Monday, March 10, 2008

A Força não disfarça 1 – Ela integra a Central Única dos Trogloditas contra a liberdade de imprensa - Blog do Reinaldo Azevedo - 10/03/08

Na Folha Online. Volto depois:

A Força Sindical divulgou nota nesta segunda-feira na qual informa que o departamento jurídico da entidade fará uma "análise minuciosa" das reportagens publicadas em vários jornais sobre o repasse de verbas do Ministério do Trabalho para entidades ligadas à central. O objetivo é definir os "procedimentos judiciais" para preservar a instituição e seu presidente, o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT), o Paulinho da Força. Na semana passada, Paulinho disse que iria processar a Folha e "O Globo" em 20 Estados do país por causa da série de reportagens que os dois veículos publicaram sobre o repasse de verbas do Ministério do Trabalho para entidades ligadas à central.

Nas reportagens, há questionamentos sobre 12 convênios do ministério com entidades e pessoas ligadas ao PDT. A Folha divulgou que a pasta pretendia repassar R$ 7 milhões à CNTM (Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos), ligada à Força Sindical, para recolocar mão-de-obra em São Paulo. O valor seria 97% maior que o gasto pelo governo paulista, e comissões do Estado e da prefeitura votaram contra o convênio. A decisão final cabe ao Codefat (Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador). Ministério e entidades negam favorecimento.

Segundo a nota divulgada hoje, a Força Sindical encaminhou as reportagens para o advogado Luiz Flávio Borges D'Urso, presidente da seccional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo. Ele deverá preparar um parecer sobre o assunto. A decisão de examinar as reportagens que envolvem a Força Sindical e o Ministério do Trabalho foi tomada hoje pela manhã, durante reunião da direção nacional da central. Segundo a nota, "alguns veículos de comunicação" envolvem "injustamente" o nome da central e de Paulinho. Em carta enviada à Folha na última sexta-feira (7), Paulinho se diz vítima de uma "implacável perseguição política" e que não tem a quem recorrer, "senão à Justiça", para tentar reparar "os erros que a Folha autoritariamente se recusa a admitir".

"Todo mundo sabe o quanto é difícil, para uma personalidade pública, entrar com ações judiciais contra órgãos de imprensa. Ficam marcadas para o resto da vida. Apesar disso, estou, sim, buscando reparações judiciais para evitar o linchamento público de minha pessoa e da entidade que presido, assim como dos mais de mil sindicatos filiados", afirma na carta.

Comento
Fiz aqui algumas anotações para escrever um texto sobre o zeitgeist, o espírito deste tempo, em que a imprensa é tratada por lideranças políticas e alguns soldados do regime como inimiga. Escreverei à noite. Será aquele artigo do alto, que abre as manhãs.

Sobre Paulo Pereira da Silva, o, por epíteto, “Paulinho da Força”, dizer o quê? Seu nome político já é sintoma de uma doença política grave, traduzida até na gramática. A locução adjetiva “da Força” indica que sua atuação como parlamentar, como “representante do povo”, está vinculada à sua condição de líder sindical. Já imaginaram o deputado, sei lá, “Toninho da Febraban”? Ou o “Maneco da Fiesp?”

“Ah, mas os representantes da burguesia disfarçam a sua origem”. É mesmo, é? Quer dizer, então, que "Paulinho da Força" é expressão do mundo “proletário”? Um momento que vou ali soltar uma gargalhada. Volto já.

Deixarei claro, logo mais, que há vários focos de “luta” (como eles dizem) contra a chamada “grande imprensa” — ainda se diz “imprensa burguesa” nos ambientes mais contaminados. Não se trata exatamente de um centro de conspiração contra a liberdade de informar, mas é evidente que os vários tentáculos obedecem a uma espécie de coordenação. Oficial, sim, senhores! Sabem por que “Paulinho da Força” ameaça a Folha e o Globo com uma tempestade de ações judiciais? Porque alguém pôs na moda e transformou numa pauta influente o ataque à imprensa. Quem será? Por que motivo?

Bons tempos aqueles em que CUT e Força Sindical disputavam o mercado das idéias e... dos sindicatos. Agora não. No dia 3 de abril de 2007, escrevi neste blog: “Mantenho minha pauta para os coleguinhas: a morte da Força Sindical. Na verdade, pode ser uma coisa mais saborosa. Houve uma daquelas incorporações bem típicas do capitalismo: a CUT comprou a concorrente, incorporou-a. E pagou a fatura com dinheiro público: distribuindo cargos oficiais aos capas-pretas.”

A central sindical do tal Paulinho é só mais um braço do oficialismo tentando constranger a imprensa. Há outros. Falarei deles naquele artigo da madrugada.


Por Reinaldo Azevedo

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