Friday, September 26, 2008

A multipolaridade venceu. E o mundo ficou bem mais perigoso. - Blog do Reinaldo Azevedo - 25/09/08

Quando acabou a União Soviética, não se ouviu um único choro da Cortina de Ferro pra lá. Era impossível colher uma só lágrima de descontentamento — a não ser de uma parte do antigos aparelhos de estado que foram desmobilizados; outra se adaptou bem depressa ao novos regimes, uns mais, outros menos democráticos. Onde o fim do socialismo foi mais pranteado? Onde as carpideiras se vestiram de negro para encomendar o defunto? Onde intelectuais se declararam de luto para lastimar um mundo unipolar? Ora, no Ocidente, é claro, especialmente nas democracias. Há 17, 18 anos, não se tinha clareza ainda de uma China emergindo como potência global. E se vislumbrou, então, um mundo terrível, inteiramente entregue à hegemonia americana.

Pois bem. As carpideiras podem agora relaxar, não é mesmo? O mundo unipolar era só uma fantasia do antiamericanismo. Temos a China como a grande alavanca da economia dos países emergentes. E, mundo afora, é grande a torcida para que o regime que entronizou o terror e a tirania como método não sofra qualquer abalo. Somos todos mais ou menos dependentes daquele quase um quarto da população mundial que vive debaixo de vara.

E a Rússia está de volta ao cenário mundial, como se viu com a sua ação tão, como direi?,convincente na Geórgia. E agora vem dar em águas latino-americanas, aproveitando para fazer chicana com um bandoleiro como Hugo Chávez. Acordo nuclear para fins pacíficos? Com um doidivanas? Talvez seja mesmo a hora de os EUA elegerem um presidente havaiano. Quem sabe ele consiga manter um diálogo “construtivo” com Rússia e Venezuela, e o primeiro país decida manter a sua influência no continente, “mas só um pouquinho”, como na lábia dos antigos sedutores...

Não se cumpriu a fantasia do mundo unipolar, é evidente. O que temos aí é um mundo, com efeito, multipolar, quem sabe um quadrilátero, com EUA, Europa, Rússia e China. Um do lados é uma tirania explícita. Outro recorre a todos os instrumentos do regime democrático para solapar a democracia. A Europa, por mais que se esforce, não consegue sair da irrelevância — quem dá bola para o que pensam os europeus? Às vezes, nem os europeus... E há os EUA, que continuam, não raro, a ser objeto de ódio no próprio Ocidente.

Nunca consegui saber o que as democracias ocidentais perderiam de importante com a possibilidade do tal mundo unipolar, que provocava tantos sustos. Mas sei o que estamos ganhando com o atual multipolaridade: um Irã que continua a desenvolver o seu programa nuclear, protegido por Rússia e China; uma Venezuela que caminha para a ditadura explícita buscando ancorar-se nos russos, e, o mais grave de tudo: a aceitação tácita, também entre nós, de que a democracia é só uma das escolhas entre outros sistemas aceitáveis e eficientes. E já há quem desconfie se é mesmo a melhor escolha, agora que se sabe que economia de mercado com ditadura é bem mais fácil de ser manejada.


Por Reinaldo Azevedo

Wednesday, September 24, 2008

UM TEXTO LONGO E, CREIO, NECESSÁRIO. OU: LULA, IMPRENSA E AUTORITARISMO - Blog do Reinaldo Azevedo - 24/09/08

Lula parece saber tudo sobre liberdade de imprensa. Mas ele, como de hábito, não sabe nada — o que não quer dizer que seja pouco inteligente, como já observei várias vezes. O presidente é capaz de fazer discursos de aparência libertária, mas de esconder nas dobras de raciocínios um tanto tortuosos e de um domínio sempre precário da língua um viés inequivocamente autoritário. Basta que se ouça direito o que diz. Entre as muitas vozes que lhe propuseram caminhos na economia em 2003, ele acabou ouvindo as que lhe indicaram as melhores saídas. E foi beneficiado por circunstâncias que não eram de sua escolha. O PT pôde, assim, negar a si mesmo para se consolidar no poder. Sorte do país que o melhor de Lula está no anti-Lula. Já chego lá. Mais algumas considerações prévias.

As reações de uns e outros ao livro O País dos Petralhas dizem bem os tempos em que vivemos. Começou a surgir um tipo novo no blog: os candidatos a conselheiros do Reinaldo Azevedo, gente disposta a salvar a minha alma do fogo do inferno e da solidão. Como manifestação isolada, sempre houve: aqui e ali, diziam: “Não seja tão radical”; “Você ainda critica o comunismo? Que coisa mais antiga!”; “Olhe que você acaba sozinho!”; “Que pena! Até escreve bem! Mas é tão antigo!” É parte da mesma escória que não lê o blog nem leu o livro, mas entra na área de comentários da Livraria Cultura (aqui) só para me dar uma notinha baixa. Fechada a página, ele sente ter cumprido uma missão: “Pronto! Já detonei esse reacionário!” Os fariseus são agora uma corrente. E tentam me catequizar.

E o fazem atribuindo-me as coisas mais estúpidas, como a suposição de que critico o PT segundo o ponto de vista de quem lhe atribui características de um partido de esquerda tradicional, pré-Muro de Berlim. Bem, este não sou eu. Que a legenda seja caudatária de uma tradição autoritária, ah isto sim: digo e sustento. O que faço amiúde é ir buscar na história da esquerda alguns eventos que alimentaram a sua metafísica salvacionista, concedendo aos esquerdistas atuais, sejam amigos ou não do mercado (isso não me importa), a licença para a trapaça. E, se preciso, eu os desconstruo e demonstro que o demônio do totalitarismo estava na base daquelas escolhas. E pode estar presente nas opções de agora.

Mas e o PT? Sem jamais renunciar àquela metafísica, o partido foi descobrindo o seu próprio modo de ser autoritário — o que não quer dizer que não busque a inspiração em pretéritos mestres do ramo: Gramsci é, sim, a principal referência dos petistas que sabem ler. E foi o teórico comunista italiano que levou o partido a fazer uma escolha: “Primeiro vamos conquistar a democracia; o socialismo virá depois”. Hoje em dia, a perspectiva socialista, é evidente, ficou para a história. Mas isso não quer dizer que o partido renunciou à teoria de que a democracia não é um fim, mas um instrumento para o exercício do poder. Vale dizer: sua natureza continua essencialmente autoritária. E ela vai se revelando seja na soma de escândalos que aprendemos a ver como natural — relembro a história do aloprado do Banco do Brasil que acabou de ser promovido —, seja na tentativa de aprovar leis que engessam a democracia e a imprensa, aquela mesma que Lula disse que tem de ser livre. Então agora reúno os dois pilares deste artigo: as minhas reservas ao petismo, caracterizadas por certo pensamento adesista e desinformado como passadistas, e as escolhas concretas do partido e do governo — que revelam essa natureza autoritária.

O Planalto enviou ao Congresso um projeto de lei que criminaliza as fontes e os jornalistas que divulgarem informações sigilosas. Trata-se de uma estrovenga autoritária, saída da cabeça travessa de Tarso Genro. Pelo texto, se um jornalista tiver acesso a uma gravação de investigação sob sigilo, por exemplo, está impedido de divulgá-la — ou virá punição severa para ele e para a empresa em que trabalhar. E o que disse Lula ontem? "Liberdade de imprensa não pode pressupor que alguém possa roubar informações, e elas possam ser divulgadas sem que a pessoa que tenha roubado fique impune, porque senão você terá dois tipos de cidadãos no Brasil: um que estará subordinado à Constituição e à legislação e um que pode tudo".

Não resisto a observar que esses dois tipos de cidadãos já existem: há os petistas e os outros, como é notório. Adiante. Tratada a questão da maneira como ele tratou, parece tudo muito razoável, não? Nem parece que o texto de Tarso Genro viola dois artigos da Constituição, o 5º (“é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”) e o 220 (“A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição”).

Ainda entre o libertarismo e o acacianismo aparentes, ele avançou: “Quando eu defendo a liberdade de imprensa, é porque eu digo todo santo dia: eu sou o que sou porque no Brasil teve liberdade de imprensa, mesmo quando falavam mal de mim. Eu não quero liberdade de imprensa para falar bem, quero liberdade pra falar a verdade. Quando as pessoas não falarem a verdade, o povo fará seu julgamento". A indagação que faço não tem alcance filosófico, é bem prática: “O que é a verdade, meu senhor? Quem é que a tem na coleira e a leva para passear?” Seria o próprio Lula? Seria Franklin Martins, com a sua ridícula Lula News? A propósito: Lula e Franklin negam até hoje que o mensalão tenha existido. No entendimento que ambos têm da verdade, aquilo não aconteceu. Atenção: Lula acredita (ou finge) — como sempre o fizeram as esquerdas e todos os autoritários, esquerdistas ou não — que existe “a” verdade. E suponho que ela seja íntima do partido que pretende falar em nome da maioria.

Mas ele foi adiante. Estava excitado ontem. Não é todo dia que se tem a chance de dar um pito no Jorgibúxi e ensinar ao mundo como se governa. Leiam um trecho do Estadão On Line: “Ao Estado, o presidente Lula reiterou que, no caso do grampo que revelou a conversa do presidente do Supremo, Gilmar Mendes, com o senador Demóstenes Torres (DEM-TO), o problema da quebra do sigilo seria facilmente resolvido se o jornalista que escreveu a matéria contasse quem lhe deu a informação. ‘Era fácil encontrar, saber quem fez o grampo, se o jornalista que fez a matéria dissesse quem é o cara’, disse Lula, acrescentando que, se isso ocorresse, ‘livrava todo mundo’.”

Estupidez! “Livrava todo mundo quem, cara pálida?” Lula sempre foi a mais perfeita encarnação da famosa frase do jornalista americano H. L. Mencken (não vou procurar a citação exata; vocês acham com facilidade): “Todo problema complexo tem sempre uma solução simples, clara e errada.” O jornalista não tem de “livrar” a cara de ninguém. Sua única obrigação é publicar o que apura. E tenho uma outra novidade para este senhor: a reportagem não é um braço da polícia. Os órgãos se segurança do estado não se tornaram essa barafunda por acaso. Houve um partido que foi lá fazer mexericos e fuxicos, aparelhando órgãos que devem ser, acima de quaisquer outros, estritamente técnicos. A transcrição do grampo, cujo conteúdo foi confirmado pelos grampeados, saiu da Abin. O governo Lula que se vire para descobrir e punir os responsáveis. Quem pariu Mateus agora deve embalá-lo, especialmente na fase em que os monstrinhos fugiram do controle.

Ocorre que, para admitir este ponto de vista — e, eventualmente, para entendê-lo —, é preciso acatar a democracia como um fim em si mesmo, não como um meio: - dêem um pé no traseiro dos perniciosos que afirmarem que o objetivo da democracia é fazer justiça; - cuspam na moral do larápio que afirmar que a finalidade da democracia é garantir a igualdade; - faça como Augusto dos Anjos recomendava que se fizesse em certas bocas quando dizem que o sentido da democracia é a inclusão social. Isso tudo não passa de tramóia diversionista de quem pretende relativizar o regime de liberdades públicas, usando como cunha a agenda ou de supostas minorias influentes ou de maiorias de ocasião.

O governo Lula está tentando responder à desordem dos aparelhos de segurança do estado censurando a imprensa. É inaceitável! E inconstitucional! E, sim, continuarei a bater nessa gente por isso e a mostrar a genealogia de suas idéias. Antigo, antigo mesmo, no Brasil, é oferecer o lombo para o chicote.


Por Reinaldo Azevedo

Vergonha! - Blog do Reinaldo Azevedo - 24/09/08

Ontem, enquanto Lula dava lições de economia ao mundo e censurava George W. Bush por ter falado pouco sobre a economia na ONU — o governo mundial já foi criado, e seu primeiro líder é o Apedeuta —, o braço armado de Hugo Chávez no Equador, Rafael Correa, expropriava os bens da Odebrecht no país, mandava o Exército ocupar canteiros de obras tocados pela empresa e impedia a saída do país de dois de seus funcionários, que tiveram de se refugiar na embaixada do Brasil para não ser presos. Corrêa fez isso tudo ao arrepio das leis do próprio país. Fez porque quis. Alega, vejam abaixo, que a Odebrecht é responsável pela falha numa obra e teria se negado a pagar uma multa.

