Saturday, October 04, 2008

Apedeutices - Blog do Reinaldo Azevedo - 04/10/08

Por que Lula não se cala?

O Apedeuta, como de hábito, já “apedeutou” muito sobre a crise. Vocês se lembram: até outro dia, isso era lá um problema “duzamericano”. Guido Mantega até chegou a sugerir que se divertia, nos fóruns multilaterais, com o aperto dos países ricos. Tudo arrogância de gente miúda, de gente pequena. Neste sábado, fazendo o que mais gosta — discurso em palanque —, Lula demonizou as emprestas Aracruz e Sadia, que anunciaram perdas gigantescas em operações cambiais: a primeira, de R$ 1,95 bilhão; a outra, de R$ 760 milhões. Segundo Apdeutakoba, no fundo, elas estariam “especulando contra o real”.

Deixemos que fale o leitor Mário:
A Sadia sofreu perdas por se posicionar no mercado futuro com a expectativa de mais valorização do real, não o contrário. E o motivo principal foi proteger o valor em reais de suas receitas em dólares. Fora isso, não há nada de ilegal ou imoral em, além de proteger o valor de suas receitas, também aplicar parte de sua geração de caixa em operações futuras de câmbio na direção em que sua empresa acredita que o mercado de câmbio irá.

Ao contrário do que o Apedeuta imagina ou vende, o mercado financeiro é não só indispensável aos especuladores como também a um sem-número de empresas sérias que têm não só a necessidade como a obrigação de proteger seus ativos com a correta utilização dos instrumentos disponíveis no mercado de capitais. A atuação da Sadia estava de acordo com os objetivos da empresa e em conformidade com a tendência de apreciação contínua do real frente o dólar.

As palavras deste bananeiro que é o Lula não são apenas ignorantes. São também um escárnio, um tapa na cara de qualquer empreendedor sério que comete a estupidez de investir neste país. Uma empresa cria empregos, gera receitas de exportação, remunera acionistas e paga impostos. E, ao errar em sua gestão de risco, por fatores alheios ao seu controle, tem de amargar não só pesadas perdas como também ouvir um ignorante irresponsável, discursando ao lado de um gângster, falar que tudo é fruto de sua ganância ao apostar contra o país.

Espero que o ex-ministro Luiz Fernando Furlan perceba o desserviço que prestou a si mesmo e a todos aqueles que cometem o ato de amor de ter um negócio no Brasil, do maior ao menor, ao compor e defender durante tanto tempo essa ação entre analfabetos que é o governo do Brasil.
Furlan, cria corvos, e eles devorarão teus olhos...
Publicar Recusar (Mario) 17:42

Comento
Mário está certíssimo. As empresas podem até ter errado na avaliação do cenário sobre a crise, mas afirmar que suas perdas decorrem de especulação contra a moeda brasileira é uma estupidez sem tamanho. Ao contrário: apostaram num real valorizado — e não venham dizer que não vinha sendo esta a orientação do governo. Talvez tenham cometido, sim, um pecado bem “capital”: confiar no que dizia o governo Lula.

O Apedeuta age mais ou menos por imitação. Como há uma onda mundial de condenação à especulação — que, com efeito, aconteceu —, ele saiu do discurso irresponsável (“Isso é problema deles”) para o discurso moralista-judicioso: “Tudo culpa da ganância”. As empresas erraram a mão? Tentaram ganhar dinheiro apostando no real VALORIZADO (e não o contrário?). Sim. Mas isso não quer dizer “especular contra a moeda” nacional.

Sabe o que é? Lula começa a passar calor. Ele sabe que sua formidável popularidade deriva da estabilidade da economia — que, como se vê, dependia bastante da boa vontade de estranhos... E, como sempre, ele está à caça de culpados. Irresponsavelmente, contra todas as evidências, jurou que a crise não chegaria ao Brasil. Chegou. Se chegou, alguém tem de responder por isso. Como não dá para culpar FHC, então culpa as empresas.


Por Reinaldo Azevedo

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