Monday, September 24, 2007

Por que um certo Mano Brown é superior a Cristo - Blog Reinaldo Azevedo - 24/09/07

No dia 9 de fevereiro, antes ainda de Mano Brown atrasar 90 minutos o início de seu “show” na virada cultural e, assim, colaborar para o confronto entre os seus crentes e a polícia — que certo jornalismo vendeu, claro, como exagero das “forças de repressão” —, publiquei o post que segue abaixo. Republico para que vocês, caso vejam o Roda Viva de hoje, tenham mais elementos:
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Falemos um pouco sobre a glorificação da violência e da chamada cultura da periferia. É claro que eu nunca ouvi um troço chamado Racionais MCs. Nem vou ouvir. Ah, pai autoritário que sou, também não permitiria que minhas filhas ouvissem em casa. Podem ouvir fora? Não tenho como controlar. Com o meu assentimento, não. Já me basta o que volta e meia sai na mídia sobre esses pensadores. A Ilustrada, da Folha, traz hoje uma reportagem sobre o lançamento de um DVD do grupo. Um deles, o rapper Ice Blue, afirma: “A gente se vê como um movimento de guerrilha, e é isso o que queremos preservar". O Manual da Folha, às vezes, informa mais do que a reportagem. Está lá: o cara tem 36 anos. Eis uma coisa que eu nunca tinha imaginado: um rapper coroa. A última vez que fiquei com um pouco de vergonha vendo o que os outros fazem foi um flash de Mick Jagger rebolando no Rio. Parecia uma “cobra mar matada”, como se dizia no sítio de Dois Córregos em que passei parte da infância, onde lia Robinson Crusoé, como naquele poema de Drummond. Um lance de pura sorte.
Bão, bão... Há uma crítica sobre o DVD intitulada “Cenas indicam a força de Mano Brown”. Deve ser o líder do grupo. Lê-se o que vai em vermelho. Comento em azul.

Se não fizerem mais nada de novo nos próximos anos, os Racionais já terão entrado para a história por dar uma voz e um rosto à periferia. Graças a eles, jovens de todas as "quebradas" do país têm orgulho de dizer de onde vêm e de mostrar sua moda, gíria e jeito de falar -até na TV Globo.
Vejam que os rapazes nem mesmo entraram para a história da música. É a história mesmo. Como Júlio César ou Churchill.

O registro desse fenômeno é o maior mérito do DVD, que dá uma idéia de quem são os Racionais e de seu poder de mobilização. Isso fica claro quando uma multidão de meninos e meninas acompanha Mano Brown, recitando o poema que abre a música "Vida Loka [Parte 1]".
Eu não sabia o que era isso e fui procurar na Internet. Achei. É uma letra imensa. Lê-se lá:
"- e ai brown é os espião irmão!
- to com os mao ai, eu vo, to indo ali na zona leste ai, tipo umas 11 horas eu já to voltando já moro?
- ta firmao ai brown ai mano eu vo disliga, mais tu manda um salve pros mano da quebrada ai moro? o giu moro mano? o batatao moro? pro pacheco, pro porquinho pro xande pro dé moro meu? ai no dia do jogo os mano
do exauta samba vao vim manda um salve pro binha la moro? fica com Deus Irmão. Falou"
É o mesmo “salve” do PCC ou é outro? Poema? Como o de Drummond?

Assistir a Brown em ação é uma experiência que todos deveriam ter.
Obrigado, moça! Vejam só: jamais sairia num jornal de grande circulação algo como: “Crer no poder redentor do sangue de Cristo é uma experiência que todos deveriam ter”. Cheiraria a coisa carola, cafona, a imposição religiosa. Logo, você conclui que Mano Brown, na escala dos ungidos ou dos profetas, é superior a Cristo.

No palco, ele assume personagens. É o poeta que chora, o ladrão que tenta mudar de vida, o "cachorro" com várias meninas.
Gostei do “ladrão que tenta mudar de vida”. Não conheço a letra. Mas aposto Nederland (“países baixos”, em neerlandês) que o coitadinho tentou mudar de vida, mas a sociedade não deixou. A sociedade é má.

