Estadão!

*
Decisão desastrada


Não se pode exigir de um ministro de Estado uma qualidade de atuação que esteja acima de suas próprias limitações. Mas é de se exigir, seguramente, que não atrapalhe - sem razão alguma para fazê-lo, fora o velho ranço ideológico - o governo a que serve e o Estado no qual comanda importante Pasta. Ao dar refúgio a um cidadão italiano, condenado à prisão perpétua por ter assassinado quatro pessoas em sua atividade terrorista, o ministro da Justiça, Tarso Genro, tomou uma decisão desastrada sob vários aspectos e provocou, desnecessariamente, uma crise diplomática entre o Brasil e a Itália.

Tarso Genro contrariou recomendação expressa do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, que defendera a extradição do criminoso condenado Cesare Battisti. Desprezou o parecer do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare) - órgão consultivo do Ministério da Justiça - que negara o pedido de refúgio de Battisti. Opôs-se ao Itamaraty, que tivera a acuidade de detectar o quanto era importante essa extradição para a diplomacia italiana. O ministro da Justiça fez prevalecer sua opinião pessoal, como se sua expertise (jurídico-internacional? diplomática?) fosse suficiente para solucionar quaisquer problemas "externos" nossos.

O mais grave, porém, é que, ao tentar justificar sua decisão, Tarso Genro arvorou-se em juiz da Justiça italiana, criticando a forma como Cesare Battisti fora julgado e condenado em seu país. Disse ele que o italiano "pode não ter tido direito à própria defesa, já que foi condenado à revelia". Disse também que "há indícios de que o advogado, que defendeu Battisti na Itália, tenha se utilizado de uma procuração falsificada". Como não poderia deixar de ser, o Ministério de Assuntos Estrangeiros da Itália demonstrou profunda contrariedade em relação à atitude do ministro brasileiro. Em nota oficial, além de revelar "surpresa" e "pesar" pela situação, informou que apelará diretamente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e deixou insinuada uma ameaça à presença do Brasil na próxima reunião de cúpula do G-8, em julho, na Sardenha - já que atualmente pertence à Itália o comando do Grupo.

Além de manifestar-se através da nota, na qual também revela a "unânime indignação" de todas as forças políticas parlamentares do país, assim como da opinião pública italiana e dos familiares das vítimas dos crimes praticados por Cesare Battisti, o governo italiano convocou o embaixador brasileiro em Roma, o que é a tradução diplomática da crise entre os dois países. Anuncia-se, porém, que o Palácio do Planalto não vai desautorizar o ministro da Justiça, já que Tarso Genro revelara sua posição ao presidente Lula na segunda-feira e dele recebera sinal verde.

Indague-se agora: quem é o homicida ao qual o ministro da Justiça deu refúgio, contra a opinião geral? Nos anos 70 Battisti atuou no grupo Proletários Armados pelo Comunismo. Se fosse o caso de um "guerrilheiro" que lutava contra uma ditadura, seria compreensível falar-se em refugiado político. Mas a Itália então vivia - como vive desde o fim da 2ª Guerra Mundial - uma plena democracia, com liberdade de atuação e manifestação política até exagerada para os padrões europeus.

Na Itália, o subsecretário de Estado do Interior, Alfredo Mantovano, declarou que a decisão brasileira é "grave e ofensiva", aduzindo: "O governo italiano não pode aceitá-la. Em particular, por respeito às vítimas e a seus familiares." O Itamaraty, por sua vez, reconheceu que a concessão do refúgio gerou sério e indesejável mal-estar nas relações Brasil-Itália, além de ter contrariado compromissos internacionais de cooperação no combate ao terror. Recorde-se, a propósito, que em novembro, durante a visita do presidente Lula a Roma, o governo italiano havia insistido para que o Brasil concedesse a extradição do foragido. Por aí já se percebe o tamanho do estrago causado pelo ministro Genro aos interesses do governo brasileiro: o presidente Lula tinha a pretensão de aprofundar sua presença nos debates dos principais foros de governança mundial. Mas a Itália, que este ano preside o G-8, já avisou que os países desse grupo e seus colaboradores - caso do Brasil - "serão chamados a confirmar seu compromisso formal e a promover ações cada vez mais eficazes no combate ao terrorismo internacional". Como o Brasil, agora, se sairá dessa?
Por Reinaldo Azevedo

Wednesday, January 14, 2009

TARSO, QUE QUER REVER A LEI DE ANISTIA, CONCEDE REFÚGIO A TERRORISTA ITALIANO DE ESQUERDA CONDENADO À PRISÃO PERPÉTUA - Blog do Reinaldo Azevedo

O ministro Tarso Genro, da Justiça, todos sabem, lidera o esforço de áreas do governo para rever a Lei da Anistia, sustentando que a tortura é crime imprescritível. É fato notório e sabido que a Constituição brasileira incorporou a imprescritibilidade da tortura — e o fez por via indireta (*) — depois da Lei da Anistia, que é de 1979. Tarso quer, portanto, que a lei retroaja para punir seus adversários. Sobre a imprescritibilidade clara, sem sombra de dúvida, do terrorismo (**), ele nada diz. A razão é simples: uma lei que retroagisse para punir torturadores não acertaria um só funcionário do governo; uma que voltasse no tempo para pegar terroristas acertaria em cheio alguns ministros de estado: sem muito esforço, lembro de pelo menos quatro... Mas sigamos. Tarso poderia estar querendo punir os “torturadores” porque, afinal de contas, é uma humanista. Será? Por que um humanista protegeria um terrorista condenado na Itália? Como pode querer rever a Lei da Anistia alguém que se mobiliza para proteger um assassino? A quem me refiro?

Ontem, por decisão unipessoal, o ministro da Justiça concedeu o status de “refugiado político” a Cesare Battisti, terrorista italiano condenado em DUAS SENTENÇAS à prisão perpétua em seu país. Acusação: o assassinato de quatro pessoas quando membro de um grupo de extrema-esquerda chamado Proletários Armados para o Comunismo. Está preso no Brasil desde março de 2008. Agora, será solto e viverá lépido e fagueiro no Brasil. Provavelmente, vai escrever alguns livros, faturar uns trocos dos trouxas brasileiros e ainda conferir palestras sobre direitos humanos...

O Brasil dispõe de um Conselho Nacional de Refugiados Políticos (Conare), subordinado ao Ministério da Justiça. Esse mesmo Conare, que concedeu asilo a um outro notório terrorista, ainda na ativa, o tal falso padre Olivério Medina, negou, no entanto, tal estatuto a Battisti. Não viu motivação política clara nos assassinatos. Ah, mas Tarso discordou, sabem? Tarso foi lá e, olimpicamente, mandou ver: agora Battisti é mais um bandido agasalhado pelo governo brasileiro. O lulo-apedeutismo é assim mesmo:
- 300 mil mortes em Darfur levam esses gigantes a defender o Sudão; a morte de terroristas palestinos os faz condenar Israel;
- em nome da justiça histórica, querem punir os torturadores do Brasil; em nome da justiça histórica, protegem terroristas estrangeiros que se escondem aqui.
Ah, sim: como de hábito nesses casos, o advogado de Battisti é Luiz Eduardo Greenhalgh.


George Orwell no Ministério da Justiça
A decisão de Tarso Genro foi divulgada às 21h de ontem na página do Ministério da Justiça. George Orwell se divertiria um tanto porque diria que o assunto foi submetido à novilíngua do estado totalitário do livro 1984. No texto do ministério, o terrorista vira “escritor”. E também se pode ler lá: “Cesare Battisti, 52 anos, foi condenado à pena de prisão perpétua por duas sentenças, com processo de extradição passiva executória. No pedido de extradição, a Itália alega quatro homicídios que o escritor teria cometido entre 1977 e 1979.” Perceberam? A Itália “alega”... E notem: “quatro homicídios que o escritor teria cometido”. O futuro do pretérito composto põe em dúvida as mortes. Ademais, escritores não matam ninguém. Assassinos sim.

Ridicularias
Em seu parecer, Tarso Genro apela ao Estatuto dos Refugiados, de 1951, e à Lei 9.474, de 1997, e concede o refúgio porque entende haver “fundado temor de perseguição por motivos de raça (...) ou opinião política” — no caso, claro, é a tal “opinião política”. Assim, somos informados que o estado democrático e de direito italiano, vejam só, pode “perseguir” pessoas... Bem, eu diria que isso realmente acontece quando elas são assassinas...

Os brasileiros, que têm motivos de sobra para sentir vergonha do Itamaraty, podem se envergonhar também lendo a íntegra do despacho de Genro.

Escreve o ministro:

“Por sua vez, o Estado requerente não ofereceu oposição à alegada conotação política aventada quanto aos fatos pelos quais seu nacional é reclamado. Ao contrário, consignou expressamente em sentença que, nos diversos crimes listados, agiu o Recorrente “com a finalidade de subverter a ordem do Estado”, afirmando ainda que os panfletos e as ações criminosas de sua lavra objetivavam “subverter as instituições e a fazer com que o proletariado tomasse o poder” (grifei).
9. Vê-se, portanto, que no caso ora em análise impõe-se uma inquietante e crucial questão central: o Recorrente possui fundado temor de perseguição por suas opiniões políticas? Teria o Recorrente, ademais, cometido crimes políticos, ou sofrido perseguição política que resultasse na constatação de ilícitos criminais por ele não perpetrados?”

Sim, com efeito, a Itália caracteriza a ação subversiva de Battisti, mas deixa claro que ele não tentou subverter a ordem tomando Chicabom na praça. Não! Ele matou quatro pessoas. O terrorista não está com medo da perseguição política, mas do exercício da lei prevista pelo estado democrático e de direito. QUEM FUGIA DE UMA DITADURA, DE UM REGIME DISCRICIONÁRIO, ERAM OS DOIS PUGILISTAS CUBANOS. AQUELES DOIS QUE TARSO ENFIOU NUM AVIÃO CEDIDO POR HUGO CHÁVEZ E DEVOLVEU para o Coma Andante Fidel Castro e seu irmãzinho assassino, Raúl.

