Sunday, January 25, 2009

AS ORELHAS DO COELHO. OU: É FEIO CITAR O QUE NÃO LEU - Blog do Reinaldo Azevedo - 25/01/2009

Marcelo Coelho revela, em posts que ninguém lê, a sua real natureza. Seu blog se arrasta na indigência, e a meia-dúzia de comentários que há lá decorrem de eu lhe ter dado visibilidade aqui. Coelho é um dinossauro que tem o mau hábito de citar livros que não leu, expediente comum numa imprensa crescentemente ignorante. Bastou que eu debochasse um pouquinho dele — e debocho porque ele não tem um pensamento a se levar a sério —, e o fofucho felpudo se torna bastante sanguinolento. Bingo! Como queríamos demonstrar. E pode descambar também para a vigarice.

Acusa-me de extremista de direita, de tucano (as duas coisas ao mesmo tempo???) e de violento. Suave é ele, que admitiu ter escrito um texto que pede o banimento de pessoas de quem discorda. Dois dos articulistas que ele ataca estupidamente, sem dizer por quê (queria agredir as pessoas, não suas idéias), são seus colegas de jornal. ELE ESTÁ NUMA GUERRA INTERNA. O Ligatchov quer expulsar da Folha o que restou do pensamento que ele considera reacionário. Pior: ele quer se livrar do que chama “pessimismo sombrio”.

Sua crítica — que, reitero, não tem um alvo — é tanto mais especiosa porque ele é membro do Conselho Editorial do jornal. Estaria (na verdade, está) eticamente obrigado, já que decidiu escrever a respeito, a dizer quais são as opiniões de João Pereira Coutinho e de Luiz Felipe Pondé que o incomodam. Mas ele não diz. Flagrado e exposto por mim, finge que a guerra é comigo. Mas não é.

Em sua glossolalia destrambelhada, escreve a meu respeito: “Quando um articulista sustenta que, diante do Hamas, não há saída a não ser bombas sobre criancinhas, e quando afirma que, diante do terrorismo, podem ser ingênuos os que criticam a tortura, suas opiniões me parecem supérfluas, porque qualquer comunicado militar é capaz de dizer o mesmo; e, se não disser, pouco importa, porque presos continuarão a ser torturados e criancinhas continuarão a ser vítimas de mísseis.”

DEIXE DE SER LIGEIRO E VIGARISTA, RAPAZ! Aponte em que texto sustento que, “diante do Hamas, não há saída a não ser bombas sobre criancinhas” ou que “podem ser ingênuos os que criticam a tortura”. Como eu não escrevi isso e como não penso isso, ISSO É COISA DE MENTIROSO! Se eu usasse o seu mesmo método de argumentação, poderia inferir que, no trecho acima, Coelho sente falta de maior efetividade dos foguetes do Hamas em Israel: matassem eles também as criancinhas judias, e o senso de proporcionalidade de Coelho estaria apaziguado.

Agora entendo por que ele escreveu um artigo na Folha pedindo a cabeça dos adversários e nem mesmo se dignou a dizer quais são as suas discordâncias. Pra quê? O representante do Comando de Caça aos Direitistas combate as idéias que ele atribui a seus desafetos.

Se o primeiro texto buscava cassar seus “inimigos” na Folha, o último tem o objetivo de defender o PT. E, claro, nada melhor do que me acusar, então, de tucano. Vamos ao que ele escreve:

Mas talvez eu esteja errado. Reinaldo Azevedo não é supérfluo. Aliás, do seu ponto de vista, sua cruzada é insubstituível, uma vez que a realidade e o poder estão nas mãos de "petralhas".
São os "petralhas" os donos do poder, são eles que atravancam o progresso, são eles que promovem a ignorância.
Simplesmente não acredito nisso. Acho, como Raymundo Faoro, que os "donos do poder" têm origens mais antigas, e que o PT, inicialmente organizado como uma força capaz de contestá-los, aliou-se a eles. É uma visão de esquerda do processo político brasileiro.
Será que é mais razoável a visão de direita? A de achar que o petismo estragou um programa que andava de modo excelente nas mãos de Fernando Henrique? Demonizar o PT e, pior que isso, santificar o PSDB, parece ser o propósito essencial de Reinaldo Azevedo.

