Thursday, November 22, 2007

Os “soviéticos” da economia brasileira – Um documento asqueroso - Blog Reinaldo Azevedo - 22/11/07

Estou entre enojado e escandalizado. Os soviéticos estão chegando. Os soviéticos já chegaram. Recebi uma “moção” de apoio a Márcio Pochmann, o patrulheiro do Ipea (vocês se lembram), assinada pelo Conselho Regional de Economia do Estado do Rio de Janeiro (Co.R.Econ-RJ), pelo Sindicato dos Economistas do Estado do Rio de Janeiro (Sindecon-RJ) e pelo (Centro de Estudos para o Desenvolvimento). Acreditem: essas entidades
- hipotecam integral apoio a Pochmann;
- demonizam os economistas demitidos do Ipea (a culpa é das vítimas);
- deixam claro que os quatro economistas foram mesmo “punidos” por não rezarem segundo a cartilha do governo: trata-se de uma questão ideológica;
- dizem que ainda é pouco e que mais precisa ser feito.

O texto é tão asqueroso no seu oficialismo, tão estúpido nos conceitos que emite, tão energúmeno na sua gramática moral e da língua portuguesa, que cheguei a duvidar de que pudesse ser verdadeiro. Entrei na página do Corecon na Internet. Não encontrei a tal moção. Tinha um pequeno fiapo de esperança. Talvez fosse um desses falsos e-mails. “Ninguém seria tão canalha”, cheguei a pensar. “Não é possível que exista gente que se disponha a exibir o nariz marrom desse jeito”, duvidei, cheio de esperança. Fiquei com o pé atrás quando vi que os valentes chamam “site” de “sítio”. Sim, claro, a mesma coisa... Ocorre que, no Brasil, só opta por “sítio” quem é atacado pelo complexo vira-lata de Policarpo Quaresma.

Aí cumpri o meu dever. Liguei para o Corecon — Tel: (21) 2103-0178 ou pelo FAX: (21) 2103-0106 —: “Tenho aqui uma moção que estaria sendo enviada aos economistas...”. Em suma: era tudo verdade. Eles realmente haviam redigido o texto que segue em vermelho. Citei o sovietismo, não é? Acho que fui muito severo com os camaradas. Nem os comissariados profissionais do stalinismo seriam tão sabujos quanto o que vai abaixo. Faço ainda intervenções em azul:

MOÇÃO
Em reunião de 14 de novembro último o CORECON – RJ, o SINDECON e o CED, aprovaram e recomendaram a ampla divulgação da seguinte moção.A imprensa vem criticando duramente os recém-nomeados presidente e diretor do IPEA, Márcio Pochmann e João Sicsú, pelo fato de terem dispensado quatro pesquisadores da instituição. Tendo sido essa decisão supostamente devida ao fato de serem os mesmos contrários a política econômica do Governo.
Vou me abster de comentar os erros de língua portuguesa e as grosserias de estilo. Alguns dos meus amigos mais inteligentes são economistas — um já trabalhou para este governo; não digo o nome nem debaixo de chicote. Mas os que redigiram esta “moção” são analfabetos.

Com respeito à questão, o fato a ser inicialmente sublinhado é que a mudança no comando de instituição de pesquisa oficial (e não acadêmica) traduz o desejo do Poder Público de dar nova orientação aos trabalhos da entidade. No caso em análise, a mudança no comando do IPEA traduz a nova orientação (embora ainda tímida e incompleta) do Presidente Lula no sentido de melhorar os resultados obtidos pelo Brasil em termos de desenvolvimento.
Como se vê, há o endosso cego da política oficial e o que, para mim, corresponde a uma confissão: houve mesmo expurgo; houve mesmo punição ideológica. Observem que os bravos esperam ainda mudanças. Eles acham pouco.

O Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, a criação do Ministério Extraordinário de Ações Estratégicas, com a indicação de Mangabeira Unger para comandá-lo, a nomeação de Guido Mantega para o Ministério da Fazenda e de Luciano Coutinho para o BNDES, constituem importantes corolários dessa decisão de imprimir novos rumos à economia brasileira. É, portanto, perfeitamente natural e necessário que o IPEA, órgão oficial de apoio à definição de políticas econômicas, seja comandado por dirigentes afinados com a nova orientação desejada pelo Governo. E esses dirigentes, para levarem adiante sua tarefa, devem ajustar a equipe técnica do órgão às suas novas funções.
Você pode não ter entendido direito o que vai acima, dadas a pontuação porca, a sintaxe claudicante, a vírgula entre o sujeito e o predicado etc. Mas é só um elogio do oficialismo, explicitando que o afastamento dos quatro pesquisadores faz parte de uma estratégia.

Mais grave, porém, é a alegação de que a dispensa dos quatro pesquisadores, cuja capacidade profissional e contribuição científica não se discute, teria decorrido de serem eles contra a política econômica oficial.
Observem que “grave”, para os soviéticos, não é o afastamento dos economistas, mas a leitura que se faz dela. Querem regular a interpretação da notícia. Em tempo: eles reconhecem a “capacidade profissional e contribuição científica” dos afastados...

Ora, o fato incontestável com respeito a esta,”
Com respeito a esta”??? Cadê o meu pau-de-arara estilístico?

é que os economistas brasileiros se dividem hoje entre os que aceitam, ou rejeitam, a visão neoliberal do Banco Central que, presentemente, comanda os destinos econômicos do país. Visão que concede absoluta prioridade à manutenção dos equilíbrios fundamentais (cambial, fiscal e monetário) relativamente à necessidade de incremento acelerado do PIB brasileiro. Com a conseqüência de ter sido o crescimento da economia brasileira muito inferior ao de países em condições bem menos favoráveis que as nossas para o desenvolvimento econômico.
O que essa gramática símia acima está dizendo é que o reconhecido equilíbrio cambial, fiscal e monetário impede o Brasil de crescer mais. Logo, para os valentes do Corecon (esta sigla com nome de remédio anticaspa), para crescer mais, é preciso provocar um desequilíbrio dos fundamentos... Quem sabe uma gastança ainda maior, quem sabe uma inflação maior, quem sabe a centralização do câmbio... Olhem: também tenho críticas à política econômica. Já as fiz aqui. Mas o que vai acima é um desserviço prestado àqueles que possam ter reservas técnicas à política do Banco Central. Se eu fosse Henrique Meirelles, adoraria ter críticos energúmenos como estes. Ademais, quem nomeia o presidente do BC é Luiz Inácio Lula da Silva, não Fábio Giambiagi.

