Friday, June 27, 2008

Alguém ponha um limite neste senhor - Blog do Reinaldo Azevedo - 26/06/08

(leia primeiro o post abaixo)
Abaixo, reproduzo trecho de um texto que escrevi no dia 6 de dezembro do ano passado. Tratava da gravidez de adolescentes e também da aids. Naquela data, Temporão queria colocar nas escolas 100 máquinas de camisinha. Agora, ele aumentou para 400. Leiam o que segue. Retomo depois:

Mais do que o famoso e feliz encontro do espermatozóide com o óvulo, o que, de fato, engravida as meninas são os valores. Sim, isso mesmo. As ricas aqui de Higienópolis e as pobrezinhas de Cabrobó do Mato Dentro sabem como se faz neném, garanto. Podem não dominar toda a teoria do ciclo reprodutivo, mas não ignoram que “aquilo naquilo” deixa de barriga, de “bobó”. Ainda não se inventou um método contraceptivo melhor do que não fazer sexo — ou fazê-lo solitariamente, se é que me entendem. É o sexo solidário que faz neném, hehe.

Todos os apelos das campanhas públicas brasileiras incentivam o sexo irresponsável, em vez de desestimulá-lo. A AIDS, por exemplo, está em expansão entre adolescentes. Qual é a resposta do governo federal? Vai colocar máquinas de camisinha — isso mesmo — em cem escolas no ano que vem, em caráter experimental. Não é preciso ser adivinho ou fazer pesquisa para se concluir que se vai criar a demanda por sexo mesmo entre aqueles que não se julgariam prontos para tanto não fosse o apelo.

A primeira escolha no que diz respeito ao sexo — como no que diz respeito a qualquer outro assunto da vida privada — é moral: "Devo ou não devo fazer?" Ou, no caso, "transo ou não transo?". A camisinha é só uma das circunstâncias. Enquanto as campanhas públicas ignorarem esta evidência, o país continuará a enxugar gelo, com suas crianças doentes, com suas crianças “de barriga”.

Eu, um reacionário
Mas vocês sabem: isso que digo parece insuportavelmente moralista. Afinal, sou um católico reacionário... Imaginem: devo ser do tipo que acredita que a castidade não é uma doença. Progressistas são as campanhas que temos aí, com os efeitos que temos visto...

Arremato observando que, ademais, as campanhas públicas que incentivam o sexo são também discriminatórias, reacionárias e contra o pobre. Explico-me: os adolescentes de famílias abastadas acabam corrigindo com o interesse puramente econômico o que eventualmente não conseguem corrigir pela moral. A exemplo dos adolescentes pobres, também eles estão expostos à campanha “faça sexo e use camisinha”. Mas têm mais clareza de que uma gravidez precoce pode abreviar a boa vida, criar dificuldades para manter os padrões de competição de seu grupo social, dificultar a ascensão etc. O pobre já está mais ou menos lascado mesmo, não é? Se perde a chance da escolha moral, não lhe resta muito além disso.

As campanhas estão erradas. E, no entanto, quem apanha dos “sexólatras” é quem faz a coisa certa — como é o caso da Igreja Católica. Aguardem: o Carnaval já está chegando (não dá pra evitar). E veremos, como de hábito, pessoas que que mal se conhecem se atracando, tentadas e vencidas pelo “tesão”... Tudo bem. Afinal, elas usam “camisinha”. Com camisinha, pode tudo.

A camisinha se tornou uma nova ética.

Voltei
Vejam só: bem depois do texto acima, a Organização Mundial da Saúde afirmou o que muita gente já sabia porque evidente: o risco de uma epidemia de aids entre heterossexuais está afastado — à diferença do que se afirmou, inclusive no Brasil, nos últimos 25 anos.

Isso é importante? É. A aids tem, o que muita gente se negava a reconhecer, grupos de risco: homossexuais masculinos e usuários de drogas injetáveis. Tal realidade demanda, pois, uma mudança nas campanhas de prevenção. Mas Temporão já deixou claro que discorda da OMS. As máquinas de camisinha partem do pressuposto falso do chamado risco universal da epidemia de aids.

Mas isso ainda é o menos grave. O lamentável é o que está ali, em azul. O estado brasileiro transforma o ato sexual numa banalidade, como tomar um copo d’água, fazer xixi ou tomar um refrigerante. Também parte do principio de que o sexo adolescente pertence à categoria dos fatalismos. Não há escolha.

De resto, que fique claro: o sr. Temporão está entrando na economia interna das famílias. Alguém do Ministério Público terá o bom senso e a coragem de lembrar isso ao valente?


Por Reinaldo Azevedo

No comments: