Monday, March 10, 2008

Sob o signo de Saturno - Blog do Reinaldo Azevedo - 07/03/08



Vocês todos já sabem a esta altura, não? Iván Ríos, um dos sete do secretariado da Farc, foi morto, sim. Mas não pelas forças colombianas. Foi assassinado pelo chefe de sua segurança pessoal, um tal “Rojas”, famoso por seu gosto pela violência. O assassino do “companheiro” disse que eliminou o chefe porque se encontrava sob forte pressão. Acuados pelas forças colombianas, o grupo queria se entregar, mas Ríos determinou que continuassem a resistir, proibindo que falassem ou acendessem fogueira no esconderijo para não atrair a atenção de seus perseguidores. O grupo que fazia a segurança de Ríos, liderado por Rojas chamou então o chefinho para uma conversa atrás na moita. E... O que vai agora é o relato que está no jornal colombiano El Tiempo:

Às 18h de quinta-feira, por meio de um telefone celular, Rojas se comunicou com o posto da polícia de Aguardas e pediu um contato com o comandante das operações militares. Um novo telefonema, minutos depois, determinou a rendição de três guerrilheiros a um grupo militar que já os tinha cercado. Rojas chegou com seu uniforme ensopado e visivelmente fatigado. Tinha uma pistola e um fuzil. Seus dois companheiros traziam os AK-47 e munição, que entregaram aos militares.

Não comemos desde segunda-feira”, foi a primeira coisa que disseram. O guerrilheiro pediu para falar com o oficial a cargo da unidade e contou uma história provocou calafrios nos militares. “Eu sou o chefe da segurança de Iván Ríos. Nós o matamos e trago aqui as provas”. Para assombro da tropa, Rojas entregou um laptop, a cédula de identidade e o passaporte do membro do secretariado. Trazia além disso um pacote macabro: uma mão direita que, assegurou, era de seu chefe

E agora? Chávez vai fazer um minuto de silêncio? Rojas também estaria interessado numa recompensa de US$ 5 milhões oferecida pelos Estados Unidos para quem fornecesse informações de Rios. E agora? Chávez fará um minuto de silêncio? Eis aí. Estamos diante da escancarada evidência de que a política empreendida pelo presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, está correta. O socorro que os bufões Hugo Chávez e Rafael Correa prestam aos narcoterroristas é mais um sintoma do isolamento do grupo, que tende a se desestruturar.

Escrevi certa feita, no site Primeira Leitura — mas não consigo mais achar (preciso recuperar aquilo tudo), um texto em que comparava as esquerdas a Saturno, que engolia os próprios filhos, como no quadro de Goya, que vocês vêem cima. Mesmo quando a luta “pelo novo homem” seduzia os intelectuais de renome — e ainda se distinguia um tanto do crime organizado —, a esquerda sempre banhou seus próprios aliados em sangue, depois, é óbvio, de eliminar os adversários. A matriz — a política — do marxismo é a Revolução Francesa, notória por devorar os seus. Stálin transformou isso numa indústria (i)moral, com os Processos de Moscou. E assim tem sido.

O mal essencial, evidentemente, está na recusa em reconhecer que ainda não se inventou nada melhor para equacionar as divergências em sociedade do que a democracia, o regime de liberdades. Antes, as esquerdas tinham o que parecia ser um projeto totalizante para a civilização. Naufragaram. Onde a estupidez persiste e, eventualmente, dá as cartas, ou elas se dedicam à empulhação de modelo chavista ou se esforçam, a exemplo do lulo-petismo, para submeter as instituições a uma espécie de gerência, buscando substituir as instituições do Estado democraticamente pactuado pelas necessidades do partido.


Por Reinaldo Azevedo

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