Nos bastidores, no entanto, cercado pelos filhos, rindo com os amigos ou falando sobre diferenças sociais, cai a imagem de durão e entra o pensador. Um dos maiores que temos no mundo musical.
Pensador? Como Platão, Schopenhauer, Kierkegaard, Kant? Ah, não. É “pensador do/no mundo musical”. Então tá. Mais um pouco de Vida Loka, a crítica da razão pura:
e ai bandi do mal como que é meu parceiro?
- como que é brown firmão truta?
- firmeza total mano... e a quebrada ali?
- ta a pampa, aí fiquei sabendo do seu pai irmão, lamentável, um sentimento mesmo irmão!
- vai vendo brother, meu pai morreu e num deixaram eu ir nem no interro do meu coroa não irmão
- isso é loco, vc tava aonde na hora?
- tava batendo uma bola meu, fiquei mo na neurose irmão.
- ai vieram ti avisar?
- é vieram me avisar, mais ta firmao brother, eu to firmão, logo mais to ai na quebrada com vcs ai
- é quente, na rua tbm num ta facil nao moro truta? ums juntado inimigo, outros juntando dinheiro, sempre tem um pra testa sua fé mais cta ligado sempre tem ums corre pra nois faze, ai mano liga, liga nois ai qual quer coisa lado a lado nois até o fim moro mano?
-to ligado!
Por Reinaldo Azevedo 14:09

Tuesday, September 18, 2007

Nossas crianças estão entregues à sanha esquerdopata - Blog Reinaldo Azevedo 18/09/07

Artigo do jornalista Ali Kamel, no Globo de hoje, está gerando o merecido barulho. Leia-o quem ainda não leu. Voltarei ao tema nos posts seguintes:
O que ensinam às nossas crianças
Não vou importunar o leitor com teorias sobre Gramsci, hegemonia, nada disso. Ao fim da leitura, tenho certeza de que todos vão entender o que se está fazendo com as nossas crianças e com que objetivo. O psicanalista Francisco Daudt me fez chegar às mãos o livro didático "Nova História Crítica, 8ª série" distribuído gratuitamente pelo MEC a 750 mil alunos da rede pública. O que ele leu ali é de dar medo. Apenas uma tentativa de fazer nossas crianças acreditarem que o capitalismo é mau e que a solução de todos os problemas é o socialismo, que só fracassou até aqui por culpa de burocratas autoritários. Impossível contar tudo o que há no livro. Por isso, cito apenas alguns trechos.


Sobre o que é hoje o capitalismo: "Terras, minas e empresas são propriedade privada. As decisões econômicas são tomadas pela burguesia, que busca o lucro pessoal. Para ampliar as vendas no mercado consumidor, há um esforço em fazer produtos modernos. Grandes diferenças sociais: a burguesia recebe muito mais do que o proletariado. O capitalismo funciona tanto com liberdades como em regimes autoritários.

"Sobre o ideal marxista: "Terras, minas e empresas pertencem à coletividade. As decisões econômicas são tomadas democraticamente pelo povo trabalhador, visando o (sic) bem-estar social. Os produtores são os próprios consumidores, por isso tudo é feito com honestidade para agradar à (sic) toda a população. Não há mais ricos, e as diferenças sociais são pequenas. Amplas liberdades democráticas para os trabalhadores." Sobre Mao Tse-tung: "Foi um grande estadista e comandante militar. Escreveu livros sobre política, filosofia e economia. Praticou esportes até a velhice. Amou inúmeras mulheres e por elas foi correspondido. Para muitos chineses, Mao é ainda um grande herói. Mas para os chineses anticomunistas, não passou de um ditador.

"Sobre a Revolução Cultural Chinesa: "Foi uma experiência socialista muito original. As novas propostas eram discutidas animadamente. Grandes cartazes murais, os dazibaos, abriam espaço para o povo manifestar seus pensamentos e suas críticas. Velhos administradores foram substituídos por rapazes cheios de idéias novas. Em todos os cantos, se falava da luta contra os quatro velhos: velhos hábitos, velhas culturas, velhas idéias, velhos costumes. (...) No início, o presidente Mao Tse-tung foi o grande incentivador da mobilização da juventude a favor da Revolução Cultural. (...) Milhões de jovens formavam a Guarda Vermelha, militantes totalmente dedicados à luta pelas mudanças. (...) Seus militantes invadiam fábricas, prefeituras e sedes do PC para prender dirigentes "politicamente esclerosados". (...) A Guarda Vermelha obrigou os burocratas a desfilar pelas ruas das cidades com cartazes pregados nas costas com dizeres do tipo: "Fui um burocrata mais preocupado com o meu cargo do que com o bem-estar do povo." As pessoas riam, jogavam objetos e até cuspiam. A Revolução Cultural entusiasmava e assustava ao mesmo tempo.

"Sobre a Revolução Cubana e o paredão: "A reforma agrária, o confisco dos bens de empresas norte-americanas e o fuzilamento de torturadores do exército de Fulgêncio Batista tiveram inegável apoio popular." Sobre as primeiras medidas de Fidel: "O governo decretou que os aluguéis deveriam ser reduzidos em 50%, os livros escolares e os remédios, em 25%." Essas medidas eram justificadas assim: "Ninguém possui o direito de enriquecer com as necessidades vitais do povo de ter moradia, educação e saúde."

Sobre o futuro de Cuba, após as dificuldades enfrentadas, segundo o livro, pela oposição implacável dos EUA e o fim da ajuda da URSS: "Uma parte significativa da população cubana guarda a esperança de que se Fidel Castro sair do governo e o país voltar a ser capitalista, haverá muitos investimentos dos EUA. (...) Mas existe (sic) também as possibilidades de Cuba voltar a ter favelas e crianças abandonadas, como no tempo de Fulgêncio Batista. Quem pode saber?"

Sobre os motivos da derrocada da URSS: "É claro que a população soviética não estava passando fome. O desenvolvimento econômico e a boa distribuição de renda garantiam o lar e o jantar para cada cidadão. Não existia inflação nem desemprego. Todo ensino era gratuito e muitos filhos de operários e camponeses conseguiam cursar as melhores faculdades. (...) Medicina gratuita, aluguel que custava o preço de três maços de cigarro, grandes cidades sem crianças abandonadas nem favelas... Para nós, do Terceiro Mundo, quase um sonho não é verdade? Acontecia que o povo da segunda potência mundial não queria só melhores bens de consumo. Principalmente a intelligentsia (os profissionais com curso superior) tinham (sic) inveja da classe média dos países desenvolvidos (...) Queriam ter dois ou três carros importados na garagem de um casarão, freqüentar bons restaurantes, comprar aparelhagens eletrônicas sofisticadas, roupas de marcas famosas, jóias. (...) Karl Marx não pensava que o socialismo pudesse se desenvolver num único país, menos ainda numa nação atrasada e pobre como a Rússia tzarista. (...) Fica então uma velha pergunta: e se a revolução tivesse estourado num país desenvolvido como os EUA e a Alemanha? Teria fracassado também?"

Esses são apenas alguns poucos exemplos. Há muito mais. De que forma nossas crianças poderão saber que Mao foi um assassino frio de multidões? Que a Revolução Cultural foi uma das maiores insanidades que o mundo presenciou, levando à morte de milhões? Que Cuba é responsável pelos seus fracassos e que o paredão levou à morte, em julgamentos sumários, não torturadores, mas milhares de oponentes do novo regime? E que a URSS não desabou por sentimentos de inveja, mas porque o socialismo real, uma ditadura que esmaga o indivíduo, provou-se não um sonho, mas apenas um pesadelo?

Nossas crianças estão sendo enganadas, a cabeça delas vem sendo trabalhada, e o efeito disso será sentido em poucos anos. É isso o que deseja o MEC? Se não for, algo precisa ser feito, pelo ministério, pelo congresso, por alguém.
Por Reinaldo Azevedo 17:56

Monday, September 17, 2007

Vale do Rio Doce: a verdade é a kriptonita do PT - Blog Reinaldo Azevedo 17/09/07

Tire cópia.
Guarde na carteira.
Use como uma arma da inteligência contra a empulhação.

Estou me referindo ao artigo que Eduardo Graeff escreve hoje na Folha (“Lula e seus militantes amestrados”) sobre essa conversa mole da privatização da Vale do Rio Doce (íntegra no post abaixo). Sempre que um petista, com a fala perturbada e o olhar esgazeado pela ideologia bananeira, babar números inconseqüentes, vocês devem fulminá-lo com a verdade. A verdade é a kriptonita do petista.

A gestão da Vale foi, felizmente, privatizada, sim. E, por conta disso:

1 – Em seis anos, ela recebeu US$ 44,6 bilhões em investimentos: nos 54 anos de estatismo, foram US$ 24 bilhões;

2 – Em 1997, inteiramente estatal, empregava 11 mil pessoas; hoje, 56 mil;

3 – Como estatal, produzia 35 milhões de toneladas de ferro; hoje, são 300 milhões;

4 – Em 1997, exportou US$ 3 bilhões; em 2006, US$ 10 bilhões (mais de um quarto do saldo positivo da balança comercial);

5 – Se a empresa realmente vale hoje US$ 50 bilhões, TRATA-SE DA VALE INTEIRA; em 1997, venderam-se se por US$ 3 bilhões APENAS 42% das ações ordinárias;

6 – Quem continua a ser o verdadeiro “dono” da Vale? O fundo de pensão do Banco do Brasil e o BNDES: eles detêm dois terços do capital da empresa;

7- O outro terço se distribui entre Bradesco, a japonesa Mitsui e mais de 500 mil brasileiros que aplicaram parte do FGTS em ações da companhia.

Isso que vai acima é a verdade. Não a cascata que está sendo contada nas igrejas por padres que entendem de economia o que tendem dos Evangelhos: NADA!!! Eis a verdade, não o que os bispos brasileiros permitem que se fale nos púlpitos. Se quer entrar nesse mérito mundano, que nada tem a ver com Deus, dom Odilo Scherer deveria levar a boa-nova a seus fiéis, em vez conspurcar o altar com a urna da mistificação.

A mentira é coisa do demônio, bispo!

A verdade sobre a Vale também é a verdade sobre as outras empresas privatizadas, especialmente no setor de telefonia. Ou daquela que é hoje um caso de sucesso global: a Embraer, que foi da falência certa a um caso formidável de sucesso.

Vocês conhecem a capacidade da esquerda de contar mentiras. Mais do que isso: ela acha que a mentira é moral se for para garantir o que entende ser o bem da humanidade. Ela não tem qualquer receio de fraudar, de trapacear, de enganar se for para ver triunfar a sua verdade particular. Também é capaz de matar. Em proporções industriais. Não! Em proporções que faria Homero corar.

Lembram-se do post sobre a entrevista de Marxilena Oiapoque à revista argentina Debate? Ela admite que o PT meteu a mão na sujeira, mas diz que seu maior patrimônio é a “ética na política”. E isso significa que ela não distingue a fronteira entre a verdade e a mentira.

Não permita que a baba hidrófoba se espalhe por aí. Contra ela, use apenas a verdade.
Por Reinaldo Azevedo 15:10

Lula e seus militantes amestrados - Eduardo Graeff, Folha de S. Paulo (17/09/07)

