Friday, April 25, 2008

À moda italiana: depois de aparelhar o estado, petistas aparelham capital privado - Blog do Reinaldo Azevedo - 25/04/08

Tornei popular neste blog uma expressão lá do meu interior: “A cada enxadada, uma minhoca”. A gente a emprega em lugar do “é só procurar que acha”. Ainda que estejamos nos acostumando com essa gente — o que é péssimo —, não deixa de ser surpreendente. Não há negócio nestepaiz que se faça sem a interferência “deles”. Não aparelharam apenas o estado brasileiro. Num movimento inédito — ou nem tanto, se formos considerar certa tradição que vem da Itália —, ele aparelharam também os negócios privados.

A quem estou me referindo? É claro que é ao primeiro-compadre, Roberto Teixeira, e à denúncia de um juiz de que uma quadrilha atuou na VarigLog (ver posts às 14h43 e às 17h07 de ontem). Sua presença nas negociações para a venda da Varig à Gol, de todos conhecida, já era, para dizer pouco, incômoda. O compadre do presidente, aquele em cuja casa Lula morou “de graça”, o padrinho que levava o caçula aos estádios de futebol — enquanto o Apedeuta construía “o socialismo —, este senhor deveria ficar fora de negócios que envolvam empresas públicas ou áreas reguladas pelo estado, como é a aviação. Aliás, no setor, ele não é neófito. Teixeira é advogado da Transbrasil, empresa falida de Antônio Celso Cipriani, outro amigão de Lula, que deu um tombo na praça de R$ 1 bilhão (mais informações aqui).

Volto ao caso VarigLog. O primeiro-compadre, por senso de decoro, dada a intimidade com o supremo mandatário, já deveria dar uma de mulher de César. Mas os petistas não estão nem aí. Mudaram há muito tempo essa lógica. Muitos não fazem questão nenhuma de ser honestos, e nenhum deles se preocupa nem mesmo em parecer honesto.

Imaginem só: desrespeitando uma ordem judicial, o chinês Lap Chan, fugindo do Brasil, tentou surrupiar US$ 80 milhões de uma conta da VarigLog na Suíça. Escritório de onde partiu a ordem de transferência: o de Roberto Teixeira — que atuou junto à Anac para viabilizar a operação de venda empresa. O juiz José Paulo Camargo Magano não economiza: quer que a Polícia Federal e o Ministério Público investiguem a turma toda por “práticas de ilícitos civis e criminais, inclusive crime de quadrilha”. A ser assim, a Anac, órgão do estado brasileiro, acabou vítima — ou comparsa — de uma... “quadrilha”!!!

Acreditem: os petistas estão metidos em praticamente todos os grandes negócios privados que se fazem no país — às vezes, dividem-se em grupos, que disputam entre si a carniça, como as hienas, solidárias quando se trata de roubar a presa dos leões, mas implacáveis na disputa interna. Foi o que se viu na telefonia. Em última instância, postos os noves fora, o governo se dividiu, no caso do controle da Brasil Telecom, entre a turma favorável a Daniel Dantas e a turma contrária. Cada operação, em cada setor, tem de ser meticulosamente negociada, porque há sempre grupos criando dificuldades para vender, em seguida, facilidades. Este aparelhamento dos órgãos públicos e mesmo do setor privado funciona como um estado paralelo.

Cabe a especulação: imaginem se um compadre de FHC, com a intimidade que Teixeira tem com a primeira-família, aparecesse desempenhando o papel deste advogado. O mundo viria abaixo. Collor, que vimos anteontem numa solenidade oficial, deve ter pensado em algum momento do dia: “Meu Deus! Como fui amador! Gente profissional é esta aqui”. O que terão a dizer Denise Abreu, Milton Zuanazzi e coronel Jorge Luiz Brito Velozo, ex-diretores da Anac, sobre o período em que Roberto Teixeira andou rondando por lá?

Trata-se de um setor regulado da economia. As negociações só seguiram adiante porque contou com o aval de órgãos do estado. Além da eventual atuação do PF e do Ministério Público, o Senado tem de chamar toda essa gente para dar explicações. Um dia, quem sabe, Roberto Teixeira ainda há de pesar na política brasileira o quanto ele efetivamente vale.


Por Reinaldo Azevedo

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