É a visão do petismo a meu respeito. Que Marcelo Coelho a repita, parece-me ok. Mas vamos ao que interessa. Ele não leu Os Donos do Poder. Se o tivesse feito, não citaria o livro nesse contexto. Pode ter folheado. Pode até ter em casa os dois volumes. Pode ter lido outros que leram. Mas ele não leu. "Donos do poder", no Brasil, virou uma expressão-clichê. O estudo de Raymundo Faoro volta às origens Ibéricas da formação do patrimonialismo brasileiro — inclusive à formação do próprio estado português — e busca a herança cultural, moral e jurídica daquela história na nossa conformação.

Supor que os “donos do poder” de que fala Faoro possam ser permutáveis com os poderosos petistas é manifestação da mais espetacular ignorância sobre o livro que ele cita e, vejam só, até mesmo sobre o PT. Mais: um submarxista como Coelho citando Faoro é de fazer trincar as catedrais. Quando existia pensamento esquerdista organizado no país (não essas coelhices...), o livro era detestado justamente porque não autorizava o tipo de gesta que ele tentava levar adiante, liderada mais tarde pelo petismo. É MENTIRA, É IGNORÂNCIA ROMBUDA, afirmar que o PT tentou se organizar contra os “donos do poder” de que fala Faoro. A perspectiva petista era a da luta de classes — que passa a léguas do estudo do jurista e sociólogo. Submeto o que escrevo aqui a qualquer especialista na área. Vamos ver quem tem razão. Mentira e ligeireza.

Vocação
Marcelo Coelho deveria parar de tratar de assuntos sobre os quais não entende nada. A sua vocação está revelada neste post, que me foi enviado por um leitor. Vejam como ele consegue ser profundo, mimoso e terrivelmente subversivo:

“Tudo bem que programas de televisão ensinem as crianças a escovar os dentes, a respeitar os sinais de trânsito e a confiar em médicos e bombeiros. Mas fiquei assistindo com meu filho ao programa do Barney, no canal Discovery Kids, e acho que ali o impulso didático passa um bocado das medidas.
Quando meu filho era menor, ele adorava o Barney, imagino que justamente pelo fato que agora motiva minhas críticas: não há ficção naquele programa, só músicas e ensinamentos. Não se apela à imaginação ou a essa outra coisa bastante diferente da imaginação, que é a capacidade de representar ficcionalmente um ensinamento qualquer.
No programa de Barney, tudo é abertamente pedagógico e edificante. Não me oponho a isso, sabendo a que faixa etária a coisa se dirige. Mas quando Barney resolve dizer, a sua crédula platéia de crianças recrutadas nos mais variados estratos étnicos que compõem a população britânica, que devemos confiar em policiais, que os policiais estão aí para nos servir e para levar crianças perdidas ao colo de suas mães, tudo fica um pouco suspeito aos meus olhos.
Pior que isso. O simpático dinossauro roxo de espuma de borracha exclama, a um dado momento: “Policiais são maravilhosos!” Penso no sutil e nada ideológico espírito crítico do Manda-Chuva, às voltas com o Guarda Belo, nos desenhos animados dos anos 60, e concluo que o ambiente ficou terrivelmente sufocante hoje em dia. Há correção política no elenco multiétnico de Barney; mas o medo dos produtores diante de qualquer ironia, de qualquer espírito crítico, de qualquer leveza que os livre do intuito edificante, é ao mesmo tempo contrapeso e reiteração desse programa benfazejo.”

Leram? Se fizesse programa infantil, Coelho talvez optasse por algo na linha “Como Educar o Pequeno Petralha”. Na sua sede de subversão, ensinaria às criancinhas que devemos desconfiar dos policiais — vale dizer, das instituições. Imaginem, então, quando ele começasse a falar sobre Hamas e Israel... Coelho defende o método de educação empregado nos campos de reeducação do MST. Ou talvez se sentisse bem assistindo àqueles programas que a TV do Hamas leva ao ar em Gaza...

Agora chega, né, Coelhinho? Já tentou faturar demais às custas do meu blog. Coragem, rapaz! Corra em busca dos seus leitores.

Mas cuidado com a tartaruga.
Por Reinaldo Azevedo

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