Tarso Genro parece não ter limites quando faz poesia ou quando se entrega a devaneios sobre a história dos outros países. Comentando a realidade política da Itália das décadas de 70 e 80, diz ele:
“É público e incontroverso, igualmente, que os mecanismos de funcionamento da exceção operaram, na Itália, também fora das regras da própria excepcionalidade prevista em lei. Tragicamente, também no Estado requerente, no período dos fatos pertinentes para a consideração da condição de refugiado, ocorreram aqueles momentos da História em que o “poder oculto” aparece nas sombras e nos porões, e então supera e excede a própria exceção legal. Nessas situações, é possível verificar flagrantes ilegitimidades em casos concretos, pois a emergência de um poder escondido “é tanto mais potente quanto menos se deixa ver”

Ainda que assim fosse, não há ilegalidade ou excepcionalidade na condenação de Battisti. Tarso a põe sob suspeição porque diz que a prova principal é o testemunho de um ex-companheiro do assassino, que falou sob o estatuto da delação premiada. A verdade é uma só: como é ridículo acusar o estado democrático italiano de fazer perseguição política, Tarso resolveu dar um pé no traseiro do Conare e debater o mérito da decisão da Justiça italiana, o que, obviamente, não é de sua alçada.

Eis aí: o ministro que pretende rever a Lei da Anistia no Brasil transformou o estado italiano numa ditadura que persegue pessoas. E o faz para defender um assassino condenado, em duas sentenças, à prisão perpétua. Mas Tarso, claro, além de poeta, é também um humanista de mão cheia.
*
(*)O parágrafo 3º do inciso LXXVIII do artigo 5º, incluindo na Constituição pela Emenda nº 45, de 2004, estabelece que “os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”. E o Brasil é signatário de acordos que dizem que a tortura é crime imprescritível. Mas, como está claro, a emenda é de 2004.

(**)A Constituição é explicita ao declarar a imprescritibilidade do terrorismo no inciso XLIV do artigo 5º: “constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático”.

Por Reinaldo Azevedo

Tuesday, January 13, 2009

POR QUE, NESTE MOMENTO, DEVEMOS TER VERGONHA DE SER BRASILEIROS - Blog do Reinaldo Azevedo - 13/01/2009



A isso que se vê acima, Celso Amorim disse "sim". O Brasil não apenas
votou contra a condenação do Sudão como foi um dos líderes do esforço para proteger
os genocidas. A foto registra uma mulher dando início à construção de uma nova
cabana depois que sua aldeia foi bombardeada pela Força Aérea sudanesa. Nesse
ataque aéreo, Brasil não vê nada demais. Já são mais de 300 mil mortos e de três milhões de refugiados


Celso Amorim limpa os pés numa história até bastante virtuosa: a da diplomacia brasileira. Mais uma vez, a o Brasil vota contra Israel no tal Conselho de Direitos Humanos da ONU, uma biboca lastimável, como quase tudo que pertence a essa ONG cara e inútil, coalhada de ditaduras vagabundas e populistas ordinários.

Em dezembro de 2006, esse monturo que se diz Conselho de Direitos Humanos da ONU ficou reunido três dias para decidir se condenava ou não o governo do Sudão pelo massacre de Darfur. Isto mesmo: TRÊS DIAS. Duzentas mil pessoas já haviam sido assassinadas por milícias a mando do governo gorila do país. Os mortos, hoje, superam os 300 mil. Há nada menos de três milhões de refugiados.

E o que fez o Conselho de Direitos Humanos da ONU, hein? Transcrevo para vocês o relato de Jamil Chade, do Estadão, publicado então pelo jornal. Volto em seguida:

Depois de três dias de negociações, o Conselho de Direitos Humanos da ONU conseguiu aprovar por consenso uma resolução enviando uma missão de especialistas para avaliar a crise na região de Darfur, no Sudão, onde 200 mil pessoas teriam morrido em conflitos desde 2003. No entanto, por causa da oposição de países africanos e árabes, China, Cuba e Brasil, o documento não critica o governo do Sudão nem fala de responsabilidades pelo massacre. O acordo evitou que os países tivessem de votar entre uma proposta dos países ocidentais e uma africana, mais favorável ao Sudão. O consenso evitou uma saia-justa para o governo brasileiro. Brasília evitava apoiar a proposta dos países ocidentais e qualquer condenação ao governo do Sudão, apesar das indicações do envolvimento de Cartum no massacre.Pela proposta aprovada, cinco especialistas serão enviados à região para investigar a situação e propor medidas. No entanto, só anunciarão o resultado da missão em março. Houve forte reação de ativistas, segundo os quais 40 mil pessoas são obrigadas a deixar suas casas a cada semana por causa do conflito.

Voltei
É isso mesmo que vocês leram. O Brasil foi um dos líderes da resistência na proteção ao governo do... Sudão! Ali, sim, estamos falando de um governo homicida. Os meliantes morais enviaram os tais observadores ao país, e nada aconteceu. Vejam a foto que está neste post. Nesse caso, o governo de Sua Excelência o Apedeuta não vê nada demais. O governo do Brasil não dá bola para 300 mil inocentes mortos. Mas se condói sobremaneira quando terroristas tombam tentando destruir Israel. Sob o pretexto de combater o sionismo, sejamos claros: a posição do Brasil alimenta a suspeita de uma política deliberadamente anti-semita.

Ah, sem dúvida, o gigante Celso Amorim cuida dos nossos interesses. Depois que o Brasil liderou a defesa de um governo genocida, recebeu o agradecimento público do governo facinoroso do Sudão. Leiam trecho de outra reportagem de Jamil Chade:

Depois de conseguir o apoio do Brasil para não ser condenado na Organização das Nações Unidas (ONU) por violações aos direitos humanos, o governo do Sudão deixa claro que essa atitude será compensada. Em entrevista ao Estado, o diretor do Departamento de Cooperação do Ministério das Finanças do Sudão, Abdel Salam, revelou que espera, em poucos meses, fechar um acordo com a Petrobras, além de contratos no setor de açúcar. 'As portas estão abertas ao Brasil', afirmou. Nas últimas semanas, o Brasil tem surpreendido ativistas e governos ocidentais por não seguir a posição de pedir que as autoridades sudanesas sejam investigadas por causa da pior crise humanitária do mundo na atualidade, na região de Darfur. A ONU já deixou claro que tem provas de que o governo do Sudão tem participado do conflito que causou a morte de 200 mil pessoas desde 2003. França, Reino Unido e vários outros países europeus pediam que uma investigação fosse realizada e que os autores do massacre não fossem deixados impunes. Mas com o apoio de Brasil, Cuba, China e dos governos africanos e árabes, o Sudão conseguiu evitar uma condenação na ONU.

Foi só desta vez?
Em 2006, durante a guerra contra o Hezbollah (que foi quem deu início ao conflito com Israel), o Brasil já havia votado contra Israel. Em março de 2007, diante de uma pletora de evidências de transgressão aos direitos humanos no Irã, o que fez o Brasil de Apedeutakoba? Vestiu o turbante negro e preferiu se abster. Brasília também se opõe a qualquer tentativa de condenar a ditadura cubana.

Política externa não é um convento de freiras. Está submetida a interesses objetivos, todos sabemos. Mas há um limite que distingue pragmatismo de delinqüência. E o governo brasileiro já não conhece mais essa diferença. Quem condena Israel, que se defende do ataque de milhares de foguetes do inimigo, mas defende o Sudão fez uma escolha: em favor do terrorismo e do genocídio.

Amorim conduziu a política externa brasileira para a lata do lixo. E isso só demonstra a sabedoria de todos aqueles que fizeram ouvidos moucos quando Apedeutakoba começou a espernear para o Brasil ser membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Sim, a organização já está quase à baixura do país, mas ainda falta perder muito tamanho.

Está dado: o Brasil condena um país que se defende do terrorismo, mas protege a ditadura assassina de Cuba e tirania genocida do Sudão. Eis a política externa do PT.

PS: Uma revistinha aí, candidata ao leite de pata das estatais e do governo federal, diz que este blog já chamou Lula de "apedeuta" seis mil e tantas vezes. Não contei porque tenho mais o que fazer. Deve ser alguma contabilidade vesga e errada feita com a ajuda do Google. De toda sorte, em vez de investigar o meu blog para que eu pare de criticar o governo, essa gente deveria é investigar o governo, não? Não! Não quando se é candidato a puxa-saco, “mas com muita independência e estilo”, é claro.
Vá lá: digamos que eu tenha escrito a palavra 6.500 vezes. Seria pouco. A cada “apedeuta” corresponderiam 46 mortos sudaneses, ignorados pelo cinismo de Celso Amorim. A palavra é certamente branda com amigos de genocidas. Um apedeuta pode até ser simpático e inofensivo. Já um amigo do governo do Sudão é um analfabeto moral.
Por Reinaldo Azevedo

O POVO É RESPONSÁVEL POR SUAS ESCOLHAS - Blog do Reinaldo Azevedo - 13/01/2009

Ali Kamel, editor executivo de Jornalismo da Globo e colunista de O Globo, escreve hoje sobre o conflito em Gaza. E, para não variar, vai ao ponto. Segue seu texto.
*
Eu acredito em eleições. E acredito que o povo sempre tem a capacidade de julgar o que considera bom para si. Isso não quer dizer que o povo acerte sempre: não são poucas as vezes em que a decisão mostra-se errada no futuro. Não importa, no momento em que comparece às urnas, certo ou errado, o povo é responsável por suas escolhas.

Por que essa conversa? Porque isso não me sai da mente quando vejo, chocado, os bombardeios em Gaza. Em 2006, houve eleições para escolha do primeiro-ministro palestino. Era um contexto em que os EUA clamavam pela democratização do mundo árabe. Quando o Hamas saiu-se vitorioso, muita gente, diante dos lamentos dos americanos, riu, dizendo algo assim: “Ora, não queriam democracia? Agora o povo vota, escolhe o Hamas e os EUA lamentam? Então democracia só vale quando ganham os aliados?” Na época, escrevi que a simples presença do Hamas nas eleições mostrava que aquilo não era uma democracia: porque democracia não é o regime em que todas as tendências disputam o voto; democracia é o regime em que todas as tendências que aceitam a democracia disputam o voto. Como o Hamas prega uma teocracia, um sistema político que o aceita como legítimo aspirante ao poder não pode ser chamado de democracia. Seja como for, tendo sido democráticas ou não, aquelas eleições expressaram a vontade do povo: observadores internacionais atestaram que o pleito transcorreu sem fraudes.

