Friday, June 26, 2015

"Você não tem medo, Reinaldo, de que as pessoas..." Não! No dia em que eu tiver medo, paro de escrever. Ou: Renovando o mandato de mais nove - Blog do Reinaldo Azevedo, 26/06/2015 as 6:23

Recebo uma mensagem gentil de um fã antigo do blog, que pede que seu nome seja preservado, até porque não tem apelido e é pessoa conhecida.
Segundo ele, ao afirmar que não há motivos para a recente decretação de prisões preventivas, corro o risco de me “queimar”, embora ele diga estar convencido de que estou certo. Escreve: “Conversei com [cita o nome de um jurista], e ele me diz que você tem razão. Mas será que vale a pena ter razão nesse caso?”.
Vai mais longe: “Parece claro que, entre todas as empreiteiras, a Odebrecht e a OAS eram as mais próximas de Lula e do PT”. Ele usa uma imagem forte: “Parece que os empreiteiros todos estavam unidos para criar as obras monumentais do Terceiro Reich Petista, sem contar as vantagens no exterior, especialmente para o Odebrecht”.
Transcrevo um pouco mais:
“Eles [está se referindo, nesse caso, aos petistas] tentaram eliminar a oposição, censurar a imprensa e destruir reputações. Sempre em parceria com os empreiteiros. Será que estes pensaram, alguma vez, na democracia, no Estado de Direito, nas leis, nessas coisas todas que você evoca agora?”
A resposta, meu caro NM, é “não!”. Acho que não pensaram. Sim, enquanto os empreiteiros ficavam andando de braços dados com Lula pra cima e pra baixo, os agentes do petralhismo se encarregavam de destruir reputações por aqui — e eu sempre fui um dos alvos prediletos dessa gente. E sou ainda. Lula chegou a me premiar com uma citação no V Congresso do PT.
Eu posso ir mais longe: se o modelo petista não tivesse feito água e se a sociedade brasileira não tivesse reagido, pondo um freio aos celerados, não teriam sido os empreiteiros, como estamos vendo, a acender uma vela pela sobrevivência da democracia. Eu não tenho nenhuma ilusão a esse respeito. Nem sobre eles nem sobre comandantes de outros setores da economia, igualmente mesmerizados pelo lulo-petismo e igualmente bem-sucedidos em obter vantagens do estado, pagando caro por isso, mas sendo, por sua vez, muito bem remunerados.
A penúria intelectual das elites econômicas no Brasil merece um estudo. O discurso mais anticapitalista que já ouvi saiu da boca de um empresário multimilionário. Pior: no caso em questão, nem era por pragmatismo cúpido. Era por falta de clareza mesmo.
E não, NM, eu não tenho vocação para Madre Tereza de Calcutá. Não estou agora querendo posar de mártir compreensivo, que estende a mão a quem andou errado. O meu cristianismo não se mistura com cimento e concreto armado. O meu ponto, neste blog, ao longo de nove anos, tem sido outro. Não mudei.
Eu não acredito em saídas fora das leis democraticamente pactuadas, nem que seja para “pegar” meus adversários ou inimigos — julgo não tê-los, mas não posso falar pelos outros. Eu não estou fazendo juízo político das ações do sr. Marcelo Odebrecht, dos demais representantes da sua empresa ou dos diretores da Andrade Gutierrez. E o mesmo valeu para os envolvidos das demais empreiteiras — defendi habeas corpus para eles também.
Estou me referindo é ao conjunto de leis democraticamente pactuadas, fora das quais não há saída. E, se saída parecer, é só um engano porque o processo acaba resultando em anulação, como já se viu outras vezes.
Eu não posso entender, como faz o juiz Sergio Moro, que se cogite de não decretar a prisão preventiva de alguém desde que a empresa à qual ele pertenceu rompa todos os seus contratos com o governo. Não condescendo porque a) isso não está na lei; b) abarcaria também contratos que não estão sob suspeição. Não tenho como aceitar, sem escrever a respeito, que se mande alguém para a cadeia, entre outros motivos alegados — e nenhum de acordo com o Artigo 312 do Código de Processo Penal —, porque o governo não tornou inidônea a empresa de que ele é dono.
Uma investigação que se quer tão rigorosa e conscienciosa, como é a Lava Jato, certamente não precisa recorrer a subterfúgios e atalhos extralegais para, ao fim do processo, punir os culpados.
Sim, eu me preocupo com esse momento por que passa o país. Dia desses, li a entrevista de um procurador ligado a essa operação que pregava nada menos do que a refundação da República. Ele me parecia, assim, aquele Lula lá da década de 80… Digamos que precisemos disso: espero que o Ministério Público não queira ser o Robespierre dessa narrativa.
Ademais, meu queridíssimo NM, eu realmente não me importo, acredite, com o que vão pensar este ou aquele. Tenho a graça — creio que seja fruto do meu trabalho — de escrever apenas e tão-somente o que penso. Se, como diz você, os empreiteiros ora enrolados eram os construtores do “Terceiro Reich Petista”, que, então, paguem por isso, na medida do crime cometido, de acordo com a lei.
Eu não entrego a nenhum ente deste mundo o poder de aplicar as leis segundo a sua conveniência ou a do suposto bem coletivo, quando essa aplicação fere os códigos que as abrigam. E também não delego essa tarefa ao Ente Superior, que tem mais com o que se ocupar.
De resto, mesmo para “pegar o Lula”, há que ser de acordo com a lei. Até porque uma das coisas que mais me causam horror nos “petralhas” é seu absoluto desprezo pelas instituições. EU HONRO A MEMÓRIA DO MEU BLOG. EU HONRO O MEU ARQUIVO.
Essa sempre foi a minha escolha em nove anos de blog. Essa será a minha escolha nos próximos nove. E por mais nove seria não fosse para tão clara certeza tão curta a vida.
Texto publicado originalmente às 22h39 desta quarta
Por Reinaldo Azevedo
(grifos do Blog)