No caso dos terroristas colombianos que ele acoitava, tivemos notícias muito precisas sobre a sua retidão moral. E lembrem-se que o filoterrorista contou com apoio integral do Itamarati, nessa fase de vergonha a que o submete o chanceler Celso Amorim. Agora, só para exercitar o raciocínio, digamos que o bufão tenha razão nas suas reclamações: é assim que se faz? Ele nem mesmo precisou de uma lei para impedir os brasileiros de deixar o país. Escrevi certa feita que, em matéria de humilhação, o Brasil só aceita ser enxovalhado por países irrelevantes. Eis aí.

Vi Amorim ontem na televisão... Deus do céu! Comecei a desenvolver uma relação estranha com o homem: sempre que ele fala, tenho uma sensação vizinha da vergonha. É como se sentisse por ele o que ele já não consegue mais sentir por si mesmo. O que ele disse sobre a ação de Correa? Leiam: “O efeito prático do decreto foi impedir que estes dois diretores saiam, além do aspecto de ter presença militar, mas não são propriedades da Odebrecht, então eu acho que a questão ainda será discutida nos próximos dias e nós esperamos que possa ser resolvida. Houve, digamos, ações preventivas da parte do governo do Equador, mas não houve, por exemplo, um confisco”.

Ah, não. Não espero que um chanceler saia chutando a canela de um chefe de estado ou declarando guerra. Mas um mínimo de inconformismo, em situações como essa, é uma obrigação moral. Nada! A preocupação de Amorim era uma só: demonstrar que Correa não tinha feito nada demais.

O Brasil se tornou o principal fiador dos regimes autoritários de Rafael Correa, Hugo Chávez (Venezuela) e Evo Morales (Bolívia). No caso, então, do país vizinho, a coisa é ainda pior: sob o pretexto de combater supostos golpistas, Lula emprestou seu integral apoio à sanha — esta, sim, golpista — do índio fajuto, que decidiu impor uma Constituição aprovada contra as regras que a criaram e sob a pressão de seus milicianos.


Por Reinaldo Azevedo

Fim da picada: comissão aprova mais de R$ 7,1 mi a ex-metalúrgicos - Blog do Reinaldo Azevedo - 24/09/08

Na Folha. Comento em seguida:
A Comissão de Anistia, do Ministério da Justiça, aprovou ontem mais de R$ 7,1 milhões em indenizações a ex-metalúrgicos que participaram das greves na região do ABC no início dos anos 80.
De 41 requerimentos, 39 foram julgados numa sessão na Câmara Municipal de São Bernardo do Campo (SP), berço do movimento sindical impulsionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Hoje reconstituímos a importância que o movimento operário teve no processo de redemocratização do país", disse Paulo Abrão, presidente da Comissão de Anistia.
Segundo ele, 27 ex-sindicalistas, que perderam o emprego depois da grande greve de 1980, receberão prestação permanente e continuada, além de um valor retroativo.
A maior indenização foi concedida a Francisco das Chagas Souza: R$ 470 mil. Entre os anistiados há alguns próximos de Lula como Antenor Biolcatti [R$ 312,5 mil], Pedro Bispo [R$ 251,6 mil] e Keiji Kanashiro [R$ 368,7 mil], que foi secretário-executivo da pasta dos Transportes no primeiro mandato.

Comento
Acho que a situação de Keiji Kanashiro expõe exemplarmente a “justeza” das indenizações. O pobre perseguido foi nada menos que secretário-executivo do Ministério dos Transportes, o que só evidencia o quanto a greve o prejudicou, não é mesmo?

Essa gente não tem receio nenhum de mergulhar no ridículo. Comissão de Anistia? Não! Comissão de Distribuição de Prebendas aos Companheiros. Bem, convenha-se: se até Lula recebe pensão, não é?, por que não os outros? Somos nós que pagamos mesmo...


Por Reinaldo Azevedo

Tuesday, September 23, 2008

O novo funcionário público - Do site www.e-agora.org.br

Editorial, O Estado de S. Paulo (23/09/08)


http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20080923/not_imp246466,0.php

Uma nova mentalidade começa a predominar no serviço público estadual. A imagem do funcionário preocupado apenas em completar o tempo de serviço para se aposentar com vencimentos integrais - não muito rara até há pouco e que resultava na oferta de serviços insuficientes ou de má qualidade - está sendo substituída pela de servidor público que trabalha em equipe, procura cumprir metas e é premiado quando as alcança.

Os resultados, que surgem em diversos Estados, são bons para todos: para o governo, que consegue oferecer os mesmos serviços - ou até melhores - com menos funcionários, o que reduz seus gastos com pessoal; para os funcionários, que têm a possibilidade de ganhar mais se demonstrarem melhor desempenho; e para a população, que dispõe de melhor atendimento, sem ter de pagar mais por isso. Há até ganhos políticos importantes, e legítimos: quanto melhor a administração, maior a popularidade do governante.

O que está por trás dessa transformação é uma idéia simples, que os gestores privados seguem há muito tempo, mas ainda pouco adotada na administração pública: a de combater o desperdício e fazer cada real arrecadado render o máximo possível. "O caminho da gestão é a forma de fazer o dinheiro público sobrar e gerar receitas adicionais, uma vez que a carga tributária bateu no teto", diz o empresário Jorge Gerdau Johannpeter, criador do Movimento Brasil Competitivo, que vem difundindo entre governadores, prefeitos e outros administradores públicos a idéia de que "um bom político é também um bom gestor". Na sua opinião, "levar a experiência do setor privado para o setor público é importante para tornar o Brasil cada vez mais competitivo".

São diferentes as políticas seguidas pelos Estados e diferentes são também os resultados. Mas, como mostrou reportagem do Estado de domingo, em pelo menos 13 deles medidas inovadoras adotadas nos últimos anos na gestão do pessoal e no relacionamento do poder público com a população produziram mudanças notáveis, sobretudo na mentalidade do funcionalismo.

Em Minas Gerais, por exemplo, o governo Aécio Neves (PSDB) assinou decreto estabelecendo que os servidores receberão prêmio se cumprirem ou ultrapassarem as metas estabelecidas. Em setembro, 240 mil dos 321 mil funcionários estaduais receberam o prêmio por terem superado a meta em até 60%. O prêmio chega a 90% do vencimento mensal. O plano do governo fixa metas de curto, médio e longo prazos.

Em São Paulo, o governo José Serra (PSDB) pretende submeter os ocupantes de cargos de confiança - inicialmente, dirigentes regionais de ensino, dirigentes da área de saúde e diretores de hospitais e instituições de pesquisa - a provas de certificação. Os reprovados terão de passar por cursos de capacitação e ser submetidos a nova prova. Se forem reprovados novamente, serão exonerados. A meta do governo é aplicar essa prova a 2 mil dos 12 mil ocupantes de cargos comissionados.

Ao mesmo tempo que adotam modelos de gestão baseados no desempenho dos funcionários, alguns governos estaduais cortam cargos comissionados, recadastram o pessoal - para detectar irregularidades e corrigi-las -, oferecem cursos de qualificação a seus funcionários e premiam atitudes empreendedoras.

Em vários casos, há medidas de desburocratização e de descentralização que permitem a redução de gastos e a melhoria do atendimento da população. Em Santa Catarina, o governo criou microrregiões e instalou conselhos regionais de desenvolvimento, com autonomia administrativa e dispondo de uma rede de serviços informatizados, por meio da qual as pessoas podem marcar consultas médicas e acompanhar o andamento de obras em sua região.

Governadores como Marcelo Déda (PT), de Sergipe, que, por preconceito ideológico, recusavam a aplicação de métodos de gestão empresarial na administração pública, agora os utilizam. Na Bahia, governada pelo petista Jaques Wagner, o programa de metas para setores críticos do governo, propiciou não apenas a melhoria dos serviços - o tempo de espera no Detran caiu 50%, segundo o governo -, mas também a redução de gastos correntes, o que permitiu aumentar os investimentos em setores carentes.

Governo do Equador bloqueia obras da Odebrecht - Blog do Reinaldo Azevedo - 23/09/08




No Portal G1:
O presidente do Equador, Rafael Corrêa, determinou o bloqueio dos bens da construtora Odebrecht e proibiu que quatro representantes da empresa deixem o país. O governo alega que eles se recusaram a pagar uma indenização por danos provocados por uma falha estrutural na usina de São Francisco, construída pela empresa.
Rafael Corrêa alegou que a falha interrompeu a geração de energia nos últimos dois meses, provocando sérios prejuízos. O presidente determinou ainda que as Forças Armadas tomem outras obras da Odebrecht no país.
Há duas semanas, o Equador tinha dado um ultimato a Odebrecht para reparar imediatamente a falha na usina. O Itamaraty informou que já tomou conhecimento da decisão do governo do Equador e que está examinando as providências que vai tomar.
A Odebrecht declarou que não vai se pronunciar sobre os fatos até que a situação fique mais clara e que a principal preocupação, no momento, é com segurança de seus funcionários.


Por Reinaldo Azevedo

CRIME E SILÊNCIO - Blog do Reinaldo Azevedo - 23/09/08

Li a notícia na madrugada passada e, confesso, mesmo esperando o pior dessa estranha gente que está no poder, fiquei um tanto chocado. Expedito Veloso, aquele funcionário do Banco do Brasil que integrava o comitê da reeleição de Lula e se meteu na tramóia do dossiê fajuto, foi promovido no banco. Segundo informa o Estadão, “Veloso administrará 42 planos de previdência complementar de empresas ou entidades privadas, com ativos totais de R$ 1,37 bilhão” O inquérito dos aloprados está parado. Não deu em nada. O homem deixou o tal comitê, ficou seis meses afastado do banco, voltou, foi promovido. Uma auditoria interna concluiu que ele não prejudicou o banco. Entendo.

Pensei na madrugada de ontem: “Escrevo a respeito?” Por qualquer tola razão, achei que alguém pudesse fazê-lo. Afinal, eu sou aquele cara de O País dos Petralhas, não é? Vocês sabem: essa crítica sistemática, radical, com algumas raízes ideológicas, turva o ambiente. Deixei, por 24 horas, a indignação para os neutros, para os isentos, para os que não fazem uma crítica passadista como a minha. Disse cá para os nove buracos da minha cabeça: “Sosseguem. É tão escandaloso que um sujeito metido naquela safadeza seja promovido, que algum outro comprometido com uma crítica ao petismo mais justa e iluminada do que a minha há de evocar as forças da ética ao menos, já que as da lei, até agora, falharam miseravelmente”. Mas nada!

Nem uma linha! E olhem que Expedito Veloso não é um homem, mas um método. Este senhor é funcionário de uma estatal, é um militante partidário deslocado para o núcleo de inteligência de uma campanha política, é o homem que se meteu com criminosos para tentar criar um fato que fraudasse a vontade das urnas em São Paulo. Ele e o bando foram pegos em flagrante. Pela via policial, não se chegou a lugar nenhum. Pela via administrativa, ele encontra agora o reconhecimento por serviços prestados.

“Isso sempre houve no Brasil”. Mentira! Não houve, não. A promoção de Veloso é uma forma de exercício de poder. A exemplo dele, centenas, talvez milhares, de pessoas estão hoje em postos do estado de posse de informações sigilosas ou estratégicas que dizem respeito à vida de todos os brasileiros.

Acham a minha crítica radical, agressiva, dura, com os olhos voltados para o passado? Então por que não escrevem ao menos a crítica sensata, amena que seja, com os olhos voltados para o futuro? Sim, eu digo aqui, em O País dos Petralhas e em qualquer lugar: essa forma de o PT exercer o poder frauda a essência da democracia, embora mimetize, na aparência, os seus pressupostos. Nunca tratei o petismo como um partideco stalinista vulgar; nunca considerei que petistas estão dispostos a dar um golpe (talvez disposição até haja, mas sabem que não podem); nunca lhes atribuí a intenção de extinguir as formalidades (sic) democráticas.

Mas serão essas as únicas formas de tornar a democracia irrelevante, de solapá-la? O “x” da questão é este: o melhor, mais eficaz e mais sofisticado modo de fazê-lo é justamente exacerbando o caráter externo, superficial e popularesco da consulta democrática. E a essência está de tal sorte corrompida, que a questão é pouco mais do que uma nota de jornal, lida sob o silêncio cúmplice de muitos que se querem donos de uma crítica, então, mais moderada e justa do que a minha.

