Monday, March 10, 2008

Nelson Ascher 1 – Os efeitos da máquina de propaganda - Blog do Reinaldo Azevedo - 07/03/08

Nelson Ascher, que vocês sabem muito bem quem é, mandou-me um comentário. O texto, de fato, é um artigo, e eu decidi publicá-lo aqui. Abaixo, segue a primeira parte. Continua nos posts seguintes. Concordamos em praticamente tudo o que diz respeito à questão israelo-palestina. Boa parte dos leitores, sei disto, também concorda. E as divergências, desde que respeitosas e que não façam a apologia do terrorismo, serão publicadas.
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Caro Reinaldo,

Algumas reações a seus posts sobre o atentado a judeus civis inocentes em Jerusalém (e imagino quantas piores você teve de apagar) fazem-me pensar que, quando o tema é a querela Judaico-Árabe (e não só Israelense-Palestina), ainda há muito pouca gente disposta a questionar as mentiras e calúnias anti-semitas e anti-sionistas (o anti-sionismo é o anti-semitismo hipócrita ou, na melhor das hipóteses, inconsciente, pelo menos entre os idiotas) promovidas pela imensa máquina de propaganda árabe-palestina-muçulmana (com seus petrodólares) e repetida por toda a esquerdalha do planeta, seja na imprensa, seja nas universidades etc.

Nunca um, e um só, dos quase 200 países do mundo foi tão vilificado a toda hora quanto Israel, e o único paralelo que existe é a antiqüíssima e ininterrupta até agora vilificação dos próprios judeus. É desalentador ver que, até certa medida, isso vale mesmo para uma parte de seu público, um público diferenciado, que vem aprendendo a pôr em dúvida as certezas propagadas pela esquerda e impostas pela correção política. Preocupa-me, sim, que essa pouca disposição a começar a examinar os demais aspectos do problema se deva sobretudo ao fato de que isso implicaria ver Israel e, em especial, os judeus sob uma luz mais favorável, talvez até positiva.

Nelson Ascher 2 – “Quem roubou o quê de quem?”

Veja só. O atrito entre a Colômbia, o Equador e a Venezuela não levou ninguém a se meter a historiador ou especialista e começar a discorrer sobre 100 ou mais anos de disputas fronteiriças, sobre padrões de colonização, sobre o fato de que todas as minúcias históricas dos três países envolvidos teriam de ser discutidas antes que pudéssemos julgar quem é culpado, quem é inocente. Não é o que ocorre com Israel. Oito civis são barbaramente executados a sangue-frio em Jerusalém, que é uma cidade que (embora isso pouco importe) nunca deixou de ter uma população judaica, majoritária, aliás, desde pelo menos meados do século 19, e lá vem gente falar de “ocupação”, “terra roubada” (quem roubou o quê de quem? Que tal essa gente se unir aos fascistas que acham que muçulmanos não têm o direito de viver na Europa ou que os milhões de imigrantes mexicanos devem ser imediatamente expulsos dos EUA – mas tratar a história do conflito em poucas linhas, como eles, cheios de certeza, fazem é desonesto, e eu não vou fazê-lo aqui), “ciclo de violência” como se os terroristas e assassinos palestinos fossem forçados pela história (são autômatos, certo?) a assassinarem civis desarmados a queima-roupa. Aí se fala também que Israel mata civis (e isso com muito mais alarde, sem nenhum “mas, contudo, todavia ou porém”, sem qualquer adversativa), e ninguém senta para fazer as contas, para comparar ou buscar fontes fidedignas.

Durante a Segunda Intifada morreram mais palestinos do que judeus. Ocorre que os palestinos mortos eram quase exclusivamente homens em idade militar (que seus conterrâneos, segundo a conveniência, glorificavam às vezes como combatentes martirizados e, às vezes, choravam, diante das câmeras internacionais, como vítimas civis). Entre os israelenses mortos, a distribuição em termos de sexo e idade era a mesma da população geral. Ou seja, Israel ia atrás de terroristas e, de vez em quando, acertava inocentes envolvidos no que os outros palestinos haviam transformado num campo de batalha. Se houvesse crime aqui (mas, de acordo com os tratados internacionais, não há), poderíamos falar, no máximo, em homicídio culposo. Já os palestinos matavam indiscriminadamente, de preferência os alvos mais fáceis, crianças, velhos, mulheres, gente desarmada, passageiros de ônibus, clientes de shopping center e restaurantes. Sua estratégia sempre foi a de perpetrar homicídios dolosos no atacado.

Nelson Ascher 3 – “Ainda que a causa fosse justa, ela daria carta branca para matar?”

Um leitor chamado Kenji está entre os que melhor representam os vilificadores de Israel e, por tabela, dos judeus. Há, aliás, um André Kenji que diz coisas semelhantes em outros blogs e no “Hora do Povo”, o jornal de um partido que eu pus para correr do Centro Acadêmico da [faculdade] Getúlio Vargas, o MR-8. Talvez sejam a mesma pessoa, não sei. Mas ele, por exemplo, argumenta que os palestinos não aceitaram a partilha da Palestina porque ela não refletia as realidades demográficas. Besteira!

Israel ficou com todo o deserto do Neguév quase inabitável e deveria, ademais, receber, como recebeu, centenas de milhares de refugiados imediatamente. Ele diz que teria partido para a guerra, como os palestinos. Eles, de fato, partiram para a guerra e perderam. Isso tem um preço, não? Ele também diz que os principais responsáveis pela crise dos refugiados (dos árabes, porque dos refugiados judeus, sejam os que deixaram suas terras legalmente compradas na Palestina, sejam os 800 mil expulsos dos países árabes, onde haviam vivido sob “apartheid” etno-religioso desde as invasões árabes-muçulmanas do Oriente Médio, Mesopotâmia e África do Norte, ele não fala: esses são apenas judeus, ora bolas) foram os exércitos dos países árabes vizinhos. É verdade: quem criou o problema que o resolva.

Mas fiquemos por aqui. A notícia é simples: oito estudantes foram assassinados a sangue frio, em sua cidade, em sua escola, por fanáticos anti-semitas em nada diferentes dos nazistas. Em vez de repudiar isso claramente e de se concentrar nessa barbárie clara e transparente, já estamos tendo de discutir o que aconteceu há 60, 100, 1.500 anos. Esse é o estratagema árabe-palestino, não muito diferente do esquerdista: trata-se de turvar as águas, remeter a causas remotas e não-verificáveis, desconversar crimes reais com questões bizantinas e sem pertinência alguma para o caso, tudo exceto atribuir responsabilidade pessoal aos criminosos. A morte intencional de civis é assassinato, é covardia e, mesmo que a tal da pseudocausa palestina fosse justa e pura como a neve recém-caída (mas não é, longe disso), ainda assim ela não daria a seus sequazes carta branca para perpetrar massacres, comemorá-los e pregar o genocídio.
Abs
Nelson Ascher


Por Reinaldo Azevedo

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