Thursday, October 23, 2008

OS VIVOS NÃO MUDARÃO AS URNAS EM SP. ASSIM, HÁ GENTE APOSTANDO NOS MORTOS - Blog do Reinaldo Azevedo - 21/10/08

Elio Gaspari tenha as opiniões que quiser, assim como tenho as minhas. Na Folha de hoje, num texto de 2.691 toques, eles conseguiu juntar a manifestação de delinqüentes armados — aqueles que se fingiam de policiais civis — à tragédia de Santo André para atacar o governador José Serra — que, entende-se, seria o culpado último pela greve e pela morte de Eloá. Depois vou tentar saber se Gaspari culpou Lula, comandante-em-chefe das Forças Armadas, pelas mortes dos rapazes entregues a traficantes rivais por um soldado do Exército. Jornalistas são livres também para gostar e desgostar de políticos e entregar a eles ora o seu coração, ora o seu fígado, a depender de como administram seus amores e seus ódios, num ambiente propício a vaidades às vezes aduladas, às vezes feridas. Mais não escreverei a respeito, não neste texto ao menos. Vou dizer, agora sim, o que é insuportável no artigo de Elio Gaspari.

Ele perdeu a noção do legal e do ilegal e, na prática, adulou terroristas disfarçados de policiais e delinqüentes que estimularam o conflito armado. Não contente, investiu contra a disciplinada Polícia Militar, tachando-a de incapaz. Quem ler o artigo não encontrará uma só palavra de censura aos grevistas armados — nada. E ainda há um requinte. Diz ele: “Serra não deveria demonizar o PT e o deputado Paulinho da Força responsabilizando-os pela passeata que pretendia seguir até o Palácio dos Bandeirantes.” Não sei o que ele entende pelo verbo “demonizar”. O governador fez o óbvio. Paulinho da Força teve a idéia da manifestação e a organizou, conforme demonstrei neste blog, e dirigentes do PT e das centrais sindicais estavam lá, dando apoio ao conflito armado. Mais: foi o deputado quem estabeleceu a ligação entre a greve e as eleições.

Diz ainda: “Ademais, Paulinho já era o notório Paulinho quando apoiou a candidatura de Serra à Prefeitura de São Paulo, em 2004. Nessa transação, seu PDT ganhou a Secretaria do Trabalho.” Com a devida vênia, é embaixadinha para ganhar a adesão de néscios. Gaspari demoniza, ele sim, a política. Acordos partidários são parte do jogo, não “transação”. E, se jornalismo é precisão, à época, Paulinho ainda não era o Paulinho do BNDES. Mas digamos que fosse: o que isso tem a ver com os atos de delinqüência explícita protagonizados nas ruas de São Paulo, aqueles que Gaspari não condenou, preferindo atacar a PM?

Ontem, ninguém menos do que o ministro da Justiça, que fala pelo presidente da República, recebeu as lideranças que promoveram a baderna. Um coronel da PM foi ferido a bala. Gaspari deve ter achado o encontro regulamentar. Ora, depois de sair à rua de escopeta para reivindicar melhores salários, não lhes parece natural que essa gente tenha no ministro da Justiça um interlocutor? Falta que se acrescente gravidade ao caso. Os mesmos líderes que promoveram a arruaça da semana passada farão uma nova manifestação amanhã, embora o governo já tenha apresentado uma contraproposta.

A radicalização do movimento é turbinada, entre outras, pela falácia de que, em São Paulo, delegados ganham R$ 3.708 por mês. O salário médio é R$ 7.085,85 — antes da nova proposta feita pelo governo. Com ela, o piso chegará a R$ 5.203. Mas atenção: dos 3.500 delegados do estado, sabem quantos ganham o menor salário? Apenas 15! Sim, a greve, com o apoio do PT, de Paulinho, da CUT, da Forç Sindical e, por vias oblíquas, do governo federal e de stores da imprensa, é política.

É política, e a radicalização, conforme Paulinho recomendou numa manifestação (eu provei aqui) — o que Gaspari prefere ou finge ignorar —, acontece na boca da urna. Alguns “maganos”, para usar vocábulo da predileção do jornalista, estão doidos para fabricar alguns cadáveres três dias antes do pleito.

Não há pessoa viva que consiga mudar o que as urnas destinam para o PT em São Paulo. Assim, há gente tentando apelar aos mortos.


Por Reinaldo Azevedo

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