O PLEBISCITO sobre a privatização da Companhia Vale do Rio Doce não foi para valer, Lula esclareceu na coletiva de rádio dias depois de o PT anunciar sua adesão à iniciativa do MST e outros. A rigor, o "não tenho nada com isso" dele também não é para valer.
Às vésperas do plebiscito, enquanto o presidente da República negava que a reestatização da Vale estivesse ou pudesse vir a estar na agenda de seu governo, militantes de camiseta vermelha recolhiam assinaturas para o plebiscito comodamente instalados na portaria do Ministério do Planejamento ao som do hino da Internacional Comunista. O que vale mais: a palavra do presidente ou as centenas de milhões de reais com que ele irriga o MST, a CUT, a UNE etc.?
Uma coisa pela outra, eu diria. Falsa como uma nota de três reais é a razão formal que ele alegou para se dissociar da onda reestatizante: houve um "ato jurídico" que o governo deve respeitar. Se tivesse sombra de dúvida que o ato foi fraudulento, como gritam os "excluídos" chapa-branca, teria por obrigação mandar apurar e desfazer o malfeito. Não fará nada, como não fez até hoje, porque não quer assustar o mercado nem ter que passar um atestado de idoneidade ao processo de privatização. Bom mesmo é deixar suspeitas no ar e faturar eleitoralmente, como fez com o boato de privatização do Banco do Brasil em 2006.
Melhor ainda juntar o proveito político do reflexo condicionado antiprivatização com o proveito econômico da Vale privatizada. Recorde de investimento: US$ 44,6 bilhões nos últimos seis anos contra US$ 24 bilhões nos 54 anos anteriores. Recorde de produção: 300 milhões de toneladas de minério neste ano contra média anual de 35 milhões da Vale estatal. Recorde de emprego: 56 mil empregos diretos hoje contra 11 mil há dez anos. Recorde de exportações: quase US$ 10 bilhões em 2006 contra US$ 3 bilhões em 1997, garantindo mais de um quarto do saldo da balança comercial "deste país".
A Vale não é exceção. Da Embraer à telefonia, passando pela siderurgia e petroquímica, o desempenho de quase todas as empresas privatizadas é uma história de sucesso em benefício de seus compradores e empregados e do país.A isso o estatista contrapõe números que são, eles sim, fraude grosseira: a comparação dos US$ 3 bilhões pelos quais a União vendeu 42% de suas ações ordinárias da Vale em 1997 com os US$ 50 bilhões que a Vale inteira valeria hoje, depois de toda a expansão possibilitada pela privatização.
E quem foram os beneficiários desse "ato de lesa-pátria"? A quem pertence a Vale privatizada? Aos funcionários e aposentados do Banco do Brasil, principalmente, por intermédio de seu fundo de pensão. Com o BNDES, eles detêm dois terços do capital da Vale. O restante se distribui entre o Bradesco, a "trading" japonesa Mitsui e mais de 500 mil brasileiros que aplicaram parte do FGTS em ações da companhia. O padrão de gestão da Vale é privado. A propriedade, como se vê, nem tanto. Depois de privatizada, a empresa recolheu aos cofres da União, em impostos e dividendos, algumas vezes mais do que fez ao longo de toda a sua existência como estatal.
Os obreiros do plebiscito e até, forçando a barra, os padres que ecoam essa gritaria inconseqüente dentro das igrejas podem pretextar ignorância. Lula e os dirigentes do PT, não. Esses usam deliberadamente o fantasma da privatização como uma distração para a sua militância -um osso de mentira que se dá a um cachorrinho para ele não roer a mobília.
Um placebo ideológico aqui, uma verbinha acolá, empregos a rodo, barriga cheia, lá vai a militância petista fazer seu número. Pula! Late! E Lula pisca o olho para as visitas: "É brincadeira, gente! Senta que o Lulu é manso".Os empresários sorriem de volta, fingem que acreditam, mas pensam dez vezes antes de botar a mão no bolso. Para eles, pior do que a encenação dos militantes é a falta de vontade e/ ou capacidade do governo de estabelecer regras claras e um ambiente político confiável para os investimentos privados em infra-estrutura.
A conta das ambigüidades virá aí por 2010, prevêem os especialistas, quando o fantasma do racionamento de energia elétrica deve voltar a rondar, dessa vez não por falta de chuva, mas de investimento. Ou quem sabe em 2011. Já pensaram na ironia? Um novo governo às voltas com o apagão, a militância petista a todo vapor de volta à oposição e Lula na Guarapiranga, pescando suas tilápias...
EDUARDO GRAEFF, 57, é cientista político. Foi secretário-geral da Presidência da República no governo FHC

A nova classe social no poder: agora em números - Blog Reinaldo Azevedo 17/09/07

Por Fernando Barros de Mello, na Folha desta segunda. Volto em seguida:

Os cargos de confiança mais altos no governo de Luiz Inácio Lula da Silva são ocupados por sindicalizados e filiados ao PT, de acordo com dados da pesquisa "Governo Lula: contornos sociais e políticos da elite do poder", coordenada por Maria Celina D'Araújo, do CPDOC (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil) da FGV. "Você tem ainda uma superposição: parte dos petistas é também sindicalizada. É uma malha associativa muito forte", diz a pesquisadora. A amostra da pesquisa levou em conta os cargos DAS 5, DAS 6 (Direção e Assessoramento Superior) e NE (Natureza Especial), que são os mais altos no serviço público. "A população brasileira tem em torno de 14% de sindicalizados. Na nossa amostra, a gente tem 45%. É muito diferente da realidade brasileira", diz. "Nós pegamos os níveis 5 e 6, que são cargos de direção. Acho que, se olhar mais para baixo, a tendência é até ter mais militantes e sindicalizados. A nossa amostra é uma elite que requer especialização técnica", complementa.


