Saturday, April 26, 2008

A QUESTÃO DA REPRESENTAÇÃO NO BRASIL - Publicado no site www.midiasemmascara.org.br em 24/04/08

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Visto de longe, pode-se dizer que Lula representa adequadamente a Nação brasileira, até porque os índices de popularidade e de aprovação que são produzidos pelos institutos de pesquisa dão conta de que o brasileiro médio – o homem-massa – enxerga-se no seu governante. Lula deteria o que Voegelin chamou de representação existencial. Assim, haveria total legitimidade das ações tomadas por ele no seu já longo governo.

Convém, todavia, rememorar alguns fatos e qualificar outros para bem compreender o que se passa. Lula e seu partido foram alçados ao poder depois de décadas de fraude ideológica e de produção de mentira pura e simples nos meios de comunicação de massa, na produção editorial enviesada de esquerdismo e na distorção do processo educativo, que tornou o professorado militante das idéias socialistas. Em suma, essa grande fraude moldou o eleitor médio à conformidade dos políticos que a esquerda apresentava e pela Fortuna (aqui no sentido da obra de Maquiavel) Lula mostrou-se o mais apto para assumir a Presidência da República. A sua eleição corou a revolução gramsciana que foi posta em marcha por décadas a fio. É um legítimo filho da mentira política.

Vendo esse viés de origem podemos dizer que a fraude não pode ser utilizada como instrumento de legitimação e o fato de ter sido utilizada é já razão para deslegitimar o governante. Sua capacidade de representar o povo tem vício de origem. É bem verdade que ele fez o que dele se esperava: deu aumento real de salário mínimo, criou as diversas bolsas que na prática são transferência direta de renda do Tesouro para a população mais pobre e fez leis do agrado das chamadas minorias, regulamentando tudo que pôde em prejuízo das empresas e dos cidadãos de maior renda. E ainda armou o maior cerco jurídico e sistêmico já posto em marcha pelo Fisco contra os cidadãos. É claro que todas essas ações negam o direito natural e, enquanto tal, não poderão se manter muito tempo. A elevação dos salários reais, por exemplo, está erodindo a capacidade de exportar da economia e elevando as importações, dessa forma destruindo o ponto basilar da saúde da economia brasileira.

Outro ponto que indica carência de representatividade é o fato de um espelho do homem-massa como é Lula não representar o escol da sociedade. É flagrante o seu despreparo como governante, inclusive e sobretudo na dimensão espiritual. Depois que assumiu o poder vimos parcelas importantes da elite brasileira aderir despudoradamente não apenas a seu governo, mas às teses duvidosas da plataforma política do PT. O igualitarismo de triste memória, o gaysismo, o feminismo, a relativização da propriedade privada... De repente, tudo que sempre de considerou mais sagrado foi invertido e as leis foram paulatinamente mudadas na direção da consagração dos vícios. A novidade é que a chamada sociedade civil, com a exceção notável da Igreja Católica em alguns temas, curvou-se às coisas novas sem qualquer resistência. Chega a ser pungente ver um homem como Olavo Setúbal defender a elevação de impostos enquanto instrumento para melhor distribuir a renda, ele que foi líder da Revolução de 1964 e lutou contra o comunismo.

Na política externa o drama não poderia ser mais agudo. O Brasil se alinhou com o que há de pior no cenário internacional: apoiou Chávez, Fidel Castro e seus apadrinhados na América Latina, praticamente tornou-se cúmplice das ações criminosas das FARC, dando-lhe cobertura política, apoio e mesmo asilo aos seus dirigentes. A imprensa deu conta de que dinheiro do tráfico teria financiado a campanha de Lula. Em paralelo, deixou que inexpressivos vizinhos atentassem contra os interesses nacionais, sendo o governo incapaz de tomar a defesa da nacionalidade. O caso da Bolívia ainda não se esgotou. Vemos agora as eleições paraguaias terem como tema principal quem será o campeão na luta contra os interesses brasileiros em Itaipu. Os vizinhos perderam o respeito porque nosso governo não se fez respeitar. Piormente, não conseguiu acordo com os EUA e ignorou a ALCA, algo incompatível com os interesses nacionais.

Por não representar a verdade política e a verdade espiritual (nega os valores judaico-cristãos na sua inteireza) Lula não tem portanto uma legítima representação existencial. Não passa de um enganador das multidões. Dito de outro modo, as bases reais do poder de Lula são frágeis porque depende da continuidade da mentira política para se manter no poder, bem como da compra de votos do povo miúdo mediante o instrumento das bolsas e da cooptação da elite por meio do terror fiscal e policial.

É preciso lembrar também da distorção eleitoral, pela qual os votos dos habitantes dos Estados mais populosos valem menos do que os votos dos habitantes dos estados menores ou menos densamente povoados. O Congresso Nacional assim constituído também tem um caráter ilegítimo intrínseco e talvez por isso tenha sido facilmente manobrado pelo Executivo. Virou um cartório a homologar as Medidas Provisórias promulgadas sem qualquer restrição por Lula. O Poder Legislativo tornou-se uma caricatura de si mesmo.

E também há que se sublinhar a inexistência de um segmento partidário

José Nivaldo Cordeiro é economista e mestre em Administração de Empresas na FGV-SP.

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