Tuesday, November 11, 2008

Leitora acha que engoli o próprio pé. E eu acho que quem engoliu foi ela - Blog do Reinaldo Azevedo - 11/11/08

Ana Célia Figueiredo manda um comentário cujo título é “Os fins não justificam os meios (o dia em que Reinaldo engoliu o próprio pé)”. Escreve ela:

Uma coisa é achar que a MSM mundial adora o Obama como um novo messias..."THE ONE", com razão. o que claramente é uma grande bobagem jornalística e que logo ficará menos laudatória quando o seu governo, do "THAT ONE", começar em Jan 20th,2009 ... Outra coisa é dar opiniões viciadas e sem base nas possibilidades do Estado de Direito e da Democracia (no caso, a americana).
Guantánamo é uma vergonha, sim.
Tem que ser fechada, e os prisioneiros têm direito a julgamento de acordo com o estado de direito (US LAW).Ou então são prisioneiros de guerra, e aí entra a regra da Convenção de Genebra.
Ou você vai dizer que um suposto terrorista árabe tem menos direitos do que um perigoso assassino serial americano que acaba sendo inocentado por uma tecnicalidade, com base na Lei. Estado de Direito é isso! Resultado: Vergonha!
Foi relembrado destas coisas básicas da Democracia pelo Demétrio Magnoli (pelo menos assim assinou) e agora por alguns leitores mais assíduos, como eu.
Já é a segunda vez, Reinaldo.
A primeira vez (Demétrio Magnoli) foi na crítica sobre seu livro. Que, diga-se de passagem, ficou sem resposta.
P.S. E sobre o papel subalterno do seu candidato do coração: Rudi Giuliani (...a noun,a verb and 9/11) ..nem uma palavrinha? hehehe
Publicar Recusar (Ana Célia Figueiredo) 22:54

Comento
Não engoli, não, Ana Célia. Você é que deveria procurar pelo próprio pé. Convenção de Genebra para terrorista? Qual é a hipótese? Reconhecer a Al Qaeda como um mero exército irregular ou, sei lá, uma “milícia”, mas sem base territorial determinada? Meu pé está onde sempre esteve: no solo que não permite que os terroristas usem as garantias da democracia para solapar os seus princípios. A Convenção de Genebra estabelece uma ética, um conjunto de valores, que põe inimigos, mesmo mortais, em transitividade. Na prática, significa o seguinte: “Reconhecemos essas regras; assim nos trataremos se formos feitos prisioneiros”. Mas o terrorismo está em guerra contra o quê? Com que país os EUA devem negociar? Pergunto, minha cara: e os terroristas? Dão a seus "prisioneiros" os benefícios da Convenção de Genebra? Tente saber como os talebans, por exemmplo, tratavam os russos capturados. Eram literalmente esfolados — não é metáfora — vivos. "Ah, mas os EUA não podem se igualar aos terroristas". Concordo. Mas também não podem lhes dar garantias que, na pratica, protegerão não os terroristas, mas o terrorismo. O que fazer? Você parece saber tudo. Eu não sei. E acho que nem Obama sabe.

Não há texto meu, nem antes nem agora, afirmando que Guantánamo é uma saída genial. Mas me nego a tratar os EUA com a mesma severidade — ou maior, como habitualmente se faz — com que são tratados os terroristas. Se você não sabe a diferença entre um “serial killer” e um terrorista, é inútil explicar. Se você acha que um psicopata não difere moralmente de um sujeito que passa meses planejando como jogar aviões contra edifícios, fazendo-o de modo politicamente articulado, segundo a estranha “racionalidade” do terror, não espere que eu consiga lhe provar a diferença. Você se apegaria ainda mais à suposta igualdade entre ambos. Há contrastes, minha cara, diante dos quais argumentos são inúteis. Nem sempre eles esclarecem. É uma questão de escolha moral. Numa outra dimensão, é o caso do aborto: é vida ou não é vida? Suponho que só se possa ser a favor da prática considerando-se que vida não é, certo? Ou...

Voltemos ao caso. Eu duvido que Obama vá fazer o que você gostaria que ele fizesse. Porque acredito que se exporia a um risco que talvez não valha a pena correr. Qual? O de que os eventuais libertados praticassem atos terroristas? Não exatamente. Acredito que ficariam sob vigilância enquanto estivessem no país. A possibilidade é outra. Os EUA não deixarão de combater o terrorismo islâmico no Afeganistão, no Paquistão ou no Iraque e continuarão a ser alvos potenciais do terror. Um único atentado, pequeno que fosse, transformaria isso que você chama de “estado de direito” em demonstração de leniência com o terrorismo. E o governo de Obama estaria em sérios apuros.

Quanto a não ter respondido à leitura que Demétrio fez do meu livro, era só o que faltava, não? Livros estão no mundo para se expor a críticas positivas e negativas, desde que honestas, como foi o caso. Ademais, a apreciação que ele fez foi muito favorável. Só faltava agora eu responder àquela que foi a restrição. Ademais, acho que sua (dele) contraposição era e é boa, relevante mesmo. E eu posso conviver perfeitamente com o fato de que as pessoas não concordem integralmente comigo. Aliás, quem me conhece sabe que convivo bem até com quem discorda radicalmente de mim em quase tudo — garantidos, evidentemente, aqueles que considero alguns valores fundamentais da convivência civilizada.


Por Reinaldo Azevedo

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