Sim, O País dos Petralhas está vendendo bastante, muito mesmo, nesta primeira semana. Vai se sustentar? Não sei. Quantos há dispostos à batalha? Qual batalha? A do estado de direito, humilhado, submetido ao vexame por um governo que parece acreditar que a popularidade substitui a necessidade de seguir as leis e o decoro. Petralhotários furiosos, como já noticiei, aparelham até site de livraria para alertar outros leitores: “Cuidado com esse cara!” — no caso, eu. Outros ainda escarnecem: “O Reinaldo publicou um livro justo agora com críticas aos petistas, mas o Lula está no auge da popularidade”. Pois é, se não fosse numa hora como esta, seria quando? Eu quero é agora. Gosto da idéia de que o livro sirva como uma senha de identificação, a exemplo dos primeiros cristãos, que desenhavam peixes na areia .

Não! Não vou condescender com o crime, com a impunidade e com o cinismo. O país dos petralhas tem de ser exorcizado.


Por Reinaldo Azevedo

Monday, September 22, 2008

Os autoritários - Do site www.e-agora.org.br

Fabio Giambiagi, Folha de S. Paulo (21/09/08)

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2109200809.htm

Um dia o país precisará enfrentar os que, escudados nos "movimentos sociais", obstaculizam maior avanço rumo à modernidade
SE ALGUM dia as reformas que vêm sendo há anos postergadas entrarem finalmente na agenda das (futuras) autoridades, será preciso que o país se prepare para enfrentar aqueles que obstaculizam um maior avanço do país rumo à modernidade, escudados nos chamados "movimentos sociais".

Sob o véu da suposta defesa dos interesses da maioria da população, o denominador comum de muitos desses grupos é o autoritarismo. Com base em uma retórica agressiva, estão na vanguarda de todos os movimentos de resistência à agenda que pretende integrar o Brasil às tendências mais modernas do mundo.

São os mesmos que lideraram o movimento em favor da reestatização da Vale, dez anos depois de ela ter sido privatizada. Que grupos são esses?

Eles representam a confluência de três vetores. O primeiro é o dos intelectuais intolerantes; o segundo, o de certos grupos políticos; e o terceiro, o de grupos sindicais dedicados à administração de recursos milionários.

O primeiro grupo é representado por aqueles que enchem a boca para falar mal do famoso "neoliberalismo".

Vivem fazendo discursos contra o Consenso de Washington, mas 99% deles jamais se deram ao trabalho de ler o trabalho de J. Williamson que deu origem ao termo.

A expressão máxima dessa atitude, pela qual alguns intelectuais fazem a cabeça de parte do espectro dos políticos, foi manifestada por uma das mais conhecidas lideranças políticas brasileiras, que há alguns anos se manifestou nos seguintes termos: "Em nosso partido, estamos abertos a todos. Só não cabem nazistas, racistas, delinqüentes políticos e neoliberais" ("Jornal do Brasil", 8/2/ 04). Nesse meio, ignora-se o conceito do que sejam "adversários": só há inimigos.

O segundo grupo é a constelação de partidos ditos de esquerda, originalmente romântica, mas que em linhas gerais são desprendimentos de uma mesma costela stalinista, em que delírios incompatíveis com a realidade dos dias de hoje se confundem com o apego a diversas formas de coerção.

Nas suas versões mais inofensivas, fazem barulho em passeatas. Nas formas mais radicais, seus congêneres de outros países compõem a tropa de choque do esquerdismo fascistóide latino-americano. Na Venezuela, fecham canais de televisão. Na Argentina, travestidos de "piqueteros", arregimentam capangas para -literal e fisicamente- bater na classe média quando ela vai para a rua protestar contra as políticas oficiais.

O terceiro grupo é o dos sindicalistas encastelados no aparelho de Estado e nas suas diversas ramificações, acostumados a viver das benesses do repasse de recursos públicos, em atitude que faria se virarem nos túmulos os líderes sindicais, ingênuos e modestos, que forjaram historicamente as raízes do sindicalismo autêntico, há várias décadas.

Em 2007, tive a oportunidade de ser testemunha de um exemplo do comportamento desse grupo, quando participei como expositor do Fórum da Previdência. Ao meu lado, ar de quem era dono da situação, pouco ligando para a liturgia do evento, estava o representante de uma das centrais sindicais. Defendi, na ocasião, o que tenho dito há anos: idade mínima para aposentadoria de 60 anos para os homens e 55 para as mulheres, aumento do período contributivo para 25 anos até 2031, redução da diferença entre homens e mulheres para efeito de aposentadoria ao longo de uma transição de 15 anos etc. Nada do que foi proposto pode, honestamente, ser chamado de "draconiano".

Ao concluir, quem primeiro pediu a palavra foi a pessoa citada, que começou seu discurso com as seguintes palavras: "Estou impressionado com a crueldade do professor Giambiagi".

Ao concluir, se retirou: ao chegar o momento da tréplica, eu dialogava com uma cadeira vazia.
Ao voltar para suas "bases", a pessoa deve ter dito que "defendeu os interesses do povo contra a tentativa de avanço do neoliberalismo". Quanto ao problema demográfico representado pelo envelhecimento da população nas próximas décadas, dele só se ouviu o silêncio.

Não se trata de um debate entre grupos que, partindo de posições diferentes, negociam para depois chegar a um meio termo razoável. Não nos enganemos: há uma profunda raiz autoritária na atitude de todos esses grupos. Cedo ou tarde, para conquistar corações e mentes em favor das reformas, será preciso enfrentar a resistência desses grupos.

É evidente que poderá ser tentador, com o pré-sal, conservar a política do "deixa estar" e não fazer reforma alguma. Nesse caso, porém, o Brasil daqui a 30 anos será melhor que o de hoje, mas ficará aquém do país que poderíamos ser.

FABIO GIAMBIAGI, 46, mestre em economia pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), é economista do BNDES e autor do livro "Finanças Públicas: Teoria e Prática no Brasil", entre outras obras.

A crise se aprofunda - Do site www.e-agora.org.br

Luiz Carlos Bresser-Pereira, Folha de S. Paulo (22/09/08)

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi2209200807.htm

Como em 1929, a crise atual é gerada pela especulação de agentes financeiros em busca de maiores ganhos

NA ÚLTIMA semana a crise bancária americana se aprofundou dramaticamente, e já não há mais dúvida de que estamos diante da mais grave crise econômica mundial desde 1929. Como naquela época, estamos diante de uma crise gerada pela especulação de agentes financeiros em busca de maiores ganhos. Como naquela ocasião, os especuladores lograram contornar a regulação bancária existente. Diferentemente do ocorrido nos anos 1930, porém, o governo americano e, mais amplamente, os governos dos países ricos, munidos da teoria macroeconômica keynesiana, revelam competência muito maior em enfrentar e parcialmente anular os efeitos perversos da crise.

A crise financeira de 1929 representou um desmentido flagrante da teoria econômica neoclássica, que foi aos poucos substituída pela macroeconomia keynesiana. Durante os 40 anos seguintes à Grande Depressão, o mundo prosperou apoiado por políticas econômicas competentes. A partir de meados dos anos 1970, porém, teve início a ofensiva ideológica neoliberal que restaurará o domínio da teoria econômica neoclássica e neoliberal nas universidades -teoria desnecessariamente orientada a desmoralizar o Estado e justificar mercados auto-regulados. Os países ricos, porém, não utilizaram as teorias neoliberais que ficaram restritas à universidade e aos países em desenvolvimento.

Nos anos 1980, houve a grande crise da dívida externa que não foi conseqüência de erros da política econômica, mas da oferta de empréstimos irresponsáveis pelos grandes bancos internacionais e do erro dos países em desenvolvimento de aceitá-los. Entretanto, se os formuladores da política monetária dos países ricos não seguiram a teoria econômica neoliberal, o mesmo não se pode dizer de seus bancos.

Eles acreditaram na tese do mercado auto-regulado, rejeitaram a necessária regulação de suas "inovações financeiras" usando os argumentos daquela teoria, e agora estão quebrando. Se essas quebras ficassem limitadas às próprias empresas irresponsáveis, não haveria grande problema. Porém, como levam à crise toda a economia mundial, fica clara a perversidade do problema criado. Nesse quadro, apenas um fato é positivo: a política keynesiana que vem sendo adotada, e, por isso, não há possibilidade de voltarmos aos níveis de queda da renda e de desemprego dos anos 1930.

O Brasil já está sendo atingido pela crise através da queda do preço das commodities, da baixa das ações devido às saídas de capitais e da depreciação do real. Dada a notória apreciação do real, sua depreciação com essas saídas poderia ser bem-vinda. Na última semana, porém, um ataque especulativo interno contra o real, acelerando sua depreciação, mostrou que a economia brasileira voltou a se fragilizar internacionalmente, apesar dos US$ 208 bilhões de reservas.

E obrigou o BC a intervir vendendo dólares. Os especuladores locais puderam vender reais e comprar dólares porque o déficit em conta corrente voltou a se manifestar, uma vez que a liquidez em reais da economia brasileira subiu muito.

Como mostrou Yoshiaki Nakano no Fórum de Economia da FGV, o aumento de reservas dos dois últimos anos, através de compras de dólares pelo BC, não correspondeu ao equivalente aumento da dívida pública, mas ao aumento da quantidade de moeda. Portanto, da mesma forma que as reservas foram construídas através do aumento de liquidez em reais, sua diminuição pode levar à rápida desaparição das reservas internacionais se houver qualquer perda de confiança.

LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA, 74, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda (governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado (primeiro governo FHC) e da Ciência e Tecnologia (segundo governo FHC), é autor de "Macroeconomia da Estagnação: Crítica da Ortodoxia Convencional no Brasil pós-1994".
Internet: www.bresserpereira.org.br
E-mail: lcbresser@uol.com.br

A crise (não) bancária - Do site www.e-agora.org.br

Gustavo Franco, Folha de S. Paulo (20/09/08)

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2009200806.htm

POR MAIS QUE pareça um clichê, não há como evitar a observação: é cedo para avaliações sobre uma coleção tão extraordinária de eventos como o da semana que passou. Foram estonteantes as idas e vindas dos mercados diante de eventos de difícil compreensão não apenas para o leitor como para os profissionais do ramo, muitos dos quais nunca haviam visto nada parecido.

Tudo parece muito novo nesta crise, a começar pelo fato de que não é uma crise bancária, ao menos por enquanto. Entender este aparente paradoxo já é um bom pedaço do caminho para se situar nessa confusão.

A despeito de a crise ter sua origem no crédito imobiliário dito "de segunda" (o já popular "subprime"), o que estamos vendo, após um ano de reconhecimento de perdas (de cerca de US$ 500 bilhões) e de recapitalizações (de cerca de US$ 350 bilhões) em bancos comerciais, é que as áreas conflagradas são outras, adjacentes.

As inovações financeiras que geraram problemas -criaturas conhecidas como "crédito estruturado" e "derivativos de crédito"- procriaram em um terreno que não é propriamente dominado por bancos comerciais, mas por um complexo de instituições financeiras não-bancárias, incluindo securitizadoras, fundos mútuos de tipo variado, seguradoras e, especialmente, as "megacorretoras", as estrelas de Wall Street, erroneamente misturadas entre bancos, pois nem recebem depósitos, nem fazem crédito.

Pois bem, com mais de um ano de crise, nenhum grande banco comercial foi objeto de intervenção, e os maiores "eventos" se deram exatamente nessas instituições não-bancárias: securitizadoras (Fannie May e Freddie Mac), "mega-corretoras" (Bear Sterns, Merrill Lynch, Lehman Brothers) e uma seguradora (AIG).

Curiosamente, os bancos comerciais, que estiveram no centro do problema durante o ano que passou, terminam a semana como parte proeminente da solução. Eles já digeriram boa parte do lixo tóxico encontrado em seus balanços, e a sensação é a de que a regulação não falhou inteiramente aí, mas no planeta vizinho, o do sistema "não-bancário". Foram as ações dos bancos que reagiram mais acentuadamente à notícia da criação de uma agência governamental com vistas à aquisição de créditos ou títulos com lastro em crédito hipotecário, à semelhança do que foi feito na última crise hipotecária, nos anos 1980.

Ao fim das contas, as crises bancárias, ou não-bancárias, acabam, ou não acabam, todas parecidas.

E-mail: gh.franco@uol.com.br

A maior fonte de energia inexplorada do Brasil - Do site www.e-agora.org.br

Luis Alberto Moreno, Folha de S. Paulo (14/09/08)


http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1409200809.htm

Poucas pessoas estão cientes de uma fonte limpa de energia que poderia resolver grande parte do problema: a eficiência energética

EM 2007 , uma pesquisa do Latinobarômetro perguntou a cidadãos de toda a região se eles achavam que teriam de enfrentar racionamentos de energia no futuro próximo. Surpreendentes 80% disseram que estavam "muito preocupados" ou "um pouco preocupados" com essa possibilidade. Esses receios são alimentados pelas notícias sobre aumentos dos preços dos combustíveis, declínio da produção de petróleo e escassez de gás natural.

O Brasil, com sua próspera indústria de etanol e os recém-descobertos campos de petróleo, talvez seja o único país da região que pode se dar ao luxo de ser otimista com relação às suas perspectivas energéticas.

Mas até mesmo o Brasil está sob pressão para expandir a produção de energia em curto prazo. De acordo com a AIE (Agência Internacional de Energia), a América Latina precisará de 75% a mais de energia em 2030 do que precisava em 2004 se as tendências atuais tiverem continuidade.

Em muitos países, os investimentos em energia mal estão acompanhando a demanda. A oposição a novas plantas hidrelétricas está forçando governos a construir usinas alimentadas a gás natural, óleo diesel e carvão mineral.

Entretanto, apesar dessa ampla preocupação, poucas pessoas estão cientes de uma fonte limpa de energia que poderia resolver grande parte do problema por uma fração do custo de construir novas usinas ou perfurar novos poços de petróleo.

Essa fonte é a eficiência energética.

Novas pesquisas do Banco Interamericano de Desenvolvimento indicam que a América Latina e o Caribe como um todo poderiam reduzir o consumo esperado de eletricidade em 10% até 2018 se, por exemplo, os países investissem mais em tecnologia e equipamentos amplamente acessíveis.

O custo para atingir essa meta seria ao redor de US$ 17 bilhões e resultaria em redução no consumo de eletricidade de 143 mil GWh/ano até 2018.

Só o Brasil economizaria pelo menos 57.800 GWh/ano nesse cenário.

E se a região não melhorar sua eficiência energética? Pressupondo que a demanda por eletricidade cresça a uma taxa modesta de 3,5% ao ano, os governos precisarão, segundo um dos cenários estudados, construir o equivalente a 328 geradoras a gás (250 MW cada) para produzir os mesmos 143 mil GWh. Isso teria um custo estimado de US$ 53 bilhões aos preços de hoje, sem contar os custos operacionais e de combustível. Só o Brasil precisaria construir 132 dessas usinas a um custo de US$ 21,5 bilhões nesse cenário hipotético.

A eficiência energética não costuma ser considerada "fonte" de energia. Em uma perspectiva de custos, porém, isso é certamente o que ela é.

A AIE informou recentemente que, entre 1990 e 2005, um grupo de 16 países industrializados conseguiu atender cerca de metade do aumento de sua demanda de energia melhorando a eficiência. A boa notícia é que a América Latina tem ricas "reservas" de eficiência energética e ainda mal começou a explorá-las. O Brasil, uma vez mais, é uma exceção: sua rede de complexos hidrelétricos interconectados é uma das mais eficientes do mundo, e programas governamentais como o Procel e o Conpet geraram bilhões de dólares de economia nos setores de eletricidade e transportes.

Mas o Brasil, como seus vizinhos, poderia expandir fortemente seus ganhos de eficiência energética. A penetração das lâmpadas fluorescentes de baixo consumo é maior no Brasil do que em outros países da região, mas ainda há muito espaço para melhorar.

Milhares de fábricas e sistemas de tratamento de água usam motores e bombas elétricas antigas e desperdiçadoras de energia. Prédios comerciais e residenciais fazem uso de sistemas de ar condicionado, refrigeradores, máquinas de lavar e aquecedores a água de alto consumo energético.

A América Latina vai começar a explorar esse potencial? Isso dependerá dos incentivos proporcionados pelos governos.

O "Financial Times" informou recentemente que os governos da América Latina e do Caribe gastarão pelo menos US$ 50 bilhões em subsídios a combustíveis para transporte em 2008. Esses subsídios têm o objetivo louvável de proteger os consumidores dos altos preços da gasolina e do diesel e manter a inflação sob controle. Mas também tendem a desestimular os investimentos em eficiência.

E se pelo menos uma parte desses US$ 50 bilhões fosse gasta em incentivos para os consumidores ou empresas que comprassem sistemas de iluminação ou equipamentos energeticamente eficientes?

LUIS ALBERTO MORENO, 55, colombiano, jornalista, economista e mestre em administração pela Universidade de Thunderbird (EUA), é o presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).

LULA JÁ COMEÇA A FAZER MILAGRES - Blog do Reinaldo Azevedo - 22/09/08

No sábado, o Estadão On Line publicou uma pequena nota com um título interessante, a saber: “Alencar recebe visita de Lula e deixa hospital em SP”. Li e pensei: “Aconteceu!” O Apedeuta já desenvolveu o dom da cura. Findo o mandato, pode deixar o PT, que é a Igreja Universal do Reino de Deus da política, e migrar para a seita de Edir Macedo, que é o PT da religião. O próprio Alencar brincou, em seu estilo um tanto bonachão: “A alta foi graças à visita dele". O vice brinca, mas tenho cá minhas dúvidas se Lula não acredita, de fato, que pode operar certos milagres — embora, evidentemente, ele tenha tanta responsabilidade pessoal na cirurgia bem-sucedida de Alencar como tem na relativa — e não mais do eu isso — tranqüilidade brasileira diante da crise.

Ironia? No comício que fez em defesa da candidatura de Marta Suplicy em São Paulo, também no sábado, ele não teve dúvida: “Deus já assumiu publicamente que é brasileiro. Ele, na sua onipotência, olha para o mundo inteiro. Mas eu acho que ele pensou: 'Agora eu vou ser um pouquinho brasileiro, já que esse Lula está aí’”. Sempre que Lula sai como uma dessas, os repórteres ampliam o seu repertório de verbos de declaração: evitam “disse”, “afirmou”, “declarou” e afins. Recorrem a “brincou”, já tentando proteger o Babalorixá de sua própria arrogância. É isto: Lula, de fato, “brinca” de emissário do Altíssimo ou de profeta: Deus falou com Abraão, com Moisés, com Cristo e, agora, fala com Lula. Mesmo Saulo (depois Paulo) não teve essa colher de chá: o Senhor mandou um recado indireto, deixando-o cego (temporariamente), numa passagem em que se deduz que caiu do cavalo. E, bem, é desnecessário lembrar: Aquele Que Não Tem Nome também presenteou o Iluminado com as reservas de petróleo do pré-sal.

O Lula messiânico sabe ser bastante agressivo com os adversários, como foi nesse mesmo comício de Marta em São Paulo e em outro em Natal, em que se referiu ao senador José Agripino (DEM-RN) como “esse sujeito”. Notem: este é o Lula das eleições municipais. Imaginem como será o das eleições federais — depois que passar a nova onda que está para chegar em favor do seu terceiro mandato. Agora, ele está apenas tentando dar ainda mais musculatura ao partido para o embate de daqui a dois anos. Em 2010, vai entender que as eleições funcionarão como um plebiscito sobre os seus oito anos de governo: e ele não aceita perder. Aquela pilantragem política de registrar obra em cartório é só um aperitivo do que vem pela frente.

E Lula pode perder? É claro que sim. Bastaria que a oposição não fizesse besteira, e lhes digo que o eixo PSDB-DEM teria condições de dar uma surra eleitoral no petismo — que não é exatamente o lulismo. Mas convém desconfiar. Vejam como os tucanos não conseguem falar a mesma língua nem na cidade de São Paulo. E Belo Horizonte? É um bom exemplo? Bem, se o PSDB de São Paulo não consegue se entender, o de Minas reinventa a democracia exterminando a idéia de oposição e de alternância de poder: naquela construção, todo mundo será sempre situação.

Só um tolo não imaginaria, dado o cenário político, uma aliança Serra-Aécio como um caminho e tanto para apear o petismo. Mas quê... Muito se dizia, e com razão, que o PT sempre teve projeto de poder, mas não de governo. E era verdade. Tanto que deu seqüência ao que havia. Que se saiba, projeto de governo, os tucanos ainda não têm. E de poder tampouco. Sem este, convenham, pra que ter aquele, não é mesmo? Quando os peessedebistas não estão se juntando aos petistas num canto, estão se estapeando no outro.

Boa parte da divindade lulista decorre de ele, de fato, jamais ter enfrentado uma oposição unida e organizada, como o PT sempre soube fazer — e sabe ainda onde está fora do poder. É bem provável que a economia em 2010 não esteja a “maravilha” de agora. Mas e daí? Lula já enfrentou coisa pior do que eventuais tropeços econômicos. E seguiu adiante. Em boa parte, porque permitiram que seguisse. E permitem ainda.


Por Reinaldo Azevedo

AINDA O FIM DO CAPITALISMO - Blog do Reinaldo de Azevedo - 22/09/08

Não! Já fazia tempo. A crise americana me faz constatar que eu não lia tanta besteira na imprensa desde, certamente, as privatizações e o câmbio fixo de Gustavo Franco, ambas medidas que os petistas — com o apoio de boa parte da imprensa — diziam ser “neoliberais”. Neoliberalismo com o governo determinando o valor do dólar teria sido, certamente, a grande invenção do século 20 se fosse verdade. Explico: o câmbio, de fato, era fixo, e aquilo não era neoliberalismo. Houve também um outro momento exemplar de boçalidade coletiva: quando veio o Proer, o tal plano de reestruturação dos bancos, que saneou o sistema financeiro brasileiro e lhe deu as bases da solidez que tem agora. Também aquilo era “neoliberalismo” e “mamata pra banqueiro”. O governo FHC não deixou o país ir à bancarrota para Emir Sader tentar o socialismo... Um rime mesmo!

A que me refiro? A essa tolice de dizer que o capitalismo nega as suas próprias regras ao intervir de forma tão contundente para evitar a quebradeira. Um leitor me manda o que segue. Não sei se é um comunista ou alguém que se quer ultraliberal. Como se notará, pode ser uma coisa ou outra, e isso talvez seja um sintoma interessante: “Os impostos que pago não devem ser utilizados para socorrer instituições privadas; eles devem ser destinados às funções do estado, educação, saúde e segurança. Qualquer coisa diferente disso é inaceitável.”

É verdade! George W. Bush deveria deixar a quebradeira correr solta, o caos advir e ir cuidar de saúde, educação e segurança... Com toda a ajuda do governo, estima-se que a crise possa durar bem uns dois ou três anos. Imaginem sem intervenção nenhuma. Num texto publicado ontem de madrugada, lembrei que aceitamos a existência de governos justamente para que possam intervir quando necessário: “É por isso que o estado cobra impostos; é por isso que lhe entregamos boa parte da nossa liberdade individual; é por isso que aceitamos, sem resistência, o pacto social que ele nos impõe; é por isso que acedemos à existência de Três Poderes que regulam a nossa vida muito além do que gostaríamos — só se sentem confortáveis com o mandonismo estatal aqueles que já se renderam à mentalidade da senzala e se apaixonaram pelo chicote “

Reitero: essa bobagem é mais um reflexo do “antibushismo”, que virou quase uma religião. Acusa-se o governo republicano de ter deixado o mercado agir à vontade. Bush? Lamento! Isso vem da era de ouro do adorado e “progressista” Bill Clinton. Passada o período da crise, o que tem de fazer o governo? O óbvio: retirar-se de novo do mercado para que suas regras voltem a funcionar sem interferência. Aí grita o desarvorado: “Até a próxima crise, né, Reinaldo?” Sim, até a próxima crise.

Já me conformei: o mundo avança assim mesmo, de crise em crise. O capitalismo está pra acabar desde meados do século 19. O último texto da seção “Sociedade das idéias mortas e delírio esquerdopata”, de O País dos Petralhas, é este:


TIO REI TRANQÜILIZA O MUNDO:


As crises do capitalismo trazem em si o germe da própria solução, como não disse Marx.

Um sujeito que se diz economista de uma importante universidade de São Paulo — ele manda nome e tudo, coitado!, mas seguirei um princípio do Islã e vou protegê-lo de si mesmo — me esculhamba, lembrando que estudei letras e jornalismo e que, portanto, nada entendo de economia. Ele, que entende, chegou, pelo visto, a vislumbrar a crise final do capitalismo, que, diz, só vai ser salvo porque “vocês, neoliberais, são todos hipócritas e jogam seus princípios no lixo quando a receita não dá certo”.

Adorei este "vocês". Me vi salvando o capitalismo, eu e Bush... Não sei dos outros “neoliberais”. O meu “neoliberalismo” não prevê o “caos se necessário” entre os princípios. Ao contrário. A própria existência de um Fed nos Estados Unidos e de bancos centrais mundo afora supõe a intervenção do governo, presente, ademais, também nos EUA, em vários setores regulados da economia. Não há nenhuma evidência empírica — elas estão todas do outro lado — de que o estado seja capaz de evitar crises.

Quanto à informação que o “economista” trata como acusação, dizer o quê? Todos os meus leitores sabem que não sou economista. A rigor, se sou alguma coisa, sou só um analista de “discursos”, naquele sentido em que a palavra é empregada na lingüística. E, com efeito, espanta-me que a intervenção do governo americano nos mercados para evitar a barafunda tenha sido transformada em matéria de controvérsia. É prova do poder das esquerdas nas redações mundo afora, com a possível exceção, entre os países importants, da China... Vamos lá: digamos que os críticos do “neoliberalismo” tivessem razão (não têm), e as medidas estivessem fora do escopo liberal: e daí? Qual seria, então, as medidas que eles próprios implementariam? As mesmas de Bush?

Viram? Eu sempre disse que ele não era tão mau...


Por Reinaldo Azevedo

Emir Sader e Luis Fernando Veríssimo como analistas econômicos - Blog do Reinaldo Azevedo - 22/09/08

Peninha, né? Então o capitalismo não acabou nem vai acabar! Pois é! Na hora “h”, apareceu Bush em seu cavalo, na ótima charge publicada pela VEJA desta semana, e resolveu pôr um pouco de ordem na bagunça. Haverá turbulência por algum tempo, os mercados nunca mais serão os mesmos, novos procedimentos corretivos e preventivos serão adotados — a própria existência de um Fed com essas características, saibam os botocudos, surge de uma crise —, e o mundo seguirá produzindo riqueza e fazendo política para responder à necessidade de reparti-la. Ou melhor: a parte do mundo onde houver economia de mercado fará isso. Aonde ela não chegar, chefes de “tribo”, muitos deles com terno e gravata, continuarão a manter seus povos na miséria, na ignorância, no subdesenvolvimento. Como Evo Morales. Como Hugo Chávez. Como ditadores africanos e árabes.

É impressionante! Da noite para o dia, os dinossauros tomaram conta do debate. E de todos os lados — sim, alguns vindos da direita ou do que imaginam ser a direita, sei lá eu. Ate o tocador de trompete do petismo, Luís Fernando Veríssimo, resolveu dar pitaco em economia. Ele também tira uma casquinha no “neoliberalismo” socorrido pelo estado. Huuummm... Emir Sader, expoente do, por assim dizer, “pensamento” de esquerda no Brasil, já alertou os seus leitores: nada de gargalhar com a crise! Os capitalistas, segundo ele, são terríveis e tentarão dar um jeito de sair dessa. Bidu! Sader está no poder, é bom que eu lhe avise. Na Bolívia! Ele é a principal influência intelectual do verdadeiro presidente do país, que não é aquele índio de aterrorizar festinha infantil, aquele misto de Mercedes Sosa com o trapalhão Zacharias. O chefe do país é o vice-presidente, o branco Álvaro Linera, metido a intelectual. Juro! Sader é seu guia. Sader é guia de alguém! A Bolívia vai mudar de nome: lá se instalarão os Emirados Sáderes.

Mas só os dinossauros de esquerda e tocadores de instrumentos de sopro estão fazendo pouco do “neoliberalismo”? Oh, não! Boa parte do colunismo pátrio também: “Viram? Vejam o que fizeram os neoconservadores!” Olhem aí. Até parece que, nos anos da exuberância irracional e da especulação, como eles dizem, nada mais se produziu além de miséria. Em que outro período da história, pensados os últimos 20 anos, tantos foram retirados da miséria em tão pouco tempo? A crise que está aí não é a primeira nem será a última. E o estado tem de entrar mesmo para arrumar a casa quando se instala a desordem. Ou serve para quê?

É por isso que o estado cobra impostos; é por isso que lhe entregamos boa parte da nossa liberdade individual; é por isso que aceitamos, sem resistência, o pacto social que ele nos impõe; é por isso que acedemos à existência de Três Poderes que regulam a nossa vida muito além do que gostaríamos — só sentem conforáveis com o mandonismo estatal aqueles que já se renderam à mentalidade da senzala e se apaixonaram pelo chicote. “Ah, mas a intervenção poderia ter sido feita antes”. É mesmo? Quando? Sob que condições? Quando foi, na historia da humanidade, que esse estado interventor gerou mais riqueza e mais bem-estar? Nunca!

É evidente que o estado não deve socorrer empresa quebrada. Que quebre! É do jogo. Mas é preciso distinguir esse tipo de intervenção, muito comum em Banânia, da chamada crise sistêmica, da quebradeira geral — que não puniria apenas as empresas incompetentes e os especuladores. Também o dinheirinho no banco do homem comum, que é o verdadeiro dono da grande massa do meio circulante do sistema, iria para a cucuia. E esse "Homem Comum" precisa confiar nas regras — e restaurar a confiança, como deixa claro Márcio Aith em reportagem na VEJA desta semana, era essencial. E o governo americano vai fazê-lo. E tem de fazê-lo.

É realmente impressionante o poder da esquerda intelectual para ditar vagas de opinião, inclusive na imprensa, mesmo essa que os botocudos dizem ser “conservadora”, “burguesa”. Com raras exceções, ela dá a palavra de ordem. Que tipinhos ordinários! Acreditam que a simples adesão à crítica aos “neoliberais” — seja lá o que essa palavra signifique — já os torna homens justos, decentes.

E, bem, claro: colabora para a cafajestada ideológica o fato de o presidente dos Estados Unidos ser George W. Bush — ainda não sei como ninguém pensou em ligar a guerra do Iraque à crise do mercado subprime... Mas que digo eu? Alguém já deve ter feito isso. “Ah, é que aquele republicano deixou tudo correr solto, sem regras”. É? Que mudança fundamental os republicanos fizeram no mercado herdado do “progressista” Bill Clinton? Ademais, felizmente, em países que, de fato, têm forte tradição liberal, o governo não fica se metendo a toda hora no mercado — e não tem de se meter mesmo. “A Europa sempre foi mais cuidadosa”. Invejam também seus índices de desemprego?”

O mercado, ainda bem!, nunca mais será o mesmo. Aliás, se existe um “ente” que aprende depressa com a experiência é esse tal mercado. É isso aí: o mundo não acabou nem vai acabar. E o capitalismo também sobreviveu. Viram? Emir Sader tinha nos avisado que essa gente perversa daria um jeito de se safar.


Por Reinaldo Azevedo

Edir Macedo diz em livro como pretende tomar o poder e chama hebreus do Velho Testamento de “cristãos” - Blog do Reinaldo Azevedo - 21/09/08

Por Tatiana Farah, no Globo. Comento depois:
Deus tem um plano político para os fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) e para os evangélicos que sejam seus aliados: governar o Brasil, segundo as palavras do bispo Edir Macedo, fundador e chefe da Igreja Universal, no livro “Plano de poder”,
lançado a duas semanas das eleições. A partir de uma leitura política do Antigo Testamento, Macedo incita os evangélicos à mobilização partidária, seguindo o “projeto de nação” que Deus teria sonhado para os hebreus, que ele chama de cristãos. O livro tem co-autoria de Carlos Oliveira, diretor-presidente do jornal Hoje em Dia, de Minas Gerais.
“Tudo é uma questão de engajamento, consenso e mobilização dos evangélicos. Nunca, em nenhum tempo da história do evangelho no Brasil, foi tão oportuno como agora chamá-los de forma incisiva a participar da política nacional”, escreve Macedo, estimando em 40 milhões a comunidade de evangélicos do país: “A potencialidade numérica dos evangélicos como eleitores pode decidir qualquer pleito eletivo, tanto no Legislativo quanto no Executivo, em qualquer escalão: o municipal, o estadual e o federal.
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Comento
Este senhor poderia estar dizendo a maluquice que lhe desse na telha, não tivesse ele emissoras de TV que são concessões públicas, conquistadas em razão de sua proximidade com o poder, qualquer que seja o poder. O partido que ele inventou tem, formalmente ao menos, o vice-presidente da República.

Macedo é um espanto. Quando a Bíblia que ele diz seguir ao pé da letra não justifica a sua tese, então ele a reescreve ao seu alvedrio. Inventou, em livro anterior, que o Eclesiastes autoriza o aborto. É mentira! No de agora, segundo a reportagem, chama os judeus do Velho Testamento de “cristãos”, o que é uma revolução e tanto. Teria, então, o judaísmo sido extinto sem que ninguém fosse nem mesmo alertado? A rigor, parece, nunca existiu. A Lei Mosaica, para o autoproclamado "bispo", tudo indica, já era cristã. Sempre pensei, ingênuo, que o cristianismo é que guardava a influência da Lei Mosaica.

Não, eu não tenho qualquer receio dos delírios de poder de Edir Macedo. A tunda que seu candidato, o tal “bispo” senador Crivella, levará no Rio, mesmo contando com o apoio do presidente da República e do vice, demonstra que as coisas não são assim tão simples. Meu ponto é outro: como foi que o Brasil pariu tal gente?



Por Reinaldo Azevedo

Em 13 Estados, choque de gestão já reverte em dividendo político - Blog do Reinaldo Azevedo - 21/09/08

Por Christiane Samarco, José Maria Tomazela e Guilherme Scarance, no Estadão:
Os governos estaduais começam a descobrir que a qualidade na gestão dos recursos públicos e do pessoal pode render dividendos políticos. Em pelo menos 13 Estados avançam reformas que resultaram em mudanças de mentalidade, redução de gastos e melhor atendimento ao cidadão. Os cenários são variados. Em Minas, a figura do barnabé, apelido pejorativo do funcionário público que acumula tempo de serviço, perde espaço para o servidor que trabalha em equipe, persegue metas e recebe prêmios. Em São Paulo, ocupantes de cargo de confiança se submeterão a provas de certificação e o Espírito Santo, antes em falência, hoje é investidor.
Por decreto do governador Aécio Neves (PSDB), baixado em agosto, Minas remunera por desempenho o conjunto de servidores. Dos 321.133 funcionários estaduais, 240 mil receberam neste mês prêmio por terem atingido resultados superiores a 60% das metas. O valor chega a 90% da remuneração mensal.
Ficaram de fora secretários, dirigentes de fundações e autarquias e servidores terceirizados. Neste ano, a premiação é feita por área, como saúde e educação. "No ano que vem o prêmio será por equipe", diz Aécio. O plano fixa metas de curto, médio e longo prazos, em um planejamento para 20 anos.
Em São Paulo, uma das apostas de José Serra (PSDB) é a certificação para cargos de confiança. Uma instituição avaliará a competência de 91 dirigentes regionais de ensino, 17 dirigentes de saúde e 38 diretores de hospitais e instituições de pesquisa. Quem for reprovado terá de se submeter a um curso de capacitação e a nova prova. Se não passar, será exonerado. A meta é certificar 2 mil dos 12 mil comissionados.
Em ação paralela, o governo paulista enxugou 15% dos cargos em comissão (4.218 vagas), com economia anual de R$ 64,8 milhões. Com o Programa de Melhoria de Qualidade da Gestão Pública, entre maio e junho foram economizados R$ 115 milhões - a meta é cortar R$ 500 milhões por ano. A pasta da Educação foi a primeira a adotar o plano de metas e pagamentos por resultados. Por fim, Serra estabeleceu contratos com pagamento vinculado a metas.
Em 2003, o governo do Espírito Santo devia três folhas de pagamento, ou quase R$ 1,5 bilhão, para fornecedores e tinha a empresa de saneamento hipotecada ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) por causa de dívidas. Após um pacote de medidas adotadas, a arrecadação passou de R$ 2,4 bilhões, naquele ano, para R$ 5,4 bilhões, em 2007. A capacidade de investimento saltou de 1% para 16%. Há prêmio para atitudes empreendedoras e 2 mil servidores já passaram por cursos.
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Por Reinaldo Azevedo

Ataque contra real expõe vulnerabilidade - Blog do Reinaldo Azevedo - 21/09/08

Por Fernando Canzian, na Folha:
O ataque especulativo contra o real na semana passada e a disparada no preço do dólar, que chegou a subir 8,4% entre segunda e quinta-feiras, explicitaram mais uma vez a vulnerabilidade do Brasil -e sua forte dependência de capitais especulativos de curto prazo no equilíbrio das contas externas.
Além de ter sido provocada pela especulação de investidores, a disparada do dólar (que cedeu só após o anúncio de intervenção do Banco Central) se deu pela saída de investimentos estrangeiros de curto prazo.
Segundo analistas, ao lado do crescente déficit na conta de transações correntes (saldo em dólares do país com o resto do mundo), a dependência brasileira do capital especulativo é seu principal ponto fraco.
Os estoques de investimentos estrangeiros especulativos no Brasil equivalem hoje a cerca de três vezes o tamanho das reservas em dólares no BC, segundo os últimos dados consolidados, em dezembro de 2007.
O fato de o Brasil ter US$ 208 bilhões em reservas deixa o país mais seguro, mas, ainda assim, existem quase US$ 3 em capitais especulativos que podem sair a qualquer momento para cada US$ 1 em reservas.
No momento em que esses investidores decidem tirar grandes volumes de dinheiro do país, como na semana passada, há forte pressão sobre o real, que tende a perder valor.
"O que vimos foi uma corrida contra o real. O ataque deixou de ter relação direta com os fundamentos econômicos e ocorreu pela necessidade de investidores retirarem dinheiro do país para cobrir perdas lá fora", afirma Júlio Sérgio Gomes de Almeida, consultor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e professor da Unicamp.
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Friday, September 12, 2008

O índio de araque e as Forças Armadas - Blog do Reinaldo Azevedo - 12/09/08

"Ao presidente da Venezuela, o senhor Hugo Chávez, e à comunidade internacional, dizemos que as Forças Armadas rejeitam enfaticamente intervenções internacionais de qualquer tipo, não importa de onde venham. Não permitiremos que nenhum soldado ou força armada estrangeiros ponham pé em nosso solo."
A fala, como sabem, é de Luis Trigo, comandante-em-chefe das Forças Armadas na Bolívia. Responde à ameaça feita pelo bufão de Caracas, que disse ontem que, caso Evo Morales seja deposto, ele se sentirá autorizado, imaginem só, a invadir a Bolívia. Alguns degraus abaixo, como sempre, Marco Aurélio Top Top Garcia, assessor especial de Lula, também afirmou que o “rompimento do ordenamento institucional boliviano é inaceitável”. O que “inaceitável” quer dizer, na prática, não se sabe.

Evo Morales é um empregadinho moral e ideológico do Beiçola bandoleiro. É evidente que ambos estão em contato permanente — assim era antes da crise; imaginem agora. A reação do comandante das Forças Armadas deixa claro o óbvio: o recado de Chávez não foi dirigido aos oposicionistas, mas aos militares bolivianos. Eis a maneira como o delinqüente decide “ajudar” o país amigo.

O índio de araque está numa posição bastante difícil. Se recua, como querem as oposições, é claro que se enfraquece. Conseguir a coesão necessária nas Forças Armadas para reprimir o levante de parte do país supõe tornar-se refém dos militares.

E por que se chega a isso?

Porque as ações de Evo Morales, a exemplo das de Chávez, tinham e têm uma lógica interna. Elas precisam, para se sustentar, de um regime de força, a exemplo do que se vê Venezuela. Ou, então, supõem uma guerra civil, para que se comece “a nova Bolívia” a partir das cinzas. Vale dizer: o projeto de Morales é incompatível com a democracia. E por isso as conversas têm-se mostrado inúteis.

A reação dos militares bolivianos não deixa de ser, dado o conjunto da obra, também uma advertência a Evo Morales.


Por Reinaldo Azevedo

Jabor como Bin Laden - Blog do Reinaldo Azevedo - 12/09/08

Leitores me escrevem indignados com o comentário que Arnaldo Jabor fez na CBN por ocasião dos sete anos do 11 de Setembro. Quase nunca ouço rádio. Ouvi agora. É, acho que ele perdeu a mão — e, no comentário em particular, também o juízo.

Jabor é partidário da tese de que o terrorismo islâmico é obra do Ocidente. Segundo o seu entendimento, não fosse a estupidez da América reacionária, os facínoras não existiriam. É evidente que a tese ignora o fato óbvio de que os atentados foram planejados ainda durante o governo do “liberal” Bill Clinton. Estamos diante de um pouco mais do que um simples raciocínio doidivanas. Isso tem um suporte teórico, traduzido, já afirmei aqui, com perfeição no livro Orientalismo, de Edward Said. Ele inventou a tese charmosa para os “progressistas” do mundo de que o “Oriente” é uma criação do Ocidente — e, por conseqüência, tudo o que se faz e se pensa por lá é sempre uma reação, jamais uma ação. Trata-se de uma besteira influente.

Ouvindo Jabor — que recita o que seria uma fala de Osama Bin Laden, agradecendo a Alá pela existência de Bush —, somos informados de que OS VERDADEIROS CULPADOS PELO TERRORISMO ISLÂMICO SÃO AS VÍTIMAS. É uma tese moralmente asquerosa. E, lamento dizer, obviamente mentirosa. O cineasta ignora o fato de que as maiores vítimas do terror islâmico não são os ocidentais, mas os próprios islâmicos: são eles os principais alvos dos atentados e também das ditaduras. E isso, é óbvio, nada tem a ver com o Ocidente, seja governado por Clinton, Bush, Barack Obama ou John McCain.

E chegamos ao ponto. Jabor está, vamos dizer, empenhado na tentativa de eleger Barack Obama presidente dos Estados Unidos... A julgar por suas falas recentes, Obama poderia ser um pouco mais do que isso: quem sabe não é candidato a conduzir a paz perpétua kantiana. Daí que McCain, na fala do cronista, seja (des)qualificado como “um velho maluco, doente e imbecil”. De Sarah Palin, diz se tratar de uma “mulher que se comparou a uma cachorra”. Sempre falando como se fosse Bin Laden, Jabor afirma que “Bush desorganizou todas as conquistas iluministas do Ocidente...” Em suma, depois de alguns segundos, fica impossível saber qual é o pensamento de Jabor e qual é o suposto pensamento de Bin Laden. As vozes se misturam e, de fato, se combinam e se confundem. Se Bush inventou Bin Laden, como ele quer, Jabor consegue ser a sua perfeita tradução.


Por Reinaldo Azevedo

A implosão das agências reguladoras - Sérgio Guerra, Folha de S. Paulo (12/09/08)

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1209200808.htm

A orientação parece clara: é preciso minar o sistema de regulação herdado da gestão passada e ressuscitar o modelo intervencionista

AS AGÊNCIAS reguladoras são uma experiência recente no país. A primeira, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), mal completou 11 anos. Elas surgiram como parte da reestruturação econômica empreendida na década de 1990, com a exaustão da capacidade de investimento do Estado. Às agências reguladoras coube ordenar e prover os incentivos necessários à atuação eficiente do setor privado, ao mesmo tempo em que perseguiam o máximo bem-estar social.
Estabilidade, previsibilidade, autonomia decisória e orçamentária são requisitos fundamentais ao bom funcionamento de órgãos de regulação.

Qualidades que propiciam condições adequadas à realização dos investimentos privados em infra-estrutura.

Mesmo incipientes, as agências reguladoras já demonstraram capacidade de auxiliar o desenvolvimento econômico do país e gerar benefícios para milhões de consumidores.

É o caso, por exemplo, das telecomunicações, cujo salto nos últimos dez anos é sem precedente na história brasileira: em 2010 haverá mais telefones do que habitantes no país.

Esse paradigma, de evidente sucesso, vem sendo posto à prova. No atual governo, as agências reguladoras viram-se às voltas com todo tipo de dificuldade. A orientação parece clara: é preciso minar o sistema de regulação herdado da gestão passada e ressuscitar o velho modelo intervencionista.

Dia após dia, ação após ação, o modelo das agências reguladoras vem sendo desmontado. E como isso vem isso acontecendo?

Se a autonomia é essencial para um órgão regulador, o governo atuou para sufocá-la via restrições financeiras.

O dinheiro destinado à manutenção das agências provém de taxas específicas pagas pelos consumidores, mas é apartado pelo governo como se recurso orçamentário fosse. Dos R$ 39 bilhões destinados às agências nos seis últimos exercícios, 69% foram esterilizados em "reservas de contingência", ou seja, não foram investidos.

Se independência é precondição para a tomada de melhores decisões, o governo foi, aos poucos, instrumentalizando a direção de cada uma das dez agências e dando-lhes, cada vez mais, perfil político-partidário, e atributos técnicos deixaram de ser desejáveis. Os cargos de direção das agências tornaram-se porto seguro para acomodar apaniguados políticos. O caso da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) -única agência cujo processo de criação e instalação deu-se integralmente no governo do PT-, e sua primeira diretoria, é por demais ilustrativo.

Se agilidade e continuidade são preceitos de boa gestão, o governo adotou a lentidão como regra. Os cargos de direção passaram a ser preenchidos com imensas delongas: houve anos, como 2006, em que, na média, as cadeiras de direção das agências ficaram vagas durante quase um terço do ano. Para a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), recentemente, a indicação só foi feita pelo presidente da República sete meses depois de o cargo ter ficado vago. O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) -que não é agência, mas também cuida de regulação- ficou sem deliberar por não dispor do quórum mínimo de membros.

Se previsibilidade é a regra de ouro dos investimentos produtivos internacionais, o governo tratou de miná-la, reduzindo as necessárias mudanças e aperfeiçoamentos no arcabouço legal dos setores regulados a um jogo de conveniência. A mudança no Plano Geral de Outorgas das telecomunicações abre a porta para operações financiadas por dinheiro público. Modernizar a legislação das telecomunicações é algo bem-vindo, mas tudo o que se viu até agora é o oposto do que os melhores preceitos indicam ser o adequado.

Esse é o ambiente com que hoje nos deparamos. Seus efeitos danosos não são mera retórica. Tome-se, por exemplo, os ingressos brutos de investimentos estrangeiros em infra-estrutura. Em 2007, eles chegaram à marca de US$ 3 bilhões, ou seja, menos da metade do que foram em 2002.

É dinheiro que nos faz falta: só o setor de telecomunicações exige inversão anual de R$ 13,5 bilhões.
As agências reguladoras se transformaram em braço operacional do Executivo. Com honrosas exceções, tais órgãos hoje meramente exprimem e executam visões de governo, não mais políticas de Estado. Tornaram-se aparelhos políticos sujeitos a ingerências partidárias. Desapareceu do horizonte a formulação de políticas e diretrizes estruturantes.

Em conseqüência, o interesse do consumidor tornou-se o menos relevante. É o renascimento de um antigo modelo: pouco transparente, discricionário, centralizado e intervencionista. Perde a sociedade brasileira, mas é certo que alguns poderão ganhar muito.

SÉRGIO GUERRA, economista, é senador da República pelo PSDB-PE e presidente nacional do PSDB.

Wednesday, September 10, 2008

UM VERMELHO-E-AZUL COM MARCELO COELHO - Blog do Reinaldo Azevedo - 10/09/08

O articulista Marcelo Coelho, da Folha, escreveu, sem dúvida, o texto de sua vida no jornal desta quarta. Ele vai falar de escutas telefônicas e já começa a anunciar o que virá pelo título: “Pânico de gabinetes”. Vamos lá. Ele em vermelho. Eu em azul.

Assunto delicado, esse dos grampos. Prometo ser cuidadoso no que vou falar aqui, mas eu tendo a discordar do espírito geral dos comentários feitos sobre o tema.
Não se esqueçam. Ele prometeu ser cuidadoso — espero que não como o bandido ideal de certo político, que “estupra, mas não mata”.

Estado policial, retorno aos tempos da ditadura, da Gestapo, da KGB? Comparações desse gênero viraram moda.
Não viraram. Moda é andar com o elástico da cueca acima do cós da calça. Moda é decorar havaianas com pedrinhas brilhantes, como vejo fazer as minhas filhas. Isso é moda. Escuta telefônica é um problema político. E Coelho poderia deixar de lado as metáforas exageradas e se concentrar nos bons argumentos de quem combate a escuta. As pessoas mais lúcidas têm dito a respeito que, em vez de estado policial, tem-se é a balcanização da Abin e da Polícia Federal. Mas Coelho quer um argumento tolinho porque, assim, fica fácil responder.

Preocupa bastante, é claro, a disseminação das escutas ilegais. Mas acho que estamos diante de um fenômeno novo, que não se confunde com a antiga realidade dos regimes totalitários.
Truque muito comum em trapaças argumentativas. Eleja o mal maior, o mal extremo, e depois diga que o problema apontado por seu adversário não equivale àquele ápice. Isso fatalmente empurra o oponente para a admissão de que, de fato, não é algo tão grave. Pronto: você não tem razão e, por estúpido que seja, tem a chance de vencer o debate.
Darei um exemplo vindo da imprensa, onde Coelho mais ou menos transita. Juízes têm, Brasil afora, concedido liminares impedindo a publicação de reportagens. Indefensável? Indefensável. Mas você pode começar assim: “Não vamos confundir essas liminares com a volta da censura prévia porque são coisas diferentes...” Claro que são. E daí? No trecho seguinte, Coelho caracteriza o que entende por um estado totalitário a partir o filme A Vida dos Outros. O intuito é mostrar que, em Banânia, as coisas se dão de outro modo.

Tome-se o exemplo da Alemanha Oriental, pátria da famosa Stasi; quem viu o filme "A Vida dos Outros" sabe o pesadelo que era aquilo.
Qualquer suspeito de ser opositor do regime tinha as suas conversas monitoradas.
Numa cena impressionante, uma velhota, vizinha de um cidadão suspeito, abre por acaso a porta do seu apartamento e percebe que um grupo de agentes policiais está no corredor, pronto para instalar os aparelhos de escuta.
O chefe dos arapongas se aproxima da velhota e avisa: se ela contar a alguém o que acabou de ver, sua neta perderá a vaga na faculdade. A velhota fica evidentemente quieta, não revela ao vizinho que ele está sob vigilância e se torna, na prática, cúmplice do regime.
Não é preciso dizer que toda conversa vagamente incriminadora, captada pelos agentes secretos, significa a prisão imediata do suspeito, que, com tortura ou sem tortura, assina uma confissão, é condenado ou provavelmente termina fazendo parte dos informantes do regime.
Para que esse modelo de Estado policial funcione, alguns pressupostos são necessários. O primeiro é que só a polícia detenha os equipamentos de espionagem. O segundo é que a informação passe a ser imediatamente utilizada pelo sistema repressivo. O terceiro é que esse sistema repressivo seja mais ou menos clandestino, ocorrendo à margem da Justiça oficial: cada prisão se assemelha a um seqüestro. O quarto é que, para ter qualquer coisa, emprego, moradia, estudo, o cidadão dependa do Estado.
Pronto! Está demonstrado – precariamente - que o Brasil não é um estado policial de molde comunista. Por que “precariamente”? Direi adiante. Mas notem: a escuta generalizada já começa a parecer algo menos grave...

O funcionamento da "grampolândia" hoje em dia é bastante diferente, e desconhece esses pressupostos.
Será? Sim, é fato: como o Brasil não é uma ditadura comunista, os grampos não funcionam como numa ditadura comunista. Que coisa, não!?
- no Brasil, o grampo se generalizou;
- o grampo não é usado para a repressão, mas para a extorsão e a chantagem;
- o sistema é clandestino — tanto o que está no aparelho de estado como, claro, o operado pela “iniciativa privada”;
- a pessoa não perde o emprego, mas pode perder a reputação numa trapaça. Mas não é estado policial, gente...

Se as famosas maletas da Abin podem ser compradas com facilidade por qualquer pessoa, a conseqüência prática não há de ser uma hipertrofia do poder do Estado. A chantagem e a intimidação se tornam via de mão dupla. Os ocupantes do poder têm sido, aliás, mais vítimas do que algozes no processo.
Entendi errado, ou Coelho acha que um sistema em que todos espionam todos tem lá as suas virtudes?
É uma barbaridade que ele não perceba, ou finja não perceber, que a escuta ilegal de autoridades, para posterior chantagem (e as falas podem ser editadas ao gosto de quem encomenda o trabalho), atenta não apenas contra os grampeados, mas também contra o interesse coletivo. Ora, quem a tanto se presta quer alguma coisa do poder público que não obteria por meios legais. Considerando que a autoridade é o “povo” instituído naquela determinada função, a chantagem é contra o coletivo.

Além disso, as práticas da "grampolândia" costumam ter como destino mais provável não o encarceramento do escutado, mas sim, por meio de vazamentos, as páginas dos jornais.
Duas coisas importantes:
- Coelho fala dos grampos que vazam para a imprensa. E os que não vazam?
- será que não se pode usar a imprensa para a chantagem?

Tudo, nos tempos da Stasi e da KGB, terminava num porão. Agora, tudo se divulga à luz do dia.
É uma frase de incrível irresponsabilidade, especialmente para quem prometeu ser cuidadoso. Existem, estima-se, quase 500 mil escutas legais em curso no país — isto é, concedidas por um juiz. Imaginem as ilegais. Não sabemos delas nem uma parte infinitesimal.

Crescem imensamente as ameaças à privacidade, mas a novidade está em que não parecem crescer, ao mesmo tempo, as condições para o surgimento de um Estado totalitário.
Sei... E tudo o que não é estado totalitário é, então, tolerável...
Na verdade,
Oba! Agora conheceremos “a verdade”
com todos os abusos que possam ser cometidos, uma autoridade grampeada é uma autoridade mais transparente, mais submetida ao controle da sociedade.
É a mais espetacular tolice do seu texto. Então por que não exigir, em nome da transparência, que os despachos das autoridades sejam feitos com transmissão ao vivo, como num grande Big Brother? Esse é o Coelho “cuidadoso”. Imaginem quando ele é descuidado. Esse é o Coelho que prometeu ponderação. Imaginem se ele escrevesse, então, o que realmente pensa, sem os filtros da moderação.

A escuta telefônica pode ser manipulada para destruir reputações; mas o perigo, aqui, vem antes das possíveis irresponsabilidades da imprensa do que de qualquer tentação totalitária do Estado.
Errou de novo! Coelho não sabe nada de imprensa, embora seja um medalhão – em sentido machadiano — do articulismo. Está confundindo tudo de maneira grosseira, xucra. Se uma escuta sobre assunto público vem à tona, se foi entregue a um jornalista, sua obrigação é divulgar. Reter a informação é que passaria a caracterizá-lo como parte do mundo do crime. Se existe uma autoridade sendo chantageada e se a imprensa sabe, sua obrigação é relatar. O jornalista não pode se tornar o dono daquela informação. E atenção:
- se a escuta é ilegal, um crime foi cometido na origem, mas não pelo jornalista, e tem de ser investigado;
- se a escuta é legal, feita no curso de uma investigação sigilosa, o dono do sigilo —a autoridade responsável — é que tem de ser punido.


Não é por acaso que tantos protestos contra o "terror policialesco" dos dias atuais provenham das altas esferas do poder. Se escândalos sexuais tomassem o centro das atenções -como acontece no caso dos tablóides britânicos-, a revolta teria razão de ser. Mas o que se noticia são, acima de tudo, negociatas suspeitíssimas com o dinheiro dos contribuintes.
Andréa Michael, uma jornalista da Folha — não a conheço; tudo o que sei a seu respeito abona o seu comportamento como repórter dedicada apenas à tarefa de informar —, foi grampeada pela Operação Satiagraha. Queriam mandá-la para a cadeia por causa de uma reportagem que foi considerada um alerta para Daniel Dantas. Pergunta óbvia: se Andréa estivesse no esquema do banqueiro, por que fazer a reportagem? Bastaria passar a informação ao empresário privadamente. Como se vê, não são apenas pessoas envolvidas em negociatas que estão sendo grampeadas.

O poder descontrolado da polícia, levando para trás das grades pessoas somente pela suspeita de irregularidades, deve ser coibido, é claro. Atentados aos direitos individuais não têm desculpa. Em que medida, entretanto, o respeito à esfera privada está ligado ao respeito à liberdade individual?
Epa! Mais um truque retórico capenga: negue ou relativize que a “esfera privada” faça parte do capítulo das “liberdades individuais” e depois diga, então, que escuta telefônica não é ameaça às liberdades individuais. Não é fácil? Acho que ninguém se interessaria em grampear as conversas de Coelho. Mas, se alguém o fizer, sua primeira reação não será certamente de indignação ou raiva. No máximo, ele vai se perguntar: “Será que alguém invadiu os meus direitos individuais?”

Câmeras de monitoramento se espalham por toda parte. Aumentar seu número é até promessa de campanha dos candidatos a prefeito.
E o que uma coisa tem a ver com a outra? Câmeras de segurança em locais públicos não vigiam a individualidade de ninguém. A comparação é uma bobagem.

E como esperar que forças policiais, diante de ameaças como o terrorismo ou o narcotráfico, deixem de usar a parafernália técnica que criminosos organizados podem comprar com facilidade?
Terceiro truque: transforme a opinião do adversário em algo absolutamente estúpido e depois diga que você e contra a estupidez. Vejam como é fácil. Eu afirmo: “O combate à pedofilia não pode ser um pretexto para acabar com a privacidade na Internet”. O debatedor de má-fé pode resolver lhe chutar os países baixos: “Ah, então o senhor acredita que devemos respeitar os direitos dos pedófilos!?”. Pronto! Ele acabou de associá-lo ao nefando. Quem, afinal de contas, se opõe a que a Polícia tenha o devido aparelhamento técnico para combater o crime?

Não gostaria de saber, é claro, que minhas conversas telefônicas são grampeadas.
Que isso, Coelho? Deixe os orelhudos tomarem conta de sua vida. Privacidade nada tem a ver com individualidade, companheiro. Você não é autoridade, mas é jornalista. Sabe como são os jornalistas...

Costuma ser terrorismo a idéia do "quem não deve não teme". Tenho meus temores, como todo mundo. Mas acho que muita gente está atemorizada demais.
Ou seja, os “atemorizados demais” talvez devam alguma coisa, não é?, ou não temeriam tanto, certo? Logo, para Coelho, “quem não deve não teme”. E isso, ele definiu bem, é uma idéia terrorista. Logo...
Entendo que as coisas são diferentes: quem não deve é justamente o que mais teme. Sabem por quê? Porque, não sendo bandido, o sujeito não sabe se comportar com o sangue frio dos profissionais. Se vê sua reputação ser enlameada, indigna-se, fica revoltado, protesta.
Já o bandido profissional tem aquela gigantesca cara-de-pau. Se preciso, ele admite o crime menor para esconder o maior. Quando se vê sem saída, não tem dúvida: “Eu não sabia de nada! Fui traído”. E segue adiante.
Seja no estado policial, seja no estado em que a polícia e o órgão oficial de inteligência degeneraram numa luta de facções, quem mais tem a temer são justamente os inocentes. Vejam o caso de Daniel Dantas: sua reputação, hoje, está melhor ou pior do qeu antes? Se duvidar, ele até ganhou alguns pontinhos. E as pessoas inocentes que Protógenes atacou em seus relatórios energúmenos — e Andréa, da Folha, foi uma delas? Sobre estas, por algum tempo, haverá uma certa sombra de suspeita. Quem vai responder por isso?
Com a palavra, Marcelo Coelho, o Montaigne da grampolândia.


Por Reinaldo Azevedo

EVO, O GOLPISTA - Blog do Reinaldo Azevedo - 10/09/08

A situação da Bolívia (ver posts abaixo) pode degenerar em guerra civil. É fácil, convencional e estúpido olhar para o país e acusar a, como é mesmo?, direita golpista. Coisa de energúmenos — que não leram os livros de referência sobre o assunto — ou de quem tem mesmo má-fé ideológica, pura e simplesmente: na dúvida, acuse a direita. A oposição boliviana age da melhor maneira? Acho que não. Mas ela criou a crise sozinha? Ora, tenham paciência!

Desde o primeiro no dia no poder, Evo Morales não tem feito outra coisa que não assaltar a institucionalidade que o elegeu. Governos que desrespeitam as regras do jogo democrático ou degeneram em ditaduras ou acabam depostos — e, às vezes, por outras ditaduras. Um maluco como Hugo Chávez pode até ter uma longa permanência no poder. Mas, acreditem, aquilo não dará em boa coisa. Quantos foram os nossos analistas, com as respectivas cabeças ornadas por um belíssimo par de orelhas, que não viviam a indagar: “Oh, o que Chávez fez de antidemocrático? Ele sempre faz referendos e consultas populares”. Como se isso fosse garantia de democracia.

Não creio que alguém ignore que se pode recorrer a instrumentos da democracia para solapar a própria democracia. Isso é tão corriqueiro no continente, hoje ou antes. Vejam o Brasil de 1964 se querem um exemplo da casa. A democracia foi para o brejo só porque havia uma elite golpista? Essa é a versão dos que imaginavam outros golpes: o populista — do próprio Jango — e o comunista, das esquerdas. Aquele governo foi deposto porque a desordem foi levada para dentro do poder pelo próprio presidente — e, claro, porque havia golpistas em excesso no Brasil: na direita, na esquerda e na Presidência da República. A democracia morreu por falta de quem a defendesse.

Volto à Bolívia. Morales, que costumo chamar aqui de “índio de araque”, tentou mimetizar os métodos Chávez na Bolívia. Só que não com o mesmo sucesso — até porque os bolivianos viram o que aconteceu na Venezuela. Essa história de fazer referendo revogatório de mandato para reivindicar mais poder é também golpe, só que dado por intermédio de um arremedo legal. Um dos caminhos para a degeneração da institucionalidade é justamente essa “plebiscitização” da política. No Brasil, sabemos, há quem sonhe com isso.

Desde o primeiro minuto de seu mandato — e, antes, já na campanha —, Evo Morales decidiu ser o presidente da Bolívia Ocidental, justamente onde se concentra a massa de miseráveis que ele pode manipular com seu discurso beligerante contra “os brancos” e contra “os ricos”. Mas a Bolívia Oriental, onde estão "os brancos e ricos", responde por boa parte da riqueza do país e rejeita os métodos escolhidos pelo presidente.

A idéia de que a democracia é apenas o regime da maioria é estúpida — o fascismo, por exemplo, era um regime de maioria. A democracia compreende também o respeito à minoria. E isso nada tem a ver com “privilégios”. Gente como Evo Morales, Rafael Correa (Equador) e Chávez não entende o princípio. No Brasil, é bom que se diga, há facções do petismo que ainda não se conformaram com o fato de Lula, popular como é, estar limitado por uma Constituição e por leis.

Eis aí. Tentativa de golpe da direita? E por que não se falar, então, em contragolpe? Espero que os opositores de Evo Morales renunciem à violência sem mudar o propósito de conter o aprendiz de ditador. Ele vai ter de negociar. Ou vem por aí um banho de sangue.


Por Reinaldo Azevedo

Tuesday, September 09, 2008

Assim não, Aécio! Ou "Democracia e salvacionismo" - Blog do Reinaldo Azevedo - 09/09/08

(Ler primeiro o post abaixo)
Aécio Neves é tão simpático, que também eu sou tentado a achar que essa sua visão que mistura catastrofismo com salvacionismo é irrelevante. Também eu penso em fazer como a maioria dos analistas e fingir que ele não disse nada. Mas ele disse.

Então vamos ver: cadê a “radicalização” que, segundo ele, ameaça o futuro do Brasil? Onde ela está? Quero me juntar aos radicais, aos que fazem oposição de raiz... Onde eles estão? No PSDB? Não posso crer. Qual foi a dificuldade real que os tucanos, sejam aecistas, serristas ou de outro “ismo” qualquer menos vistoso, criaram para o Brasil? Ou Aécio aponta, ou serei obrigado a concluir que ele está blefando.

Estariam sendo radicais os tucanos quando, com certa timidez até, cobram do governo providências contra o estado paralelo (ou “estados paralelos”) das escutas telefônicas? Foram radicais na época do mensalão? Ou do dossiê dos aloprados? Ou do dossiê anti-FHC-Ruth? Cadê os radicais, governador? Mostre-me um único voto de vingança dos tucanos — a CPMF não vale porque o governo tinha maioria para aprová-la e não conseguiu. Ademais, as oposições estavam certas: a arrecadação já cobriu com sobra o "buraco".

Por que fico sempre com a sensação de que Aécio se oferece para ser o Salvador de uma mal que não existe? Por que fico com a sensação de que ele “precisa inventar o pecado para, então, inventar o perdão?” Imagino o governador de Minas nos Estados Unidos: “Gente, vamos parar com isso. Vamos nos unir para fazer as reformas de que os Estados Unidos precisam. Pra que tanta divisão?"

Exemplo de Belo Horizonte? Com a devida vênia, a invenção de Aécio e Fernando Pimentel (PT) inaugurou a eleição biônica pelo método democrático. Uma jabuticabaça! Até ser ungido candidato — sim, foi uma unção!—, os belo-horizontinos não conseguiriam distinguir o futuro prefeito, Márcio Lacerda, e seus óculos escuros de uma peça de mortadela. Juntaram-se as duas máquinas, a do PSDB e a do PT, e ele ganhou a Prefeitura. Sem oposição possível. Aécio tem razão: Belo Horizonte não é exemplo de coisa nenhuma — nem de indicadores sociais — pesquisem; não vou abrir uma picada nova no texto.

Aécio tem todo o direito de pleitear a vaga de seu partido para disputar a Presidência da República. É governador de um grande estado, tem uma aprovação popular altíssima, tem trânsito no establishment político e — sim, é verdade — costuma ser poupado pela imprensa — sobre a mineira, há pouco a falar: Minas é um verdadeiro celeiro do “jornalismo propositivo”. Mas ele não pode depredar assim a teoria política nem inventar uma radicalização que não existe.

Depreda a teoria política quando faz crer que a existência de oposição sabota as aspirações populares. A rigor, é o que pensam todos os autoritários. Aécio certamente não é um deles. Parece nos dizer que o que os outros conseguem pela força — anular a oposição —, ele pode conseguir com um acordo, na base do papo. Meio não é fim; método não é finalidade.

Mas esperem um pouco: o bom é não haver oposição? É assim que o Brasil avança? Se o próximo governo for tucano, de Serra ou de Aécio, espero que o PT seja vigilante. Se Dilma for eleita, espero que haja partidos e líderes que se oponham a ela — Aécio, já sei, não deve estar entre eles. Há algo de surrealista nessa conversa toda.

Ah, lamento não compartilhar desse idílio. Esse negócio de “interesse nacional” é um dos velhíssimos mitos da política. Ou você cai nessa porque leu menos do que deveria ou cai porque, sei lá, acredita que a política atrapalha o ambiente de negócios, e é melhor um ambiente de negócios sem política...

Só agora?
Só agora escrevo isso? Ah, não. Faz tempo. Já escrevi rigorosamente a mesma coisa, acreditem, em favor de Lula. Como? Eu poderia remetê-los ao livro O País dos Petralhas (aguardem, está saindo...), mas digo já.

O hoje governista Fábio Wanderley Reis, acadêmico mineiro, escreveu, em 2001, um texto chamado "Brasil ao quadrado? Democracia, subversão e reforma", que foi debatido por banqueiros. Lá pelas tantas, desconfiava: “Creio haver boas razões para reservas quanto à perspectiva de que um Lula ou assemelhado assuma o poder presidencial e o exerça sem mais, até o momento de transferi-lo ao sucessor. Falta a nossa democracia passar por este teste". Eu o critiquei duramente no site Primeira Leitura. Pareceu um flerte, ainda que distante, com um golpe. E não que eu não quisesse, como vocês devem supor, que o PT fosse combatido. Hoje que Reis é lulista, eu continuo a criticá-lo. Ele e Lula podem ter mudado. Eu não.

Não, não me venham apresentar catastrofismos para vender salvacionismos, ainda que nessa versão light, risonha e boa-praça de Aécio Neves. Se a democracia brasileira corre algum risco, ele não decorre de uma inexistente radicalização, mas justamente da “deslegitimação” do discurso oposicionista. Não existe democracia sem oposição, governador! Ademais, o senhor fique tranqüilo: se eleito presidente, creio que não teria dificuldade nenhuma de fazer um acordo com o PT. Qualquer um, de fato, pode fazê-lo desde que pague o preço.


Por Reinaldo Azevedo

O "FIM DO NEOLIBERALISMO" E A HORA DOS PICARETAS - Blog do Reinaldo Azevedo - 09/09/08

Escrevi ontem sobre a tal fim do neoliberalismo, que teria sido decretado com a intervenção do governo dos Estados Unidos em dois fundos imobiliários. A quantidade de besteira que se disse nesta segunda poderia ter sido avaliada em quilos. É uma coisa espantosa. E a tarefa foi facilitada porque há em Brasília o seminário “Desenvolvimento Econômico: crescimento e distribuição de renda”. Assim, a chance que os jornalistas tinham de sujar os sapatos em bobagens era enorme.

Vejam esta da economista Maria da Conceição Tavares, presente ao evento: “Enterraram o neoliberalismo de maneira trágica. O nosso Proer foi mais baratinho. E o nosso sistema bancário não está comprometido (com a crise), o que é uma boa”. Se você não entendeu, leitor, ela esta sendo irônica com o programa de reestruturação de bancos havido no Brasil no governo FHC. Ela e todo o PT se opuseram às medidas. Acusavam-nas de ser leite de pata pra banqueiros. Ela também foi contra o Plano Real — que conduziria o país à bancarrota, jurava com todos os gritos.

Uma nota: quando FHC chegou à Presidência, seus netos eram herdeiros do Banco Nacional. Quando ele saiu, seus descendentes eram uns sem-banco. O Nacional quebrou. Como quebrou o Bamerindus, que pertencia a um de seus ministros. E outras tantas instituições dançaram antes e depois da eestruturação — feita, isto sim, para proteger os correntistas e evitar o caos financeiro no país. Como se vê, FHC foi mais severo com a própria descendência e com seus aliados do que Lula com o seu “Ronaldinho” e a sua turma. Adiante.

Só Maria da Conceição destrambelhou? Ah, não!

Com a elegância teórica habitual, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) disse às gargalhadas, informa O Globo: “Um dia negro para nós, neoliberais do planeta”. Do que será que ele estava rindo? Também para o tucano Luiz Carlos Bresser-Pereira, a intervenção nos dois fundos imobiliários decreta “o fim do neoliberalismo”. Dilma foi na mesma linha, conforme se lê no post abaixo.

Fico aqui pensado: “O que será que essa gente chama de neoliberalismo?” O que se notava ontem em figuras tão ilustres era uma espécie de incontida satisfação: “Tá vendo? Tá vendo? Neoliberalismo não funciona”. E a grande tentação, em muitos casos, era dizer que o próprio capitalismo não é lá essas coisas. A questão é de história e de lógica. Se o ordenamento jurídico permite essa intervenção, então esse tal “neoliberalismo” como sistema nunca chegou a existir.

Alguns dos ilustres que saudaram ontem “o fim do neoliberalismo” opuseram-se ao Real, ao Proer, às privatizações, à Lei de Responsabilidade Fiscal, à privatização dos bancos estaduais, à quebra dos monopólios porque, bem..., chamavam essas medidas de “neoliberais”. Se o país pode, hoje, enfrentar a crise internacional com razoável estabilidade é porque os então chamados “neoliberais” venceram o debate naquele período.

Não? Estou errado? ENTÃO ME DIGAM UMA SÓ MEDIDA ESTRUTURAL – OU ESTRUTURANTE, COMO ELES GOSTAM DE DIZER – que seja da lavra de Lula. Digam-me uma só coisa que ele tenha feito de fundamental que não tenha sido aprofundar ações que herdou dos “neoliberais”.

A picaretagem intelectual dessa gente é assombrosa.


Por Reinaldo Azevedo