Com base nesse critério, o que se pode afirmar é não terem os quatro economistas desligados do IPEA jamais se colocado firmemente (o que possivelmente seria sua obrigação) contra o conservadorismo alienante do Banco Central traduzido, entre outros fatos, nos altíssimos juros, na sobrevalorização do real e na recusa em intervir na livre movimentação do capital estrangeiro especulativo.”
Obrigação” por quê? Quer dizer que eles são proibidos de estar lotados num órgão do estado e, eventualmente, concordar com a política monetária? O que vai acima é a admissão tácita de que o Ipea pretende ser uma frente avançada de combate à política do Banco Central.

Quanto à posição dos novos dirigentes do IPEA é suficiente referirmo-nos à dois livros recentes de autoria e co-autoria de João Sicsú. Neles vamos encontrar três críticas, baseadas em impecáveis argumentações científicas, quais sejam: a) ao uso, para manter a inflação sob controle, de altíssimos juros, que paralisam a economia, e são desnecessários por existirem instrumentos alternativos, igualmente eficazes; b) a sobrevalorização do real, que está conduzindo a economia brasileira a indesejável especialização em “commodities” agrícolas e industriais e c) a liberdade, e até encorajamento, concedidos ao capital especulativo estrangeiro, o que coloca o Brasil diante do risco permanente de crises cambiais. Com respeito à taxa de câmbio, Sicsú classifica como irresponsável a aceitação de qualquer relação real/dólar inferior a 2,8.
Como a gente vê, Sicsú, sozinho, descobriu o que é bom para o Brasil. Agora dividindo o comando do Ipea com Márcio Pochmann, impõe a linha justa. Seu livro não é mais uma das leituras possíveis da economia brasileira: é uma cartilha.

Ou seja, em termos de posição a favor ou contra a política econômica oficial, é a nova direção do IPEA, e não os quatro pesquisadores dispensados, que deve ser considerada contrária à política econômica oficial, comandada pelo Banco Central.
Então deveria ser demitida segundo os mesmos critérios que levam Pochmann a afastar os quatro economistas dos quais diverge. Eis a lógica dos “economistas” que pretendem substituir os “neoliberais”. Deus me livre! Tentariam nos convencer a tomar sorvete com a testa.

É, finalmente, necessário lembrar que Márcio Pochmann e João Sicsú são unanimemente apontados como desenvolvimentistas e, portanto, visceralmente contrários a uma política econômica que já levou o país à quase três décadas de semi-estagnação.
O problema dessa gente começa na estrutura binária: basta ver como gosta de pôr crase onde não precisa e de tirar de onde precisa. “Três décadas de semi-estagnação” por causa da política econômica, que eles chamam “neoliberal”??? Então vamos ver. Teria sido o “neoliberalismo” o responsável, entre outras coisas:- pela moratória da dívida externa, com Dílson Funaro (neoliberais, vocês sabem, gostam de calote...);- pelo congelamento de preços do Plano Cruzado (neoliberais, vocês, sabem, odeiam o mercado...);- pelo câmbio fixo do Plano Real (vocês sabem: neoliberais não acreditam em flutuações de mercado...).Trata-se de asneira ditada por um misto evidente de burrice com ideologia. Depois reclamam da minha má vontade com sindicalistas e afins, essa gente que se junta em associações profissionais para defender “usdireitcho da catchiguria”. Se for trabalhador pobre, vá lá... Mas por que alguém precisa de um sindicato de economistas? Economista que presta sabe se defender sozinho, não é mesmo?

O CORECON-RJ, o SINDECON e o CED desejam e esperam que o IPEA, sob nova direção, volte a desempenhar sua tarefa básica, por muito tempo esquecida, de comandar definição de estratégia capaz de recolocar o país na trilha do crescimento acelerado.
Assinaturas:
Conselho Regional de Economia do Estado do Rio de Janeiro – Co.R.Econ-RJ
Sindicato dos Economistas do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Estudos para o Desenvolvimento
É isso aí. Assinem essa impostura. Que o documento sirva como prova da indigência técnica e política dessa gente.Ah, sim: os valentes acima elegeram Márcio Pochmann o “economista do ano”.
Por Reinaldo Azevedo

Thursday, November 15, 2007

Comuno-fascistóides 1 – Presidente petista o Ipea promove expurgos - Blog do Reinaldo Azevedo - 15/11/07

Por Guilherme Barros, na Folha desta sexta. Volto depois:
Quatro pesquisadores independentes e considerados não alinhados ao atual pensamento econômico do governo foram afastados nesta semana do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), no Rio, pela nova direção do instituto, vinculado ao Núcleo de Assuntos Estratégicos, comandado por Roberto Mangabeira Unger. São eles: Fabio Giambiagi, Otávio Tourinho, Gervásio Rezende e Regis Bonelli. Os dois primeiros, que estavam cedidos pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), foram informados de que seus convênios não seriam renovados no vencimento, em dezembro. Já para os outros dois, que estão no Ipea há 40 anos e faziam trabalhos regulares para o instituto, a alegação foi a de que eles já estavam aposentados.
Procurados pela Folha, por meio de suas assessoria de imprensa, os economistas Marcio Pochmann, presidente do Ipea, e João Sicsú, diretor de Estudos Macroeconômicos do órgão, considerada a mais importante posição do instituto, e que fica instalada no Rio, não se pronunciaram. A assessoria da Ipea confirmou a saída dos quatro pesquisadores, mas deu motivos diferentes dos que foram apurados pela Folha. (...) O ex-deputado Delfim Netto, que comandou a economia no período de 1979 a 1985, durante o regime militar, chegando a ser chamado de superministro, lamentou e criticou a saída dos quatro pesquisados do Ipea. Delfim foi até chamado por Pochmann -e aceitou- para assumir o cargo de conselheiro do Ipea. "Tenho esses profissionais [os quatro pesquisadores afastados] em alta conta. São economistas dedicados à pesquisa, com boa formação acadêmica e trabalhos relevantes prestados à economia brasileira", afirmou o ex-deputado.Assinante lê mais aqui

Voltei
Pochmann foi secretário de Trabalho de Marta Suplicy. Na pasta, produzia mais pesquisas furadas do que Lula produz sandices. É um marqueteiro de mão cheia. Tanto que virou um dos principais fornecedores de estatísticas para Eremildo, o Idiota. E, assim, acabou ganhando a injustificada fama de economista sério.A sua obra mais notável até hoje foi uma pesquisa produzida em 2002 — ele na prefeitura petista, e o governo, é claro, era o de FHC — em que demonstrava, com base em vários dados (sim, sim, claro...) que o Brasil era o segundo país NO MUNDO em número absoluto de desempregados. Isto mesmo que vocês entenderam: o valente fez um ranking de desempregados que considerava OS NÚMEROS ABSOLUTOS NO PLANETA. Segundo Pochmann, Banânia só perdia para a Índia...Não! Ele não excluía de seu levantamento nem mesmo os 25% da humanidade da China. Pochmann foi o primeiro economista a obter dados confiáveis sobre emprego no gigante comunista. Conseguiu atravessar também o cipoal de castas, religiões e culturas na Índia para medir com precisão o que nem o governo daquele país se atreveria a dizer: quantos são os desempregados. Com um pouco mais de senso de oportunidade, teria provado que o Brasil é tão injusto, mas tão injusto, que tem mais milionários do que o milionário Principado de Mônaco...Deram-lhe trela. Ele virou notícia de jornal. Mais: a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a sempre petralha SBPC, achou seu estudo tão bacana, que o mantém em seu site (aqui). Esse cara é hoje o chefão do Ipea.

Tá com medinho, 13?
Curioso Pochmann não falar com a imprensa, justo ele, não é mesmo? Até chegar ao Ipea, ela era a sua principal parceira. Na hora em que tem de dar explicações, foge. A verdade é esta: começou a fase de caça às bruxas, o comuno-fascismo light à moda petista. Vejam o caso dos dois economistas que estavam no órgão há 40 anos. Resistiram à ditadura, à redemocratização, a Collor, a Itamar e a FHC. Mas sucumbiram diante da democracia popular petista.É uma vergonha, um escárnio. Tudo muito próprio de quem assumiu a direção do instituto defendendo o aumento de gastos públicos e a contratação de mais servidores — afinal, ele se quer um “desenvolvimentista”. Conheço economistas, alguns do PT. Não há um único, unzinho só que seja, que o leve a sério. Só jornalistas lhe deram bola. Mas, como se vê, ele não está lá para produzir estudos. Sua função é fazer a depuração ideológica. E, para realizar o serviço sujo, nada como um burocrata medíocre.
Por Reinaldo Azevedo

Monday, November 12, 2007

Do blog do Aguinaldo Silva de 10/11/07

Em 1978, quando a ditadura já seguia em velocidade de cruzeiro e muitos intelectuais de esquerda haviam dado um jeito de mamar de novo nas tetas do governo que supostamente ainda condenavam, eu ganhei o I Prêmio Abril de Jornalismo no gênero “melhor reportagem individual”, com uma matéria intitulada “Pobres Homens de Ouro”.Os Homens de Ouro, se vocês não sabem, era o ovo da serpente do qual nasceu o Esquadrão da Morte e seus afiliados da época, todos de sinistra memória. Então, aos olhos de todos, inclusive os meus, os mocinhos (ou seja, a polícia) eram os bandidos.
Esse foi um cacoete que adquirimos naqueles tempos difíceis, e do qual muitos não se livraram até hoje: para estes, a polícia não presta. E os bandidos, mesmo aquele psicopata sedento de sangue do ônibus 174, são apenas heróis românticos, justiceiros dispostos a expropriar o que lhes pertence e que nós, a chamada “elite”, lhes roubamos, porque temos o atrevimento de trabalhar e ganhar dinheiro.Naquela época, os Homens de Ouro, que eram sete e incluíam o famoso Mariel Mariscot, era o que havia de mais temível. Ao escrever sobre eles, e mostrar como eles progrediram na vida através do terror e da mão grande, eu fui premiado, mas causei preocupação aos amigos, que me perguntavam a toda hora: “você não tem medo?” Eu tinha. Então eu era – desculpem a falta de modéstia – uma das “estrelas” dos jornais alternativos Opinião e Movimento, para os quais fazia matérias semanaisMuitas vezes eu saía de madrugada de minha casa no então ameno bairro de Santa Teresa para entregar meus textos na redação dos jornais no Jardim Botânico. E enquanto atravessava a Rua das Laranjeiras, o Cosme Velho e o Túnel Rebouças no meu Fusca, tinha a nítida sensação de que estava sendo seguido. Em geral estava. Mas as ameaças nunca passavam disso.Então eu já tinha sido preso (fiquei 70 dias na Ilha das Flores, 45 dos quais incomunicável), e também fui processado três vezes, sempre por delitos de opinião, que permitiam ao então Ministro da Justiça, o dr. Armando “no coments” Falcão, me enquadrar na Lei de Imprensa.Podia, por causa da prisão e dos processos, ter pedido indenização ao governo atual, como fizeram muitos. Mas não acho que o povo tenha que pagar pelos agravos que sofri em virtude de minhas convicções políticas. Por isso prefiro viver às minhas próprias custas. E se tem alguma coisa da qual vou me orgulhar na hora da morte é de sempre ter vivido do meu trabalho e jamais ter mamado nas tetas de nenhum governo.Sim, na época eu tinha medo. Mas por mais sangrenta que fosse a ditadura, as aflições que então sofríamos por causa disso não tinham tanto peso quanto têm as aflições de hoje, quando somos supostamente livres. É que na época os militares até podiam impor arbitrariamente sua vontade. Mas pelo menos não eram fundamentalistas, não achavam que tinham a missão divina de reorganizar e assim salvar o mundo. E agora...Agora os que não concordam com o que está aí também sentem medo. E são seguidos na calada da noite. E são ameaçados. E têm suas contas bancárias secretamente devassadas. E recebem telefonemas sinistros disparados de celulares com IDs privados. E morrem sim, porque alguns, como aquele prefeito lá de Santo André, são mortos nunca se sabe porquê nem como.Digo a vocês sem maiores rodeios. Neste momento eu sinto medo, e tenho sérias razões pra isso. A julgar pelo que dizem os telefonemas disparados dos tais celulares com IDs privados, por motivos alheios à minha vontade posso até nem terminar a novela DUAS CARAS, que tanta discussão está gerando.Mas fica o aviso: se eu parar não será por minha própria vontade. E embora, no final de contas, o que eu faço seja “apenas Chinatown”, ou seja, uma novela, se eu não puder terminá-la porque amanheci, como dizem os tais telefonemas: “com a boca cheia de formigas”, espero que um dia Mamãe História se pronuncie e alguém venha a ser responsabilizado por isso.Mas não se preocupem. Isso ainda não é uma despedida. Até o próximo texto!

Friday, November 09, 2007

Atentai, jornalistas, para Mexilhão! - Blog do Reinaldo Azevedo - 09/11/07

Vocês querem ver como são as coisas?

Em setembro de 2003, a Petrobras anunciou a descoberta de um campo gigantesco de gás em Santos: Mexilhão. Era a nossa redenção. Estamos no fim de 2007. Até agora, não se tirou de Mexilhão gás para produzir um pum. Querem um bom divertimento? Façam uma pesquisa na Internet sobre o palavrório a respeito. Se gogó movesse turbina, o Brasil seria mesmo uma potência mundial.

