Tuesday, August 12, 2008

A GUERRA E A IMPOSTURA - Blog do Reinaldo Azevedo - 11/08/08

Os jornais ocidentais, os nossos inclusive, se derramam em análises sobre os motivos estratégicos da ação russa. E, é óbvio, são informações relevantes. Mas nada daquela condenação norteada pelo princípio dito moral que se viu à época da invasão do Iraque pelos Estados Unidos. E olhem que o embaixador russo na Otan já deixou claro: segundo ele, Saakashvili, presidente eleito da Geórgia, é “um criminoso de guerra” com quem “não é possível trabalhar”. Vale dizer: os russos decidiram derrubar Saakashvili. E ponto. O Ocidente detesta o imperialismo que o protege, mas é indiferente, leniente e até simpático com, vamos dizer, o imperialismo alheio.

E olhem a quantos rituais se submeteram os Estados Unidos antes de tomar a decisão — exercício que os russos diriam procrastinador e que só serviu para aumentar a resistência mundial à ação no Iraque. Com eles lá, a coisa é diferente. Não tem esse papo de tentar obter aval da ONU para coisa nenhuma. O negócio é ocupar. OS RUSSOS NÃO CARREGARÃO A PECHA DE QUE INVADIRAM A GEÓRGIA CONTRA O VOTO DO CONSELHO DE SEGURANÇA DA ONU. AH, SIM: É MENTIRA QUE TENHA HAVIDO UM VOTO CONTRA A AÇÃO AMERICANA NO IRAQUE. É SÓ MAIS UMA MENTIRA INFLUENTE. O mundo pede cessar-fogo, e eles não estão nem aí. À diferença de Saddam Hussein dos primeiros dias da invasão — que anunciava a iminente derrota do inimigo —, Saakashvili pediu trégua. Negada evidentemente.

Vladimir Putin, saído da polícia secreta do regime comunista, usa o conflito para demonstrar, agora pela via militar, a restauração da Rússia — herdeira do império soviético — como a condestável de grandes cercanias, cuja fronteira é a Europa. E ninguém vai contestá-lo. Editorial de um jornal brasileiro chega a dizer, hoje, que Bush não tem moral para censurar Putin... Entenderam? O presidente americano apanha quando os Estados Unidos invadem o Iraque e quando a Rússia invade a Geórgia.

Recebi a respeito alguns comentários da boçalidade militante me indagando: “Ué, se você defendeu a invasão do Iraque, por que é contra agora a invasão da Geórgia?” Epa! Eles é que têm de responder, não eu: se foram contrários à ação no Iraque, por que não vêem qualquer problema na truculência russa?” E sabem por que a pergunta cabe a eles, não a mim?

Porque eu, de fato, achava que Saddam Hussein devia ser derrubado — era questão de tempo para o Iraque virar uma incubadora do terror. Eu estava entre aqueles que o tinham como uma ameaça à estabilidade ocidental (ver arquivo para encontrar mais motivos). Ademais, era um ditador, que se impôs por intermédio de métodos de brutalidade inédita. Esses motivos eram, para mim, fortes a ponto de justificar a transgressão do princípio da não-ingerência, em nome do qual, SUPOSTAMENTE, falavam os que eram contra a guerra. Mas é o caso da Geórgia?

O que se tem é o seguinte: a condenação da ação americana no Iraque, revela-se agora, era de fato pacifista em manifestações não mais do que periféricas. Essencialmente, era só exercício de antiamericanismo barato. Ou se faria, agora, gritaria semelhante no caso da Geórgia. Estamos diante de uma impostura formidável no Brasil e em toda parte.


Por Reinaldo Azevedo

No comments: