Thursday, October 23, 2008

O NOME DO CRIMINOSO - Blog do Reinaldo Azevedo - 20/10/08

Tudo indica que a polícia diz a verdade quando afirma que invadiu o apartamento em que o tal Lindembergue Alves mantinha reféns Eloá, a ex-namorada, e Naiara, sua amiga, depois de ouvir o primeiro tiro — justamente o disparado contra a cabeça da primeira garota, provavelmente à queima-roupa. Muito bem. Sugiro que façam agora uma espécie de média de tudo o que tem sido noticiado.

Uma linha de acusação contra a polícia: demorou demais; deveria ter invadido antes. Outra linha: foi precipitada e atabalhoada ao invadir — nessa hipótese, sem qualquer evidência em contrário, duvida-se da versão dos policiais de que a invasão foi determinada pelo primeiro disparo. Houve erro? Parece que sim: a volta de Naiara ao cativeiro jamais deveria ter acontecido. A Polícia sustenta que ela recebeu autorização para se aproximar e manter uma conversa com o Lindembergue e Eloá, não para voltar ao apartamento. Minimiza, mas não desculpa. Convenham: ela já não tinha mais nada a fazer por ali. De toda sorte, ela está fora de perigo. O quadro de Eloá, segundo os médicos, é de morte cerebral. E é este suposto “erro” o que mais mobiliza os críticos — e tanto pior será quando ela for declarada morta.

O rapaz, que saiu ileso das coisas miseráveis todas que fez, é preservado também no noticiário, e sua versão está circulando nos jornais — só teria atirado depois da invasão. A ela, nota-se, dá-se uma credibilidade superior à versão da polícia. O Brasil é assim: ama os seus bandidos, os seus algozes. A imprensa, em particular, tem uma espécie de tara para santificar o crime e os criminosos.

A polícia poderia ter matado Lindembergue nas vezes em que apareceu à janela? Talvez. E não estaria sendo agora menos atacada se o tivesse feito. Mais um filme estaria em curso, é provável, com patrocínio das estatais, poetizando a bandidagem e fazendo sociologia barata sobre as origens econômicas da violência etc e tal... Já conhecemos isso tudo, não é mesmo?

Seria prudente esperar a divulgação das gravações para saber por que se esperou tanto, com a invasão do apartamento sendo decidida só depois de ouvido o primeiro tiro. Acho que a sociedade paulista deve isso ao GATE em razão de seu histórico de eficiência em operações delicadas — um dos mais altos do mundo. Que Lindembergue estivesse disposto a tudo, já sabemos; isso, nós vimos. Hipóteses mirabolantes surgem: “Por que não se pôs sonífero na comida?” Porque, em qualquer filme B, até em comerciais de televisão, há a dica óbvia: ele poderia forçar as meninas a comer primeiro e... Tinha-se, parece, o perfil de alguém disposto a tudo.

Desfechos em casos assim não costumam ser felizes em nenhum lugar do mundo, lembrou Rodrigo Pimentel, ex-comandante do BOPE, no Rio, outra unidade de elite conhecida por sua eficiência. A algaravia circense que se montou no prédio nos longos cinco dias de seqüestro — e parece que os leitores entendem que a imprensa deve rever seus procedimentos em casos assim (ver texto de ontem, com mais de 200 comentários) — faz-se agora no terreno das especulações. E a polícia foi eleita a vilã — como de hábito no país.

Segundo os médicos, infelizmente, não há mais esperanças para Eloá. O nome do criminoso é Lindembergue Alves, não o GATE.


Por Reinaldo Azevedo

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