No dia 13 de junho de 2005, informava o jornal Valor Econômico:

“Na reunião com a Fiesp, Dilma [Rousseff] também informou que a Petrobras deverá focar seu objetivo na antecipação de 2009 para 2007 da produção de gás do campo de Mexilhão, na Bacia de Santos, disponibilizando 12 milhões de metros cúbicos diários do insumo; e de outros 10 milhões de metros cúbicos por dia da Bacia do Espírito Santo também em 2007, segundo informação do presidente da Associação Brasileira da Infra-estrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy, que participou da reunião.”

Viram só? Aconteceu? Não! Os investidores reclamavam e continuam reclamando da falta de clareza dos marcos regulatórios.

Uma fonte da empresa, na mesma reportagem, era menos otimista do que a ministra: "'A previsão para Mexilhão entrar em operação é junho de 2008 e esse será o projeto mais rápido a entrar em operação na história da Petrobras. Não é possível antecipar Mexilhão para 2007, porque vamos precisar de uma unidade de processamento de gás natural com capacidade para processar 12 a 15 milhões de metros cúbicos por dia, da plataforma e precisamos fazer os contratos. Tudo isso toma tempo', explicou a fonte da estatal.

"Entendo...

Em 26 de julho de 2006, 13 meses depois da fala da Dilma, noticiava a Folha On Line: “O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli de Azevedo, anunciou a aprovação do estudo de viabilidade técnico-econômica do pólo de gás de Mexilhão, um dos cinco complexos de produção a serem implantados na Bacia de Santos”. Epa! A reserva foi descoberta em 2003; em 2005, a ministra anunciou gás para 2007, mas o estudo sobre a viabilidade só ficou pronto em junho de 2006? Ah, claro, no mesmo texto, informava o presidente da Petrobras: “O projeto do pólo de Mexilhão, orçado em US$ 2 bilhões (R$ 4,3 bilhões), prevê a produção diária de 8 a 9 milhões de metros cúbicos de gás no primeiro semestre de 2009. Já sua capacidade máxima deve ser atingida em 2011, quando serão produzidos até 15 milhões de metros cúbicos de gás”

Vocês leram direito. Um campo descoberto em 2003, anunciado também com aquela paixão inaugural do lulismo, só vai produzir plenamente, se produzir, oito anos depois — em 2011. Um especialista da área me conta que Mexilhão está atrasado.
Se é assim com um campo de gás, imaginem como será com o petróleo, dadas as dificuldades lembradas pela própria Petrobras e a necessidade de criação de uma tecnologia específica. O caso de Mexilhão é exemplar. Tudo tivesse se dado conforme o anúncio oficial, o país não estaria hoje rezando para não faltar chuva — já que a crise do gás é, de fato, uma crise do setor elétrico.

Como diria Mão Santa, “atentai, jornalistas, para Mexilhão”.

Os pauteiros podem fingir que nada disso existe, claro. Podem fingir que o que os seus próprios veículos escreveram jamais foi escrito.

Por Reinaldo Azevedo

Como requentar uma notícia velha, influenciar pessoas e até fazer fortunas - Blog Reinaldo Azevedo 09/11/07

É evidente que o governo deu um jeito ontem de trazer o futuro a valor presente, anunciando até mesmo o ingresso futuro do país no grupo dos exportadores de petróleo. Reitero: tomara que se encontre mesmo todo o petróleo e todo gás que se anunciam e que eles sejam queimados aqui, pelo crescimento da economia brasileira. Exportar petróleo, por si mesmo, não é grande vantagem. Os EUA, por exemplo, são importadores. Tudo confirmado, a notícia é boa?

O mais fantástico do que se viu ontem — uma operação gigantesca de publicidade, que agitou o mercado financeiro — é que a notícia é, pasmem! VELHA. O que não quer dizer que não seja boa. Leiam reportagem de Sabrina Lorenzi na Gazeta Mercantil de 6/09/2005 — há mais de dois anos. Volto em seguida:
*
O grande desafio da Petrobras agora é extrair o óleo a 6.000 metros de profundidade. A ousadia de ir mais fundo rendeu à Petrobras o que deverá se tornar a mais valiosa reserva de petróleo e gás já encontrada. A estatal encontrou óleo leve — de excelente qualidade — a 6.000 metros de profundidade, na Bacia de Santos, numa prévia da jazida gigante que avista.

O gerente- executivo de exploração e produção da estatal, Francisco Nepomucemo, revela a expectativa que a companhia vive após a descoberta. "É uma nova província petrolífera no Brasil. Não está concluído o poço; vamos perfurar mais para fazer o teste de produtividade (volume) do óleo e confirmar a existência de um reservatório", comemora com cautela. Ele prefere não falar em quantidade antes dos testes de confirmação, mas admite que pode ser volume suficiente para revolucionar os planos da estatal.

"Só digo que, confirmando a descoberta e a produtividade dessa área, aumenta muito o potencial petrolífero da Bacia de Santos. É o grande potencial do Brasil hoje", disse. Há uma semana, a Petrobras comunicou ao mercado a descoberta de indícios de hidrocarbonetos no seu poço mais profundo, no bloco BM-S-10 a 6,4 mil metros de profundidade, na Bacia de Santos. O poço RJ-S-61 fica na frente de Paraty, no Rio, divisa com São Paulo. A Petrobras é a principal detentora do bloco (65%), junto com a Partex (10%) e BG (25%).

Descoberta província de petróleo
Santos deverá se transformar na principal opção ao esgotamento da Bacia de Campos. As companhias notificaram a descoberta no dia 21 de agosto à Agência Nacional do Petróleo (ANP). "Se a gente descobre gás e óleo leve nesse horizonte, toda a área em volta fica com esse potencial", acrescenta Nepomuceno.

Confirmadas as expectativas de reservas gigantes de petróleo leve em águas ultraprofundas, Santos passa a ser a principal opção da estatal ao esgotamento dos atuais campos da Bacia de Campos. Mais perto do mercado consumidor, com óleo de excelente qualidade e gás, a região possui, até então, reservas da ordem de 2,5 bilhões de barris (com o gás do campo de Mexilhão (BS-400) e o óleo leve do BS-500).

Nova fronteira
Analistas especulavam, até então, a existência de uma bacia petrolífera debaixo da Bacia de Campos. Para Nepomucemo, é mais provável que em Santos - e não em Campos - exista uma nova fronteira com tamanho potencial. Na Bacia de Santos, uma camada de sal com metros e metros de espessura separa os reservatórios de petróleo e gás das rochas e do material orgânico que geram os hidrocarbonetos. A crosta de sal, situada a cerca de seis mil metros, "prendeu" o óleo e o impediu de subir, ao contrário do que aconteceu na área da Bacia de Campos.

Na Bacia de Campos, essa crosta de sal se rompeu durante a formação de montanhas como a Serra do Mar. A abertura da camada de sal em buracos chamados de janelas permitiu a constituição de importantes campos de petróleo como Marlim, Roncador, Marlim Sul, Albacora, localizados a dois mil metros de profundidade. Na Bacia de Santos, o petróleo e o gás ficaram presos a seis mil metros, suscetíveis a elevada temperatura e pressão.
A íntegra da reportagem está publicada, diga-se, no site do Ministério do Planejamento (clique aqui).

Voltei
Pode-se argumentar que a novidade de ontem, então, foi o dimensionamento da reserva, já que se sabia da existência do petróleo leve abaixo da tal camada de sal? Mais ou menos, não é? O que a Petrobras forneceu nesta quinta foi uma estimativa. Observem que se passaram mais de dois anos entre uma notícia e outra, e não se tem uma informação essencialmente diferente. De lá para cá, foram se fazendo testes. Isso dá uma idéia do tempo de maturação do projeto. É emblemático que o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, estivesse ontem ao lado da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Movia o tempo todo a cabeça, um tanto frenético para seu estilo mais comedido. A operação estava sendo muito bem-sucedida. Era orgulho.

Para se ter uma idéia: estima-se que a operação comercial do primeiro campo na região só comece em 2011 — e, ainda assim, para testar a sua viabilidade. Tudo dando certo, a exploração pra valer só ali por 2013, 2014. Daí que Lula vá se encontrar hoje com Evo Moraes para saber como pode investir mais na Bolívia. A Petrobras explora petróleo a, no máximo, 2.700 metros. O óleo que foi encontrado está numa profundidade entre 4.500 e 7.000 metros. A própria empresa informa que o desenvolvimento de um campo, mesmo em profundidades menores, que produz 150 mil/barris dia custa US$ 1,2 bilhão. Para extrair esse óleo mais profundo, gasta-se muito mais. Quanto? Ninguém sabe. No mínimo, o triplo, dizem alguns especialistas. Vai ser preciso ir atrás de muito investimento e de tecnologia.

É claro que há, por enquanto, incertezas demais para um mercado tão animado. A CVM deveria, quando menos, avaliar se estamos diante de um caso de euforia típica. Quem conhece a área afirma que não havia a menor razão para o estardalhaço de ontem. Não porque inexista o petróleo. Mas não se sabe agora muito mais do que se sabia em 2005. Há quem fale até em 20 bilhões de barris caso se expanda a área. Acontece que o governo jogou para sair do escanteio em que estava com a chamada crise do gás — que, notem bem, está no lugar onde estava. A Petrobras também buscou limpar a sua barra, um tanto tisnada pela questão.

É claro que eu quero que tenha muito petróleo lá, à diferença do que a petralhada anda dizendo por aqui. O que não aprovo, já disse, é a empulhação, a marquetagem. De resto, não estou tirando mérito nenhum do PT — a menos que o partido tenha comprado a Petrobras. Que eu saiba, ele só aparelha a empresa. Ademais, se o petróleo “tupi” começar a jorrar timidamente só em 2011 e, para valer, só a partir de 2013, a hipótese feliz é a de que Lula já esteja bem longe do Planalto.

Por Reinaldo Azevedo

Thursday, November 01, 2007

Caco Barcelos e os cacos do humanismo. Ou: "Ele quer presunto de primeira" - Blog do Reinaldo Azevedo - 01/11/07

Se um dia um esquerdista fosse desidratado, liofilizado, para, eventualmente, só ganhar corpo na hora do consumo, como essas sopas que se vendem em supermercado, ele ficaria com a cara e o jeito de Caco Barcelos, o repórter da TV Globo, também um tanto metido a orientador dos moços, com seus “jovens repórteres”. Ele concede uma entrevista à revista VIP que tem momentos verdadeiramente asquerosos. O bom-mocismo de Barcelos é só um biombo onde se esconde a mistificação — e, às vezes, a mentira descarada.

Mas ele não está sozinho. A entrevista, conduzida por Claúdia de Castro, está mais para uma ação entre amigos. Não importa o que o entrevistado diga, ela concede e, às vezes, reforça. No bate-papo entre ambos, as contradições são sempre alheias. Sim, é a fala de quem fez carreira demonizando a polícia. Noto ainda que Barcelos é convocado a falar num movimento bem maior: os “descolados”, sempre atentos ao que o “povo” deseja, decidiram, desta vez, que ele está errado. O vulgo acerta quando elege Lula, mas erra quando aprova Tropa de Elite. Vocês sabem: desde Stálin, o povo precisa é de um guia genial que lhe diga o que fazer. Seguem trechos da entrevista em vermelho, com intervenções minhas em azul.

VOCÊ ASSISTIU A TROPA DE ELITE?
Ainda não consegui ver inteiro. Mas vi uns pedaços e estou acompanhando a repercussão.E ESTÁ ACHANDO O QUÊ?
Acho interessante que as pessoas estejam falando sobre isso. Houve um tempo em que o país não discutia mais sobre segurança pública. Acho interessante que todo mundo tenha uma opinião a respeito disso. Mas a minha preocupação é no sentido de estarem enxergando o personagem central (Capitão Nascimento, interpretado por Wagner Moura) como um herói. E também me preocupo com o fato de ninguém ter discutido ainda as mortes provocadas pelo Bope (Batalhão de Operações da Polícia Especial do Rio de Janeiro). Muito está se falando sobre os métodos de atuação da polícia, sobre as torturas, o que é gravíssimo. Mas ninguém fala o essencial, que é a matança provocada pela polícia nessa área pobre da cidade. Como é o Bope quando atua no Leblon, em Ipanema? Usam aquele saco plástico na cabeça de alguém? Você conhece algum rico que foi morto pelo Bope?NÃO, NUNCA OUVI FALAR.
Pois é. Em 30 anos de jornalismo, eu também nunca ouvi uma história assim. Nunca ouvi uma história sobre algum rico criminoso que tivesse sido morto por essa unidade especial da polícia. Se omitirmos esse dado, a discussão não é honesta. Veja que Tropa de Elite é um filme de ficção, o diretor tem toda a liberdade para tratar do que quiser na obra dele. Não quero que pareça que estou fazendo uma crítica ao filme. Mas é triste saber que a sociedade está escolhendo um matador para herói.
Trata-se de um juízo delinqüente, compartilhado docemente pelos dois jornalistas. Se o Bope também matasse ricos, supõe-se que a sua atuação estaria, então, marcada por certo equilíbrio, por certo senso de justiça. Observem que o norte moral, então, não está em matar ou não matar, mas na conta bancária do morto. É uma avaliação nojenta. Mais: a ação do Bope é especialmente voltada para o crime que se incrustou nas favelas. Na formulação de Barcelos e de sua entrevistadora, não existe diferença entre “pobre” e “traficante”.

E O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM ESSA SOCIEDADE?
Isso é muito antigo. A verdade é que as autoridades nunca utilizaram no Brasil o que há de mais inteligente e democrático na política de segurança pública. Muito se criticam os direitos humanos, as ONGs, mas nunca nenhuma das idéias, das propostas das pessoas que querem que as pessoas sejam respeitadas independentemente de sua condição econômica foram aplicadas. Desde o Brasil colônia, a polícia está aí para defender os interesses dos mais endinheirados. Desde sempre a sociedade legitimou ações brutais contra aqueles desprovidos de poder, seja econômico, seja político, aqueles desprovidos de cidadania. Se a brutalidade fosse interessante, a Rota já teria transformado São Paulo em um paraíso.
Eis aí. É a tese de que a polícia só está a serviço do arranca-rabo de classes. Sempre que ela atua, é contra os pobres. São Paulo não é um paraíso, mas se mata no estado quase um terço do que se mata no resto do país, um quarto do que se mata no Rio, um quinto do que mata em Pernambuco. Os esquerdistas não vão reconhecer isso jamais, não é? Ah, sim: não “está a acontecer” nada de errado com esta sociedade, moça. Ela apenas se cansou da conivência entre o pensamento politicamente correto e os bandidos.

O QUE MUDOU ENTRE ROTA 66 E TROPA DE ELITE?
Muita coisa. A Rota fez escola, o Bope. Mas tem anos que a polícia de São Paulo mata muito menos. Eram 1 500 pessoas em 1992, quando lancei o livro. Esse número baixou para 300. Mas a criminalidade de São Paulo não se alterou. Na verdade, a única coisa que mudou foi a redução no número de homicídios. É óbvio que, quando a polícia mata menos, a sociedade fica menos violenta. Em São Paulo, mais de 10% dos crimes de homicídio são praticados pela polícia. No Rio, esse número é mais alto, mais de 20%. Bastaria uma ação pública eficaz para que houvesse a redução do crime mais grave, que é o crime de morte.
Trata-se de uma mentira deslavada. O número de homicídios em São Paulo caiu quase 70% em oito anos. E não porque a policia mate menos, mas porque há mais homicidas na cadeia. Por que Barcelos não reconhece? Lanço duas hipóteses que se combinam: a) porque não vai reconhecer méritos nos que considera seus inimigos: os policiais; b) porque precisa manter o mercado mental da violência para poder vender os seus produtos ideológicos.

EXISTE DIFERENÇA ENTRE AS POLÍCIAS MILITARES DE SÃO PAULO E DO RIO?Nenhuma. Por que, por exemplo, a Polícia Federal, que é bem treinada, bem remunerada e trabalha com inteligência, não precisa provocar sequer um arranhão em uma pessoa? Elas têm seus direitos respeitados. É o mesmo país, a mesma realidade e essa polícia é eficaz. A brutalidade é incoerente. Mas investigação dá trabalho...
Mistificação! Fraude intelectual! A Polícia Federal não sobe morro, não vai à periferia, onde se acoita o criminoso que atira, a esmo, para matar. Para que a comparação de Barcelos, aceita bovinamente pela interlocutora, fizesse algum sentido, seria preciso que ela passasse a atuar nas mesmas praças onde atuam as PMs e a polícias civis do Rio ou de São Paulo, por exemplo. Tenho uma outra questão para Barcelos e sua entrevistadora: das pessoas presas pela PF, quantas estão em cana? Ao afirmar que “investigar dá trabalho”, ele faz tábula rasa das polícias boa e má. A propósito: impedir a entrada de armas no país é tarefa da PF. E ela não cumpre. Bem como reprimir a entrada de drogas, já que o Brasil não produz cocaína. Como a PF, de que Barcelos tanto gosta, trabalha mal, sobra serviço para as outras polícias, que ele tanto detesta. Desafio-o a provar que estou errado.(...)

VOCÊ FREQÜENTOU DURANTE MUITO TEMPO AS FAVELAS DO RIO PARA ESCREVER ABUSADO. COMO A COMUNIDADE VÊ A POLÍCIA MILITAR?
De forma geral, a Polícia Militar do Rio de Janeiro representa o autoritarismo sem autoridade. As pessoas não têm seus direitos mínimos respeitados nas ações dos policiais nos morros. A violência está dos dois lados na favela, claro: na polícia e no tráfico. Essa história é uma loucura. Um tiro de fuzil é capaz de atravessar sete barracos de alvenaria. E atrás de traficante pode ter uma criança de 5 anos, uma senhora de 80. Mas para as autoridades quem mora no morro é bandido. E é evidente que não é assim, a maioria é formada por trabalhadores. E são todos bem informados. A sociedade não é partida como se diz. É partida só para os bacanas.
COMO ASSIM?
Quem é pobre e mora no morro tem duas vias. Ele desce para trabalhar. A gente que não sobe lá nunca para ver o que acontece, como deveríamos fazer. Conversei muito com os traficantes: quase todos têm a mãe empregada doméstica, o pai porteiro. Eles conhecem bem a vida na zona sul. No trabalho deles, dentro da casa dos bacanas, eles nunca viram a polícia agir da mesma forma. Um médico quando não emite nota fiscal numa consulta está roubando não só de uma pessoa, está roubando de todo mundo. É um crime gravíssimo. Por que o Bope não invade o consultório para ouvir uma confissão do médico que está sonegando? Fica esta pergunta: “Por que é legítimo agir com brutalidade em uma parteda cidade, não por coincidência onde estão os mais pobres, e não agir da mesma forma onde estão os ricos”?
Demagogia barata. Quem deve autuar o médico e atuar, então, para mandá-lo para a cadeia é a Receita Federal. Na formulação de Barcelos, jamais a Polícia subiria o morro enquanto houvesse um sonegador no asfalto. Por mais que pareça simpático comparar um sonegador a um traficante, são crimes que se combatem de forma diferente. Aqui, na Suécia ou em Cuba — quer dizer, em Cuba, não, porque, lá, o sonegador, o traficante e a polícia são todos uma homem só...(...)

A COMUNIDADE TEME MAIS A POLÍCIA DO QUE OS TRAFICANTES?
O que eles se queixam muito é da morte de inocentes, da criança de 9 anos, do jovem, gente potencialmente não envolvida com o tráfico. Digo potencialmente porque as ações não são feitas com pesquisa. É aleatório. “Eu acho que é aquele ali.” Agora, acreditar que uma criança de 5 anos está envolvida com isso? Eu prefiro não. Prefiro acreditar que as pessoassão inocentes até que se prove o contrário.
“Comunidade” é o escambau!!! Comunidade é linguagem de traficante adotada por jornalistas. Existem indivíduos nas favelas. A maioria formada de trabalhadores. Uma minoria, de traficantes. A pergunta também é truque. A essa altura da conversa, a resposta era óbvia. E quem é que defende que crianças de 5 anos sejam atingidas pela polícia? Barcelos é o Robert Fisk (pesquisar) dos pobres. De tanto “cobrir” o conflito, apaixonou-se pelos criminosos. Procure um miserável texto de Fisk em que os israelenses sejam vítimas. Nunca! Vítimas são apenas os terroristas palestinos, que lhe fornecem a versão dos fatos. Assim como Barcelos trabalha com a versão do tráfico. O Hamas e o Hazbollah usam crianças como escudo. Os traficantes brasileiros também.


QUAL SUA POSIÇÃO NA QUESTÃO DA LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS?
Não tenho opinião. Eu sou a favor de que as pessoas discutam isso. O quadro como está é muito ruim, e não discutir o problema é defendê-lo, é desejar a permanência dessa situação. Isso tem de ser discutido sem hipocrisia. Pessoas de todas as camadas sociais são usuárias de drogas, as ilegais e as legais. Há drogas legais que causam mais danos que as ilegais. É uma mudança complexa, que envolve questões bilaterais. Nossa discussão tinha de começar pela cachaça. É uma droga legal. E mata.
É a falácia de sempre. É claro que ele não quer criminalizar a cachaça, mas descriminar a droga.

UMA DAS CENAS DE TROPA DE ELITE MOSTRA O CAPITÃO NASCIMENTO ESFREGANDO O ROSTO DE UM RAPAZ NO CADÁVER QUE ELES HAVIAM ACABADO DE MATAR. E DIZENDO QUE O CULPADO POR AQUILO ERA O RAPAZ, O MACONHEIRO.?
O culpado pela morte é quem mata. Parece soldado americano falando no Iraque: “Te mato porque quero seu petróleo, você é culpado por sua morte”.
Em primeiro lugar, o culpado é o maconheiro. Já o juízo de Barcelos sobre a guerra do Iraque é só ignorância misturada com ideologia. Comecemos pelo fato óbvio de que a maioria dos iraquianos mortos é obra de... iraquianos, não de americanos. Mas aqui o homem é pego no pulo. Ele foi feito refém dos sandinistas na revolução da Nicarágua. Como foi posto pra suar pelos comunas, reparem na sua resposta quando trata do assunto.
(...)

VOCÊ JÁ FOI REFÉM DE SANDINISTAS, FOI DADO COMO DESAPARECIDO EM UMA SELVA BOLIVIANA, FOI AMEAÇADO DEPOIS DE ESCREVER LIVROS. EM ALGUMA SITUAÇÃO VOCÊ PENSOU REALMENTE: “AGORA DANOU-SE”?
Teve uma situação na Nicarágua, durante a guerra (Caco cobriu a vitória dos sandinistas em 1979). Eu estava sozinho, perto de franco-atiradores. Para eles, o alvo era qualquer um. O cara me localizou da torre de uma igreja. Foi um horror aquilo ali, eu me arrastando pelo chão, fugindo das balas. Não sabia nem de onde vinham os tiros. Era curioso. Eles atiram sem nenhum motivo, nem tinham idéia de quem eu era, se eu era um guerrilheiro, podia ser também um franco-atirador sandinista. Foi muito estúpido. Mas guerra é assim.
Viram só? Os americanos são dolosos. Já os sandinistas apenas se vergaram à lógica da guerra. Ele prefere não criticar.
(...)
AGORA VOCÊ TRABALHA COM UMA TURMA NOVA NO JORNALISMO. COMO É ESSA EXPERIÊNCIA?
É um pessoal que, embora em começo de carreira, está revelando uma paixão muito grande pela reportagem. Eu sempre achei que as histórias ficam muito mais atraentes quando seguem o caminho da reportagem. É legal oferecer para o telespectador as ações comoprovas de que as coisas que estamos falando são verdadeiras. A reportagem oferece a possibilidade de acompanhar as histórias, ouvir todos os lados.
Considero esse papo um pouco enjoado. Olhem aqui: fiz reportagens algumas raríssimas vezes. Não chega a ser assim tão difícil. Opinar é bem mais complicado — embora, claro, pese sobre quem vive disso a acusação de que não tira o traseiro da cadeira. Que eu saiba, nao se pensa com os pés ou com o traseiro. Há muita mistificação sobre a reportagem — obviamente essencial no jornalismo. A maior delas é a de que tem um compromisso essencial com a neutralidade, com a imparcialidade. Besteira! Expressa uma opinião, um ponto de vista, como qualquer outro texto. A rigor, pode ser até mais manipuladora. Afinal, de uma opinião, as pessoas se defendem com mais facilidade. E, claro, também pode ser exemplarmente honesta. Então Barcelos não venha com essa conversinha de “o” repórter que conta apenas aquilo que vê.

A sua entrevista evidencia que ele tem um jeito muito particular de ver o mundo, o que, é claro, vai parar no seu trabalho. Vocês não precisam acreditar em mim. Leiam a íntegra da entrevista aqui se quiserem. Observem que entrevistado e entrevistadora, em nenhum momento, voltam o dedo acusador para os bandidos e o narcotráfico. Estão unidos no combate a um inimigo: a polícia — e, secundariamente, é indisfarçável, o filme Tropa de Elite.

A entrevista é parte da ação encetada pelos reacionários. O morro mental no Brasil estava ocupado pelos traficantes de “direitos humanos”, ainda que isso significasse manter a população refém dos bandidos, pobres “vítimas” das perversidades do capital. Quem sabe a polícia leia Caco Barcelos e passe a dar uns pitocos em alguns ricaços... Aí se fará, então, justiça de classe ao menos, certo? O corolário de sua entrevista, não adianta negar, é óbvio: com alguns ricos mortos pela Polícia, haverá um pouco mais de justiça.

PS: A VIP publicava ensaios de algumas gostosas, não? Publica ainda? Faz muito tempo que não leio. Bem, sempre será melhor uma mulher pelada do que Caco Barcelos a nu.
Por Reinaldo Azevedo

A crise do gás, a estabilidade triste e a falta de imaginação - Blog do Reinaldo Azevedo - 01/11/07

“O Brasil enfrentará nos próximos anos, segundo o economista José Roberto Mendonça de Barros, um sério problema de energia. ‘Hoje, 100% dos analistas privados vêem novo problema de energia já em 2009.’ Segundo ele, há quatro anos não é iniciada no País nenhuma hidrelétrica de porte. A restrição de energia no horizonte leva os empresários a ter dúvidas na hora de investir. ‘Um apagão ou um forte aumento da energia é a mesma coisa. Eu não tenho dúvida de que o preço vai subir.’ Mendonça de Barros chama a atenção também para os crescentes investimentos de brasileiros no exterior, que, na sua avaliação, estão sendo estimulados pela sobrevalorização do real e por condições microeconômicas desfavoráveis no Brasil."

Acima, vai um post do dia 5 de novembro de 2006, que faz referência ao que falara ao Estadão o economista José Roberto Mendonça de Barros. E, daquele dia a esta data, já faz um ano, os especialistas são unânimes em afirmar, nada mudou. Vejam aí: o ritmo um pouco mais acelerado do crescimento econômico — e estamos falando de modestos 5% (modestos na comparação com os pares emergentes), não de 8% ou 9% — acenou com um risco, ainda que não iminente, de desabastecimento. A Petrobras foi obrigada a fazer uma escolha: cortou o gás dos consumidores para poder abastecer as termelétricas. Como sempre acontece nesse caso, a Justiça foi acionada, a empresa vai recorrer... Observem: a coisa já deixou o território da economia.

Acho que isso seria menos grave se tivéssemos um governo menos falastrão — e, sei, os petralhas virão em coro: “E o apagão de 2001?”. Sim, houve o apagão de 2001, e o governo FHC pagou por ele nas urnas, não é? O fato é que Lula tem uma conjuntura externa formidável, maioria folgada no Congresso, popularidade alta e uma estabilidade meio marreta, mas tem. O que impede o governo de fazer deslanchar os investimentos no setor de energia? A competência. Escrevi: “Seria menos grave se o governo fosse menos falastrão”. Por quê? Porque seria menos autoconfiante e ouviria um pouco mais.

Se vocês se lembram, o eixo do PAC — refiro-me aquele grandão, o PACão, pai, dos “paquitos” — era justamente o investimento em energia. Daquela data até agora, perguntem quantos passos foram dados: nenhum! Entre os especialistas, é consenso: no ritmo em que cresce a oferta de energia, o país estará proibido de continuar a crescer 5% — o que não dizer de um crescimento maior?... A Petrobras pode dar o nome que quiser ao que fez, e será sempre um apelido: está racionando gás, sim. E raciona porque as termelétricas vão socorrer as hidrelétricas em razão da pouca água nos reservatórios.

Estamos, de novo, como os macaquinhos imprudentes. A diferença é que eles torciam para não chover, já que não haviam feito suas casas. E nós vamos ter de torcer para chover. Numa reportagem na Folha de hoje, lê-se: “Problemas na Argentina, na Bolívia e um redimensionamento da capacidade de geração de energia em térmicas de gás natural no Brasil fizeram com que a oferta de energia firme -ou seja, com a qual se pode contar- prevista para 2008 fosse reduzida de 57 mil MW médios para 50,9 mil MW médios. ‘Devido a problemas no gás natural, num intervalo de dois anos [2005 a 2007] a oferta firme de geração do Brasil foi reduzida em 12%. Poucos países resistiriam a isso’”. A observação é de Cláudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil, que representa investidores privados em energia.

A auto-suficiência prepotente do governo não é auto-suficência energética, não é? No dia 3 de dezembro do ano passado, informava uma reportagem de Renée Pereira, no Estadão:

Os planos do presidente Lula de elevar o crescimento do País para níveis superiores a 5% ao ano a partir de 2007 podem ir por água abaixo se ele não conseguir deslanchar os investimentos na área de energia. Coincidentemente, a iminência de uma nova crise elétrica ocorre no segundo mandato de Lula, a exemplo do que ocorreu em 2001, na administração de Fernando Henrique Cardoso.
Até agora, segundo especialistas, o que tem jogado a favor da oferta de energia no País é o tímido avanço da economia, abaixo de 3% ao ano. Se o País começar a crescer acima de 5% ao ano, o setor elétrico não deve suportar muito tempo. De acordo com dados da Gásenergy, os riscos de déficit estarão acima dos 5% tolerados a partir do ano que vem, em algumas regiões do País.
“Como consumidor, estou preocupado com a situação. Se crescermos 4% ou 5%, o apagão chega mais perto”, enfatiza Mario Cilento, presidente da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia (Abrace), cujas associados representam 25% do PIB brasileiro.
Na avaliação de Gorete Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), além da falta de gás para abastecer as térmicas, há outras questões que aumentam o risco de déficit do País. Um deles é exatamente o argumento do governo de que as distribuidoras estão 100% contratadas até 2010.

Maiores esclarecimentos, com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), braço operativo do governo, especialista na área, ex-ministra do setor. Até agora, de suas ações, não saiu um miserável quilowatt a mais de energia. Mas ela já é considerada peça central da sucessão em 2010 em razão de suas virtudes visionárias.

Ah, sim: ainda bem que o governo Lula, embora se descuide do setor energético, toca todo o resto com competência e presteza: reforma tributária, reforma trabalhista, reforma do Judiciário... Observem: fora do equilíbrio macroeconômico, um conservadorismo meio tristinho, não há nada. Assim, não chega a ser surpreendente que o país apareça em 72º lugar num ranking de competitividade elaborado pelo Fórum Econômico Mundial que inclui 131 países. Caiu seis posições. Os motivos? Burocracia, ineficiência dos gastos públicos, carga tributária excessiva e juros elevados.

Há dados muito interessantes. Quando os 11 mil executivos que votaram foram convidados a avaliar a sofisticação empresarial, o Brasil ficou em 39º lugar. Nada formidável, mas no primeiro terço do grupo. Já quando opinaram sobre a eficiência dos gastos públicos, ficamos a quatro posições do último lugar: no 127º. E tem mais: conforme se lê na Folha de hoje, “a qualidade da educação primária está em 120º — há somente 11 países mais deficientes nesse quesito —, e o sistema legal complexo e ineficiente garantiu o 105º posto neste indicador.”

É isso aí. É preciso muito mais do que a “estabilidade” que aí está. Ela já chegou a significar alguma “ousadia” do PT. Hoje, é pura falta de imaginação. Entenda-se por “imaginação” não a feitiçaria econômica, mas o procura de caminhos políticos para fazer as reformas. Não! Elas não serão feitas. Porque, para fazê-las, é preciso, sim, ter um projeto.
Por Reinaldo Azevedo