E o que pregava o Hamas na campanha de 2006? Antes, para entender o linguajar, é importante lembrar que o Hamas não aceita a existência do Estado de Israel, chamado de “Entidade Sionista”. Assim, quando se refere à “Palestina”, o Hamas engloba tudo, inclusive Israel. Destaco aqui três pontos do programa eleitoral (na disputa, o grupo deu-se o nome de “Mudança e Reforma”): “A Palestina é uma terra árabe e muçulmana”; “O povo palestino ainda está em processo de libertação nacional e tem o direito de usar todos os meios para alcançar esse objetivo, inclusive a luta armada”; “Entre outras coisas, nosso programa defende a “Resistência” e o reforço de seu papel para resistir à Ocupação e alcançar a liberação. A ‘Mudança e Reforma’ vai também construir um cidadão palestino orgulhoso de sua religião, terra, liberdade e dignidade; e que, por elas, esteja pronto para o sacrifício.”.

Deu para entender? O Hamas propôs um programa segundo o qual não há lugar para judeus na “Palestina”, o uso da luta armada deve ser reforçado para se livrar deles e os cidadãos comuns devem estar preparados para se sacrificar (morrer) pela religião, pela terra, pela liberdade e pela dignidade.

Havia alternativa? Sim, apesar da ambigüidade eterna, o Fatah do presidente Mahmoud Abbas (e, antes, de Yasser Arafat), na mesma eleição pregava a saída de Israel dos territórios ocupados em 1967, a criação de um Estado Palestino com sua capital em Jerusalém e uma solução para os refugiados de 1948 com base em resoluções da ONU, uma agenda que só parece moderada porque é comparada à do Hamas. Embora estimulasse e declarasse legítima a resistência à ocupação, a novos assentamentos judaicos e à construção do muro de proteção que Israel ergue entre a Cisjordânia e seu território, o Fatah declarava expressamente: “Quando o imortal presidente Arafat anunciou em 1988 a decisão do Conselho Nacional Palestino, reunido naquele ano, de adotar a ‘solução histórica’, que se baseia no estabelecimento de um Estado independente Palestino lado a lado com Israel, ele estava de fato declarando que o povo palestino e suas lideranças tinham adotado a paz como um opção estratégica.”

E qual foi a decisão dos palestinos? Num sistema eleitoral que adota o voto distrital misto, o Hamas ganhou tanto no voto proporcional quando nos distritos, abocanhando 74 dos 132 assentos do parlamento. Ou seja, diante do desgaste de 40 anos do Fatah, e das denúncias de corrupção que pairavam sobre o movimento, os palestinos deixaram a paz de lado e optaram pela promessa de pureza divina e dos foguetes do Hamas. Meses depois, uma luta interna feroz entre os dois grupos teve lugar e resultou numa divisão territorial: o Fatah ficou com a Cisjordânia, onde a situação é de calma, e o Hamas ficou com Gaza, de onde continuou pregando o programa aprovado pelos eleitores: enfrentamento armado, mesmo tendo consciência do que isso acarretaria.

Diante disso, dá para dizer que os palestinos de Gaza são inocentes vítimas do jugo do Hamas e de uma reação desproporcional dos israelenses?

Olha, eu deploro a guerra, lamento profundamente a morte de tanta gente, especialmente de crianças, vítimas de uma guerra de adultos. Vejo as bombas, e fico prostrado, temendo que o bom senso nunca chegue. Mas isso não me impede de ver que a guerra, com suas consequências, foi uma escolha consciente também dos palestinos de Gaza. Retratá-los como despossuídos de todo poder de influir em seus destinos não é mais uma verdade desde 2006.

Parecerá sempre simplificação qualquer coisa que se diga num espaço tão curto, em que é preciso deixar de lado as raízes desse conflito e a trama tão complicada que distribuiu culpa e vítimas por todos os lados. Mas não consigo terminar este artigo sem dizer: para que haja paz, os dois lados têm de ceder em questões tidas como inegociáveis, o apelo às armas têm de ser abandonado, o Estado Palestino deve ser criado ao lado de Israel, cujo direito a existir não deve ser questionado. Se isso acontecer, muitos árabes e israelenses daquela região não se amarão, terão antipatias mútuas, mas viverão lado a lado.

Utopia?

PS: Peço desculpas por ter dito, em meu último artigo, que os “professores não ensinam” quando quis dizer que as escolas não ensinam.
Por Reinaldo Azevedo

Monday, January 12, 2009

UM VERMELHO-E-AZUL COM UM EDITORIAL DO ESTADÃO - Blog do Reinaldo Azevedo - 12/01/2009

Muitos leitores favoráveis e contrários à ação de Israel na Faixa de Gaza me enviaram o editorial do Estadão deste domingo, cobrando-me comentários. Farei mais do que isso. O texto merece um vermelho-e-azul, especialmente porque ali estão alinhavados alguns notáveis equívocos em bom português. O texto não deixa de ser um sintoma do que ocorre com a imprensa brasileira: esqueçam aquela ladainha das faculdades de jornalismo sobre o “conservadorismo” desta ou daquela publicações. No Brasil contemporâneo — e há um certo fenômeno mundial neste sentido —, todos os grandes veículos se tornaram indistintamente “progressistas”, especialmente aqueles mais identificados com teses liberais. Disputa-se apenas o público do centro para a esquerda. Por incrível que possa parecer, na imprensa brasileira deste domingo, foi preciso que um esquerdista alemão dissesse algumas coisas corretas sobre a guerra no Oriente Médio — embora suas premissas, como veremos, estejam erradas (ver posts abaixo). Mas vamos ao editorial do Estadão, intitulado “Quando dois querem, dois brigam”. Confesso que o título já é uma banalização da verdade e da história. Ora, assim fosse, poderíamos indagar: “Ah, por que vocês querem assim, meninos maus?” Vamos lá.

Como em toda guerra, no conflito entre Israel e o Hamas não é apenas o embate das forças militares que conta. Guerras são, antes de mais nada, um fenômeno político, e nelas é da maior importância o fator psicológico. Nesse confronto de vontades, vence quem, aconteça o que acontecer, sai com as suas motivações intactas. Israel deveria ter aprendido em 2006 essa lição, ensinada pelo mestre da estratégia Carl von Clausewitz, quando destruiu a máquina militar do Hezbollah, mas se retirou do Líbano como um exército derrotado e desmoralizado. Afinal, o custo de uma vitória militar, principalmente em conflitos assimétricos, como esse entre um Estado e uma organização terrorista - nos quais não é possível atrair o inimigo para a batalha decisiva -, pode ser a perda de apoios externos e a desunião interna do país que obteve sucesso pelas armas - em resumo, a derrota política.
Acho que fui o primeiro na imprensa brasileira a escrever, logo no dia 5, quando voltei de férias, que Israel já tinha perdido a guerra de propaganda. Cumpria, afirmei, não perder a guerra propriamente dita. O trecho acima está um tanto confuso e, parece, mistura conceitos duvidosos com constatações factuais discutíveis.
Clausewitz, aí, está mal aplicado. Aliás, editoriais e pessoas que comentam guerra e estratégia deveriam decretar a quarentena de citações do general prussiano, junto, claro, com Sun Tzu. A razão é simples. O que escreveram é pau pra toda obra. Um papagaio pegando papeizinhos num falso realejo teria o mesmo efeito. Explico-me. Se o Estadão não definir, e não define, quais são as “motivações de Israel”, como saber se elas serão ou não preservadas? Se, neste ano, em vez de 1.380 foguetes, o Hamas disparar só 690, já se pode considerar a ação medianamente bem-sucedida...
O trecho traz algumas afirmações estranhas se vistas no detalhe. Reparem nesta: “o custo de uma vitória militar (...) pode ser a perda de apoios externos e a desunião interna do país que obteve sucesso pelas armas — em resumo, a derrota política”. Entendo. Então vamos inverter os termos da equação assim: “O benefício de uma derrota militar pode ser a conquista de apoios externos e a união interna do país que não obteve sucesso pelas armas — em resumo, a vitória política”. Ninguém diria que isso é Clausewitz porque estaria mais para Arrelia ou para Carequinha...
ATENÇÃO: O APOIO EXTERNO A ISRAEL NÃO DEPENDE DE O PAÍS ESTAR CERTO OU ESTAR ERRADO. ATÉ PORQUE, PARECE, ESTÁ CERTO. QUALQUER PAÍS REAGIRIA A ATAQUES DIÁRIOS A SEU TERRITÓRIO. O PROBLEMA É OUTRO: A INCORPORAÇÃO DA LÓGICA DO TERROR PELO ESTABLISHMENT. Falo a respeito em posts abaixo deste. Sigamos com o Estadão.

Isso pode se repetir na Faixa de Gaza. O objetivo declarado de Israel é aniquilar a capacidade do Hamas de lançar morteiros e foguetes contra o território israelense. Mas é, também, por meio do isolamento da Faixa de Gaza - privada dos meios básicos de subsistência -, dos bombardeios pelo ar e da invasão por terra, levar a população local a se voltar contra o Hamas, que conquistou o governo do território autônomo em eleições legítimas.
O “isso” é o que o jornal chamou de derrota de Israel no Líbano. Noto aqui algumas coisas. À diferença do Estadão, acho que a derrota mais importante naquele caso foi mesmo a militar. Não é verdade que Israel destruiu a máquina militar do Hezbollah. Percebeu, isto sim, que ela estava bem mais forte do que se supunha e que não bastava uma espécie de expedição punitiva. Teria de ser uma guerra bem mais pesada, planejada e custosa.
Algumas correções precisam ser feitas. Israel afirma que pretende diminuir sensivelmente a capacidade do Hamas de lançar morteiros. A menos que mude de idéia e decida reocupar Gaza por um bom tempo e expulsar o Hamas dali — a um custo imenso, sem dúvida —, sabe que não vai “aniquilar” coisa nenhuma. Mesmo com Gaza ocupada, foram disparados 155 foguetes em 2003; 281 em 2004 e 179 em 2005.
Essa história de que Israel tenta indispor a população de Gaza com o Hamas, lamento dizer, é uma invenção dos leitores de Clausewitz e Sun Tzu. Acho que subestimam a inteligência de Israel, o que é um erro. Se os palestinos elegeram o Hamas com Israel sendo atacado, sem reagir, por que não veriam nos celerados os seus heróis quando o adversário responde? Israel sabe que, ao responder, será hostilizado pelos palestinos, que se apegarão a seus líderes sectários. MAS, LAMENTO DIZER, ESSE É REALMENTE UM PROBLEMA DOS PALESTINOS, NÃO DOS ISRAELENSES.
Quanto à vitória do Hamas em eleições "legítimas", ver post abaixo.

O problema é que tudo conspira contra a consecução desses objetivos. Antes da ofensiva israelense, menos de 20% da população da Faixa apoiava o governo do Hamas. Hoje, o que se sabe pelos depoimentos que chegam da área conflagrada é que a população está, mais do que nunca, unida contra Israel.
Sei, sei... Os editorialistas dos jornais sabiam desse risco, mas as autoridades israelenses não, certo? Ora... É impressionante o número de pessoas que pretendem ensinar a Israel como o país deve se defender, Inevitavelmente, a recomendação é para que não reaja. Com efeito, os palestinos têm todo o direito de se apegar ao Hamas e mesmo de votar no Hamas. Mas os israelenses não precisam arcar com as conseqüências das escolhas palestinas, não é mesmo?

A guerra psicológica está sendo claramente perdida por Israel. De 2001 a 2008, o Hamas disparou mais de 8 mil foguetes contra o território de Israel, matando quatro pessoas. A opinião pública mundial jamais se indignou diante desses atos de terrorismo, que se intensificaram a partir de novembro. Desde o início da ofensiva israelense, no entanto, já morreram cerca de 780 palestinos - a maioria civis, mulheres e crianças - e ficaram feridos mais de 3,2 mil. Do lado israelense morreram 13 pessoas, entre elas 10 soldados. Essa desproporção de números reforça a condenação moral que Israel sofre em todo o mundo.
Ah, a opinião pública mundial jamais se indignou diante desses atos de terrorismo? Pois é... Então a segurança de um país é coisa séria demais para ficar a cargo da “opinião pública mundial”. Que também não se indignava quando os celerados explodiam ônibus escolares.
Onde o Estadão colheu a informação de que, entre os mortos, a maioria é de “civis, mulheres e crianças”? Não é verdade. Ademais, os “civis” do Hamas também praticam atos terroristas.
Como já escrevi aqui outras vezes, a relativa incompetência do Hamas para matar não torna ilegítima a reação israelense. Até porque o país aprendeu a se defender dos inimigos e faz de tudo para proteger o seu povo. Com o Hamas é diferente: cada morto é uma bandeira. Só uma pergunta ao editorialista: se o Irã e a Síria conseguirem armar melhor o Hamas e lhe fornecer foguetes mais potentes, havendo um conseqüente aumento de vítimas judias, a desproporção seria menor, certo? Nesse caso, a condenação moral a Israel seria menor? O que falta para que Israel pareça mais justo é um pouco mais de sangue judeu?

Além disso, é verdade que parte dos arsenais do Hamas foi destruída pelos bombardeios e pelos tanques, mas não há garantias de que os estoques de foguetes não sejam repostos, seja por fabricação própria, seja fornecidos pelo Irã e pela Síria. E o fato é que, se depois de terminada a ofensiva, ainda forem disparados foguetes contra Israel, os palestinos, a opinião pública dos países árabes e muçulmanos e parte da comunidade internacional verão esse feito como uma vitória moral do Hamas.
Começo pelo fim do parágrafo: isso está errado. Repito: Gaza estava ocupada em 2003, e 155 foguetes foram disparados. Em 2004, foram 281. Cessar o lançamento de foguetes, mesmo, só com o esmagamento do Hamas e eliminação de todos os seu líderes, com a reocupação de Gaza — hipótese que, entendo, Israel não deve descartar. Quanto à reposição de foguetes por parte do Irã e da Síria... Que coisa, não? E o que o mundo sugere que se faça com países que financiam o terrorismo? Certo... Nem isso, parece, é suficiente para evidenciar a superioridade moral de Israel.

O governo israelense resolveu enfrentar a ameaça terrorista do Hamas da pior maneira possível.
O editorialista deveria ensinar ao Estado israelense qual é a melhor maneira possível, não acham? Depois de 61 anos, Israel ainda não aprendeu. Mas o editorialista já descobriu o caminho.

Escolheu a guerra motivado, em grande medida, por questões de política interna. A desmoralizada coalizão liderada pelo primeiro ministro Ehud Olmert decidiu não enfrentar o Likud, nas eleições gerais de fevereiro, passando por fraca também em questões de segurança nacional. Ganhou prestígio entre certa parte do eleitorado, mas também deu vida nova ao Hamas - e agora se descobre num beco sem saída.
Olhem, essa história do argumento eleitoral é de lascar. Claro, claro... As ditaduras islâmicas que financiam o Hamas não têm esse problema de eleição... Nesse caso, seria a democracia israelense a pesar contra o país? Em Israel, volta e meia, há eleições. Aliás, está sujeito a um processo eleitoral a qualquer momento, já que o gabinete pode cair. Esse negócio de que só decidiu pela guerra para resolver um conflito interno tem, lamento dizer, um certo cheiro de preconceito, tangendo a velha corda do espírito judaico algo dado a conspirações... Bemk, eleição não é conspiração.
É uma falácia essa história de que Israel deu vida nova ao Hamas. O Hamas tinha “a vida” que têm os grupos terroristas. Até porque a vitória em “eleições legítimas”, como escreveu o Estadão, transformou-se, em Gaza, em golpe, com a eliminação dos inimigos do Fatah. Israel não tem de disputar popularidade com o Hamas na Faixa de Gaza. Tem é de danificar o máximo possível a infra-estrutura dos terroristas. E vai fazê-lo.

Um cessar-fogo sob supervisão internacional, seguido de negociações para o estabelecimento de uma trégua duradoura, poderia ser a solução. Mas a resolução do Conselho de Segurança, patrocinada pelo Reino Unido e aprovada nas primeiras horas de sexta-feira, não previa as garantias consideradas essenciais pelas partes em luta.
Opa! Quais são mesmo “as partes em luta”? Uma das partes é uma força terrorista. Observem que ela passou a ser abrigada pelo editorial do jornal como apenas um dos lados do conflito.

O Hamas não respeitará a resolução porque ela determina que a retirada de Israel se dará apenas depois de estabelecido um "durável e completamente respeitado cessar-fogo" - e não imediatamente, como exigem os palestinos. O primeiro-ministro Olmert, por sua vez, declarou que a resolução não conterá "os grupos palestinos assassinos" e não permitirá que um "corpo externo" determine o direito de Israel de proteger seus cidadãos. De fato, a resolução do Conselho de Segurança não prevê a formação de uma força internacional para controlar o tráfico de armas para o Hamas, que se dá pelos túneis que ligam a Faixa ao Egito.
Logo, o editorial reconhece as razões pelas quais não há como Israel acatar a resolução da ONU. Fazê-lo seria ignorar os motivos pelos quais o país foi à guerra.

Assim, é bem provável que uma paz negociada fique adiada pelo menos até a realização das eleições em Israel, no dia 10 de fevereiro. Até lá, as vitórias militares de Israel aprofundarão a sua derrota política.
De novo, volta a questão eleitoral. Para que o raciocínio fizesse sentido, seria preciso que alguma força eleitoral tivesse uma proposta substancialmente diferente. E isso é falso. O Kadima e o Partido Trabalhista estão no governo. A alternativa seria o Likud, com um programa, digamos, ainda mais radical no enfrentamento do terrorismo palestino. Pode até ser que a situação, em fevereiro, esteja diferente — mas porque muito mais perdas podem ter sido infligidas ao Hamas.
Quanto ao que o jornal chama “derrota política” — e que chamo de “derrota da guerra de propaganda” —, eis algo que já está dado e não tem mais como ser mudado. Assim era antes de qualquer ofensiva israelense. Infelizmente, o terrorismo passou a ser visto como uma força com a qual se deve negociar. Há quem chame essa concessão ao mundo bárbaro de escolha da diplomacia em detrimento da guerra.
Dizer o quê? Os que querem evitar este banho de sangue em Gaza — e outros, vindouros — só têm um caminho: dizer um “não” severo ao terror. Posso imaginar os estrategistas do Hamas fazendo a contabilidade do que é noticiado na imprensa mundo afora. Eles, sim, podem, como quer o Estadão, declarar que saíram com “suas motivações intactas”. Para eles, é fácil. Não precisam, ao contrário de Israel, proteger seus cidadãos inocentes: quanto mais mortes houver entre os seus, mais “intactas” se tornam as “motivações”. Que alimentem a sua loucura! Israel tem de se defender, com ou sem os “apoios externos”, de que fala o jornal. Um mundo que chama terroristas de "uma das partes em luta" não pode e não deve ser ouvido.
Por Reinaldo Azevedo

OUTRO VERMELHO-E-AZUL. O DIA EM QUE UM ESQUERDISTA BATEU MAIS NO TERROR DO QUE A “IMPRENSA BURGUESA”!!! - Blog do Reinaldo Azevedo - 12/01/2009

O caderno Mais!, da Folha, trouxe neste domingo um artigo do pensador alemão Robert Kurz, um nome graúdo da esquerda. Depois pesquisem um pouco sobre ele. É uma espécie de guru de alguns jornalistas e intelectuais no Brasil. Kurz tem uma péssima impressão do capitalismo e é um de seus críticos severos. No texto, ele faz uma salada danada e vê o conflito inserido no contexto da crise capitalista e do neoliberalismo. Os motivos, julguem aí, parecem um tanto obscuros e carentes de comprovação. Mas, creiam, ele teve a coragem de escrever o que seus parceiros da imprensa dita “progressista” silenciam. E o faz já a partir do título: “A guerra contra os judeus”. Mas não só isso. Kurz também tem a ousadia de escrever — embora a tese central seja furada — o que a “imprensa burguesa”, com raras exceções, omite. Ele pode estar errado em muita coisa, mas não está flertando com os terroristas, a exemplo da esmagadora maioria da imprensa ocidental — incluindo, é claro, a brasileira. Vamos lá.

As reações políticas à guerra em Gaza mostram que o número de amigos de Israel diminui com o aumento da precariedade da sua situação militar. Ocorre um deslocamento tectônico na relação de forças. Desde sempre o Oriente Médio foi palco não de conflitos limitados entre interesses regionais, mas de um conflito vicário, isto é, de um conflito entre atores substitutos, paradigmático e com forte carga ideológica.
Sim e não! Nos primeiros anos de Israel, essa relação não existia. Não é "desde sempre". O surgimento do “Israel como satélite dos EUA” se consolidou nos anos 60. Na primeira década de existência do país, as esquerdas o viam com simpatia.

Na época da Guerra Fria, o conflito entre Israel e a Palestina era visto como paradigma da oposição entre um imperialismo ocidental liderado pelos EUA e um campo "anti-imperialista", cuja liderança era disputada pela União Soviética e a China.
Exato!

A propaganda de ambos os lados ignorou aqui o duplo caráter do Estado israelense -por um lado um país moderno convencional no âmbito do mercado mundial, por outro uma resposta dos judeus à ideologia da marginalização eliminadora do antissemitismo europeu e, sobretudo, alemão.
Correto de novo. Cuidado só com a tradução. A expressão “Ideologia da marginalização eliminadora do anti-semitismo europeu e, sobretudo, alemão” ficou ambígua. Kurz está dizendo que Israel é uma resposta dos JUDEUS a uma ideologia que era:
- marginalizadora (de judeus);
- eliminadora (de judeus),
- anti-semita.

Subsumia-se Israel a uma constelação da política mundial, que nunca explicou cabalmente o país. Depois do colapso do socialismo de Estado e dos "movimentos nacionais de libertação", que tinham formulado um programa de "desenvolvimento recuperador" com base no mercado mundial, a natureza do conflito vicário sofreu uma modificação fundamental.
No Oriente Médio e além das suas fronteiras, o lugar dos regimes desenvolvimentistas laicos foi ocupado pelo assim chamado islamismo, que se revela apenas na aparência como movimento tradicionalista de cunho religioso.
Kurz adere aqui a uma teoria que está longe de ser dele e é admitida por bem poucos intelectuais de esquerda: o sectarismo islâmico se tornou um substituto, para os esquerdistas, da luta antiiimperialista.

Na realidade, ele é uma ideologia culturalista pós-moderna da crise de uma parte das elites há muito tempo ocidentalizadas nos países islâmicos, que representam o potencial autoritário da pós-modernidade e absorveram o antissemitismo europeu, não-islâmico na íntegra.
Aqui ele se perde um tanto. Caso se procurem as raízes do radicalismo islâmico na Irmandade Muçulmana, a tese da “ideologia culturalista pós-moderna” se esboroa. O anti-semitismo dos países islâmicos pode até se combinar com o anti-semitismo europeu, mas tem a sua própria história.

Nessa região, os segmentos do capital que fracassaram no mercado mundial declararam a guerra aos judeus como combate paradigmático à dominação ocidental. Inversamente, o imperialismo da crise ocidental, encabeçado pelos EUA, transformou o islamismo no novo inimigo principal depois de tê-lo aleitado e abastecido com armas antes, durante a Guerra Fria.
Kurz identificou coisas interessantes, mas lhes deu nomes errados. Isso que ele chama de “fracasso no mercado mundial” é outra coisa: os sectários das sociedades islâmicas lutam é contra a inevitável modernização, não contra a modernização frustrada. Esquerdista, afinal, ele não entendeu direito o que viu e precisa continuar a alimentar a sua tese do colapso da modernização: lá está, diz ele, o Ocidente em crise “transformando o islamismo em inimigo principal” — depois de tê-lo armado. Como se vê, também para Kurz, os países islâmicos nunca agem; só reagem.

Penúria ideológica
Essa nova constelação levou a confusões ideológicas de grau imprevisto. Nas regiões de crise, o neoliberalismo parecia identificar-se com a guerra da ordem mundial capitalista contra os "Estados em desagregação"; no Oriente Médio, parecia identificar-se com Israel. Desde então, correntes neofascistas do mundo inteiro andam de mãos dadas com a "luta de resistência" islâmica de viés antissemita, embora ao mesmo tempo aticem sentimentos racistas contra migrantes dos países islâmicos.
À parte a obsessão de Kurz de ver tudo a partir da “crise do neoliberalismo” (ô coisa aborrecida, meu Deus!), aponta coisas interessantes, sim: com efeito, neofascistas estão juntos com o anti-semitismo islâmico.

Segmentos expressivos da esquerda global também passaram a transferir sem qualquer cerimônia a glorificação do velho "anti-imperialismo" aos movimentos e regimes islâmicos. Isso só pode ser caracterizado como penúria ideológica, pois o islamismo é contra tudo o que a esquerda defendeu na sua história: pune o homossexualismo com a pena capital e trata as mulheres como seres de segunda categoria
Ah, finalmente alguma luz no pensamento da esquerda, ao menos nesse particular. Ele falará uma besteira daqui a pouco, mas, nesse ponto ao menos, acerta. Kurz é guru de muita gente no Brasil — com mais miolos do que um Emir Sader; este não deve entender direito o que escreve o teórico alemão... Quem sabe menos gente no Brasil veja aqueles valentes terroristas como bravos lutadores contra o império do mal...

A responsabilidade por isso também não deve ser atribuída a nenhuma religião tradicional, mas a uma militância de tinturas culturalistas do patriarcado capitalista, hoje em crise, que se dá a conhecer de outro modo também no Ocidente. A nada santa aliança entre o caudilhismo "socialista" de um Hugo Chávez e o islamismo representa apenas a ratificação dessa decadência ideológica no plano da política mundial, destituída de qualquer perspectiva emancipadora.
Bem, aqui Kurz faz uma mistura dos diabos. É preciso que defina o que é a tal “militância de tinturas culturalistas do patriarcado capitalista”. Mas acerta quando aponta a aliança do caudilhismo socialista de Chávez com o islamismo como “decadência ideológica”. Observem que a esquerdas do mundo, até agora, silenciaram a respeito. Sendo "contra Israel", para elas, parece coisa boa.

Desde a recente quebra financeira, sem precedentes na história, a constelação global está dando uma volta a mais.
Agora fica claro que o colapso do socialismo de Estado e dos regimes desenvolvimentistas nacionais foi apenas o prenúncio de uma grande crise do mercado mundial. O neoliberalismo está falido e a guerra da ordem mundial capitalista não mais pode ser financiada. Nessa situação evidencia-se que Israel sempre foi apenas um peão no tabuleiro de xadrez do imperialismo da crise global.
Bem, aqui Kurz regressa ao Planeta dos Macacos. Não foi ele quem apontou o duplo caráter do Estado de Israel, a saber: “por um lado um país moderno convencional no âmbito do mercado mundial, por outro uma resposta dos judeus à ideologia da marginalização eliminadora do antissemitismo europeu e, sobretudo, alemão”? Mudou de idéia: é apenas um peão...

A própria administração Bush no fim passou a considerar inofensivo o programa iraniano de armamento nuclear. Os interesses dos EUA e de Israel se dissociam. Obama não dispõe mais de uma margem de atuação político-militar. A guerra islâmica contra os judeus é aceita como inevitável. Por isso os lançamentos de foguetes do Hamas sobre a população civil israelense se afiguram inessenciais.
Mas Kurz recupera os sentidos neste ponto. Com efeito, “a guerra islâmica contra os judeus é aceita como inevitável”. E se ignoram os foguetes do Hamas.

A opinião pública global caracteriza o contra-ataque israelense majoritariamente como "desproporcional". Os palestinos em Gaza são percebidos como vítimas juntamente com o Hamas, como se esse regime não se tivesse imposto em uma sangrenta guerra civil contra o grupo laico Fatah.
Vejam que Kurz aponta tudo com clareza, desassombro, coisa de que as esquerdas não são capazes nesse caso. Não estivesse vendo tudo isso no contexto da “crise do neoliberalismo”, estaria escrevendo um bom artigo.

Assim a propaganda islâmica do massacre da população civil cai em terra fértil. Com efeito, o Hamas transforma, exatamente como o Hizbollah libanês em 2006, a população em refém, ao transformar mesquitas em depósitos de armamentos e permitir que seus quadros armados atirem de escolas ou hospitais. A opinião pública mundial ignora isso, pois já reconheceu o Hamas como "poder de garantia da ordem" em meio à crise social.
Vejam como Kurz chama as coisas pelo nome que elas têm.

Por isso o pragmatismo capitalista se volta, conforme se pode observar até na imprensa burguesa de orientação liberal, cada vez mais contra a autodefesa israelense. Aqui reside, de resto, o segredo da virada neoestatista em meio à queda da economia global: as massas depauperadas devem ser pacificadas com meios autoritários, e para tanto serve agora até o islamismo, ainda mais se ele logra legitimar-se formalmente como democracia. Mesmo uma esquerda, que não tem mais um objetivo socialista e se jacta da pós-moderna "perda de todas as certezas", corre o risco de identificar-se com a administração autoritária da crise e aceitar como inevitável a guerra islâmica contra os judeus, como se ela fosse um mero flanqueamento ideológico.
SIM, KURZ TEM RAZÃO: “A IMPRENSA BURGUESA, DE ORIENTAÇÃO LIBERAL, ESTÁ CADA VEZ MAIS CONTRA A AUTODEFESA ISRAELENSE”. Mas isso nada tem a ver com a necessidade de o capitalismo controlar as massas. Essa parte da tese é uma das coisas mais delirantes que já li. Não é isso, não, Kurz. A “imprensa burguesa” age assim porque é conduzida por seus amigos de esquerda e porque, com efeito, acredita que o conflito entre Israel e o terrorismo islâmico é um capítulo da luta antiimperialista. E porque, KURZ, SE A ESQUERDA VIVE A “PENÚRIA IDEOLÓGICA”, OS CONSERVADORES VIVEM UMA “A PENÚRIA DE VALORES”.

O conflito vicário alcançou uma dimensão social no plano global. Contra o "mainstream" ideológico, faz-se mister constatar que o aniquilamento do Hamas e do Hizbollah é condição elementar não apenas de uma paz capitalista precária na Palestina, mas também de uma melhoria das condições sociais.
Se as perspectivas para tanto são ruins, são boas para a desagregação da sociedade mundial na barbarização.
Reitero: é uma bobagem monumental julgar que se trava na região uma batalha que é parte da “desagregação da sociedade mundial”, uma obsessão de Kurz. Mas ele deve ser o primeiro esquerdista a questionar o que é também “mainstream ideológico” da esquerda: Kutz descarta os terroristas como interlocutores possíveis.
Noto, é inevitável, que seu artigo considera tudo o que o editorial do Estadão decidiu ignorar:
- o sectarismo islâmico é tomado como substituto das esquerdas na “luta antiimperialista”;
- neofascistas e anti-semitas estão juntos;
- Hamas e Hezbollah usam escudos humanos;
- os sectários praticam atentados contra a população civil de Israel;
- os terroristas ganharam a opinião pública mundial, e se ignoram as ações do Hamas contra o seu próprio povo.

Triste o dia em que um esquerdista consegue ser mais severo com os terroristas do que a antes chamada “imprensa burguesa”!!!
Por Reinaldo Azevedo

Aos poucos, aparecem os métodos e tramóias do Hamas - Blog do Reinaldo Azevedo - 12/01/2009

Do New York Times, na Folha:
A batalha urbana na densamente povoada faixa de Gaza envolve novas táticas, adaptação rápida e truques letais.
O Hamas, com treinamento do Irã e do Hizbollah, usou os dois últimos anos para fazer de Gaza um labirinto mortífero de túneis, armadilhas explosivas e sofisticadas bombas de controle remoto. Há armas escondidas em mesquitas, escolas e em residências civis, e a sala de guerra da liderança do movimento fica em uma casamata sob o maior hospital de Gaza, dizem agentes dos serviços de inteligência de Israel.
Os militantes do Hamas estão combatendo em trajes civis; até mesmo os policiais foram instruídos a deixar de lado seus uniformes. Os militantes emergem dos túneis e disparam armas automáticas ou mísseis antitanques e depois voltam a procurar proteção sob a terra.
O Exército israelense também veio preparado. Todos os soldados estão equipados com coletes blindados e capacetes de material cerâmico. As unidades dispõem de cachorros treinados para farejar explosivos e pessoas em túneis.
Para evitar as armadilhas explosivas, eles entram nos edifícios derrubando paredes laterais. Dentro, se movem de sala em sala, abrindo buracos nas paredes internas a fim de evitar exposição a atiradores.
Os israelenses estão usando novas armas, como uma bomba inteligente de pequeno diâmetro, a GBU-39. Ela conta com uma pequena carga explosiva, para minimizar os danos colaterais em áreas urbanas. Mas é capaz de penetrar no solo e atingir casamatas ou túneis.
Funcionários dos serviços de inteligência israelenses estão ligando para moradores de Gaza e, falando árabe, fingem ser simpáticos à causa palestina. Depois de expressar horror diante da guerra, os agentes perguntam se a família apoia o Hamas e se há combatentes do movimento nas cercanias.
Uma nova arma foi desenvolvida para combater a tática do Hamas de pedir que civis fiquem no telhado dos edifícios a fim de evitar bombardeios. Os israelenses rebatem essa tática com um míssil cuja paradoxal função é não explodir. Os mísseis são apontados para áreas desocupadas dos telhados, para assustar os moradores e levá-los a deixar os edifícios.
Os civis são alertados a abandonar as áreas de batalha. Mas as tropas estão instruídas a cuidar primeiro de sua proteção e depois da segurança dos civis.
Como disse o líder da Yahalom, unidade de engenharia de combate de elite do Exército, à imprensa israelense na quarta: "Agimos com muita violência. Não hesitamos em recorrer a qualquer método que proteja a vida dos nossos soldados".
Por Reinaldo Azevedo

Lula, o genial - Blog do Reinaldo Azevedo - 12/01/2009

Leiam o que vai no Estadão. Volto depois:
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta segunda a promoção de uma reunião em que todos os lados envolvidos nos conflitos no Oriente Médio, inclusive o Hamas, negociem a paz. Para o presidente, é preciso incluir nas negociações todas as pessoas que tenham ligação com os conflitos. "Nós precisamos detectar quem quer os conflitos e colocar essas pessoas numa mesa de negociação junto com as forças políticas que têm influência tanto na Autoridade Palestina, sobretudo no Hamas, e no povo de Israel para que a gente possa começar uma conversação e encontrar uma fórmula para que eles possam viver em paz e cada um desenvolver o seu país", disse Lula em seu programa semanal de rádio, Café com o Presidente.
Lula lembrou que enviou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a um giro no Oriente Médio para demonstrar que o Brasil está "interessado em participar ativamente" de um eventual processo de paz, Apesar de já ter criticado a atuação da Organização das Nações Unidas (ONU), o presidente argumentou que a instituição precisa exercer um papel de destaque. "A decisão do Conselho de Segurança de definir a necessidade de um acordo de paz é importante que seja respeitada tanto pelo lado palestino quanto pelo lado de Israel", disse.
O presidente acrescentou que gostaria que árabes e judeus vivessem em paz no Oriente Médio assim como convivem no Brasil. "Precisamos deixar claro o nosso reconhecimento pela existência do Estado de Israel e a nossa disposição de ajudar a construir o Estado palestino", destacou. "O povo palestino merece essa chance."

Comento
Amorim, como disse, faz Lula acreditar que o conflito entre o terror palestino e o estado democrático de Israel poderia ter uma solução parecida, sei lá, com a rua 25 de Março, no centro de São Paulo, onde árabes e judeus promovem, em paz, a maior área de comércio popular no país.

O trecho acima me remete a uma coluna de Diogo Mainardi, em que ele lembra que Lula, quando sindicalista, participou de uma dinâmica de grupo. Pediu-se que os presentes simulassem uma situação de resolução de conflitos. Genial, como sempre, o Apdeuta sugeriu que todos fizessem um círculo, de mãos dadas. É um prodígio. Com soluções geniais como a que se vê, chegou longe no Brasil. Ora, se, como ele próprio admite, seduziu a imprensa brasileira com sacadas fenomenais como essa, por que não abalar o mundo?
Por Reinaldo Azevedo

AMORIM, O PATÉTICO - Blog do Reinaldo Azevedo - 12/01/2009

Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores, é certamente a figura mais patética que já ocupou a cadeira de titular do Itamaraty. O gigante fez Lula acreditar que entende perfeitamente como funciona o mundo. O ministro fez parecer ao Apedeuta que os conflitos internacionais são como uma partida entre o Corinthians e o Palmeiras ou como uma negociação entre sindicalistas e empresas. Amorim — e, pois, o Brasil — foi derrotado em todos, rigorosamente todos, os embates internacionais em que se meteu. Querem um resumo dos desastres?

NOME PARA A OMC
- Amorim tentou emplacar Luís Felipe de Seixas Corrêa na Organização Mundial do Comércio em 2005. Perdeu. Sabem qual foi o único país latino-americano que votou no Brasil? O Panamá!!!
NOME PARA O BID
- Também em 2005, o Brasil tentou emplacar João Sayad na presidência do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Deu errado outra vez. Dos nove membros, só quatro votaram no Brasil — do Mercosul, apenas um: a Argentina.
ONU
- O Brasil tenta, como obsessão, a ampliação (e uma vaga permanente) do Conselho de Segurança da ONU. Quem não quer? Parte da resistência ativa à pretensão está justamente no continente: México, Argentina e, por motivos óbvios e justificados, a Colômbia.
DITADURAS ÁRABES
- Sob o reinado dos trapalhões do Itamaraty, Lula fez um périplo pelas ditaduras árabes do Oriente Médio. O Babalorixá deixou de visitar a única democracia da região: Israel.
CÚPULA DE ANÕES
- Em maio de 2005, no extremo da ridicularia, o Brasil realizou a cúpula América do Sul-Países Árabes. Era Lula estreando como rival de George W. Bush, se é que vocês me entendem. Falando a um bando de ditadores, alguns deles financiadores do terrorismo, o Apedeuta celebrou o exercício de democracia e de tolerância...
ISRAEL E SUDÃO
- A política externa brasileira tem sido de um ridículo sem fim. Em 2006, país votou contra Israel no Conselho de Direitos Humanos da ONU, mas, no ano anterior, negara-se a condenar o governo do Sudão por proteger uma milícia genocida, que praticou os massacres de Darfur. Por que o Brasil quer tanto uma vaga no Conselho de Segurança da ONU? Que senso tão atilado de justiça exibe para fazer tal pleito?
FARC
O Brasil, na prática, declara a sua neutralidade na luta entre o governo constitucional da Colômbia e os terroristas da Farc. Já escrevi muito a respeito do assunto.
RODADA DOHA
O Itamaraty fez o Brasil apostar tudo na Rodada Doha, que foi para o vinagre. Quando viu tudo desmoronar, Amorim não teve dúvida: atacou os Estados Unidos.

E hoje?
E onde está agora o gigante Celso Amorim? Leiam trecho do que está na Folha Online:

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, pediu nesta segunda-feira um cessar-fogo urgente na faixa de Gaza e expressou a solidariedade do Brasil com o povo palestino, durante uma reunião com o premiê palestino, Salam Fayyad, em Ramallah, Cisjordânia. "A tarefa mais urgente neste momentos é obter um cessar-fogo", afirmou Amorim, no 17º dia consecutivo da grande ofensiva militar israelense contra alvos do movimento islâmico radical Hamas na faixa de Gaza, que já deixou mais de 890 palestinos mortos.
O ministro defendeu ainda a aplicação da resolução aprovada na quinta-feira passada (8) pelo Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) que pede o cessar-fogo imediato e a abertura das passagens de fronteira para enviar ajuda humanitária aos cerca de 1,5 milhão de palestinos que vivem no território.
Amorim está no Oriente Médio para contribuir na mediação internacional no conflito que, até o momento, falhou em alcançar um acordo entre Israel e Hamas. O governo israelense adiou nesta segunda-feira a visita ao Cairo, Egito, para discutir o cessar-fogo e argumentam que o Hamas está enfraquecido e o objetivo da ofensiva --encerrar os ataques de foguetes do grupo contra Israel-- está próximo de ser alcançado.
"O Brasil quer manifestar seu sentimento de solidariedade com os palestinos, porque são os que mais estão sofrendo nesta guerra, e estimular os esforços internacionais para alcançar a paz", afirmou.
O chanceler, que mais cedo havia se reunido com o colega palestino, Raid Malik, insistiu na iniciativa do Brasil de organizar uma conferência multilateral para abordar o conflito israelense-palestino em seu conjunto, ao fim da guerra na faixa de Gaza.
"O Brasil é favorável à continuidade do processo de Annapolis", disse, em referência à reunião na cidade americana em novembro de 2007, que marcou a retomada das negociações de paz entre israelenses e palestinos, com a meta de criar um Estado palestino.
No entanto, Amorim também defendeu uma "conferência de alto perfil político" que dê um novo estímulo ao processo de paz.

Israel
O chanceler iniciou a viagem neste domingo (11) em Damasco, onde se reuniu com o presidente sírio Bashar al Assad e seu colega Walid Muallem. No mesmo dia se encontrou em Jerusalém com a chanceler israelense, Tzipi Livni.
A breve conversa entre Amorim e Livni ocorreu na chancelaria israelense, em Jerusalém, pouco após a chegada do ministro brasileiro de Damasco, onde esteve com o presidente da Síria, Bashar Assad. O Itamaraty diz que o objetivo da viagem é "apoiar os esforços para um cessar-fogo imediato, o alívio da situação humanitária e o estabelecimento de uma paz duradoura na região".
Depois do encontro com Livni, Amorim limitou-se a fazer um rápido pronunciamento. "Evidentemente que há diferenças de avaliação da situação, com relação a como o lado humanitário e o político se contrabalançam", disse. Nesta terça-feira (13), ele viajará para a Jordânia para um encontro com o rei Abdullah 2º e participar na cerimônia de entrega de 14 toneladas de ajuda humanitária que o Brasil doará aos palestinos da faixa de Gaza.

Retomando
Amorim cobre a diplomacia brasileira de vergonha. Isso que o país está praticando não é independência, mas delinqüência política pura e simples. Vejam o óbvio: não foi só Israel que rejeitou a resolução do Conselho de Segurança da ONU. O Hamas também a rechaçou. Logo, o Itamaraty não pode, a um só tempo, expressar a sua solidariedade aos palestinos, censurar Israel e defender a aplicação da resolução das Nações Unidas. É só uma questão de lógica do processo.

Também nos cobre de vergonha a pretensão de que o Brasil tenha a resposta para tão intrincado conflito quando sabemos que países com muito mais recursos e muito mais inserção na região não conseguiram chegar a uma resposta. Ou será que Brasília tem mais a dizer — e a oferecer — do que Washington. Mais: como o Brasil pode mediar o que quer que seja se não cansa de deixar clara sua posição hostil a Israel? “Ah, e os EUA, não são hostis aos palestinos?” Não! São hostis ao terrorismo, o que é coisa muito diferente — terrorismo que o Itamaraty não censura e considera parte do processo. Bem, dizer o quê? Até a imprensa outrora considerada conservadora passou a adular a “legitimidade” do Hamas, não é mesmo?

Se vocês pesquisarem na Internet, verão que setores do jornalismo pátrio já chegaram a considerar o Itamaraty a melhor área do governo... Chega a ser melancólico. Atribui-se a Lula (e a Amorim) o supostamente fantástico desempenho do Brasil no comércio internacional. Há propaganda oficial a respeito. É... Como escrevi aqui no dia 18 do mês, passado, “da formidável jornada de Lula no que pretendem seja a nova política externa brasileira, já podemos colher alguns resultados. Quando o Apedeuta assumiu, o país respondia por 1,1% do comércio mundial. Antes da crise, já estava em 1,1%... Antes de ele assumir, o Brasil guardava prudente distância de ditadores de qualquer viés. Hoje em dia, avançamos muito: já aprendemos a tratar bem os ditadores e candidatos a tanto. Um avanço espetacular.”
Por Reinaldo Azevedo

Thursday, January 08, 2009

SOBRE COMENTÁRIOS CIVILIZADOS E SIMPATIAS PELO TERROR - Blog do Reinaldo Azevedo - 08/01/2009




No post abaixo, afirmei que publico “divergências civilizadas”. Sei que alguns hão de protestar, sustentando que vetei comentários que nada tinham de agressivo. Ocorre que há considerações que, civilizadas na aparência, incorporam, no entanto, o discurso histórico do anti-semitismo ao tratar da origem de Israel, cuja criação é atribuída, por exemplo, à vitória de uma espécie de complô judaico. Eu não as publico. Porque lhes falta civilização na essência.

Também rejeito os que tratam o Hamas apenas como força reativa, atribuindo, na prática, a Israel o caráter terrorista do movimento. ORA, NINGUÉM É TERRORISTA POR ESCOLHA ALHEIA. Não! Só se é terrorista por escolha pessoal. Também rejeito comentários assim. Há muitos blogs por aí que os abrigam. O meu não. Já exercitei antes esta, digamos, metáfora: o terrorismo está para a política como o demônio para as religiões. É a sedução do mal. Aqui, não passa.

Vetei, por exemplo, um leitor que, sob a tentação de relativizar o que é o terrorismo, lembrou o atentado ao hotel Rei David, em Jerusalém. Foi organizado por Menachen Begin em 1946 — que viria a ser, depois, primeiro-ministro. E, vejam só, fez a paz com o Egito e devolveu a Península do Sinai (que havia sido conquistada na guerra, não roubada). Morreram, então, 91 pessoas. Terrorismo? Sim! Justifica as escolhas do Hamas? Não! Como se vê, não há mal nenhum em lembrar o fato. Que se tente extrair dele uma moral que justifica o terror, aí é coisa bem distinta.

Até porque, para o comentário do leitor ficar completo, ele teria de lembrar a decisão de Ben-Gurion de afundar o navio Alatalena — e Begin estava metido de novo na história. Uma das vezes em que escrevi a respeito, caros leitores, foi em 15 de junho de 2007. E começou justamente com a provocação de um leitor (em vermelho):

Rótulo complicado esse, de terrorista. O Irgun e o Lehi eram terroristas quando explodiam bombas (91 mortos no atentado ao Hotel King David) na luta pela constituição do Estado de Israel? Qualquer um que faça parte de luta armada é um terrorista, mesmo que do outro lado esteja uma ditadura?

Aos leitores não-iniciados, ele está se referindo a movimentos terroristas — sim, terroristas — judaicos que lutavam pela criação do Estado de Israel e tinham, entre seus alvos, também a Coroa Britânica. Pesquisem a respeito quando houver tempo. É uma história fascinante. Mas Tio Rei tem algo a dizer a respeito.

Leiam este trecho (em azul) de um evento muito importante da história de Israel, narrado pelo jornalista Zevi Ghivelder. É fundamental para o que vou dizer a seguir:

(...)O terceiro momento crucial vivido por Ben-Gurion corresponde ao episódio do navio "Altalena". No dia 12 de junho, Menachem Begin, líder da organização Irgun, que havia cometido ações armadas contra militares ingleses, anunciou que dali a cinco dias chegaria a Israel um navio com mil imigrantes e armas e munições que dariam para abastecer dez batalhões. Begin queria que seus homens, lutando em Jerusalém, ficassem com vinte por cento da preciosa carga. Ben-Gurion respondeu que tudo deveria ser entregue aos combatentes da nova nação, inclusive as armas que a Irgun ainda mantinha em seu poder. Era imprescindível, naquela quadra dos acontecimentos, a união nacional. Begin não se conformou e ameaçou ficar com tudo.
"O Altalena" (foto no alto) deitou âncora em frente a Kfar Vitkin e os caixotes começaram a ser descarregados. Um oficial da Haganá (ainda não havia o exército regular israelense) entregou a Begin um ultimato: ou as armas eram entregues, ou tudo seria confiscado. Diante da recusa, Ben-Gurion decidiu usar a força. O navio deslocou-se até a costa de Tel Aviv e encalhou sobre os destroços de um velho navio afundado pelos ingleses. Na manhã do dia 22, Ben-Gurion reuniu o gabinete. Seus olhos flamejavam enquanto dizia: "O que está acontecendo coloca em perigo nosso esforço de guerra e, mais importante ainda, ameaça a existência do país. Um estado não pode sobreviver sem que o seu exército seja controlado pelo próprio estado".
E enquanto Ben-Gurion se dirigia ao gabinete, Menachem Begin falava de um alto-falante no navio: "Povo de Tel Aviv! Nós, da Irgun, trouxemos armas para combater o inimigo, mas o governo está negando o acesso a elas. Ajude-nos a descarregar. Se há diferenças entre nós, vamos resolvê-las depois". Ao mesmo tempo, no quartel-general da Palmach, corporação ligada à Haganá de Ben-Gurion, seus comandantes, Ygal Allon e Itzhak Rabin, começaram a distribuir granadas a seus homens. Uma lancha passou a trazer a carga para a praia e Ben-Gurion estava perfeitamente calmo quando disse: "Não há jeito. Vamos ter que bombardear o navio".
Em seguida, o "Altalena" foi atingido (foto) por um petardo e pegou fogo. Mais de cem pessoas morreram. Outras se jogaram ao mar e foram recolhidas por botes, inclusive Begin que, naquela noite, voltou a falar através de sua estação de rádio secreta: "Os soldados da Irgun não vão entrar numa guerra fratricida, mas também não vão aceitar a disciplina de Ben-Gurion". Mas a história demonstrou que a disciplina de Ben-Gurion acabou mesmo prevalecendo. A rigor, ele não conferia ao Exército de Defesa de Israel apenas um valor militar, mas encarava-o como um poderoso centro de integração social, como uma instituição que traria homogeneidade nacional aos jovens judeus que tinham chegado ao país provenientes de todos os cantos do mundo.

Voltei
Sabem por que Israel é um Estado — democrático! —, e os palestinos foram divididos pela guerra civil? Porque um país precisa ter a coragem de afundar o navio de seus terroristas, de fato e em espírito, se quiser existir como tal. Vejam o desastre a que o corrupto Yasser Arafat (repatriaram os US$ 40 milhões que ele tinha no exterior ou não?) conduziu o seu povo. Por quê? Quando podia combater o terrorismo, resolveu usá-lo como aliado. Quando achou que era o caso de contê-lo, já não havia mais o que fazer. Os terroristas haviam vencido a guerra interna.
Por Reinaldo Azevedo

Tuesday, January 06, 2009

IRONIA TRÁGICA - Blog do Reinaldo Azevedo - 06/01/2009

Não deixa de ser irônico — e trágico — que o ministro da Defesa de Israel seja Ehud Barak, que foi primeiro-ministro entre 17 de maio de 1999 e 7 de março de 2001. Por que digo isso? De todos os governantes israelenses, foi ele quem mais se mostrou disposto a fazer concessões para pôr fim ao conflito.

Acreditem — na verdade, pesquisem: Barak ofereceu ao então líder da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Iasser Arafat, quase tudo o que ele pedira no encontro de Camp David, em 2000, e isso incluía a devolução de 90% dos chamados territórios ocupados. Não entregava Jerusalém ao controle palestino, mas garantia a autonomia da parte árabe da cidade. O plano incluía a volta dos “refugiados”? Não! Já tratei desse assunto aqui. Não creio que essa seja uma reivindicação de quem pretende a convivência pacífica de dois estados. De todo modo, acenava-se com uma espécie de foro permanente de resolução de conflitos. Em vez do terrorismo e do confronto armado, Barak propunha, vejam só, a política como forma de resolver diferenças.

Arafat hesitou, mas preferiu recusar a proposta e apoiar a segunda intifada, que acabou por derrubar Ehud Barak — intifada que acabou por dar força ao Hamas, que havia surgido pouco antes, em 1987, e que vem solapando, dia após dia, a força da Fatah, o grupo ao qual pertencia Arafat. Ao lado do sectarismo anti-Israel, o Hamas optou pelo assistencialismo e pelo combate à corrupção, marca registrada de Arafat e sua turma.

Por que Barak caiu? Porque teve como resposta ao mais ousado plano de paz jamais apresentado por um governo israelense o levante palestino. Foi sucedido pelo então ultra-direitista (na particular geografia política de Israel) Ariel Sharon. O mundo esperou o pior. E Sharon, no entanto, surpreendeu. Foi ele quem operou a desocupação total de Gaza. Mais: mudou o status da política israelense, renunciando à presidência do Likud, dissolvendo o Parlamento e formando um novo partido, de centro, o Kadima. Sharon parecia realmente disposto a levar adiante um processo de concessões que resultasse na criação do estado palestino. E tinha liderança política para isso. Mas aí a tragédia: um segundo derrame, no dia 4 de janeiro de 2006, levou-o ao coma, em que se encontra até hoje. E aí foi a vez de Israel entrar numa espécie de fase anêmica de líderes.

Mas volto ao ponto. Barak quase conseguiu o acordo, não fosse a estupidez de Arafat. O velho líder, treinado no terrorismo, que muitos tomavam como “resistência”, deve ter temido não encontrar o seu lugar na política. Teria certamente de esmagar os insurgentes de sua própria base. Em 2000, isso ainda era possível. Hoje, o Hamas é que esmagou a Fatah na Faixa de Gaza. Os palestinos pagam um preço altíssimo pela bobagem feita por Arafat. E o homem que comanda a reação de Israel, que é o país agredido, é aquele que chegou mais longe no esforço de paz. Esforço que custou a sua deposição.
Por Reinaldo Azevedo

O cronista recorre ao gênero didático - Blog do Reinaldo Azevedo - 06/01/2009

João Pereira Coutinho, colunista da Folha, recorreu ao chamado gênero didático para comentar o conflito entre as Forças Armadas da democracia israelense e o Hamas, uma das milícias terroristas palestinas. O chamado gênero didático, como as fábulas, parece simplificar demasiado as questões. Mas sua virtude intrínseca está em chegar com mais rapidez ao cerne moral dos confrontos. Mais ou menos como na historinha do lobo e do cordeiro. Leiam o seu texto, publicado na edição de hoje.
*
Mudar as palavras

Israel está novamente em guerra com os terroristas do Hamas, e não existe comediante na face da Terra que não tenha opinião a respeito. Engraçado. Faz lembrar a última vez que estive em Israel e ouvi, quase sem acreditar, um colega meu, acadêmico, que em pleno Ministério da Defesa, em Jerusalém, começou a "ensinar" os analistas do sítio sobre a melhor forma de acabarem com o conflito. Israel luta há 60 anos por reconhecimento e paz.
Mas ele, professor em Coimbra, acreditava que tinha a chave do problema. Recordo a cara dos israelenses quando ele começou o seu delírio. Uma mistura de incredulidade e compaixão.

Não vou gastar o meu latim a tentar convencer os leitores desta Folha sobre quem tem, ou não tem, razão na guerra em curso. Prefiro contar uma história.

Imaginem os leitores que, em 1967, o Brasil era atacado por três potências da América Latina. As potências desejavam destruir o país e aniquilar cada um dos brasileiros. O Brasil venceria essa guerra e, por motivos de segurança, ocupava, digamos, o Uruguai, um dos agressores derrotados.

Os anos passavam. A situação no ocupado Uruguai era intolerável: a presença brasileira no país recebia a condenação da esmagadora maioria do mundo e, além disso, a ocupação brasileira fizera despertar um grupo terrorista uruguaio que atacava indiscriminadamente civis brasileiros no Rio de Janeiro ou em São Paulo.

Perante esse cenário, o Brasil chegaria à conclusão de que só existiria verdadeira paz quando os uruguaios tivessem o seu Estado, o que implicava a retirada das tropas e dos colonos brasileiros da região. Dito e feito: em 2005, o Brasil se retira do Uruguai convencido de que essa concessão é o primeiro passo para a existência de dois Estados soberanos: o Brasil e o Uruguai.

Acontece que os uruguaios não pensam da mesma forma e, chamados às urnas, eles resolvem eleger um grupo terrorista ainda mais radical do que o anterior. Um grupo terrorista que não tem como objetivo a existência de dois Estados, mas a existência de um único Estado pela eliminação total do Brasil e do seu povo.

É assim que, nos três anos seguintes à retirada, os terroristas uruguaios lançam mais de 6.000 foguetes contra o Sul do Brasil, atingindo as povoações fronteiriças e matando indiscriminadamente civis brasileiros. A morte dos brasileiros não provoca nenhuma comoção internacional.

Subitamente, surge um período de trégua, mediado por um país da América Latina interessado em promover a paz e regressar ao paradigma dos "dois Estados". O Brasil respeita a trégua de seis meses; mas o grupo terrorista uruguaio decide quebrá-la, lançando 300 mísseis, matando civis brasileiros e aterrorizando as populações do Sul.
Pergunta: o que faz o presidente do Brasil?

Esqueçam o presidente real, que pelos vistos jamais defenderia o seu povo da agressão.

Na minha história imaginária, o presidente brasileiro entenderia que era seu dever proteger os brasileiros e começaria a bombardear as posições dos terroristas uruguaios. Os bombardeios, ao contrário dos foguetes lançados pelos terroristas, não se fazem contra alvos civis -mas contra alvos terroristas. Infelizmente, os terroristas têm por hábito usar as populações civis do Uruguai como escudos humanos, o que provoca baixas civis.

Perante a resposta do Brasil, o mundo inteiro, com a exceção dos Estados Unidos, condena veementemente o Brasil e exige o fim dos ataques ao Uruguai.

Sem sucesso. O Brasil, apostado em neutralizar a estrutura terrorista uruguaia, não atende aos apelos da comunidade internacional por entender que é a sua sobrevivência que está em causa. E invade o Uruguai de forma a terminar, de um vez por todas, com a agressão de que é vítima desde que retirou voluntariamente da região em 2005.

Além disso, o Brasil também sabe que os terroristas uruguaios não estão sós; eles são treinados e financiados por uma grande potência da América Latina (a Argentina, por exemplo). A Argentina, liderada por um genocida, deseja ter capacidade nuclear para "riscar o Brasil do mapa".

Fim da história? Quase, leitores, quase. Agora, por favor, mudem os nomes. Onde está "Brasil", leiam "Israel". Onde está "Uruguai", leiam "Gaza". Onde está "Argentina", leiam "Irã". Onde está "América Latina", leiam "Oriente Médio". E tirem as suas conclusões. A ignorância tem cura. A estupidez é que não.
Por Reinaldo Azevedo

A CARNE BARATA DAS CRIANÇAS PALESTINAS - Blog do Reinaldo Azevedo - 06/01/2009

Certo! Pode-se afirmar que os militantes do Hamas só usam cadáveres de crianças como bandeiras porque, afinal, há cadáveres de crianças. Sem dúvida, em qualquer guerra, elas são as vítimas que mais chocam e constrangem. Mas o que os terroristas fizeram para poupá-las? Nada! Ao contrário! A carne das crianças palestinas ou das crianças libanesas do Sul do Líbano são as mais baratas do Oriente Médio. Os militantes do Hamas e do Hezbolhah, respectivamente, escondem-se em meio à população civil. A cada criança morta, um triunfo. A imprensa dos países islâmicos faz o uso esperado dos cadáveres. E a dos países ocidentais não fica atrás. A primeira investe no vitimismo; a segunda, na perversão humanista.

A foto de uma criança palestina com lágrimas nos olhos vale por milhares de editoriais censurando Israel. O que sai do olhar treinado e estudado do fotógrafo assume as características de um flagrante. O que é uma escolha confunde-se com um registro objetivo da guerra. Imagens com essas características valem por perguntas: “Mas onde estão as criancinhas israelenses? Cadê os cadáveres dos infantes judeus?”. Também induzem algumas respostas: “Sem elas, só se pode concluir uma coisa: trata-se de uma luta desigual! De uma reação desproporcional! Precisamos de mais cadáveres de judeus para que possamos, então, ser compreensivos com Israel”.

E o ato essencialmente imoral do terrorismo islâmico — mais um — perde relevo para a comoção. Mais eficientes do que os foguetes do Hamas, são os cadáveres das crianças palestinas. São bombas de efeito moral que explodem no território israelense e demonizam um país que só não foi extinto em razão da sua tenacidade — também a militar. “Ora, então Israel que evite a reação”. É? E como agir, então, para conter o agressor? Reação proporcional?

Reação proporcional? Deve-se levar isso a sério? Terão os israelenses de fabricar seus foguetes quase domésticos par jogar em Gaza ou no Sul do Líbano? Seria legítimo treinar homens-bomba, que morreriam, então, em nome de Iahweh? Devem os israelenses ser “proporcionais” também no nível de exposição de seu próprio povo à fúria do inimigo, de sorte que também possam exibir, com vitimismo triunfante, seus cadáveres pelas ruas, passando-os de mão em mão, numa espécie de catarse da morte?

De fato, Israel não tem saída. A não ser lutar. A guerra de propaganda contra os adoradores de cadáveres, o país já perdeu. Resta-lhe fazer todos os esforços para não ser derrotado no terreno propriamente militar. É a sua contribuição do momento ao triunfo da civilização.
Por Reinaldo Azevedo