Segundo a pesquisa, cerca de 25% tinham filiação partidária: 19,90% eram filiados ao PT, e 5%, a outros partidos. O estudo mostra que a maior parte dos filiados vem do serviço público estadual e municipal. Informações do próprio PT dão conta de que, ao todo, são 5.000 filiados que ocupam cargos comissionados no governo Lula."Os filiados são, em sua maior parte, "outsiders" da esfera pública", diz o texto da pesquisa, segundo o qual os indicadores de "associativismo" também impressionam. "Um total de 46% declaram ter pertencido a algum movimento social, 31,8% declaram ter pertencido a conselhos gestores e 23,8%, a experiência de gestão local. Apenas 5% pertenceram a associação patronais." Outro ponto que chamou a atenção foi o fato de a área econômica ter o maior número de servidores com experiência anterior (27%). Na área da saúde, o número fica em 14,55%, na social, em 19,12%, e na de educação, em 13,93%. "O que a gente observa é que a área econômica é a mais profissionalizada".

Voltei
Eis aí. Vocês sabem que chamo a nova classe social que chegou ao poder com Lula de “burguesia do capital alheio”. A reportagem publicada na Folha não poderia ser mais eloqüente. Este é o poder real do petismo. E notem que se está falando de cargos comissionados, os de confiança. Aposto que, nos escalões inferiores, à medida que se rebaixam as exigências técnica para o exercício da função, os sindicalizados estão em ainda maior número. A base material do novo poder no Brasil é a Central Única dos Trabalhadores, de onde saiu boa parte dos quadros que estão no comando. Por meio da central, o partido controla também os fundos de pensão e as estatais.

Lembram-se da entrevista de Expedito Velloso, aquele que era diretor do Banco do Brasil e que integrou o grupo dos aloprados impunes do dossiê? Qual é a sua origem? CUT. É o caso ainda de Osvaldo Bargas, Jorge Lorenzetti e Ricardo Berzoini, presidente do PT — todos eles diretamente ligados à tramóia. Se o partido perder a eleição em 2010, os titulares dos cargos de confiança serão substituídos. Mas isso não quer dizer grande coisa. A infiltração sindical-petista nos quadros do estado se dá nos Três Poderes e no Ministério Público. Chama a atenção, ainda, o maior número de “companheiros” em áreas como saúde e educação — não por acaso, as que têm desempenho mais sofrível, a despeito da propaganda oficial. A economia, vê-se, está mais protegida da sanha.

A pesquisa expõe a real natureza do governo Lula. Imaginem o comando da Saúde com apenas 14,55% das pessoas com a chamada “experiência anterior” na área. Estão lá, então, por quê? Por, literalmente, “companheirismo”. E a gente ainda estranha que não se consiga fazer o remédio chegar aos indiozinhos. A constatação de fundo e que interessa é esta: o estado está sendo ocupado pelo sindicalismo petista. O esforço, já escrevi aqui, é para tornar a alternância de poder no país uma coisa irrelevante. Ainda que um outro partido possa vir a ser eleito, o PT não pretende abrir mão do domínio da máquina do estado.
Por Reinaldo Azevedo 06:01

Pesquisa 1 – O governo corrupto do Bolsa Família roubou até a estabilidade - Blog Reinaldo Azevedo - 16/09/07

Leiam trechos do texto de Carlos Marchi que está no Estadão deste domingo. Volto depois:O governo Lula fez três coisas boas - o programa Bolsa-Família, a estabilidade econômica e a ajuda aos pobres; e três coisas ruins - a corrupção, o apagão aéreo e a pouca atenção à saúde. Esta é a percepção do eleitorado brasileiro, colhida pela pesquisa Estado/Ipsos. O Bolsa-Família foi apontado por 43% dos eleitores; a estabilidade econômica foi citada por 20% e a ajuda aos pobres foi mencionada por 10%. Só 8% dos eleitores responderam que a maior obra do governo Lula é 'nada'. Na outra ponta, o eleitorado brasileiro aponta como as piores coisas do governo Lula a corrupção, citada por 23%, o apagão aéreo, mencionado por 11%, e a pouca atenção à saúde, lembrada por 10%.
(...)
Para 67% dos brasileiros, o atual presidente é o maior responsável [pela estabilidade]; o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, cujo governo implantou o Plano Real e sustentou os primeiros oito anos estáveis, foi mencionado como responsável pela estabilidade por apenas 7%. (...)
O atual presidente deu mais apoio aos pobres para 80% dos brasileiros; o antecessor ganhou o aval de apenas 9%. Para 73%, Lula favoreceu um melhor poder de compra do brasileiro; só para 16% Fernando Henrique foi melhor nesse quesito. Lula reduziu mais o custo da cesta básica para 73%; o ex-presidente, só para 15%. Lula controlou melhor a inflação para 66%; Fernando Henrique, só para 19%.
(...)
Os mais pobres dizem com mais ênfase que Lula deu apoio aos despossuídos. Na faixa que junta os analfabetos e os que têm até a 4ª série do ensino fundamental, 82% acham que Lula foi melhor que Fernando Henrique na ajuda aos pobres. Entre os que têm curso superior o número não é muito diferente - 79% acham que, no tópico, Lula foi melhor. Os eleitores que têm curso superior atribuíram a estabilidade mais a Lula (55%) do que a Fernando Henrique (15%).(...)
Para os brasileiros, o melhor ministro do governo Lula não é um político, não é do PT nem do PMDB - é o ministro da Cultura, Gilberto Gil, um filiado do PV, que nem da base aliada é. Ele foi citado por 4% dos brasileiros e ficou à frente dos petistas Tarso Genro, das Relações Institucionais, e Guido Mantega, da Fazenda, ambos com 3%.

