Thursday, February 28, 2008

Lula e o revanchismo triunfalista - Blog do Reinaldo Azevedo - 28/02/08

FHC respondeu ontem, comento no post das 2h29 desta madrugada, às boçalidades que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva andou lhe dirigindo. Não são poucos os tucanos que acham que o ex-presidente poderia se poupar da refrega, uma vez que Lula parece contar com essa reação para estufar um tanto mais o... deveria escrever “peito”, mas escolherei “a barriga” — parece-me que carrega o simbolismo adequado a estes dias. Mais do que pelo orgulho, este governo se define pela jactância balofa. Segundo Lula, ele é pé-quente; FHC era pé-frio. Não basta ao Apedeuta privatizar os esforços de estabilidade que já são de uma geração. Ele precisa ser também o ungido. Lula e o PT criaram no país uma coisa bastante perversa à cultura política: o revanchismo do triunfo.

Ora, ele ganhou a eleição duas vezes depois de três derrotas — duas deles para FHC, e este fato não deve ser minimizado no seu rancor —; governa um pais que está com a economia em ordem porque, afinal, seus adversários de antes (e de agora) fizeram rigorosamente o contrário do que recomendava... Lula! E não seria difícil demonstrá-lo. Do Apedeuta — e isto não se faz com nenhum outro político no país —, não se cobra coerência, mas apenas eficiência. E ele é, sob certo ponto de vista, “eficiente”: justamente quando ignora tudo o que pregou o PT ao longo de mais de 20 anos. Como subsiste certo temor de que possa entrar em regressão, seus atos em favor da economia de mercado são calorosamente aplaudidos. Espera-se sempre que o som desses aplausos abafe certo alarido de seus esquerdistas, de seus nacional-desenvolvimentistas.

Lula tira, claro, proveito dessa figura sem passado em que se transformou. Explico: passado, ele tem, sim. Mas apenas o mítico: “o operário pobre que venceu as dificuldades, aderiu à esquerda e descobriu o mercado”. Ninguém dá bola é a seu passado histórico. Podem observar: cobra-se de FHC até hoje a união do intelectual marxista (que ele nunca foi, diga-se) com o PFL lá em 1994... Mas nada de perguntar o que faz Lula com os seus “conservadores”.

Peguei algumas estradas vicinais. Volto à principal. Essa condescendência, se concorre para amansar-lhe o espírito (ele adora dizer que supera FHC também nos valores, vá lá, de mercado), também cria uma figura que transita na política acima do bem e do mal. Por isso parece comum, até natural, que, mesmo vitorioso, surfando em índices formidáveis de aprovação, ele se comporte ainda como uma espécie de opositor do regime de... FHC!!!

Não basta que lhe reconheçam as obras, até as que não são suas: no caso da estabilidade, por exemplo, sua virtude foi manter as regras instituídas por outros. Lula sente a necessidade também de expropriar FHC de seu passado: precisa compulsivamente mutilar a biografia do antecessor; apagar imagens da fotografia; retocá-la com a determinação que tinham os stalinistas de reinventar o passado. Ah, sabemos: faz isso sem teoria mesmo, sem saber direito quem foi Stálin; sem ter qualquer motivo, vá lá, utópico (ainda que uma utopia torta) para apoiar ditadores como Fidel Castro ou Hugo Chávez.

Ora, ora... As regras da estabilidade que estão dadas, digo num post abaixo, custaram caro ao antecessor do petista. O beneficiário óbvio — porque está aí, no poder — do desgaste foi o próprio PT. Vejam, pois, que coisa formidável: tudo aquilo contra o que o partido lutou e que garantiu a sua ascensão é hoje o seu melhor patrimônio. Lula poderia, quando menos, silenciar, então, sobre o passado. Mas não: ele continua a demonizar FHC usando a régua e compasso que lhe deu... FHC!!!

“Ora, dirão, política é assim mesmo!” Não é, não. Caso se eleja um presidente da oposição, que não seja do gosto do petismo, posso apostar que o PSDB não saberá proceder a essa desconstrução do passado. Porque não é de sua natureza — e isso, se querem saber, é bom. Não acho que o petismo deva ser um modelo de ética para os demais partidos. Mas é bom ter claro: o PT sabe e soube, dentro e fora do poder, politizar os temas que são do interesse da sociedade; transforma tudo em uma guerra de valores: “nós” contra “eles”. O PSDB ainda não aprendeu a fazer isso. O DEM parece ter descoberto essa necessidade, e a luta contra a CPMF veio a demonstrá-lo. Se bem se lembram, os tucanos entraram tarde na peleja — e quase fazem besteira. A desnecessidade da CPMF, dado o recorde da arrecadação, está demonstrada. Os tucanos souberam aproveitar? No outro dia, já havia alguns deles ocupados em debater formas para recriar a contribuição... Santo Deus!

É preciso que as oposições, especialmente o PSDB, comecem a definir alguns temas pelos quais vale a pena lutar e se mobilizar. Até porque o “revanchismo triunfalista” se prepara para subir no palanque em 2008 e em 2010. Depois, então, de oito anos de governo petista, o palanqueiro Lula falará, uma vez mais, contra o... passado!!!


Por Reinaldo Azevedo

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