Voltei

Quanta coisa sai dessa pesquisa, não?

A primeira importante: o governo FHC foi um desastre em comunicação, tanto quanto o petismo é um sucesso. Constantemente vemos petistas metidos em assalto aos cofres públicos, mas o maior roubo que praticaram foi este: a estabilidade econômica. Quem pôs fim ao ciclo histórico da inflação brasileira foi o governo FHC. Poderia ser chocante o fato de também os universitários, camada supostamente mais bem-informada, atribuírem ao petista o que não lhe pertence. Mas não choca, não. O petismo mais radical, mais ideológico, está justamente entre os que têm formação superior. De resto, tal condição precisa ser pensada em suas novas características: o Brasil passa por uma fase de “supletivização” do ensino de terceiro grau. Nunca a ignorância foi tão diplomada.

A segunda questão importante guarda relação com um texto que escrevi ontem, comentando os números do IBGE. O Bolsa Família continuará a assombrar o Brasil por muito tempo. E o mais dramático é que não se forma massa crítica para combater essa barbaridade nem nos setores que estariam especialmente aptos a fazê-lo: a imprensa, por exemplo. Continuaremos amarrados por muito tempo a este programa que torna operativa a pobreza brasileira. A pesquisa Ipsos/Estadão evidencia o óbvio: no Nordeste, Lula é mais popular do que no Sul e no Sudeste.

A terceira questão importante tem a ver com o óbvio: a corrupção se transformou numa das marcas do partido que tem como lema, diz Marxilena Oiapoque, a “ética na política”. A avaliação positiva que se faz do governo Lula, no entanto, indica que esse quesito pesa menos na balança do que a tal inflexão social. Numa esfera puramente moral, temos um “rouba, mas faz caridade”. Governos ladrões ou provocam a repulsa popular ou vão deixando o próprio povo mais sem-vergonha.

A quarta questão importante, acreditem, tem como símbolo Gilberto Gil. Ele é considerado o melhor ministro do governo Lula — e isso prova que inexiste um governo; só existe Lula. O cantor aparece pouco na mídia. Sua atuação é discretíssima. Se consegue, ainda assim, ser o mais lembrado, isso dá conta do que acontece com os demais. O PT é uma máquina gigantesca, infiltrada em todas as esferas do estado e da sociedade — conta até com as práticas clandestinas típicas do velho comunismo (ver posts abaixo) —, mas, eleitoralmente, é extremamente dependente de seu líder carismático: Lula. À sua sombra, até agora, nada cresceu a ponto de vir a ser uma alternativa. E isso tem reflexos eleitorais, conforme se vê abaixo.
Por Reinaldo Azevedo 06:52

Wednesday, September 12, 2007

Sobre os últimos dias

Há tempos não me habilito a escrever no "meu blog". Tem sido mais um banco de posts de outros blogs. Assuntos não me faltam. Falta a habilidade com as palavras. A capacidade de colocar nas palavras toda a indignação, toda a ira, toda a vergonha que me tem sido provocada desde 01/01/03. E que infelizmente se somarão até 2010, pelo menos.
Tópicos:
Aulas e pós graduação de Lula pós mandato
"dureza" da pena de Renan
Estatização CVRD
Discurso de Lula no 3º congresso pt
STF aceita denúncia 40 ladrões
Lula: não aceitaremos ônus pela bolha imobiliária dos EUA
Igreja e "movimentos sociais"